FIGURA PATERNA, ATO INFRACIONAL E LAÇOS FRAGILIZADOS A AUSÊNCIA DA FIGURA PATERNA, LAÇOS FRAGILIZADOS E REITERAÇÕES DE ADOLESCENTES EM ATO INFRACIONAL. Resumo TEXTO RESUMIDO DO CAITULO 3 E 4 DO ARTIGO: A AUSÊNCIA DA FIGURA PATERNA E REITERAÇÃO EM PRÁTICAS DE ATOS INFRACIONAIS, AUTORES: GRACIELA CAMPELO DOS SANTOS BARROS E VLADIMIR FRANÇA GAMA APRESENTADO NO IESF, PARA OBTENÇÃO DO TITULO DE ESPECIALISTAS EM DIREITOS HUMANOS. VLADIMIR FRANÇA GAMA vfrancagama@hotmail.com; vladyfgama@gmail.com
A AUSÊNCIA DA FIGURA PATERNA, LAÇOS FRAGILIZADOS E REITERAÇÕES EM ATOS INFRACIONAIS DE ADOLESCENTES. Para Freud, o pai é o responsável, em sua função, daquilo que serve como organizador e regulador da capacidade de uma criança investir na sociedade. Quando a ausência da função ou da figura paterna se faz presente, alguns aspectos no âmbito do comportamento social e de sua interação se mostram vacilantes, cabe ressaltar que segundo Muza, citado por Benczik (2011, p.70), crianças que não convivem com o pai acabam tendo problemas de identificação sexual, dificuldades de reconhecer limites e de aprender regras de convivência social. Isso mostraria a dificuldade de internalização de um pai simbólico, capaz de representar a instância moral do indivíduo. Tal falta pode se manifestar de diversas maneiras, entre elas uma maior propensão para o envolvimento com a delinquência. A respeito da relação ato infracional e adolescência tem se correlacionado os aspectos de situações sócio econômicas, com a perspectiva de que este sujeito infrator estaria possivelmente dando uma resposta a sociedade excludente e o mais importante que os referidos autores, tais atos, se encontrariam em uma tentativa de fazer laço social. Para Garcia (2000, p. 46) a respeito desses fatos A adolescência é um período marcado pela ampliação das relações interpessoais que deixam de ser restritas ao âmbito familiar. No caso dos adolescentes de classe baixa, o processo ocorre de maneira diferente, ao tentar encontrar um lugar na sociedade, eles deparam com uma realidade que os excluí. Diante dessa exclusão, muitos deles desenvolvem uma maneira peculiar de fazer laço social, por meio do ato infracional. Com isso rompem com o pacto que rege as relações sociais. O ato infracional pode ser entendido como uma tentativa de inclusão nesse contexto social do qual ele é expulso: o sujeito pode transgredir a lei como forma de inscrever-se nela. Vorcaro; Mazzini; e Monteiro (2008), concluem que É a partir da transgressão que o código das leis passa, efetivamente, a ser cumprido na vida desses jovens. Se não a exigência de responder por seu ato, esse adolescente nunca seria assistido. Eles estão fora do pacto social, não porque o desconhece, tal como o psicótico, mas porque refletem simetricamente a exclusão que lhes é oferecida por meio de seus atos infracionais. Trentin (2011, pg. 10) citando Amaral Dias, nos faz observar que: A ausência do pai reforça, no mundo real, os sentimentos de triunfo, de poder e de inexistência de limites, uma vez que é a percepção do terceiro, coibindo essa relação, que vai fundar a noção de lei, marcando a inserção do sujeito no mundo do simbólico, da linguagem e da cultura.
Realizamos uma pesquisa no Centro da Juventude Canaã, unidade de internação provisória, vinculada a Fundação da Criança e do Adolescente-FUNAC, unidade que recebe adolescentes das diversas comarcas judiciais do interior e da capital do estado do Maranhão, sendo portando uma das portas de entrada no sistema das medidas socioeducativas desta federação. A pesquisa considerou um pequeno corte temporal, relativo ao ano de 2016, considerando os três primeiros meses, de janeiro a março, ponderando apenas os adolescentes que estariam dentro do quadro de reiteração. Os dados foram colhidos em livro de registro de entrada, saída e caracterização dos adolescentes que adentraram na unidade, documento este somente disponível para consulta interna. Tabulamos alguns dados primários referentes ao perfil dos adolescentes infratores, com quadro de reiteração e de algumas considerações sobre os aspectos observados nas discussões iniciais deste texto. Foram mapeados na tabela (Anexo I), 14 adolescentes, de um total de 209, que adentraram mais de uma vez, naquela unidade, no período em questão, levando em consideração a situação de escolaridade, idade, tipo de ato infracional, e a convivência familiar (com quem mora). Pensamos que seriam essas informações iniciais mais importante para as intenções desta pesquisa, visto se tratar apenas de um estudo prévio. Podemos observar nesse prévio levantamento, realizado nos períodos de janeiro, fevereiro e março, que dos 14 adolescentes que reiteraram, 11 não convivem com a figura do pai e apenas dois convivem com seus pais (CP), ou seja tem a figura paterna na convivência familiar, esses dados reforçam a ideia de que a ausência da figura do pai no ambiente de convivência (PSM, PSPA), pode ser um preditor da possível relação aqui estabelecida. Um outro dado de extrema importância observado, foi em relação a escolarização, onde se verifica que dos 14 adolescentes 11(NE) estavam fora da escola, ponto importante para se pensar nesse fator como uma situação de risco social ao cometimento de ato infracional. Podemos pensar na conjugação NE mais PSM ou PSPA, vide tabela, como aspecto altamente relevante para o cometimento de ato infracional e sua reiteração. Esses dados ainda não são suficientes para apontarmos com maior afirmação a correlação ausência paterna e reiteração, no entanto são dados que indicam que essa relação pode ser associada, visto que essa percentagem inicialmente deve ser considerada. De acordo com o gráfico (anexo II) pode inferir que na unidade, no período citado, 14,29% convivem com os pais e 85,71% estão em situação de convivência com ausência da figura paterna. Corroborando com a tese de que de fato a ausência da figura paterna é um dos condicionantes ao cometimento de ato infracional e sua reiteração. Claro que esse aspecto, inicialmente interpretado na tabela, pode ser
aprofundado dentro de uma possível pesquisa futura, com um levantamento que considere um tempo maior de registro. CONSIDERAÇÕES Podemos observar, no transcurso deste texto, que a correlação ato infracional e reiteração associada a ausência da figura paterna pode ser um aspecto relevante no entendimento das causas presentes para que o adolescente se insira em delitos e retorne a este comportamento. Diante da realidade de uma sociedade de consumo que exclui os adolescentes, oriundos de classes sociais mais desfavorecidas acorrentadas a situações de estruturas familiares frágeis, como a ausência da figura paterna e/ou de suas funções fundamentais, podemos supor, como bem observado por Trentin (2011) que os adolescentes em conflito com a lei, portanto, distinguem-se dos adolescentes convencionais, pois são marcados por desvantagens estruturais e socioeconômicas, por fracos laços afetivos entre os pais e uma supervisão parental no mínimo frouxa. Como bem observamos, nos dados prévio que a tabela acima expõe, esses jovens estão na maioria das vezes fora do processo de escolarização com os laços afetivos fragilizados pela ausência da figura paterna e de sua função estruturante. Os adolescentes oriundos dessas desvantagens também estão expostos as demandas de consumismo e valores da sociedade capitalista, tanto quanto os jovens provenientes das classes mais abastardas. Nesse sentido o adolescente pobre percebe que existe uma outra forma de viver a adolescência a qual não pode acessar, o que Vorcaro; Mazzini; e Monteiro (2008), concluem que aquilo que Freud, denominou mal-estar na civilização, seria sentido com mais virulência por estes jovens. Diante do exposto, faz-se necessário levar em consideração, nos trabalhos institucionais, voltados aos atendimentos de adolescentes em conflito com a lei, as dimensões dos condicionantes individuais e sociais que levam ao cometimento do ato infracional e sua reiteração. Que o ato infracional não seja encarado tão somente como um sintoma individual, mas também como consequência de uma tentativa de fazer laço social, frente a uma sociedade excludente, que falha em suas políticas públicas de assistência. Fica o indicativo que nas abordagens individuais, seja construído um planejamento que dê voz, aos adolescentes em questão, para que estes possam margear uma
saída possível para os impasses e conflitos decorrentes tanto de causas subjetivas quanto aqueles que são oriundos de uma resposta a uma sociedade excludente. Os trabalhos, portanto, deve buscar o campo do sentido, da ação do limite simbólico, visualizando as perspectivas de construções dos ideais da cultura: visando aqui a importância do caráter da educação e do trabalho, sendo este último um importante fator de inserção e de construção de identidade, respeitando nessa construção a particularidade de cada caso. Concluímos, portanto que qualquer trabalho institucional de ressocialização que pretenda ser no mínimo coerente com os preceitos estabelecidos no estatuto da criança e adolescência, deve operacionalizar as considerações da avaliação dos fatos estruturais na formação de cada sujeito, ou seja de seu desenvolvimento psíquico e dos aspectos ambientais nos quais estão inseridos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Mauricio. Adolescência normal um enfoque psicanalítico. Porto Alegre: Artmed, 1999. ALBERTI, Sonia. Esse sujeito adolescente. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1996. BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni, A importância da figura paterna para o desenvolvimento infantil. Rev. Psicopedag., ag., São Paulo, v28, n.85, p.67-75, 20 Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0103-84862011000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 9 nov. 2016. BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília DF: Senado, 1988. BRASIL, Estatuto da criança e do adolescente: Lei 8.069, de 13/07/1990. FERRÃO VS, POLI MC. Adolescência como tempo do sujeito na psicanálise. Adolescência e Saúde. 2014;11(2):48-55. FREUD, S. (1996). A dissolução do complexo de Édipo. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, trad., Vol. 19, pp. 189-199). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1924). GARCIA, C. Clínica do social. Belo Horizonte: Projeto, 2000. JOVER, Eliane Rivero; NUNES, Maria Lúcia Tiellet. Construção histórica da noção de adolescência e sua redefinição na clínica psicanalítica. Imaginário, São Paulo, v.11, n.11, p. 15-33, dez.2005. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1413-666x2005000200002&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 12 nov. 2016. OLIVEIRA, R.M.; SILVA, E.R.A. O Adolescente em conflito com a lei e o debate sobre a redução da maioridade penal: esclarecimentos necessários. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/pdfs/nota_tecnica/150616_nt_maioridade_pe nal.pdf>. acesso em 12 nov. 2016. RASSIAL, Jean-jacques. O adolescente e o psicanalista. Rio de Janeiro: Companhia de Freud. 1999. VERGARA, Sylvia Constante. Projetos e relatórios em administração. 15 ed. São Paulo: Atlas,2014. VORCARO, Ângela; MAZZINI, Cristina de Amorim; MONTEIRO, Júnia Penido. Ato infracional e metáfora paterna. Rev. Psicologia: Teoria e pratica-2008,10(2):135-146.
ANEXO I TABELA: Caracterização do perfil do adolescente infrator em situação de reiteração na unidade Centro da Juventude Canaã nos três primeiros meses do ano de 2016 (janeiro a março). ADOLESCENTE IDADE ESCOLARIDADE ATO INFRACIONAL SITUAÇÃO DE CONVIVENCIA FAMILIAR AD1 16 anos 5ª série/es Roubo PSPA AD2 16 anos 7ª série/ne Roubo CP AD3 15 anos 8ª série/es Roubo PSM AD4 17 anos 5ª série/ne Roubo PSPA AD5 17 anos 6ª série/ne Roubo PSM AD6 17 anos 5ª série/ne Roubo CP AD7 17 anos 8ª série/es Roubo PSM AD8 14 anos 7ª série/ne Roubo PSPA AD9 17 anos 7ª série/ne Roubo PSM AD10 16 anos 7ª série/ne Roubo PSM AD11 14 anos 4ª série/ne Roubo PSM AD12 17 anos 6ªsérie/NE Roubo PSM AD13 17 anos 7ª série/ne Furto PSPA AD14 13 anos 4ª série/ne Roubo PSM NÃO ESTUDA (NE) ESTUDA (ES) COM OS PAIS (CP) PAIS SERADOS/CONVIVE COM A MÃE (PSM) PAIS SEPARADOS/CONVIVE COM O PAI (PSP) PAIS SEPARADOS/CONVIVE COM PARENTES (PSPA) OBS1. Os dados na tabela estão restritos a data da internação provisória. OBS2. Consideramos PSM mesmo quando o adolescente mora com a mãe e o padrasto. OBS3. Consideramos PSPA quando mora com parentes que não sejam a mãe ou pai. OBS4. AD1, AD2...refere-se aos adolescentes.
ANEXO II Perfil dos reiterados de acordo com a convivência familiar. COM OS PAIS (CP) PAIS SERADOS/CONVIVE COM A MÃE (PSM) PAIS SEPARADOS/CONVIVE COM O PAI (PSP) PAIS SEPARADOS/CONVIVE COM PARENTES (PSPA) OBS1. Os dados na tabela estão restritos a data da internação provisória. OBS2. Consideramos PSM mesmo quando o adolescente mora com a mãe e o padrasto. OBS3. Consideramos PSPA quando mora com parentes que não sejam a mãe ou pai.