MANEJO ALIMENTAR DE CORDEIROS - ALGUNS ASPECTOS



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Transcrição:

MANEJO ALIMENTAR DE CORDEIROS - ALGUNS ASPECTOS Luciana Castro Geraseev 2 Juan Ramon Olalquiaga Perez 1 Bruno Carneiro e Pedreira 3 1 INTRODUÇÃO A produção de carne ovina, conforme Siqueira (1996), tem aumentado recentemente, impulsionada por um mercado consumidor potencialmente grande nos centros urbanos brasileiros. A ovinocultura expande-se agora por vários estados, sobretudo Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e, recentemente, Minas Gerais. A produção de carne apresenta-se como uma atividade alternativa capaz de adicionar renda aos negócios, não só dos ovinocultores em si, mas à atividade rural como um todo, independente de ter ou não tradição na criação de ovinos (Silva, 1999). A carne ovina vem sendo apontada como uma alternativa de fonte protéica. No entanto, para a produção de animais jovens para o abate é preciso modificar o meio ambiente, principalmente no que se refere à alimentação. As alternativas que se apresentam são o uso de pastagem cultivada e o fornecimento de alimento no cocho, como forma de suplementar o pasto ou, então, manter os animais confinados. 1Professor Titular DZO/ULFA E-mail:jroperez@ufla.br 2 Aluna do Curso de Pós-Graduação DZO/UFLA. E-mail:lgerasev@ufla.br 3 Aluno de Graduação DAG/UFLA E-mail: brunocp@ufla.br

6 Para se tomar a decisão de confinamento total, parcial ou mesmo a suplementação a pasto, alguns fatores devem ser observados: o mercado ao qual são destinados os cordeiros, características de demanda, preço, etc. Para uma decisão consciente, outros fatores tais como raça, condições locais de produção de alimento também são importantes. Com base nessas informações, o produtor poderá optar por um ou outro sistema (Perez, 1996). A seguir serão descritos os aspectos relativos ao manejo alimentar de cordeiros, criados tanto em confinamento quanto a pasto. Como já comentado, a aplicação das sugestões aqui apresentadas vai depender dos objetivos do programa de produção, bem como da economicidade da estratégia proposta em face das respostas esperadas. 2 PERÍODO DE ALEITAMENTO O aleitamento é a primeira fase da criação e é fundamental para o futuro dos animais. Independente do sistema de criação adotado (extensivo, semi-intensivo ou intensivo), o principal objetivo durante o período de aleitamento é fazer com que os animais cheguem ao ponto de desaleitamento o quanto antes. O período necessário para que isso ocorra varia em função do sistema de criação. Para obter sucesso nessa fase da criação é fundamental que os cordeiros nasçam com um peso adequado, recebam colostro suficiente e todos os cuidados iniciais necessários, proporcionando condições para que os animais possam expressar todo seu potencial de crescimento. Uma vez

7 estabelecida a rotina desta fase e a época de desmame, deve-se procurar fazer com que tudo transcorra como programado, dando muita atenção à ocorrência de diarréias, que atrasam consideravelmente o desenvolvimento dos animais. 2.1 Consumo de leite Durante as primeiras duas ou três semanas após a parição, a produção de leite da ovelha corresponde de 40% a 50% do total da lactação, que varia até 16 semanas. A partir da 6ª a 8ª semana de lactação, a ovelha começa a diminuir a produção de leite, reduzindo seu volume diário em 40% a 50% (Figueiró, 1990). Esse declínio na produção de leite varia numa taxa de 15 a 20 g a menos/dia, durante o segundo e terceiro meses. De maneira geral, pode-se dizer que, até uma semana de idade, os cordeiros dependem exclusivamente do leite das ovelhas. Após esse período, a suplementação com concentrado e volumosos de boa qualidade estimula o desenvolvimento precoce do rumem e pode aumentar a taxa de crescimento destes animais (Santra e Karin, 1999). Vários experimentos foram realizados com aleitamento natural e com suplementação de alimentos sólidos, sempre mostrando que a suplementação promove o crescimento. Esta suplementação compensa o crescimento do cordeiro, principalmente quando há falta de leite. Porém, a suplementação à base de feno e concentrado seria negligente se fornecida durante a primeira semana de vida do cordeiro. Ela é

8 mais adequada a partir dos 15 a 20 dias de idade, quando começa a decrescer a produção de leite da mãe. O consumo de feno-concentrado pelo jovem cordeiro vai depender da produção de leite da mãe. A produção de leite da ovelha pode ser estimada pela da performance do cordeiro durante o primeiro mês, quando o leite representa a única fonte de nutrientes. Durante este período, a taxa de crescimento do cordeiro varia com o consumo de leite. A eficiência pode variar com o sexo e a idade, mas 5 litros/kg de ganho podem ser considerados um boa estimativa (Thériez, 1997). 2.2 Consumo de alimentos sólidos A alimentação sólida é de grande importância para um desaleitamento precoce sem prejuízos no desempenho dos animais. Entre a segunda e terceira semanas de vida, os cordeiros devem ter acesso à água limpa, uma mistura mineral completa, feno de boa qualidade e concentrado ( creep-feeding ). O uso de um bom feno pode se justificar, em alguns casos, pois mesmo com seu alto preço ainda é mais barato do que o leite. O creep-feeding é bastante utilizado e imprescindível em sistemas intensivos de produção de ovinos, quando se deseja fazer o desmame precoce de cordeiros (menos de 60 dias). A utilização deste resulta em crescimento mais rápido. Normalmente, o acesso a esta suplementação deve ser iniciado por volta dos dez dias de idade (Susin, 1996). O consumo de alimento sólido nos primeiros dias, mesmo que em pequenas quantidades, é

9 fundamental para o desenvolvimento do rúmen. As formulações para creep feeding não precisam ser complexas, mas há dois aspectos importantes: composição e palatabilidade do suplemento, sendo este último o fator mais importante (Susin, 1996). Visando à obtenção de bons resultados com a aplicação do creep feeding, a dieta oferecida, além de palatável, deve conter um alto nível energético, concentração de proteína mínima de 15% e adequado teor de minerais, especialmente o cálcio. Isso porque os grãos contêm quantidade insuficiente para atender às necessidades destes animais (Siqueira, 1996). Sendo assim, suplementos minerais e vitamínicos devem ser incorporados no creep. Santra e Karin (1999) testando três dietas para c reep feeding, com níveis de proteína variando em 18% e 27% chegaram à conclusão de que altos níveis protéicos em dietas com níveis similares de energia não melhoram o desempenham dos animais. Isso porque ocorre um aumento nas perdas de proteína através das fezes e urina. Portanto, a utilização do nível de 18% é suficiente para este tipo de suplementação. Dos diferentes componentes viáveis para o creep feeding, especial atenção pode ser dada à uréia. Uréia não é tóxica na alimentação do cordeiro, e isto é verdade por duas razões: primeiro, o consumo pelos cordeiros nunca é tão rápido como pelas ovelhas e segundo, quando a concentração de uréia for alta (1,5% a 2%), a palatabilidade do concentrado diminui e o consumo cai. Então, a uréia pode ser incorporada na alimentação de cordeiros ainda em aleitamento. A mistura de 50% de uréia e 50% de água ajuda na diluição e mistura, podendo ser usada na taxa de 2% a 3% dos grãos (Thériez, 1997).

10 Segundo Jordan e Gates (1961), a utilização do creep feeding melhora o desempenho de cordeiros na fase de aleitamento, como pode ser observado na Tabela 1. Tabela 1: Efeito da suplementação de cordeiros e ovelhas sobre o desempenho de cordeiros em fase de aleitamento. Ganho de peso diário (g/dia) Ovelha sup. com feno Ovelha sup. com feno e grãos Fonte: Jordan e Gates (1961) Com creep Sem cr eep 300 330 150 200 O consumo de forragens é indicado a partir da terceira semana de idade. A digestibilidade e o conteúdo de água são os fatores limitantes para o consumo pelos jovens cordeiros. As silagens (milho, sorgo e capim) não são indicadas nesta fase, pois não são as forragens ideais para consumo na terceira semana de vida, porque possuem partículas longas e os cordeiros passam muito tempo ruminando, diminuindo assim seu consumo. Fornecer o volumoso inteiro, colocado acima da cabeça dos animais, em uma manjedoura ou preso em pequenos maços pendurados nas cercas, parece estimular a curiosidade e acaba acarretando uma ingestão mais precoce.

11 3 PERÍODO PÓS-ALEITAMENTO 3.1 Terminação em confinamento O acabamento de cordeiros em regime de confinamento não se constituía em uma prática usual entre os ovinocultores brasileiros, que tradicionalmente adotam o sistema extensivo de produção. Porém, em função das boas perspectivas para a comercialização da carne ovina é necessária a intensificação no processo de terminação de cordeiros, para agilização dos negócios e produção de carne ovina de qualidade. Sendo assim, o confinamento apresenta-se como uma boa alternativa entre os diferentes métodos de alimentação. De acordo com Siqueira et al. (1993), outra grande vantagem do confinamento em relação à terminação em pastagem está na diminuição das infecções endoparasitárias (helmintíases), o que proporciona diminuição na mortalidade dos animais e maiores ganhos de peso diário nos cordeiros confinados. O sistema de terminação de cordeiros em confinamento deve ser bem planejado, procurando integrar genética para produção de carne, alimentação e manejo para obter-se um retorno econômico. Para que a terminação de cordeiros em confinamento seja economicamente viável, alguns pontos devem ser observados. Entre eles, destacam-se: a duração do confinamento, a utilização de subprodutos, a compatibilização do nível nutricional e do potencial genético do animal.

12 A duração do confinamento é, sem dúvida, um fator essencial para a viabilidade econômica do processo. Para tanto, é essencial a escolha dos animais, uma vez que animais pequenos geralmente demoram a atingir o peso de abate, alongando o período confinado, o que pode elevar consideravelmente os custos de produção (Barros et al., 1997). Segundo Siqueira (1999), um bom cordeiro para o confinamento deve apresentar boa conversão alimentar, altas taxas de crescimento muscular e adequada deposição de gordura. Quanto à idade dos animais a serem confinados, segundo Macedo (1996), o maior desenvolvimento dos cordeiros ocorre nos primeiros 120 dias de vida. Este é o período mais indicado para o confinamento dos animais. Quanto ao manejo durante o período de confinamento, é recomendável que, antes do início do confinamento, os cordeiros sejam vermifugados. Durante o confinamento, os cochos devem estar sempre abastecidos de alimento, com cuidado para não haver desperdícios. Outro ponto essencial para o sucesso do confinamento é efetuar uma análise prévia de mercado e de custo/benefício (Barros et al., 1997). Nestes casos, a utilização de subprodutos é recomendável como forma de diminuir os custos com a alimentação.

13 3.1.1 Desmame Para o confinamento dos cordeiros, recomenda-se que estes sejam desmamados precocemente, mas nunca desmamados muito cedo, antes dos 21 dias de idade e, sim, depois de obter um peso mínimo. O desmame pode ser feito quando os cordeiros estiverem com seu peso ao nascer triplicado e consumindo no mínimo 200 g/dia de uma ração complementar. Quando os cordeiros são alimentados com volumoso antes do desmame ou quando a ração complementar não é de alta palatabilidade, é melhor desmamar acima de 62 dias, quando o peso atual é maior que quatro vezes o peso ao nascimento (Thériez, 1997). No desmame precoce, as exigências dos cordeiros são muito altas, e podem ser ofertadas dietas com proteína by -pass para suprir as exigências de aminoácidos essenciais. Uma dieta que atenda às exigências nutricionais líquidas para cordeiros com desmame precoce pode promover ganhos de 350 a 400 g/dia. O consumo de matéria seca depende do peso vivo e da proporção de forragem na dieta. Através de um feno de excelente qualidade, pode-se fornecer uma dieta com inclusão de no mínimo 20% desse feno (Thériez, 1997). A farinha de peixe ou farelo de soja pode ser usada como suplemento de uma alimentação feita à base de cereais. O farelo de soja é um ingrediente muito importante no creep porq ue contém proteína de alta qualidade e palatabilidade, para o caso de cordeiros desmamados precocemente.

14 3.1.2 Concentrados Para a formulação de dieta para ovinos em crescimento, no início do confinamento, devem ser consideradas as exigências nutricionais dos cordeiros e os seguintes fatores dietéticos influenciam: consumo de matéria seca esperado, proporção de volumoso e concentrado, nível e fonte de proteína suplementar e digestibilidade dos componentes dietéticos. Segundo Fernandes et al. (1992), o nível de proteína e energia no concentrado, além de afetar diretamente o desempenho do cordeiro em confinamento, também pode afetar a conversão alimentar dos mesmos e, conseqüentemente, a relação custo/benefício. De acordo com este autor, dietas com maior teor energético e protéico propiciaram maiores ganhos de peso e melhores taxas de conversão alimentar. De acordo com Orskov (1994), a necessidade protéica dos animais é maior no início do crescimento, sendo que a relação proteína: energia tende a diminuir com o aumento de peso dos animais. Assim, no início do crescimento, a resposta dos animais aos níveis de suplementação com proteína tende a ser maior. Entretanto, segundo o mesmo autor, apesar das diferenças nas exigências dos animais mais jovens e mais velhos com relação à proteína, durante o período de terminação pode-se adotar uma dieta com nível médio de proteína ao redor de 15%. Quanto ao aporte energético recebido pelo cordeiro durante a fase de terminação, este dependerá do peso vivo médio dos animais e também de outros fatores como raça e sexo. O aporte energético tem uma importância fundamental, pois exerce um efeito direto sobre a composição da carcaça e,

15 conseqüentemente, no produto final que chega ao consumidor. A utilização de dietas com níveis inadequados de energia pode resultar em deposição excessiva de gordura na carcaça (Perez, 1996). Além dos níveis protéicos e energéticos, a forma de fornecimento, principalmente dos grãos, pode alterar a fermentação ruminal e conseqüentemente, o desempenho de cordeiros confinados (Orskov, 1994). No caso do milho moído (Tabela 2), a diminuição do tamanho da partícula proporcionou um aumento na taxa de passagem, com conseqüente redução na digestibilidade e conversão alimentar. Tabela 2: Efeito da forma de fornecimento de cereais sobre os parâmetros ruminais e desempenho de cordeiros confinados. Milho inteiro Milho moído ph ruminal Ac.acético Ac.propiônico Ganho (g/dia) Digestibilidade (%) C.A. Fonte: Orskov, 1994 6,1 47,2 38,7 345 84,3 2,52 5,2 41,3 43,2 346 82,1 2,62 Quanto à quantidade de alimento a ser oferecido, esta dependerá principalmente da densidade da dieta que esteja se utilizando. Mas, de maneira geral, pode-se dizer que, no início, o consumo geralmente é em torno de 300 a 600 g, chegando até 1,5 kg/animal/dia, o que proporciona ganhos diários na ordem de 250 a 300 g. É importante ressaltar que os animais devem ser agrupados de acordo com o peso vivo médio, em

16 princípio não devendo ultrapassar mais de cem animais por lote (Speedy, 1980). 3.1.3 Volumosos Vários tipos de volumosos podem ser usados com sucesso na dieta de cordeiros em terminação. A escolha do volumoso depende do custo, disponibilidade, facilidade de processamento e distribuição. O confinamento de cordeiros recém-desmamados com o uso de altos níveis de concentrado é bastante comum, principalmente em determinadas regiões onde existem raças produtoras de carne, com grande potencial. As vantagens deste sistema incluem o rápido crescimento comparado com animais criados recebendo forragens por um mesmo período de tempo (Notter et al., 1991). De maneira geral, os fenos de boa qualidade são os volumosos mais indicados para serem utilizados para terminação de cordeiros em confinamento. Entretanto, vale sempre ressaltar que a escolha do tipo de volumoso a ser utilizado deverá sempre ser analisada também do ponto de vista econômico. Camurça et al. (2000), analisando o desempenho produtivo e o consumo de nutrientes de ovinos em confinamento alimentados com feno de diferentes gramíneas tropicais (capim-elefante, capim-buffel, capim-milhãroxa e capim-urochloa), não encontraram diferenças no consumo e no ganho

17 de peso dos animais. De acordo com Freitas et al. (2000), o desempenho semelhante dos cordeiros alimentados com os diferentes fenos pode ser explicado pelo nível de FDN dos mesmos, uma vez que as gramíneas apresentavam valores semelhantes de FDN. Na Tabela 3 encontram-se os resultados do estudo conduzido por Freitas et al. (2000) sobre a correlação do conteúdo de FDN em gramíneas e leguminosas e o consumo por ovinos. Pelos resultados apresentados é possível notar que existe uma correlação inversa entre o nível de FDN e o consumo de matéria seca do volumoso. Tabela 3: Conteúdo de FDN e consumo médio de diferentes volumosos por ovinos. FDN (%) Consumo de matéria seca (g) Gramíneas 73,14 508,8 Leguminosas 45,96 694,96 Palhas 81,36 311,74 Bagaço de cana 86,27 86,49 Fonte: Freitas et al. (2000) As silagens de gramíneas também podem fazer parte da dieta de cordeiros confinados, porém, é necessária a suplementação com concentrados para obtenção de altos índices produtivos (Susin, 1996). Bueno et al. (1998) utilizaram cordeiros alimentados com silagem de milho, silagem de sorgo granífero ou feno de gramínea ad libitum e ração concentrada (3,5% do peso vivo, com 20% de PB) com o objetivo de avaliar características de carcaça e seu desempenho. Os animais alimentados com

18 silagem de milho ou de sorgo apresentaram maior ganho de peso diário e menor idade de abate que os alimentados com feno (devido ao menor teor de FDN e maior concentração energética). O rendimento de carcaça e de seus cortes, a espessura da gordura subcutânea e o grau de gordura não foram afetados pelo tipo de alimento. Contudo, os animais alimentados com silagem de milho apresentaram carcaças com maior porcentagem de gordura que os demais e menor de músculo que os alimentados com silagem de sorgo. Assim, a silagem de milho ou de sorgo propiciou desempenhos semelhantes, o feno de gramínea, com as características em estudo, levaram a menor desempenho dos animais, sendo as características de carcaça alteradas pelo tipo de alimento volumoso consumido pelos animais. Quanto à relação volumoso:concentrado para ovinos, Gastaldi & Silva Sobrinho (1998) avaliaram o desenvolvimento ponderal de borregos e borregas F1 Ideal x Ile de France em confinamento, visando comparar essa relação de concentrado:volumoso de 50:50 (R 1 ) e 70:30 (R 2 ). Os ganhos de peso médios no período foram superiores para os animais machos e para os que receberam a ração R 2 (9,66 versus 9,25 kg e 10,29 versus 8,62, respectivamente). O melhor desempenho dos animais que receberam a ração R2 ocorreu principalmente nas três primeiras semanas de confinamento (período pós desmame); Nos 30 dias finais os desempenhos foram semelhantes (devido, provavelmente, ao fato de o estômago não estar totalmente desenvolvido). As fêmeas apresentaram melhor desempenho no primeiro mês do confinamento, sendo posteriormente superadas pelos machos. Trindade et al. (2000) também encontraram uma relação inversa entre a porcentagem de volumoso na dieta e o consumo de matéria seca e

19 desempenho de ovinos lanados e deslanados (Tabela 4). Entretanto, vale a pena ressaltar que, para a adoção da relação concentrado:volumoso ideal, devem ser levados em consideração o desempenho do animal e o custo da dieta. Tabela 4: Consumo de máteria seca de ovinos lanados e deslanados recebendo diferentes proporções de concentrado:volumoso na dieta. Dieta Consumo de matéria seca (volumoso:concentrado) (g/ kg PV 0,75 /dia)) 40:60 101,97 60:40 94,37 80:20 85,13 Fonte: Trindade et al. (2000) Dietas à base de palhas não tratadas podem reduzir o consumo e o desempenho de cordeiros. Entretanto, o tratamento da palha pode minimizar estes efeitos adversos (Greenhalgh, 1982). Segundo Thériez (1997), dietas à base de palha tratada e concentrado podem promover uma alta taxa de crescimento e alta eficiência (um cordeiro de 30 kg peso vivo consome menos de 200 g de palha e 1 kg ou mais de concentrado por dia). Porém, essa dieta pode induzir à gordura subcutânea e à ruminite. Substituir a palha por um feno de alta qualidade pode ajudar a prevenir esta desordem.

20 Tabela 5: Consumo e velocidade de crescimento de cordeiros alimentados com dietas com palha tratada e não tratada. Dieta Consumo MS Ganho de peso (g/dia) (g/dia) Concentrado + palha tratada Concentrado + palha não trat. 908 680 140 74 Fonte: Greenhalgh, 1982 3.1.4 Utilização de subprodutos Como comentado anteriormente, a terminação de cordeiros em confinamento minimiza os problemas com verminose e intensifica a produção de carne pelo aumento na velocidade de crescimento dos animais. Entretanto, neste sistema, a alimentação representa grande parte do custo de produção. Nesse caso, a utilização de subprodutos é recomendável com o objetivo de minimizar estes custos. Perez et al. (1998 a,b), avaliando o desempenho de cordeiros Bergamácia e Santa Inês alimentados com diferentes níveis de dejetos de suínos, concluíram que a utilização de até 45% deste subproduto não prejudicou o desempenho dos animais e também não afetou as características relacionadas à carcaça dos cordeiros. Resultados obtidos pela EMBRAPA (1993), com rações à base de cama de frango (apresentados na Tabela 6), mostram ser possível utilizar até 54,6% deste subproduto em rações para cordeiros em confinamento. Os

21 ganhos de peso foram satisfatórios e a conversão alimentar foi considerada boa, denotando bom aproveitamento do alimento. Tabela 6: Rações experimentais e desempenho de cordeiros F 1 confinados com dietas à base de cama de frango. Itens T 1 T 2 T 3 1. Composição da dieta: Cama de frango Farelo de soja Milho em grão Sal comum Farinha de ossos 8 54,6 35,4 9,0 0,8 0,2 8 32,1 39,0 27,9 0,8 0,2 8 14,2 41,0 43,8 0,8 0,2 2. Desempenho dos cordeiros Peso inicial (kg) Ganho de peso (g/dia) Consumo de MS (g/kg 0,75 /dia) Conversão alimentar Fonte: EMBRAPA (1993) 20,0 150,0 a 83,7 a 6,5 a 21,0 182,0 a 89,4 b 5,7 b 21,2 205,0 a 91,0 b 5,4 b Outros subprodutos podem ser utilizados na alimentação de cordeiros confinados. Garcia (1998) avaliou os efeitos da substituição do milho moído pelo resíduo de panificação - biscoito - RPB (Tabela 8), sobre o desempenho (ganho de peso, ingestão de matéria seca e conversão alimentar), digestibilidade da matéria seca e da proteína bruta, assim como os caracteres quantitativos e qualitativos da carcaça de cordeiros em terminação confinados. Os resultados obtidos mostraram que houve diferença (P<0,01) para ganho de peso e digestibilidade da matéria seca; (P<0,05) para o rendimento de carcaça quente e fria, comprimento interno da carcaça, peso da costela descoberta, porcentagem da paleta, espessura

22 máxima de gordura de cobertura do músculo Longissimus dorsi, aroma e maciez. Os resultados obtidos (Tabela 7) permitiram concluir que o resíduo de panificação até o nível de 66%, pode ser utilizado em substituição ao milho sem prejudicar o desempenho dos animais. As características quantitativas e qualitativas das carcaças de ovinos não foram afetadas em nenhum dos tratamentos, estando dentro do padrão de mercado. Tabela 7: Desempenho de cordeiros confinados alimentados com distintos níveis de Resíduo de Panificação de Biscoito. Variável 0% 33% 66% 100% Ganho médio diário (g) Conversão alimentar Ingestão de matéria seca Fonte: Garcia & Silva Sobrinho, 1998. 276a 3,84 1.050 258a 3,89 1.000 251a 4,13 1.030 191b 4,26 810 Monteiro et al. (1998) conduziram um trabalho com cordeiros machos inteiros com peso vivo de 17 kg. Os tratamentos utilizados foram quatro níveis de substituição (0%, 15%, 30% e 45%) do milho pela polpa cítrica, sendo todas dietas isoprotéicas, com média de 17,20% de PB. A relação volumoso:concentrado foi de 20:80, com dieta total balanceada segundo o NRC (1985). Os parâmetros estudados foram ganho de peso diário, ingestão de matéria seca, conversão alimentar, rendimento de carcaça quente e fria, rendimento comercial e verdadeiro, e quebra no resfriamento. Estes autores concluíram que os níveis de substituição não afetaram nenhum dos parâmetros avaliados (P>0,05). Assim, a polpa cítrica peletizada pode ser utilizada em dietas de cordeiros até 45% em substituição ao milho, sendo

23 que o nível na MS fique em torno de 22%, com bons resultados, sem afetar o desempenho e as características das carcaças dos cordeiros. 3.2 Terminação em pastagem A ovinocultura brasileira caracteriza-se, em geral, pelo sistema extensivo de criação, isto é, em regime exclusivo de pasto. Nestas condições, a expressão do potencial genético dos animais torna-se limitada, devido à descontinuidade do valor nutritivo das forragens, em função das características climáticas e da própria fisiologia das plantas forrageiras. Entretanto, a adoção de um sistema de criação intensivo sob pastejo é possível, desde que se utilizem forrageiras de elevada produtividade e de bom valor nutritivo, associadas a um manejo de pastagem adequado (Santos et al., 1999). A utilização de pastagens nativas não permite um desempenho satisfatório de cordeiros destinados à terminação, conforme pode ser observado pelos resultados apresentados na Tabela 8 (Avila et al., 1996).

24 Tabela 8: Médias (kg) de peso inicial e final, ganho de peso total e diário, de cordeiros terminados em campo nativo ou pastagem cultivada. Campo nativo Pastagem cultivada Peso inicial 21,36 25,84 Peso final 32,16 41,04 Ganho de peso total 10,80 15,19 Ganho de peso diário 0,179 0,252 Fonte: Avila et al., 1996 Figueiró (1975) realizou um estudo no qual observou os efeitos decorrentes do uso de uma melhor condição nutritiva, proporcionada por pastagem cultivada de inverno (azevém + trevo branco), usando as raças Corriedale, Ideal e cruzas com Hampishire Down. O autor também observou efeito do nível nutricional sobre o desempenho dos cordeiros. Neste estudo foi obtido um ganho diário de 130 g para animais alimentados em pastagem nativa e de 233 g para aqueles em pastagem cultivada. Para a adoção de um regime de pastagem visando à maximização dos recursos disponíveis, é primeiramente necessário o conhecimento do hábito de pastejo desta espécie. Assim será possível adequar a carga animal com a produção forrageira, tanto em termos qualitativos quanto quantitativos (Leite e Vasconcelos, 2000). De maneira geral, pode-se dizer que os ovinos apresentam hábitos alimentares diferentes dos bovinos. Essas diferenças são decorrentes da própria anatomia bucal destes animais, caracterizada pela extrema mobilidade dos lábios e pela forma de apreensão do alimento com o uso de lábios, dentes e línguas. Estas características permitem ao animal apreender

25 com facilidade partes específicas das plantas, possibilitando a escolha de partes mais tenras e palatáveis em detrimento das partes mais fibrosas e, conseqüentemente, de menor valor nutritivo (Silva Sobrinho, 1997). A implicação prática de tal hábito de pastejo é que os ovinos conseguem realizar um pastejo bastante seletivo e rente ao solo. A escolha da forrageira que será utilizada na terminação destes animais deve levar tais aspectos em consideração. Em função disso, as forrageiras mais indicadas são aquelas que suportam o manejo baixo, apresentam intensa capacidade de rebrota e tenham sistema radicular bem desenvolvido, garantindo boa fixação ao solo. Levando-se em consideração tais características, as gramíneas mais recomendadas para ovinos seriam aquelas de hábito prostrado, pois estas atendem relativamente bem às exigências da espécie e seus hábitos de pastejo peculiares (Santo et al., 1999). Quanto à utilização de espécies cespitosas de porte alto, como os capins colonião (Panicum maximum), elefante (Pennisetum purpureum), jaraguá (Hyparrhenia rufa) e outros, o que se observa é que os ovinos não aproveitam integralmente a forragem produzida. Apesar disso, algumas forrageiras entouceiradas, de porte médio, podem ser utilizadas pelos ovinos, desde que manejadas a baixa altura, como o capim de Rhodes (Chloris gayana), em razão do seu alto valor nutritivo. (Santos et al., 1999). Apenas a escolha da espécie de forrageira mais apropriada para a terminação dos cordeiros não é o suficiente para garantir o sucesso do empreendimento. É necessário também adotar um manejo adequado das pastagens a serem utilizadas por esta categoria animal.

26 O manejo adequado das pastagens a serem utilizadas por estes animais deve obrigatoriamente levar em conta dois aspectos: a obtenção de forragem em níveis elevados de qualidade e quantidade e a manutenção de um reduzido nível de contaminação por ovos e larvas de helmintos. Estes dois pontos irão influir na carga animal a ser utilizada, ou seja, no número de cordeiros que as pastagens poderão manter (Roda et al., 1986). Quando se pensa em um sistema mais intensivo, as pastagens devem ser manejadas, obrigatoriamente, em esquema de rotação, visando principalmente manter-se a infestação da forragem por larvas de helmintos em níveis os mais baixos possíveis. O período de repouso irá variar em função da época do ano, das condições climáticas, da espécie forrageira e das condições de fertilidade do solo. Em média, considera-se um período de 35 a 45 dias como suficiente para se diminuir o nível de infestação por vermes e, ao mesmo tempo, propiciar condições para uma boa recuperação da forrageira (Roda et al., 1986). Outra alternativa a ser adotada no esquema de controle da verminose é a utilização concomitante da área de pastejo por bovinos e/ou eqüinos. Isso decorre da baixa possibilidade de infestações cruzadas entre os diferentes tipos de helmintos que parasitam cada uma dessas espécies e ao papel de limpeza que cada um exerce quando ingere e elimina das pastagens as larvas de vermes específicas da outra. Há ainda que se considerar o aspecto positivo que a consorciação de espécies, com diferentes hábitos de pastejo, exerce sobre a quantidade e qualidade de forragem, em razão da maior uniformidade e equilíbrio no pastejo (Santos et al., 1999).

27 Neste esquema de pastejo rotacionado é imprescindível determinar a carga animal que será utilizada nas áreas disponíveis. Para tanto, é necessário o conhecimento da produção de matéria seca da forrageira utilizada, a perda de forrageira por acamamento e a ingestão de matéria seca pelos animais. Quanto à produção de matéria seca da forrageira, ela irá variar de acordo com a espécie escolhida. Quanto às perdas por acamamento pode-se considerar que estas estejam em torno de 20% da produção de matéria seca da forragem e para o cálculo de ingestão de matéria seca pelos cordeiros consideram que esteja em torno de 3% do peso vivo dos animais (Santos et al., 1999). De posse dessas informações, é possível calcular a taxa de lotação a ser utilizada durante o ano. Vale ressaltar que, considerando a carga animal constante durante o ano, é necessário programar a produção de forragens conservadas para suprir a deficiência de alimento durante o período seco. Segundo Moron-Fuenmayor e Clavero (1999) a combinação de dietas baseadas na utilização de pastagens suplementadas com concentrado ou por banco de leguminosas resulta em um sistema viável de alimentação para produzir cordeiros de corte. Isso ocorre especialmente quando se leva em consideração a diminuição na produção das gramíneas que ocorrem durante o período seco. Quanto às exigências dos animais, as pastagens de boa qualidade e bem manejadas geralmente suprem adequadamente a energia, mas os ovinos podem precisar de suplemento protéico e usualmente fósforo. Os requerimentos para energia de mantença para ovinos em pastejo são 60% a

28 70% maiores quando comparados com animais confinados, devido, principalmente, à energia gasta com atividades de locomoção (NRC, 1985). 4 CONCLUSÕES Para melhorar a eficiência da produção ovina é necessária a utilização de estratégias de alimentação que atendam aos objetivos do sistema de criação. Para tanto, a adoção de um plano nutricional racional e econômico é imprescindível. Para que seja possível a aplicação destas estratégias de alimentação, o balanceamento das dietas deve levar em consideração a demanda nutricional dos animais e, desse modo, evitar deficiências ou desperdícios. A adoção de um manejo inadequado poderá levar a uma diminuição no peso ao nascer dos cordeiros, menor vigor dos cordeiros nascidos, maior mortalidade de cordeiros e menores taxas de crescimento. Estes fatores estão correlacionados diretamente com a produtividade do rebanho e, portanto, um manejo incorreto poderá diminuir esta produtividade e, conseqüentemente, o retorno econômico do produtor.

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