PRESIDENCIALISMO E PARLAMENTARISMO. Estado e Relações de Poder UFABC

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Transcrição:

PRESIDENCIALISMO E PARLAMENTARISMO Estado e Relações de Poder UFABC 1

OS SISTEMAS DE GOVERNO As democracias contemporâneas organizam seus governos em sistemas diversos Dois modelos mais conhecidos são o parlamentarismo e o presidencialismo Entre os dois modelos existem variações; que podem existir de país para país 2

RAIZ DO PRESIDENCIALISMO República composta: Estados Unidos da América, século XVII O sistema de governo americano também é conhecido por separação ou divisão de poderes. Esta característica é fundamental para o presidencialismo 3

RAIZ DO PRESIDENCIALISMO Poder executivo Chefe de Estado Chefe de governo Presidente da República Voto popular (cargo eletivo) Poder legislativo Parlamento 4

CARACTERÍSTICAS DO PRESIDENCIALISMO Há um presidente que exerce ao mesmo tempo a função de chefe de Estado e chefe de governo O presidente é escolhido em eleições populares O mandato é prefixado, assim como o dos parlamentares, não podendo o presidente, exceto na hipótese de impeachment, ser demitido por voto parlamentar, nem o Legislativo ser dissolvido pelo presidente A equipe de governo é designada pelo presidente e é responsável perante ele, e não perante o Legislativo 5

RAIZ DA REPÚBLICA PARLAMENTARISTA Democracias européias que reformaram seus regimes durante os séculos XIX e XX suprimindo suas estruturas monárquicas. (Ex: Itália, França e Alemanha). Poder executivo Chefe de Estado (Presidente da República): funções políticas Voto popular (cargo eletivo) protocolares. Mandato fixo Chefe de Governo (Primeiro-ministro, chanceler, premier): funções políticas de fato. Dependente da maioria parlamentar Poder legislativo Parlamento: relação de fusão com o Executivo 6

CARACTERÍSTICAS DO PARLAMENTARISMO O governo tem legitimação indireta. Surge, não da votação popular, mas da assembleia, em geral de sua maioria, formada por um partido singular ou por uma coligação de partidos O governo sobrevive enquanto conta com a confiança da maioria da assembleia, perante a qual é responsável; faltando a confiança, o governo cai A assembleia pode ser dissolvida antes do término da legislatura, convocando-se novas eleições Além da chefia do governo, existe a chefia do Estado pelo presidente ou pelo monarca que exerce funções simbólicas e cerimoniais 7

DEMOCRATIZAÇÃO E PRESIDENCIALISMO Com a implosão das ditaduras, foi necessário definir como os novos governos iriam funcionar Os participantes das discussões tiveram que escolher a modalidade de governo que desejavam Para isso, eles tiveram que responder algumas perguntas, como: Como seriam escolhidas as autoridades no executivo e os representantes das assembleias? Que sistema eleitoral seria adotado e o que se esperava dele em termos de funcionamento e representação política? 8

DEMOCRATIZAÇÃO E PRESIDENCIALISMO Qual o grau de dependência deveria haver entre o Executivo e o Legislativo? Quais seriam as competências e os poderes de cada um? Quem faria as leis? Quem implementaria as leis? O chefe de Estado e o chefe de governo seriam a mesma pessoa? 9

AS INSTITUIÇÕES Os questionamentos e as consequentes decisões tomadas teriam impacto no funcionamento das instituições As instituições estimulam certos comportamentos dos eleitores, dos políticos e dos partidos e desencorajam outros Os sistemas de governo, assim como os sistemas eleitorais, induzem os atores políticos a terem determinados tipos de comportamento 10

PRESIDENCIALISMO É possível haver governabilidade quando um presidente não possui apoio da maioria parlamentar? Esse apoio não seria fundamental à sua sobrevivência? Estados Unidos: governo dividido não significa paralisia ou impasse. Deve ter a construção de acordos com a oposição. Praticam o governo bipartidário, em que os partidos não podem ser ideologicamente rígidos 11

RISCOS DO ASSEMBLEÍSMO NO PRESIDENCIALISMO O gabinete não lidera o parlamento O poder não está centralizado, mas disperso e atomizado A responsabilidade se dilui A disciplina partidária é baixa ou nula Os primeiros-ministros e seus gabinetes não possuem condições de agir com rapidez e decisão As coalizões raramente resolvem seus desacordos e estão sempre incertas sobre o apoio legislativo Os governos jamais podem agir em uníssono e com clareza 12

CRÍTICAS AO PRESIDENCIALISMO JUAN LINS (1991): Jogo de soma zero: iniciado o mandato, os perdedores nas eleições terão que esperar novo pleito para colher frutos políticos. Fato que alimenta o radicalismo golpista Dificuldade de se adaptar às situações cambiantes (não há dissolução do parlamento nem mesmo voto de confiança) Modelo contraditório: ao mesmo tempo em que deposita suas expectativas no Executivo, limita seu poder Sistema aberto à out siders 13

CRÍTICAS AO PRESIDENCIALISMO STEPAN (1990): Países que se tornam independentes e adotam o presidencialismo têm duas vezes mais chances de sofrer um golpe militar do que países que adotam outro tipo de regime (parlamentarista, monarca controlado, monopartidários revolucionários, uni-partidários não-revolucionários). 14

CRÍTICAS AO PRESIDENCIALISMO ADAM PRZEWORSKI: Expectativa de vida de um presidencialismo é de 21 anos, já de um parlamentarismo é de 73 anos. 15

VANTAGENS DO PRESIDENCIALISMO SHUGART e MAINWARING: Aumenta legitimidade dos governos pois o voto popular elege os dois Poderes Produz melhor accountability Melhor identificabilidade. O eleitor identifica o governo que está elegendo. Mais adequado para países com partidos políticos com forte clivagem regional. Esta clivagem pode ser resultado de alta desigualdade regional e social 16

PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO A viabilidade da democracia no Brasil foi questionada tão logo conquistada. Após a Assembleia Nacional Constituinte (1987/ 1988), surgiram discussões sobre como as instituições políticas brasileiras se comportariam diante das novas regras O sistema político brasileiro e suas regras institucionais de funcionamento, controle e representação foi classificada pela primeira vez como presidencialismo de coalizão por Sérgio Abranches em 1988 17

O Brasil é o único país que, além de combinar a proporcionalidade, o multipartidarismo e o 'presidencialismo imperial, organiza o Executivo com base em grandes coalizões. A esse traço peculiar da institucionalidade concreta brasileira chamarei, à falta de melhor nome, 'presidencialismo de coalizão. (ABRANCHES, p. 22, 1988). 18

PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO ABRANCHES (1988) As características desse sistema gerariam instabilidade e sua base de sustentação dependeria em alto grau do desempenho corrente do governo e da disposição em respeitar pontos estritamente ideológicos ou programáticos considerados inegociáveis O forte federalismo somado ao poder dos governadores - o que chama de "dinâmica do duplo eixo das coalizões nacionais, além da heterogeneidade da sociedade brasileira levariam a coalizões que respondessem somente a critérios partidários e regionais. Isso dificultaria uma coalizão capaz de apoiar uma forte agenda de governo 19

PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO LIMONGI E FIGUEIREDO (1998, 1999): O aparato institucional brasileiro possibilita sim a formação de um governo funcional. Eles demonstram que o modelo democrático brasileiro conta com instrumentos eficazes contra o risco da ingovernabilidade. Os dados apresentados mostram que há uma preponderância forte e marcante do governo em relação ao Congresso, que se dispõe a cooperar e votar de maneira disciplinada 20

PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO BARRY AMES: A análise das votações nominais utilizada para fundamentar a tese do sucesso do poder Executivo e a disciplina partidária no presidencialismo de coalizão brasileiro aponta problemas Um deles é que não é enfrentada a questão das nãodecisões. Ou seja, há temas de agenda de governo que nem sequer são cogitados perante os altos custos ou a alta probalidade de derrota de perante o Congresso Nacional. 21

PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO O presidencialismo possui características que fazem com que aquele que deseja ter governabilidade e estabilidade institucional precise ter capacidade de formar alianças e negociar para implementar suas agendas de políticas públicas 22

O debate sobre desenho institucional é fundamental se partirmos da aproximação entre policy making e law making. Ou seja, analisar a produção de políticas públicas pela capacidade do sistema político de produzir leis. E esse ponto é particularmente importante para o caso brasileiro (MARCHETTI, 2013, p. 40) 23

PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO Além dos constantes acordos necessários com o parlamento para conseguir dar seguimento à sua agenda, o Executivo conta com um instrumento emblemático para alterar o status quo: as Medidas Provisórias Elas tiram a prerrogativa de editar e aprovar leis do Legislativo e a entregam para o Executivo (Monteiro, 1997; 2000; Santos, 1997; Pessanha, 1997; 1998) Para Marchetti, o poder legislativo do Executivo é produto da sua capacidade de editar MPs: Essas medidas integrariam definitivamente o quadro normativo apenas após apreciação e aprovacão do Legislativo. Apesar disso, produziriam efeitos de leis desde o momento de sua edição (Art. 62 - Constituição Federal). E é aí que reside a sua força: a MP altera imediatamente o status quo, oferecendo um poderoso instrumento de negociação ao Executivo ( MARCHETTI, 2013, p. 41,). 24

SEMIPRESIDENCIALISMO Raiz: Constituição de Weimar (entre guerras na Alemanha). França (Constituição de 1958) Chefe de Estado: funções políticas de fato, mandato fixo. Presidente da República Voto popular Poder executivo Poder legislativo Chefe de governo: funções políticas de fato, mandato depende da correlação de forças. Primeiro ministro, chanceler, premier Parlamento: relação de separação moderada com o executivo 25

PRESIDENCIALISMO 26

PAÍSES DEMOCRÁTICOS, SEGUNDO A FREEDOM HOUSE Condições: Sistema político multi-partidário competitivo Sufrágio universal Eleições regulares e confiáveis Garantia de disputa por votos 27

SISTEMAS DE GOVERNO PELO MUNDO Vermelho: Monarquia parlamentarista Laranja: República parlamentarista Azul: República presidencialista Amarelo: Semi-presidencialismo Cinza: Não democrático 28