INCT: Informação Genético-Sanitária da Pecuária Brasileira SÉRIE TÉCNICA: GENÉTICA Publicado on line em animal.unb.br em 30/09/2010 Confinamento de cordeiros Tiago do Prado Paim 1, Concepta McManus 2,3, Helder Louvandini 1,4 1 Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF. 2 CNPq / INCT / Informação Genético Sanitária da Pecuária Brasileira, Universidade de Brasília (UnB) / Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, MG. 3 Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS. 4 Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP), Piracicaba, SP. Atualmente, recomenda-se o desenvolvimento de uma ovinocultura de ciclo curto para gerar maior retorno econômico da atividade e a produção de carne de qualidade para o mercado consumidor. O confinamento dos cordeiros é uma das formas de intensificação do sistema e apresenta diversas vantagens e algumas desvantagens conforme discriminado abaixo: Vantagens: Menor taxa de mortalidade Rápido ganho de peso Baixa infestação de endoparasitas e ectoparasitas Proteção contra predadores Melhor aproveitamento de área Melhor controle da alimentação Melhor acabamento de carcaça e qualidade de carne 1
Reduz a idade de abate de 10 a 12 meses para 5 a 6 meses Disponibiliza a forragem das pastagens para as demais categorias Resulta em aumento da produtividade e renda da propriedade. Desvantagem: Aumento do custo de produção (alimentação e mão-de-obra) Necessidade de manejo mais intensivo Maior investimento em instalações Necessidade de maior controle financeiro da atividade Para o produtor ter um adequado retorno com o uso do confinamento, deve se buscar cordeiros de alto potencial genético para ganho de peso e boa conversão alimentar. Por isso, recomenda-se o uso de animais de cruzamento industrial, já que a heterose obtida garante um maior ganho em peso. Para o cruzamento industrial na região Centro-Oeste, as principais raças paternas utilizadas são: Ile de France, Texel e Dorper. Em diversos trabalhos, os produtos dos cruzamentos com essas raças têm apresentado desempenho muito próximo (GARCIA et al., 2010; PAIM et al., 2008). Por isso, acredita-se que o valor de aquisição do reprodutor seja fator determinante para escolha da raça. A aquisição de bons reprodutores dentro da sua respectiva raça é muito importante, pois deve-se levar em conta o efeito genético aditivo nos seus produtos. Somente a heterose não garante um desempenho satisfatório dos produtos do cruzamento. O ganho muscular do cordeiro ocorre até o início da puberdade, a partir daí, o animal começa a depositar gordura na carcaça. O depósito de gordura gasta grande quantidade de energia e diminui a eficiência alimentar do animal. Portanto, no momento que o animal apresentar acabamento satisfatório da carcaça deve ser encaminhado ao abate para evitar perda econômica. Como o objetivo é o abate do animal com 6 meses de idade, não há necessidade de castrar os machos, já que estes serão abatidos antes de 2
atingirem a puberdade, que geralmente ocorre aos 8 meses. Os cordeiros inteiros em função da maior velocidade de crescimento, apresentam maior ganho em peso e maior peso da carcaça no abate. O peso mínimo para o cordeiro entrar no confinamento e ser economicamente rentável é de 20 kg. É recomendado que o animal entre no confinamento logo após o desmame aos 60 ou 90 dias. Recomenda-se o uso do creep feeding, pois os cordeiros que recebem suplementação na fase de aleitamento respondem melhor ao ganho em peso no confinamento, uma vez que já estão adaptados ao consumo de concentrado no cocho. O criador deverá fornecer as condições necessárias para que o cordeiro tenha crescimento de 250 g/dia, sabendo que determinadas raças, bem alimentadas podem ganhar mais. O peso médio indicado para abate deve ser entre 30 a 35 kg de peso vivo, pois com a elevação do peso de abate, ocorre um aumento do teor de gordura. Por outro lado, o custo de manutenção desse cordeiro mais pesado diminui o ganho econômico, tendo em vista que a eficiência alimentar desse animal é menor. O consumo de alimento pode variar de 3 a 5% do peso vivo/cab/dia, em matéria seca (MS), dependo dos alimentos utilizados. Atualmente, recomenda-se o uso de uma dieta com a relação concentrado:volumoso próxima de 70:30. No entanto, a decisão da dieta a ser utilizada varia de acordo com o custo da MS de cada tipo de alimento, devendo ser considerados também os teores de proteína bruta (PB) e energia. A escolha deve recair sobre aqueles alimentos que apresentarem menor custo por unidade de MS, PB ou energia. A alimentação é responsável por cerca de 70% dos custos de produção de animais em confinamento, portanto o controle de custos é fundamental para o sucesso da atividade. A duração do confinamento é um fator de elevação de custo, quanto maior for o tempo do confinamento, maior será o custo de produção e menor será a rentabilidade do negocio. Desta forma, recomenda-se que os animais permaneçam, no máximo, 70 dias no confinamento. Portanto, se for realizado o desmame aos 90 dias e os animais permanecerem 60 dias no confinamento, estes serão abatidos aos 150 dias (5 meses de idade). 3
Um importante cuidado a ser observado no manejo é a formação de lotes com idade, sexo e tamanho homogêneos, para diminuir o efeito dominância e conseqüente competição por espaço de cocho e alimento. Para isto é importante a adequação das instalações para o tamanho do rebanho e, conseqüentemente, o tamanho dos lotes de confinamento que serão formados. INSTALAÇÕES Devem ser simples e de baixo custo, constituídas, basicamente de cercado, comedouro, bebedouro, saleiro e sombra, no período sem chuvas. O cercado pode ser feito em alvenaria, tábuas de madeira, tela ou arame. No período chuvoso o curral precisa ser coberto, solo terra compactada. A área do confinamento deve ser de 0,8m 2 /animal, sendo importante o planejamento do tamanho do rebanho a ser confinamento para a construção das instalações. Os comedouros, bebedouro, devem ser localizados de forma a permitir o acesso do animal, para comer e beber, além de facilitar a higienização. Os cochos devem ser dimensionados para fornecer 0,3m lineares para cada animal. 4
Figura 1. Exemplo de confinamento aberto. 5
Figura 2. Exemplo de confinamento fechado CUIDADOS SANITÁRIOS A saúde dos animais depende, em primeiro lugar, do conforto e salubridade das instalações. O planejamento adequado destas é o ponto de partida para o sucesso. O galpão bem arejado, sem corrente de ventos, com baixa amplitude de variação de temperatura, sem radiação solar, ausência de poeira excessiva higiênico. A higienização das instalações deve restringir-se à retirada periódica das fezes, não é aconselhável o uso de cama. Outro pondo importante a ser considerado é o treinamento e qualificação da mão de obra. A forma dos tratadores se relacionarem com 6
os animais e o manejo sempre direcionado no sentido de evitar situação estressante são fundamentais para garantia do bem-estar animal. Além de que o fornecimento das refeições deve ocorrer sempre no mesmo horário, garantindo um melhor desempenho dos animais. As principais enfermidades que afetam animais confinados são as clostridioses, as pneumonias e a eimeriose. A verminose é a principal enfermidade de ovinos a pasto, no entanto, no confinamento o animal não é exposto aos helmintos e portanto não deve ser uma fonte de problema. É importante se ter cuidado com a contaminação por eimeria. Para o controle desta enfermidade, é necessário o controle da fonte de água para os animais, limpeza periódica dos bebedouros e controle da umidade do ambiente. Pode ser recomendado o uso de ionóforos (monensina, lasalocida) de forma preventiva no concentrado dos animais. Recomenda-se o uso de 28 mg de monensina/kg MS consumida (OLIVEIRA et al., 2007), ou 0,5 mg de monensina sódica/ kg de peso vivo (VIEIRA et al., 2005). É importante que a instalação seja de fácil limpeza e garante um ambiente com baixa umidade do ambiente, pois um ambiente muito úmido é extremamente prejudicial para a saúde dos animais, já que predispõe ao surgimento de pneumonia, entre outras enfermidades. Para o controle das clostridioses é necessário o estabelecimento de um esquema de vacinação. Recomenda-se a primeira dose com 40 dias de vida, e a segunda dose com 60 dias e uma dose de vermífugo. O esquema deve ser seguido rigidamente, para evitar futuros problema na fase de engorda no confinamento. Para a prevenção do botulismo (uma clostridiose), é fundamental o controle da qualidade do alimento fornecido para o animal. 7
INFLUÊNCIA DO CONFINAMENTO NA QUALIDADE DA CARNE A maciez, a suculência, a cor, o odor e o sabor da carne ovina são atributos que estão diretamente relacionados com a satisfação do consumidor. Considerando que o cordeiros terminados em confinamento são abatidos em idade precoce (5 a 6 meses), sua carne ainda apresenta todas as características organolépticas e sensoriais desejáveis numa carne de elevada qualidade. É importante que o produtor busque parcerias com a indústria frigorífica, pois esta carne de elevada qualidade pode receber uma bonificação. Dessa maneira, o produtor pode melhorar o resultado econômico da atividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FURUSHO-GARCIA, I.F.; COSTA, T.I.R.; ALMEIDA, A.K.; PEREIRA, I.G.; ALVARENGA, F.A.P.; LIMA, N.L.L. Performance and carcass characteristics of Santa Inês purê lambs and crosses with Dorper e Texel at different management systems. Revista Brasileira de Zootecina, v.39, n.6, p.1313-1321, 2010. OLIVEIRA, M.V.M.; LANA, R.P.; EIFERT, E.C.; LUZ, D.F.; PEREIRA, J.C.; PÉREZ, J.R.O.; VARGAS JÚNIOR, F.M. Influência da monensina sódica no consumo e na digestibilidade de dietas com diferentes teores de proteína para ovinos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 36, n.3, p. 643-651, 2007. PAIM, T.P.; CARDOSO, M.T.M; BORGES, B.O.; DALLAGO, B.S.L.; LANDIM, A.; LIMA, P.M.T; LOUVANDINI, H.; FRANCO, E.; MCMANUS, C.M. Aspectos econômicos da produção de cordeiros cruzados confinados abatidos em diferentes pesos no distrito federal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 35, Anais..., Gramado, 2008. VIEIRA, L.S.; LOBO, R.N.B.; BARROS, N.N.; PORTELA, C.H.P.; SIMPLÍCIO, A.A. Monensina sódica no controle da eimeriose em caprinos leiteiros. Ciência Animal, v.15, n.1, p. 25-31, 2005. 8