EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A AÇÃO DOCENTE NO AMBIENTE ESCOLAR

Documentos relacionados
Inclusão, necessidades educacionais especiais e a educação física escolar: ampliando o olhar.

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO ESPORTE CEFID

AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: PERCEPÇÕES DOS ACADÊMICOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO ESPORTE - CEFID

O TRANSTORNO GLOBAL DO DESENVOLVIMENTO NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO ESCOLAR: ANALISE, REFLEXÃO E FORMAÇÃO EM FOCO.

Pensando a Didática sob a perspectiva humanizadora

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CÂMPUS DE MARÍLIA Faculdade de Filosofia e Ciências IDENTIFICAÇÃO CÓDIGO DISCIPLINA OU ESTÁGIO SERIE IDEAL

EDUCAÇÃO INCLUSIVA E O (DES)PREPARO DO PROFESSOR: BREVES CONSIDERAÇÕES

O PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE ALUNOS COM DEFICÊNCIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS.

A EDUCAÇÃO ESPECIAL EM PROJETOS POLÍTICO-PEDAGÓGICOS DE COLÉGIOS ESTADUAIS PARANAENSES Silmara de Oliveira Gomes Papi Kaira Barbosa da Rosa

PERSPECTIVAS DO PLANEJAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

DANÇA, EDUCAÇÃO FÍSICA E EDUCAÇÃO INFANTIL

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO Universidade Federal do Amapá UNIFAP Coordenação do Curso de Educação Física CCEF

O ESPORTE EDUCACIONAL FORMANDO CRIANÇAS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL II

A ALFABETIZAÇÃO MATEMÁTICA PARA CRIANÇAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL CONGÊNITA E ADQUIRIDA ATRAVÉS DE JOGOS PEDAGÓGICOS.

Prof. Ms. Heitor de Andrade Rodrigues. Apresentação:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS DEPARTAMENTO DE DESPORTOS PROGRAMA DE ENSINO

Os Blogs construídos por alunos de um curso de Pedagogia: análise da produção voltada à educação básica

Educador A PROFISSÃO DE TODOS OS FUTUROS. Uma instituição do grupo

PLANO DE ENSINO. Curso: Pedagogia. Disciplina: Conteúdos e Metodologia de Educação Física. Carga Horária Semestral: 40 Semestre do Curso: 7º

"FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA TRABALHAR COM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA" Profª Claúdia Barsand de Leucas PUC Minas 21/08/2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

COMUNICADO 04/2018 Edital 118/2018

PROGRAMA DE DISCIPLINA

O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO CURRICULAR DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCATIVA - SÃO CARLOS/SP

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS DEPARTAMENTO DE DESPORTOS ANEXO I. Plano de ensino

A IMPORTÂNCIA DO ATLETISMO COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

PLANO DE APRENDIZAGEM. CH Teórica: 50h CH Prática: 10h CH Total: 60h Créditos: 03 Pré-requisito(s): --- Período: IV Ano:

ELABORAÇÃO DE UMA PROPOSTA CURRICULAR PARA AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA A PARTIR DO PROJETO PEDAGÓGICO DA ESCOLA FÉLIX ARAÚJO

EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA EM POLÍTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS

OS CONTEÚDOS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E OS SABERES DOS PROFESSORES

AS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO MUNICÍPIO DE BAGÉ-RS: forma de abordagem dos esportes coletivos

Estágio I - Introdução

PLANO DE CURSO CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O PENSAR E O FAZER NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

EDUCAÇÃO INFANTIL E A SEXUALIDADE: O OLHAR DO PROFESSOR

Práticas linguísticas, currículo escolar e ensino de língua: um estudo inicial.

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: A FORMAÇÃO DA AUTONOMIA E SEUS DIFERENTES SIGNIFICADOS. Anoel Fernandes ¹ Glaurea Nádia Borges de Oliveira ²

PLANO DE CURSO PROGRAMA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO - PROGRAD GERÊNCIA DE SELEÇÃO E ORIENTAÇÃO - GESEOR

A IMPORTÂNCIA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO III NA FORMAÇÃO DOCENTE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

CARGA HORÁRIA SEMANAL: 04 CRÉDITO: 04

Formação inicial de professores de ciências e de biologia: contribuições do uso de textos de divulgação científica

PROGRAMA DE DISCIPLINA

ENSINANDO UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA ALUNOS SURDOS: SABERES E PRÁTICAS

AÇÃO PEDAGÓGICA NAS CRECHES: CONTRIBUIÇÕES PARA O PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

TÍTULO: A CAPOEIRA COMO FERRAMENTA DIDÁTICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

09/2011. Formação de Educadores. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

O ENSINO DE BOTÂNICA COM O RECURSO DO JOGO: UMA EXPERIÊNCIA COM ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS.

Curso: Pedagogia Componente Curricular: Fundamentos da Interdisciplinaridade

Palavras-chave: Formação e Profissionalização docente; Estado da arte; ANPEd

A EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NO FUNDAMENTAL II NA EDUCAÇÃO BÁSICA É FUNDAMENTAL

PROGRAMA DE ENSINO CÓDIGO DISCIPLINA OU ESTÁGIO SERIAÇÃO IDEAL/PERÍODO FIS0716 DIDÁTICA 2ª S / 4º P

ESEFAP ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA ALTA PAULISTA. Palavras chaves: Educação Física Escolar, Ensino Médio, Motivação.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Educação infantil Creche e pré escolas

Resumo Pretendo, nesta pesquisa, apresentar um estudo sobre a posição que a alfabetização ocupa

Programa de Aperfeiçoamento de Ensino PAE. Diretrizes para as Disciplinas da Etapa de Preparação Pedagógica

PLANO DE ENSINO. Curso: Pedagogia. Disciplina: Metodologia da Pesquisa Aplicada à Educação IV. Carga Horária Semestral: 40 Semestre do Curso: 8º

A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA E O BOM ENSINO DE HISTÓRIA: POSSIBILIDADE DE AUTONOMIA DOS DOCENTES E DISCENTES

PROGRAMA DE ENSINO. DEPARTAMENTO RESPONSÁVEL: Departamento de Física e Química

CURRÍCULO, TECNOLOGIAS E ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA: UMA ANÁLISE DO POTENCIAL DA ROBÓTICA EDUCACIONAL NO ENSINO POR INVESTIGAÇÃO.

FORMAÇÃO DO PEDAGOGO: VIVÊNCIAS EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES NO ESTÁGIO CURRICULAR DO CURSO DE PEDAGOGIA/EAD.

ANÁLISE DAS MATRIZES CURRICULARES DOS CURSOS DE LICENCIATURA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN

TGD - O POSICIONAMENTO DA ESCOLA REGULAR NA INCLUSÃO DE ALUNOS COM AUTISMO. PALAVRAS - CHAVE: Autismo. Ações pedagógicas. Escola inclusiva.

O ENSINO DA GEOGRAFIA DA PARAÍBA E A ABORDAGEM DO LUGAR E DA ANÁLISE REGIONAL NO ESTUDO DA GEOGRAFIA DO ESTADO NO ENSINO BÁSICO.

Fundamentos Metodologia do Ensino dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental III (Educação Física/Ciências) (Educação Física): (Ciências):

A MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAS: DISCIPLINA PARA O DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES MENTAIS

A GEOGRAFIA DO PROFESSOR E A EMANCIPAÇÃO DO CIDADÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA Pró-Reitoria de Graduação Divisão de Ensino PROGRAMA DE DISCIPLINA

ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS NOS CURRÍCULOS OFICIAIS: A DICOTOMIA ENTRE O PRESCRITO E O VIVIDO NO ENSINO DE CIÊNCIAS

DOCENCIA E TECNOLOGIA: FORMAÇÃO EM SERVIÇO DE PROFESSORES E TRAJETÓRIAS CONVERGENTES

ÁREA DE INFÂNCIA E JUVENTUDE. OFICINA DE LUDICIDADE

GT-3 DIDÁTICA, CURRÍCULO E POLÍTICA EDUCACIONAL REALIDADE VIRTUAL NA EDUCAÇÃO: as TICs e a renovação pedagógica

CADÊ O PAR? JOGO DE INCLUSÃO

DIAGNÓSTICO DA UTILIZAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO NO ENSINO DE BIOLOGIA

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA - UDESC CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO - FAED PLANO DE ENSINO

UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO PROGRAD CENTRO DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

PROGRAMA DE DISCIPLINA

A CONCEPÇÃO DE ENSINO ELABORADA PELOS ESTUDANTES DAS LICENCIATURAS

A $"># %1"# 7 #! 7 BC? 45 ##" D '# # # #! '6 $EA < # 3!" =#' "># > 9 7?* FBG? 45 #"+!# +!! # # : '6? ##.0 / # #1 # 3 :+

O SABER PEDAGÓGICO E A INTERDISCIPLINARIDADE COMO PRÁTICA DE ENSINO APRENDIZAGEM 1

A EDUCAÇÃO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA: QUESTÕES LEGAIS E PEDAGÓGICAS.

Escola Especial Renascer APAE - Lucas do Rio Verde - MT. Futsal Escolar

PEDAGOGIA FREIREANA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: repensando os saberes necessários à prática docente

Conhecimentos Pedagógicos

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DA EXPERIÊNCIA DOCENTE

DIDÁTICA MULTICULTURAL SABERES CONSTRUÍDOS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM RESUMO

CONTRIBUIÇÕES DA AUDIODESCRIÇÃO PARA O ENSINO DE CÉLULAS ANIMAIS NO ENSINO MÉDIO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS TECNOLÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO DOS PROFESSORES DE TRÊS ESCOLAS MUNICIPAIS DE IMPERATRIZ-MA 1

O CURSO DE PEDAGOGIA COMO LÓCUS DA FORMAÇÃO MUSICAL INICIAL DE PROFESSORES Alexandra Silva dos Santos Furquim UFSM Cláudia Ribeiro Bellochio UFSM

CARGA HORÁRIA: 90H CRÉDITOS:

A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL DE UMA ESCOLA DO CAMPO NO MUNICÍPIO DE CAETITÉ BAHIA

Amauri de Oliveira Jesus Universidade do Estado da Bahia

SEPCursos - Educação Continuada PLANO DE ENSINO E APRENDIZAGEM. Trabalho da disciplina: Didática! Curso: Pós Graduação Arteterapia em Educação

Palavras-chave: Educação Matemática. Educação Inclusiva. Formação de professores.

DIREITO À EDUCAÇÃO: POLÍTICAS DE PLANEJAMENTO DAS TECNOLOGIAS E SUA INSERÇÃO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE CAMPO GRANDE MS

O USO DAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE GEOGRAFIA: UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

Uma Nova Descoberta: Estágio Supervisionado

A FORMAÇÃO DOCENTE: PIBID E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO

IDENTIFICAÇÃO CÓDIGO DISCIPLINA OU ESTÁGIO SERIE IDEAL EES71 Prática de Ensino aos Deficientes Físicos 4º ano OB/OPT/EST PRÉ/CO/REQUISITOS ANUAL/SEM

Transcrição:

EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO: CONSIDERAÇÕES SOBRE A AÇÃO DOCENTE NO AMBIENTE ESCOLAR Prof.. Ms. Luiz Seabra Junior UNORP UNIPINHAL UNICAMP Prof. Dr. Paulo Ferreira de Araújo - UNICAMP RESUMO Ações envolvendo Inclusão, Necessidades Especiais e Educação Física, têm percorrido, em geral, caminhos paralelos no ambiente escolar. Este caminho, mais alicerçados em diferenças do que semelhanças têm causado distorções no entendimento destas ações e na construção da ação do professor. Baseado neste contexto, este estudo enfoca a ação docente como fator influenciador no processo de inclusão de alunos com necessidades educativas especiais, ou não, no contexto da Educação Física escolar. Nossa pesquisa fundamentou-se nos relatórios da disciplina de prática de ensino e estágio supervisionado do curso de Educação Física da UNORP e foi realizada em escolas públicas da cidade de São José do Rio Preto, São Paulo. A partir das observações e das análises desenvolvidas, pode-se constatar que a ação pedagógica do professor reflete diretamente no processo de inclusão, no que se refere à participação ou distanciamento dos alunos nas aulas de Educação Física. Palavras-Chave: Inclusão, Ação Pedagógica, Educação Física Escolar.

Introdução Ainda que predominantemente no campo acadêmico, Educação Física Escolar (EFE) e as propostas ligadas à educação de pessoas com necessidades educativas especiais (PNEE) aparecem como tema de diversos encontros e congressos, possibilitando reflexões sobre questões próprias e as possíveis relações entre cada área. Todavia, o resultado destas discussões, no que se refere às mudanças qualitativas, não tem se refletido na prática diária da ação profissional, conforme apontam os resultados do presente estudo, confirmando trabalhos anteriores de Betti (1992), Rezende (1995), Darido (1999, 2003) e Tani (1998), referindo-se à EFE e Carmo (1991), Rodrigues, J.L.(1991), Araújo (1998) Pedrinelli (2002), Silva et al. (2004), Seabra Jr. & Araújo (2006) referindo-se à inclusão, o que, no nosso entendimento, parece causar um afastamento de muitos alunos das aulas de Educação Física. Nesse sentido, parece-nos importante refletir sobre alguns aspectos do ambiente escolar, principalmente, quanto às dimensões atitudinais, às competências humanas, às relações com a área da EFE e às possíveis implicações na prática pedagógica atual. Partindo desse contexto, o foco central deste estudo foi diagnosticar e refletir sobre a ação educativa do professor de Educação Física, como fator influenciador no processo de inclusão, no sentido da participação ou distanciamento dos alunos, nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental. Vale ressaltar que este trabalho é um recorte de nossa dissertação de mestrado. Inclusão e necessidades especiais. A inclusão no ambiente escolar é uma palavra dos tempos modernos que, cada vez mais, vem ganhando forma e espaço, efetivando-se, gradativamente, em conseqüência de momentos políticos e sociais. Nasce dentro de um ideal neoliberalista, refletindo-se também na organização das políticas públicas educacionais, o que de certa forma interfere na forma e oferta de serviços de ensino. (Seabra Jr., Silva, Araújo, Almeida, 2004). Presente ou não nos textos das leis, o ideário da inclusão tem como pressupostos a igualdade de oportunidades, o convívio com as diversidades, a aproximação das diferenças, uma pedagogia centrada no educando, na sua individualidade, com suas capacidades e potencialidades, em detrimento de suas limitações.

Para Pedrinelli (2002, p.54): Participar de um processo inclusivo é estar predisposto, sobretudo, a considerar e respeitar as diferenças individuais, criando a possibilidade de aprender sobre si mesmo e sobre cada um dos outros em uma situação de diversidade de idéias, sentimentos e ações [...] Entretanto, quando falamos em inclusão e necessidades especiais, no ambiente escolar, devemos considerar que esta opção nos remete a uma série de abordagens e cada uma delas pode abranger uma população diferente. Portanto, inclusão não pode tratar somente de uma população específica (pessoas em condição de deficiência), colocando novamente de lado a atenção para com os alunos menos habilidosos, obesos, entre outros.. Esta representação equivocada parece causar certas distorções no entendimento do processo inclusivo, podendo levar a ações pedagógicas que chamem a atenção somente para as diferenças, ou, por outro lado, ignorando que elas devam ser levadas em consideração, influenciando diretamente no atendimento e nas ações dos professores quanto às aulas de Educação Física. Ação pedagógica: diferenças entre discurso e realidade Não é raro observamos que a EFE apresenta certa tendência de considerar as preferências culturalmente determinadas e familiarizadas da maioria da população quanto às habilidades esportivas. Em decorrência desse contexto, aparentemente sem aspectos negativos, podemos observar que as aulas desenvolvem-se predominantemente em moldes esportivos, privilegiando um número bastante reduzido de modalidades. Todavia, esse tipo de ação, quando descontextualizado de uma proposta pedagógica, pode levar a uma prática esportivizada (Paes, 1996), destacando e ampliando as diferenças de habilidades e competências. Essas ações, em geral, parecem reforçar o desinteresse e o afastamento dos menos expressivos e menos habilidosos, levado-os a solicitar a permissão do professor para deixar a aula, (des)motivados pela falta de oportunidades ou por comportamentos excludentes por parte de seus pares. Assim como aponta Pedrinelli (2002), percebemos um outro aspecto que se refere ao aluno presente nas aulas de Educação Física, porém sem participação efetiva nas atividades desenvolvidas. Parece existir uma relação direta desta não participação com a ação pedagógica do professor, ou seja, quanto menor a ação do professor menor o envolvimento do aluno.

Nesse sentido, independentemente das propostas pedagógicas produzidas pela área, entendemos que a intervenção do professor deve pautar-se numa ação pedagógica efetiva e interativa no sentido de: favorecer, estimular e orientar o desenvolvimento do aluno. Da mesma forma, acreditamos que a interação dos conhecimentos sobre o que ensinar, como ensinar e fundamentalmente sobre quem aprende devem fazer parte dessa ação pedagógica. Método Segundo características apresentadas por Ludke & André (1986), Triviños (1987) e Thomas & Nelson (2002), este estudo é de natureza qualitativa de conteúdo interpretativo e documental. A construção teórica deu-se a partir de livros, teses, artigos, periódicos nacionais e internacionais relacionados à área da Educação, Educação Física e Educação Física Adaptada, bem como busca via internet. População e Amostra Foram observadas 35 instituições, das quais, 27 atenderam as características propostas pelo estudo. Procedimentos Observação direta do contexto da pesquisa, por meio de uma planilha específica constituída de itens em escala, adaptados a partir da escala Likert 1. 1 Tipo de questão fechada que requer que o sujeito ou pesquisador responda escolhendo um de vários itens colocados em uma escala a força de sua concordância ou discordância com alguma afirmação, ou citem a freqüência relativa de algum comportamento. (Thomas & Nelson, 2002. p. 282)

Resultados e Discussão QUADRO 1 Contexto geral Contexto do estudo Número de escolas observadas 27 Número de horas aula observadas, por escola 10 Número total de horas/aula observados 270 Média de alunos presentes por aula 29 Média de alunos participantes, de fato, por aula 23 Média de alunos presentes e não participantes, por aula 6 FIGURA 1 Freqüência e porcentagem da ação do Professor nas aulas de Educação Física (270 horas/aula observadas) 270 225 Frequente 180 135 90 45 59 21% 91 34% 89 33% 31 11% 53 19% 94 35% 96 36% 27 10% 71 26% 118 44% 60 22% 21 8% As vezes Raramente Nunca 0 Favoreceu Orientou Estimulou Analisando os dados da FIGURA 1, podemos perceber que as ações relacionadas à categoria favoreceu a aprendizagem, no sentido de dar oportunidades iguais de participação, não têm sido freqüentes. Levando-se em consideração à perspectiva, no mínimo, da não exclusão, parece-nos que esses resultados estão em desacordo com a proposta apontada pelo PCNs, de uma escola para todos. É importante destacar que, ficar à margem das aulas, tendo suas possibilidades de participação minimizadas, via ação

pedagógica, pode, também, significar restrição de experiências sociais, além de motoras, ocasionando implicações fundamentais, nas diferentes dimensões que envolvem o desenvolvimento da criança.. Em relação à categoria orientou aprendizagem, observamos que as ações não privilegiam a instrução e o feedback, durante, ou, após, as atividades. Podemos observar uma tendência das atividades serem precedidas de informações, mas, no seu desenvolvimento, a freqüência das orientações, ou dicas sobre a dinâmica da atividade tornam-se menores. Nossa análise, sobre essa questão, recai sobre uma possível distorção didático-pedagógica, da ação docente, que incide sobre a não articulação dos conhecimentos do saber fazer o que fazer, como fazer e, fundamentalmente, conhecimentos sobre quem aprende. Quanto à categoria estimulou a participação, podemos observar que as ações nesse sentido, também, não são sistemáticas. Considerando alguns elementos culturais e sociais que envolvem a prática de atividades físicas como prazer, liberdade, diversão, entre outros aspectos e que a EFE esteja diretamente associada a estes aspectos, que, em geral, a participação do aluno nas aulas dá-se por este gostar da aula, a ação de estimular a aula, muitas vezes, passa desapercebida. Esses aspectos, vinculados às experiências sociais, afetivas e motoras mal sucedidas, juntamente com os diferentes interesses e expectativas das crianças, necessitam ser reconhecidos e considerados nas ações pedagógicas na perspectiva de cuidar da participação dos alunos nas aulas. É oportuno lembrar que estamos nos referindo à Educação Física num processo de educação escolarizada, e isto nos remete ao compromisso com a aquisição de conhecimento em que o professor deve estar devidamente preparado para assegurar a consecução dos objetivos e as demandas do processo ensino-aprendizagem. Considerações finais, Parece existir uma lacuna entre o discurso e a realidade, fato este que pode gerar um distanciamento ainda maior que o existente. Observamos que explorar o potencial do educando, bem como identificar seus interesses e as suas necessidades ainda não tem sido o foco principal das ações pedagógicas de muitos professores.

A forma de se conceber a Educação Física na escola mediada pela ação do professor pode, de certa forma, contribuir para a participação ou distanciamento de alunos em determinadas atividades. Nas palavras de Santin (1998, p.67): É interessante observar que a Educação Física é a única que conseguiu criar leis para que certos alunos fossem dispensados, alegando razões que olhadas com atenção, mostram exatamente que estes dispensados são os que mais necessitam de atenção do educador. Podemos observar que muitas ações acabam por afastar, excluir, sem querer, disfarçadamente, os menos habilidosos, os mais lentos, enfim aqueles que aparentemente fogem ao padrão pré-estabelecido.

Referências bibliográficas ARAÚJO, P. F. Desporto adaptado no Brasil: origem institucionalização e atualidade. Brasília: Ministério da Educação e do Desporto; Indesp, 1998. A educação física para pessoas portadoras de deficiências nas instituições especializadas de Campinas. Campinas: Editora da Unicamp, 1999 BETTI, M. Educação Física e sociedade. São Paulo: Movimento, 1991. Ensino de primeiro e segundo graus: Educação Física para que? Revista Brasileira de Ciências do Esporte v. 13 n. 2, p. 282-287, 1992 BETTI, I.R. & BETTI, M. Novas perspectivas na formação profissional em Educação Física. Motriz, v.2, n.1, p.10-15, 1996 BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394/96, Brasília, 1996 BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino fundamental. 1º e 2º ciclos (1ª a 4ª série). Brasília, MEC/SEF, 1997 BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino fundamental. 3º e 4º ciclo (5ª á 8ª série). Brasília, MEC/SEF, 1998. BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio/ Secretaria do Ensino Médio. Brasília, MEC/SEF, 1999. CARMO, A. A. do. Deficiência física: a sociedade brasileira cria, recupera e discrimina. Brasília: Secretaria dos Desportos/PR, 1991 DARIDO, S.C. Teoria, prática e reflexão na formação profissional em Educação Física, Motriz, v.1, n.2 p.124-128, 1995, Educação Física na escola: questões e reflexões. Araras, SP: Topázio, 1999, A educação física, a formação do cidadão e os parâmetros curriculares nacionais. Revista Paulista de Educação Física. V. 15 n. 1, p. 17 30, 2001, Educação Física na escola: questões e reflexões. Ed. revisada. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003

DARIDO, S.C, SANCHES NETO, L. O contexto da Educação Física na Escola In: Educação física na escola: implicações para prática pedagógica. DARIDO, S.C., RANGEL, I.C.A. (Coord.), coleção Educação Física no Ensino Superior Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. p. 01-23 DEMO, P. A nova LDB: Ranços e avanços. Campinas,1997 DE MARCO, A. et al. Pensando educação motora. Campinas, SP: Papirus,1995 DO CARMO, A.A. Deficiência física: a sociedade brasileira cria, recupera e discrimina. Brasília: Secretaria dos Desportos, 1991 FLORENCE, R.B.P. A Educação Física na rede pública no município de São João da Boa Vista-SP e o portador de necessidades especiais: do direito ao alcance. Dissertação de mestrado, Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, 2002 FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo: Scipione, 1989 GHIRALDELLI JÚNIOR, P. Educação Física progressista. A pedagogia crítico social dos conteúdos e a Educação Física brasileira. São Paulo: Loyola, 2001 GONÇALVES, M. A. S. Sentir, pensar e agir: Corporeidade e educação. 2ª ed. Campinas: Papirus, 1997 LÜDKE, M.; ANDRÉ, M.E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986 MEDINA, J.P.S. A Educação Física cuida do corpo e... mente. Campinas: SP:Papirus, 1983 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA MEC, Secretaria de Educação Especial Legislação Específica e documentos internacionais. Disponível em < http://www.mec.gov.br/seesp/legislação. Acesso em 06/05/2005 OLIVEIRA, V.M. O que é Educação Física. São Paulo, SP: Brasiliense, 1984, Educação Física Humanista, Rio de Janeiro, RJ: Ao Livro Técnico, 1985 PAES, R. R., Educação Física Escolar: o esporte como conteúdo pedagógico do ensino fundamental. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, Tese de Doutorado, Faculdade de Educação, 1996 PEDRINELLI, V.J, Possibilidades na diferença: o processo de inclusão, de todos nós. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial Revista Integração. Ano 14, Edição Especial, 2002

RESENDE, H. G. Necessidade da educação motora na escola. In: De MARCO A. (Org.), Pensando a Educação Motora. Campinas, SP: Papirus, 1995, Princípios gerais de ação didático pedagógica para avaliação do ensinoaprendizagem em Educação Física escolar. Motus Corporis, n 4, p. 4-15, 1995 RODRIGUES, J. L. A Educação Física no contexto interdisciplinar e a pessoa portadora de deficiência. Campinas, Universidade Estadual de Campinas, Dissertação de Mestrado. Faculdade de Educação Física, 1991 SANCHES NETO, L. Educação física escolar: uma proposta para o componente curricular da 5ª à 8ª série do ensino fundamental. Rio Claro Universidade Estadual Paulista, Dissertação de Mestrado, Instituto de Biociências, 2003 SANTIN, S. Educação Física e Esportes no Ensino de 3º grau: perspectiva filosóficas e antropológicas. In: PASSOS, S. et al. Educação Física e Esportes na Universidade. Brasília: SEED/MEC, 1998 p. 51-74 SASSAKI, R.K. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997 SCHIMIDT, R.A. Aprendizagem & performance motora: dos princípios à prática. São Paulo, SP: Movimento, 1993 SEABRA JR, L. ARAUJO, P.F. Inclusão, necessidades especiais e educação física: considerações sobre a ação pedagógica no ambiente escolar. Campinas, Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação Física, 2006 SEABRA JR, L., SILVA, R.F.;ARAUJO, P.F.; ALMEIDA, J.J.G.; Educação Física Escolar e inclusão: de que estamos falando. www.efdeportes.com/ Revista Digital Buenos Aires año 10 n. 73 junio, 2004 acessado em 25/07/2005. SEABRA JR, CARVALHO, B. P.,O jogo e as interações sociais: Reflexões acerca da intervenção profissional na educação formal e não formal. Revista Movimento & Percepção v. 6 n.8 Espírito Santo do Pinhal, 2004 (no prelo). SEABRA JR, L. ARAUJO, P.F. Inclusão e educação física escolar: reflexões acerca do discurso e da realidade. Revista Movimento & Percepção. V. 1, n. 2 Espírito Santo do Pinhal, 2003 SILVA, R.F, A ação do professor de ensino superior na educação física adaptada: Construção mediada pelos aspectos dos contextos históricos, políticos e sociais. Campinas, Dissertação de mestrado. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Educação Física, 2005

SOARES, C.L. et al. Metodologia do ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992 TANI, G. et al. Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988., TANI, G. & MANOEL, E. J. Esporte, educação física e educação física escolar. In GAYA, A.; MARQUES, A. & TANI, G. (Orgs) Desporto para crianças e jovens: razões e finalidades. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. THOMAS, J.R., JACK, K.N. Métodos de pesquisa em atividade física. ed. 3. Porto Alegre, RS: Artmed, 2002 TRIVIÑOS, A.N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo, SP: Atlas, 1987