ARTIGO Esse artigo traz uma reflexão critica sobre o ensino de Sociologia, e a prática educacional dessa disciplina. Para tanto, será abordado: as leis que regem o ensino no Brasil, as finalidades do ensino de Sociologia no ensino médio, qual método utilizar para a Sociologia no ensino médio e por fim o que significa ser professor. Segundo a LDB¹, a educação abrange diversos processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. O que a LDB se propõe disciplinar é a educação escolar, que se desenvolve principalmente, mas não exclusivamente, nas escolas, vinculando-se ao mundo do trabalho e da prática social. A educação escolar se compõe da educação básica formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio e da educação superior. O ensino médio, etapa final da educação básica, tem como finalidades, a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento dos estudos; a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando; para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores. Bem como, aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; a compreensão dos fundamentos cientifico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina. Os conteúdos curriculares da educação básica e conseqüentemente do ensino médio devem: difundir valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos; de respeito ao bem comum e à ordem democrática; considerar as condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento e orientar para o trabalho. ¹Lei n 9394, 20 dezembro de 1996 Estabelece as d iretrizes e bases da educação nacional..
Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que, ao final do ensino médio os alunos demonstrem: domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção moderna; conhecimento das formas contemporâneas de linguagem; domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao exercício da cidadania. A trajetória do ensino das Ciências Humanas no Brasil foi marcada por diversos tipos de intervenções e o ensino da Sociologia tem sido, neste contexto, permeado por interrupções e recomeços. Essas indefinições acabaram por dar a essas disciplinas uma aura de perda de tempo, momentos em que se deixava de estudar as disciplinas importantes como Português e Matemática. Atualmente as determinações pedagógicas apontam um caminho novo, onde o estudo das diversas disciplinas e ciências seja complementar na constituição de uma síntese entre humanas, ciências exatas e tecnologias. O ensino das Ciências Humanas emerge neste novo contexto onde a compreensão da tecnologia se alarga, buscando seu entendimento não apenas como produto ligado a Ciências Exatas mas também enquanto um processo humano. O conhecimento em Ciências Humanas e Sociais integra-se, assim, nesta visão e tentativa de construção de um sujeito completo (integral) com novas habilidades e capacidades, estando mais preparados para os novos tempos. Algumas correntes teóricas trazem concepções acerca do que deve ser a finalidade do ensino de Sociologia e Filosofia no ensino médio. Segundo sugestão do professor Enno é necessário que a Sociologia, juntamente com suas disciplinas irmãs, analise e equacione o estado atual da questão social, da democracia e, estas questões, são proporcionadas as condições de discussão de forma democrática e popular. Temos, também, as proposições de Anthony Giddens, este autor defende o pluralismo teórico, ou seja, a importância delegada não somente a transversalidade das finalidades associadas à Sociologia entre as várias áreas do conhecimento, mas também, pelo fato deste, considerar fundamental o diálogo entre as diversas disciplinas e as possibilidade de assim superar os paradigmas.
Enquanto Anthony Giddens sugere o caráter subversivo das ciências sociais, sendo que ao cientista social cabe ficar alerta aos efeitos transformadores que seus conceitos e suas teorias podem gerar sobre o seu campo de análise, o professor Enno reflete sobre o fato de que a condição democrática de criação das teorias e conceitos poderá ser inconclusa; logo as prerrogativas destes dois autores podem nos levar a questionar sobre a real aplicabilidade dos pressupostos da LDB e resoluções das diretrizes curriculares nacionais, sobre o ponto de vista epistemológico. Ainda temos as inúmeras contribuições de Pierre Bourdieu, sendo que, o autor trata da finalidade da Sociologia como a busca por superar o senso comum. O autor enfatiza a importância do papel do educador em auxiliar o aluno a romper com o freqüente erro de tentar explicar um determinado contexto social, a partir da perspectiva dos atores sociais que nela se encontram, o autor ainda salienta que o profissional em educação de ciências sociais deve estar permanentemente em vigilância epistemológica. No caso de Wright Mill, é levantada a busca pelo despertar da imaginação sociológica como finalidade do ensino de Sociologia no ensino médio. Além desses autores temos: Coulson, Riddel, Amary Moraes e Edgar Morin que compartilham da idéia de que a disciplina Sociologia, assim como as demais disciplinas do currículo escolar, não devem e não podem, ser disciplinas fechadas em si mesmas. Ao educador de Sociologia cabe proporcionar meios para que o aluno desenvolva suas competências e habilidades, podendo então abordar os problemas sociais em nível micro e macro de forma criticamente consciente. Por tanto, um conteúdo de Sociologia no ensino médio que não se comprometa em integrar a gama de conhecimentos possibilitados por esta ciência com a problematização dos fatos ligados à realidade ao cotidiano dos alunos não irá, necessariamente, cumprir seus objetivos. Um plano de ensino, para Sociologia deve ser construído através do debate entre professores das mais diversas disciplinas, funcionários, pais e alunos, no âmbito da escola propriamente dita, real, localizada no espaço e no tempo, caso contrário tenderá simplesmente a repassar aos alunos um conhecimento desprovido de sentido e utilidade.
O método da problematização, proposto por Paulo Meksenas, aparece como grande contribuição para questão de como ensinar a Sociologia, ele consiste em partir de assuntos do cotidiano, do senso comum, em busca de problemas releventes os pontos-chave; em seguida, estes pontos-chave devem ser trabalhados teoricamente introduzindo-se assim os conteúdos; então uma terceira etapa seria a proposição de soluções para os problemas apontados, superando as dificuldades iniciais com base em dados sistematizados e científicos, fornecendo meios para que os alunos possam então, por iniciativa própria, analisar e compreender a realidade que se lhes impõe. As determinações da LDB e os anseios tanto da sociedade brasileira como um todo, quanto das comunidades escolares de desenvolvimento critico dos indivíduos, criando capacidades que permitam o exercício efetivo da cidadania, dependem de uma tomada de posição de diversos atores da sociedade e não depende unicamente do ensino da Sociologia no Ensino Médio. Mesmo que esta disciplina tenha como conceitos fundamentais conhecimentos que necessariamente devam ser compartilhados tais como comunidade, sociedade, solidariedade, identidade, igualdade, controle e mudança social entre muitos outros, o ensino de qualquer disciplina passa hoje pela necessidade de revisão do papel da escola enquanto instituição social (outro conceito sociológico!) como um todo. Essa discussão deve envolver todos os atores sociais que, de um modo ou de outro, estão ligados à escola: trabalham na escola, têm filhos na escola ou no mínimo passaram, ou não, pela escola. A Sociologia no currículo escolar possibilita visualizar a construção destas tão desejadas capacidades críticas e cidadãs perpassando todas as atuais e futuras disciplinas e conhecimentos ministrados na escola. O ensino da Sociologia no Ensino Médio pode fundamentar essa construção na medida em que seus conceitos e métodos implicam necessariamente na tomada de uma nova postura em relação ao conhecimento, e a própria construção destes conhecimentos, mas não irão sozinhos mudar a realidade de nenhuma comunidade, muito menos, de uma sociedade inteira. Creio ser a Sociologia de fundamental importância para formação do cidadão integral, sendo sua finalidade tocar no lado ético, critico e intelectual, do aluno.
Contudo, a Sociologia só vale a pena se for um instrumento de transformação, um ensino de Sociologia para o ensino médio que não se comprometa em integrar a gama de conhecimentos possibilitados por esta ciência com a problematização dos fatos ligados à realidade cotidiana dos alunos não irá, necessariamente, cumprir seus objetivos e suas finalidades. O que é ser professor? Talvez essa seja uma das questões de maior recorrência nas disciplinas de educação, sendo que em nenhuma circunstância consegui encerrar a questão, mesmo discutindo conceitos complexos ou partindo para argumentação poética. Por isso, faz-se necessário buscar uma construção, mesmo que particular, sobre o que é ser professor, afinal, estou aceitando esse desafio. Quem sabe posso iniciar estabelecendo a diferença entre ser professor, apenas como uma função técnica e ser educador, o que vai mais além. Essa educação que trabalha voltada para o conteúdo, onde cada professor pensa que sua obrigação maior é dar o programa, seguir o planejamento a risca, precisa repensar sua função. O planejamento não pode ser descartado, como nos traz Madalena Freire, ele é uma contribuição para uma prática educativa, mas não seu fim. Temos que nos convencer de que a base do compromisso educacional é o aluno! Não a matéria! Não basta a escola ser um simples difusor de conhecimentos, e os professores simples transmissores de saberes. Ensinar a ler, a contar, a conhecer a geografia, a história ou a matemática, é, sem dúvida nenhuma uma tarefa meritória. Mas nossa sociedade atual exige da educação, e de nós professores, muito mais: devemos levar o aluno a pensar, a contextualizar, a analisar comparativamente, a quebrar preconceitos, a superar o senso comum, desenvolvendo sujeitos capazes de gerar transformações, sujeitos que buscarão soluções gradativas para os problemas que afetam o seu meio. Enfim ser professor é ser: educador, é ser mediador, nos cabe a nobre função de formar cidadãos. No estágio de prática de ensino fica claro que é possível sim efetivar essa construção, não é uma tarefa fácil, mas não é algo impossível de ser atingido.
Bibliografia: BOURDIEU, Pierre. A profissão do Sociólogo: Preliminares Epistemológicas. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1999. COULSON, Margaret A., RIDDELL, David S. Introdução Crítica à Sociologia. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1979. FREIRE, Madalena et al. Planejamento. In: Freire, Madalena et al. Avaliação e Planejamento: a prática educativa em Educação. Instrumentos pedagógicos II. 1997. LIEDKE, Enno Filho D. Para que servem as Ciência Sociais?. UFF, Niterói. 2004. GIDDENS, Anthony. Em defesa da Sociologia. São Paulo, Editora Edições 70. 1999. MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1969. MORIN, Edgar. Articular Saberes. In: A Religação dos Saberes O desafio do século XXI. RJ, Bertrand Brasil, 2002. MEKSENAS, Paulo. Sociologia. Editora Cortez. São Paulo, 1990. MORAES, Amaury. Por que Sociologia e Filosofia no ensino médio? Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo-SINSESP, 1999.