Indicador de Uso do Crédito e de Propensão ao Consumo Fevereiro/2018
Um em cada quatro consumidores utilizou alguma modalidade de crédito em janeiro O crédito pode ser um aliado do consumidor. Mas também pode ser a porta de entrada para o descontrole financeiro. Os anos 2000 foram marcados pela sua expansão. Nos anos mais recentes, marcados por severa recessão da economia brasileira, o que se destacou foi a inadimplência, isto é, o crédito não honrado. O Indicador de Uso do Crédito, apurado pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, busca medir a procura do consumidor brasileiro pelas modalidades de crédito mais utilizadas e investigar a forma como esses consumidores lidam com esses instrumentos, bem como a sua capacidade de solvência. Os números são apurados desde fevereiro de 2017. Em janeiro de 2018, o indicador marcou 28,1 pontos, numa escala de zero a 100 pontos. Quanto mais próximo de 100, maior o uso do crédito; quanto mais distante, menor o uso. O resultado ficou abaixo do observado em dezembro, mês que concentra as compras de final de ano. Como nos meses anteriores, o cartão de crédito apareceu com destaque: 36,0% dos entrevistados afirmaram ter feito alguma compra com a modalidade em janeiro. Em seguida, aparecem o crediário, com 12,1% das citações; os empréstimos (8,1%), o uso do cheque especial (6,9%); e financiamentos (5,8%). No total, 42,4% dos consumidores recorreram a pelo menos uma das modalidades acima listadas. Complementarmente, 57,6% não utilizaram nenhuma dessas modalidades em janeiro. No quadro de acesso ao crédito, 43,4% disseram possuir cartão de crédito e 19,4% mencionaram o crediário. Além dessas modalidades, os
financiamentos ativos, isto é, com parcelas a pagar, foram citados por 16,3%; o cheque especial à disposição, por 15,1%; e os empréstimos em instituições financeiras, por 13,9%. A sondagem ainda mostra que, para a metade dos consumidores (50,9%), a contratação de empréstimos e financiamentos é considerada difícil. Apenas 13,7% consideram a contratação de crédito fácil e 21,9% consideraram nem fácil nem difícil. Nas lojas, 22,3% tiveram o crédito negado ao tentar fazer uma compra parcelada. Os principais motivos, segundo esses entrevistados, foram a falta de comprovação ou insuficiência de renda, mencionada por 8,0%; e a negativação do nome (7,0%). Além dos que tiveram crédito negado, 57,5% não tentaram fazer compras parceladas e 20,3% tentaram e conseguiram. Para a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, a dificuldade relatada pelos consumidores foi reflexo da queda nas concessões de crédito ocorrida no período mais agudo da crise. Em razão das incertezas deflagradas pela crise, a análise de crédito tornou-se mais criteriosa e as concessões caíram ao longo de 2015 e 2016. Somente agora o crédito começa a recuperar-se, mas é prudente que haja controle e critérios sobre as concessões por parte das instituições. O consumidor também deve ser cauteloso, avaliando previamente se terá condições de arcar com os compromissos assumidos e evitando, no caso do cartão de crédito, aceitar um limite de crédito que vai muito além de sua renda. Caso contrário, corre o risco de descontrolar suas finanças e a saída dessa situação pode demorar pois, a depender do tamanho da dívida e dos juros, a renegociação pode envolver prazos longos, diz. Um dado reflete as dificuldades que podem decorrer do mau uso do crédito. Entre aqueles que tomaram empréstimos e financiamentos em algum momento, 48,1% relatam atrasos, sendo que, para 14,9% ainda existem parcelas em atraso.
Cartão de crédito Para 41% dos consumidores, valor fatura do cartão aumentou. 23% entraram no rotativo As propostas de cartão de crédito vindas de bancos, lojas de varejo e outras instituições são frequentes. Fácil de obter e cômodo para usar, esses cartões foram lembrados por quase quatro em cada dez consumidores. De acordo com a sondagem, entre os que utilizaram o cartão, 40,6% notaram aumento do valor da fatura, enquanto 34,7% notaram estabilidade e 20,8% notaram diminuição. Questionados sobre o gasto total da fatura, o valor médio foi de R$ 848,59. Ainda de acordo com a sondagem, em janeiro, 76,0% dos consumidores pagaram o valor integral da fatura, ante 22,6% que entraram no rotativo, sendo que 8,3% pagaram um valor entre o mínimo e o total; 5,2% ainda não tinham pagado no período da sondagem; 4,5% pagaram somente o mínimo e 3,8% pagaram um valor abaixo do mínimo (3,8%). Cartão de crédito e cheque especial são as modalidades com as quais o consumidor mais deve estar atento. Uma vez aprovadas, essas modalidades de crédito ficam à disposição do cliente e pode ser usadas com facilidade. Nos dois casos, porém, as taxas de juros são bastante pesadas, o que pode criar uma bola de neve, alerta Kawauti. A lista de itens comprados com o cartão de crédito é ampla e variada. Os Alimentos no supermercado foram os itens mais citados, lembrados por 59,0% desses consumidores. Em seguida, vieram os Remédios (45,5%), as Roupas, Calçados e Acessórios (33,7%) e Combustível (32,3%). Itens comprados com cartão de crédito Alimentos 59,0% Remédios 45,5% Roupas, Calçados, Acessórios 33,7% Combustível 32,3% Bares e restaurantes 25,0% Recarga para telefone celular 21,2% Maquiagem, perfumes, cremes, loções, etc. 14,6% Eletrônicos 10,8% Acessórios para automóveis 10,8% Salão de beleza 9,7% Eletrodomésticos 9,4% Materiais de construção 9,0% Livros 9,0% Viagens 8,3% Artigos de cama, mesa e banho 6,9%
Crediário Gasto médio com crediário foi de R$ 400,53 em janeiro O crediário, ou carnê, pode ser uma opção para quem não dispõe de cartão de crédito nem de dinheiro para o pagamento à vista. Em alguns casos, implica o pagamento de juros, o que o torna desvantajoso na comparação com o cartão de crédito pago em dia, já que boa parte das lojas oferece parcelamento sem juros no cartão. Pela sondagem, o gasto médio no crediário foi de R$ 400,53. Já os itens mais comprados com essa modalidade foram as Roupas (43,3%), alimentos no supermercado (27,8%), e Eletrônicos (26,8%). Móveis e eletrodomésticos, frequentemente oferecidos via crediário, foram citados por 18,6%. Itens comprados no crediário Roupas, Calçados, Acessórios 43,3% Alimentos 27,8% Eletrônicos 26,8% Eletrodomésticos 18,6% Artigos de cama, mesa e banho 17,5% Móveis 9,3% Recarga para telefone celular 7,2% Maquiagem, perfumes, cremes, loções, etc. 4,1% Não sei 5,2% Outros 3,1% Propensão ao consumo e situação das finanças Ainda no aperto: 78% dos consumidores dizem estar no vermelho ou sem sobra de dinheiro Em fevereiro de 2017, permaneceu elevado o percentual de consumidores que intencionavam cortar gastos no mês: quase a metade (49,4%) manifestaram essa intenção. Além desses, 40,4% pretendiam manter o mesmo nível e 8,4% pretendiam aumentar. Entre os que pretediam cortar, as principais razões foram os preços elevados (37,2%); a busca constante por economizar (24,8%); o desemprego (19,5%); a redução dos ganhos (18,2%); o endividamento (14,7%); e a pretensão de formar reserva financeira (13,7%). Refletindo sobre o estado das finanças, a maior parte dos consumidores ainda disseram estar no zero a zero (40,1%) ou mêsmo no vermelho (37,9%). Apenas 18,4% afirmaram estar com sobra de dinheiro. As principais razões para estar no vermelho, segundo esses entrevistados, foram os preços altos e
a dificuldade de pagar as contas (53,8%); a redução da renda (26,7%); a perda do emprego (18,2%); e a perda de controle dos gastos (12,2%) Situação Financeira No zero a zero 40,1% No vermelho 37,9% No azul 18,40% Entre os produtos que os consumidores pretendem comprar em março, excetuando-se os itens de supermercado, os remédios lideram a lista, citados por 27,6%. Em seguida, aparecem as roupas, calçados e acessórios (18,9%); a recarga para celular (18,4%), entre outros, conforme a tabela abaixo. Produtos que pretende comprar em março Remédios 27,6% Roupas, Calçados, Acessórios 18,9% Recarga para telefone celular 18,4% Perfumes, cremes, loções, maquiagem, etc. 15,3% Livros 10,4% Salão de beleza 8,3% Eletrônicos 8,0% Artigos de cama, mesa e banho 7,5% Materiais de construção 7,5% Eletrodomésticos 7,3% Móveis 7,1% Viagens 5,5% Outros 3,6% Carro/moto 2,3% Brinquedos 2,3% Casa 1,9% Não sei 11,1% Nenhum 30,0%
Em síntese, os dados acerca da situação financeira dos consumidores são bastante claros ao mostrar que, apesar de a economia ter iniciado um processo de recuperação, muitas famílias ainda estão em situação de aperto. Justamente esses casos demandam mais cuidado no uso do crédito, pois o acesso irrestrito e o uso irrefletido das modalidades disponíveis pode agravar ainda mais a situação. À medida que a renda se recupere e o desemprego caia de maneira mais expressiva, o quadro da situação financeira das famílias deve melhorar, alimentando o consumo de maneira geral e, em particular, o uso do crédito. Metodologia A pesquisa abrangeu 12 capitais das cinco regiões brasileira, a saber: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Recife, Salvador, Fortaleza, Brasília, Goiânia, Manaus e Belém. Juntas, essas cidades somam aproximadamente 80% da população residente nas capitais. A amostra, de 800 casos, foi composta por pessoas com idade superior ou igual a 18 anos, de ambos os sexos e de todas as classes sociais. Os dados foram coletados via web e presencialmente no mês de junho. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais.