Revista Falange Miúda ISSN VISOGRAFIA: Alguns desdobramentos do objeto de tese escrita de sinais. Claudio Alves Benassi

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Instrumento. COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de Gêneros Textuais. Belo Horizonte: Autêntica, Mariângela Maia de Oliveira *

Transcrição:

BENASSI, C. A. VisoGrafia: alguns desdobramentos do objeto de tese escrita de sinais. Revista Falange Miúda (ReFaMi), ano 2, n. 2, jul.-dez., 2017. [http://www.falangemiuda.com] VISOGRAFIA: Alguns desdobramentos do objeto de tese escrita de sinais Claudio Alves Benassi RESUMO: A escrita de sinais, apesar do seu longo percurso histórico, na área da língua de sinais, ainda está em fase de implementação. De sua invenção no século XIX por Bébian, figura de central importância para a escrita de sinais, aos nossos dias, diversos estudos foram desenvolvidos e muitos sistemas surgiram ao redor do mundo. A presente pesquisa tem por objetivo conceber um sistema de escrita de sinais, viável do ponto de vista da grafia e da leitura, com baixo número de caracteres e de fácil apreensão. O sistema foi desenvolvido em três etapas distintas e atualmente ele conta com 38 visografemas e 55 diacríticos que permitem a grafia de qualquer sinal, independente da língua de sinais a que eles pertençam. PALAVRAS-CHAVE: Escrita de sinais. Bébian. VisoGrafia. 123

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1. INTRODUÇÃO A escrita de sinais, apesar de ser uma tecnologia criada no século XIX, ainda não foi efetivamente aplicada na educação dos visuais (surdos). No Brasil existem três sistemas correntes. O Sign Writing (SW), sistema norte-americano que não se efetiva, apesar de estar presente no Brasil, desde 1996. Não existe adesão em função do seu alto número de caracteres (aproximadamente 900) e pelo exacerbado detalhamento de sua escrita (BENASSI, 2017, p. 28). A Escrita das Línguas de Sinais (ELiS) criada pela professora Mariângela Estelita Barros (UFG) em 1998 (BARROS, 2015, p. 15), e o Sistema de Escrita de Língua de Sinais (SEL) criado pela professora Adriana S. C. Lessa de Oliveira (UESB) (BENASSI, 2017, p. 36), também não se fixam por serem considerados muito abstratos. Apesar de pesquisas, tais como a de Stumpf (2011) e Barreto e Barreto (2012), apontarem para os benefícios da aprendizagem da escrita de sinais para o usuário da Libras, como por exemplo, auxiliar no desenvolvimento cognitivo, no desenvolvimento do pensamento crítico reflexivo, na criatividade e na aprendizagem da escrita das línguas orais muitos profissionais dessa área ainda a desconhece. Há que se considerar ainda, que a aprendizagem da escrita, favorece o desenvolvimento das estruturas superiores da mente (VIGOTSKY, 2007) e que a sociedade é grafocêntrica (GNERRE, 2009) e ela valoriza o sujeito que escreve com fluência. A escrita de sinais por estar ausente na educação dos sujeitos visuais, prejudica o seu desenvolvimento cognitivo, fazendo com que o mesmo se desenvolva com inúmeras lacunas, que dificilmente serão preenchidas ao longo de sua vida. 1.2. Materiais e métodos 126

O objetivo geral da presente pesquisa é criar um sistema de escrita de sinais com baixo número de caracteres, viável tanto do ponto de vista da codificação quanto de decodificação, fundindo os caracteres mais simples e visuais do SW e da ELiS. Para a operacionalização do mesmo, constituímos três objetivos específicos que são os seguintes: 1) realizar curso de extensão para a ensinagem do novo sistema de escrita de sinais, com a finalidade de promover a convenção dos caracteres e forma de escrita de sinais; 2) realizar experimentos de grafia de textos em Libras pertencentes ao gênero textual poema e; 3) realizar experimentos de leitura de sinais isolados e pequenos textos. A metodologia de realização da pesquisa compreendeu três fases: 1) seleção de caracteres realizada em maio de 2016. O sistema de escrita VisoGrafia surgiu com 54 caracteres e 24 diacríticos; 2) realização de experimentos da grafia de sinais e textos e de leitura, cujos dados obtidos apontaram para a viabilidade de implementação do sistema VisoGrafia; 3) aplicação da VisoGrafia em curso de extensão, que teve cursistas visuais e ouvintes que convencionaram os visografemas e a forma de escrita de vários sinais. Em 2017, a VisoGrafia foi aplicada em duas disciplinas de escrita de sinais em cursos de licenciatura em Letras-Libras, que apontaram a necessidade de uma reforma no sistema. As mudanças nos visografemas e na forma de escrita de muitos sinais foram implementadas entre 28 de abril e 11 de maio de 2017. Foram, ainda, realizadas as leituras da bibliografia selecionada, cujo embasamento permitiu a realização de estudos articulatórios da Libras e a criação de categorias próprias para os estudos linguísticos e literários na área da Libras. Tendo em vista os benefícios da escrita de sinais para o usuário da língua de sinais, o número excessivo de caracteres do SW que o torna inviável para uso efetivo na educação dos visuais e abstração dos demais sistemas de escrita de sinais, a presente pesquisa se justifica por propor um sistema de escrita de sinais com baixo número de caracteres, de fácil apreensão dados apontam que acadêmicos leram e escreveram sinais em apenas duas aulas (BENASSI, 2017, p. 120-123) além de proporcionar uma nova categorização para os estudos linguísticos e literários da Libras, possíveis graças aos estudos de viabilidade da escrita e da leitura da VisoGrafia. 127

2. RESULTADOS E DISCUSSÕES Figura 01. Primeira tentativa de fusão do SW e da ELiS. Fonte: Claudio Alves Benassi. Disponível em http://www.visografia.com/historia/. Consulta em 10 de dez. 2017. A VisoGrafia foi constituída durante um ano a partir de maio de 2017. Este período foi marcado por três fases distintas. Na primeira, foram selecionados visografemas do SW e da ELiS para compor o visograma da nova escrita de sinais. Alguns visografemas foram adaptados e vários experimentos foram realizados para implementar a grafia do alfabeto manual. Na segunda fase, vários experimentos foram realizados que comprovaram a viabilidade da escrita e da leitura de sinais da Libras grafados pela VisoGrafia (BENASSI, 2017). Figura 02. Primeira tentativa de grafia do alfabeto manual pela VisoGrafia. Fonte: Claudio Alves Benassi. Disponível em http://www.visografia.com/historia/. Consulta em 10 de dez. 2017. A terceira fase foi a mais longa. Compreendeu o período de outubro de 2016 a maio de 2017. Durante esta etapa, a VisoGrafia ganhou corpo e foi aplicada em um curso de extensão ofertado pela Direção do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), composto por estudantes ouvintes e visuais (surdos), que excluíram, criaram e adaptaram visografemas, dando maior visualidade a escrita. Além disso, sugeriram que na VisoGrafia todos os dedos fossem escritos. Antes, apenas os dedos ativos eram grafados (BENASSI, 2017). Ainda nesta fase, a VisoGrafia foi aplicada em duas disciplinas de Escrita de Sinais em cursos de Licenciatura de Letras-Libras. No Centro Integrado de Pesquisa e Educação de 128

Rondônia (CIPERON), curso semipresencial, com turma mista (ouvintes e visuais), a VisoGrafia foi aplicada em duas aulas apenas. No primeiro dia letivo da disciplina os alunos escreveram e leram datilologia e no segundo, escreveram e leram sinais simples (monomanuais e bimanuais simétricos) (BENASSI, 2017). Na disciplina de Escrita de Sinais do curso de Letras-Libras da UFMT, ministrada no segundo semestre letivo de 2016, os dados obtidos foram bastante semelhantes. Já no primeiro dia de aula, os acadêmicos escreveram e leram datilologia. No segundo dia letivo, conseguiram ler e escrever sinais. No oitavo e último dia letivo da disciplina, alguns acadêmicos produziram textos e outros materiais didáticos para o ensino de VisoGrafia (BENASSI, 2017). Figura 01. Visograma atual da VisoGrafia. Fonte: Claudio Alves Benassi, 2017. A VisoGrafia, após passar pela primeira reforma, apresenta um visograma que contem apenas 35 visografemas, número relativamente menor que a ELiS (que tem 95), uma de suas bases de constituição. Posteriormente, dois novos visografemas foram adicionados (de movimento para frente e para trás e o de abrir e fechar a mão), mediante necessidade percebida na aplicação da VisoGrafia para a escrita dos resumos dos artigos publicados nas revistas Diálogos e Falange Miúda. A VisoGrafia implementa um conjunto de 54 diacríticos, sendo estes, símbolos que são escritos sobrescritamente aos visografemas para completar informações que se quer grafar. Esses símbolos são considerados secundários. Veja a seguir o quadro de diacríticos da VisoGrafia usados para complementar a grafia dos sinais. 129

Figura 02. Quadro de diacríticos da VisoGrafia. Fonte: Claudio Alves Benassi, 2017. Para elaborar o visograma que atualmente compõe a VisoGrafia, foi necessário aprofundar os conhecimentos a respeito da dupla articulação da linguagem humana e aplicá-la a Libras. Ao longo dos estudos articulatórios da Libras, ou seja, de decomposição dos sinais com base na dupla articulação da linguagem humana, segundo a proposição de Martinet (1971), percebi que as categorias existentes para os estudos linguísticos nesta área, eram incipientes. 130

Assim sendo, foi necessário a elaboração do seguinte esquema e categorias para o estudo: o enunciado é composto, na linguística estruturalista por itens decomponíveis em parte menores. Temos então as seguintes relações: Figura 03. Esquema elaborado a partir da aplicação da dupla articulação da linguagem à Libras. Fonte: Claudio Alves Benassi, 2017. O enunciado é decomponível em partes menores, ou seja, é composto por itens lexicais analisáveis. O enunciado é uma parte que compõe o discurso, decomponível em: 1. sinalema (sinal): menor parte de um enunciado, dotado de uma significação relativamente estável; 1.1. sinalico: parte na qual um sinalema pode ser articulada, podendo esta ter ou não sentido em si mesma. Neste aspecto, pode ser morfêmico lexical ou gramatical se possuir significado em si mesma; distintivo se assumir apenas distinção na seleção de dedos, não comportando esta na execução de um determinado sinalema, de forma idêntica para todos os dedos; 2. parâmetro: agrupamento de paremas constitutivos da língua de sinais. N outras palavras, grupo que congrega os menores elementos visuais articuláveis da língua de sinais, com os quais se pode formar novos itens lexicais na língua de sinais; 131

3. parema: é a unidade mínima do plano de expressão das línguas de sinais que não possuem, em si mesmas, significado algum, combinam-se entre si para formar sinalicos morfêmicos ou sinalicos distintivos. Partindo dos pressupostos acima, na Libras temos as seguintes categorias e decomposições: enunciado que caracteriza-se por ser a mínima parte de um discurso e divisível em sinalemas (sinais); sinalema que caracteriza-se por ser a mínima parte de um enunciado e divisível em sinalicos morfêmicos (morfemas que podem ser gramaticais e lexicais) e distintivos, compondo a primeira articulação da linguagem humana; sinalemas e sinalicos são divisíveis nos parâmetros que constituem a língua de sinais; por fim, os parâmetros são divisíveis em paremas que se caracterizam por serem a mínima parte de um parâmetro. É composto por feixes de elementos visêmicos cuja divisão é impossível. Os paremas constituem a segunda articulação da linguagem humana. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A VisoGrafia é uma escrita de sinais que pode ser considerada leve e prática. Dados revelam que sua aprendizagem é rápida e que o processo de escrita e leitura de textos em língua de sinais é viável e eficaz, dado ao baixo número de elementos gráficos a serem mobilizados na ação de escrever/ler textos em Libras. Como visto, os estudos relativos a constituição da VisoGrafia permitiram a elaboração de novas categorias que podem ser empregados no ensino da Libras como língua, além de proporcionar, por meio dos estudos de viabilidade da grafia, a descoberta da forma de escandir poemas sinalizados. Além disso, os estudos de viabilidade da escrita permitiram a descoberta da forma de escansão de poemas em língua de sinais. A primeira noção de escandir poemas veio da concepção de Barros (2015), de sílaba na língua de sinais. No entanto, abandonei a ideia, pois a mesma evoca o som a fonação. Com as novas categorias, os poemas são escandidos considerando a categoria sinalico, tendo como base o parâmetro movimento que pode ser forte ou fraco. 132

REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. M. [1975] Questões de literatura e estética. São Paulo: Hucitec, 2010. BARRETO, M.; BARRETO, R. Escrita de sinais sem mistérios. Belo Horizonte: Edição do autor, 2012. BARROS, M. E. ELiS: sistema brasileiro de Escrita das Línguas de Sinais. Porto Alegre: Penso, 2015. BENASSI, C. A. O despertar para o outro: entre as escritas de língua de sinais. Rio de Janeiro: Autografia, 2017. CAMPELLO, A. R. e S. Língua Brasileira de Sinais. Indaial: UNIASSELVI, 2011. FERREIRA, L. Por uma gramática da língua de sinais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2010 GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. MARTINET, A. A linguística sincrônica. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1971. SAUSSURE, F. de. [2002] Escritos de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2004. VIGOTSKY, L. S. [1984] A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007. Recebido em 15 de dezembro Aprovado em 20 de dezembro Sobre o autor D outorando em Estudos de Linguagens (UFMT). Formado em música pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Especialista em Língua Brasileira de Sinais (Libras) pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (UNIASSELVI). Mestre em Estudos Interdisciplinares de Cultura Contemporânea (UFMT). Artista pesquisador e professor da Coordenação de Ensino de Graduação de Letras-Libras Licenciatura. Professor Auxiliar A. Pesquisador e crítico da gênese artística musical e de cultura. Pesquisador da Escrita da Língua de Sinais. Fabricante de ocarinas e criador do sistema harmônico numerológico Pitagórico e do sistema de escrita da língua de sinais VisoGrafia. Editor gerente das Revistas Diálogos (RevDia) e Falange Miúda (ReFaMi). caobenassi@hotmail.com; caobenassi@falangemiuda.com.br 133