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Transcrição:

1. Introdução Naturalmente a pesquisa em eficácia escolar tem muitas contribuições para a compreensão das estruturas internas da escola associadas ao aprendizado do aluno. Nigel Brooke e José Francisco Soares, 2008, p. 460 Essa tese parte das motivações de uma professora alfabetizadora de jovens e adultos e suas inquietações. Ela surge a partir de questões do chão da sala de aula de suas turmas e de outras turmas visitadas/observadas muitas vezes não respondidas pela própria prática pedagógica, necessitando de pesquisas e estudos. Para tanto, a professora alfabetizadora partiu em busca de maior aprofundamento a partir de suas indagações. É este aprofundamento que se encontra retratado aqui. Evasão e aprendizagem dos alunos matriculados na alfabetização de jovens e adultos eram as questões que causavam maior angústia. Primeiro, porque a evasão na Educação de Jovens e Adultos (EJA) sempre foi naturalizada. E esta naturalização tem consequências desastrosas, principalmente quando se trata de um público com histórias de vidas diversas, que tiveram direitos negados, limitado acesso à educação escolar e vivências marcadas por uma escolarização que não chegou a alcançar os objetivos esperados. A outra questão, a aprendizagem, trazia um desconforto quando observava boa parte de alunos nas turmas, matriculados na EJA há dois, quatro, cinco anos no mesmo bloco e que não havia esperança, neles e em seus professores, de que fossem aprovados ao final do ano letivo. Isto significava que estar na escola para estes alunos servia muito mais como um modo de socialização do que como oportunidade de realizar aprendizagens significativas almejadas por todos aqueles que retornavam à escola na idade adulta. É impossível negar o esforço público municipal para ofertar a EJA 1, ao longo de mais de duas décadas, como parte integrante da Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro, com uma estrutura escolar organizada, com recursos materiais, professores concursados e requisitados, direções eleitas pela 1 Em 2009, cerca de 30 mil alunos estão matriculados no Programa de Educação de Jovens e Adultos do município do Rio de Janeiro.

17 comunidade escolar, matrículas regulares ao longo do ano letivo e uma estrutura metodológica que procura se adequar aos níveis de aprendizado apresentados pelos alunos. Entretanto, apesar desta estrutura, ainda permanecem significativas as taxas de evasão dos alunos, que mesmo tendo acesso às matrículas disponibilizadas, não conseguem permanecer na escola. Além disso, outro problema presente nas classes de EJA diz respeito aos resultados apresentados pelos alunos matriculados nas classes de alfabetização, os quais demonstram que, nem sempre, os objetivos de aprendizagem propostos têm sido alcançados. É sobre estas questões que se debruça essa pesquisa, visando investigar a principal política de EJA no município do Rio de Janeiro o Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) e o que vem sendo feito pelas escolas para o enfrentamento do problema da permanência e da aprendizagem escolar bem sucedida dos jovens e adultos, à luz dos achados realizados pelos estudos sobre as escolas eficazes. O trabalho fez uso de dados sobre a avaliação pedagógica, a repetência e a evasão dos alunos do PEJA, mais especificamente do primeiro segmento, o PEJA I destinado à alfabetização, para identificar escolas com baixas taxas de evasão e repetência e bom desempenho dos alunos nas avaliações pedagógicas dos professores 2. Inicialmente, pensou-se em estudar, entre as escolas com PEJA, aquelas que apresentavam características positivas e aquelas que apresentavam características negativas com relação ao desempenho e à evasão. Contudo, como se confirmou ao longo da pesquisa, foi muito instigante perceber, entre aquelas escolas que apresentavam índices positivos, o que as caracterizava que fazia a diferença para os alunos matriculados no PEJA. Então, a comparação se estabeleceu entre elas, captando por meio da pesquisa o que havia de comum e o que havia de diferente nestas escolas, culminando em resultados satisfatórios quando comparados ao universo das escolas pesquisadas. O tema das escolas eficazes tem duas dimensões: qualidade (bons níveis de aprendizagem dos alunos) e equidade (as escolas diminuem o impacto do nível 2 Como não há uma matriz de referência de avaliação da EJA na Rede Municipal do Rio de Janeiro, nem uma avaliação de Rede para a EJA, foram levados em consideração para o estudo os conceitos lançados pelos próprios professores para seus alunos, apresentados no Sistema de Controle Acadêmico (SCA) da Secretaria Municipal de Educação.

18 socioeconômico dos alunos sobre sua aprendizagem). Assim, uma escola eficaz é aquela que promove de forma duradoura o desenvolvimento integral de todos os seus alunos, para além do que seria previsível considerando-se seu rendimento inicial e sua situação social, cultural e econômica. A escola realmente eficaz não se preocupa somente com bons resultados, mas também com formação dos educandos em valores, bem estar, satisfação e desenvolvimento da personalidade (PÉREZ et al., 2004). Para o estudo da eficácia escolar nas escolas com PEJA, foram analisadas três escolas consideradas eficazes, considerando-se como indicadores de resultados não só os conceitos atribuídos aos alunos, mas também o índice de evasão escolar e o nível de aprovação das escolas. Observaram-se as diferenças entre as características socioeconômicas dos alunos das três escolas, com base em dados levantados a partir do questionário socioeconômico aplicado aos alunos. Além disso, foram levantados dados secundários do programa, aplicados questionários e entrevistas, realizadas visitas e observações em salas de aula ao longo de um ano letivo. Os estudos realizados no Brasil sobre escolas eficazes confirmam os resultados internacionais que demonstram a influência da escola nas aprendizagens dos alunos. Entretanto, essas mesmas pesquisas mostram que as escolas brasileiras podem ter um papel ainda mais decisivo na melhoria do aprendizado cognitivo dos alunos, pois o percentual de variância explicado pelo pertencimento escolar é um pouco maior do que os valores apontados internacionalmente (BROOKE e SOARES, 2008). É interessante compreender essas características em escolas com programas oferecidos pelas secretarias de educação, como é o caso do PEJA, pois a EJA ainda apresenta uma inserção marginal no sistema educativo, relegada ao terreno dos programas assistenciais, desenvolvidos por organizações sociais que visam atenuar os efeitos perversos da exclusão. Na avaliação de Haddad e Di Pierro (2000b), há no Brasil uma produção social de analfabetismo, salientada pelas dificuldades de acesso e permanência na escola, pelos altos índices de reprovação e pela imensa pobreza de grande parte da população jovem e adulta. Assim, é importante dar visibilidade às características positivas de escolas e programas públicos de EJA que promovem aprendizagens significativas para uma população até então excluída do sistema educacional.

19 As realidades heterogêneas desafiam os educadores, que precisam aprender a lidar com universos muito distintos, que agregam diversas idades, culturas e expectativas com relação à escola. Assim, o maior desafio da EJA atualmente é o de encontrar caminhos para fazer convergir metodologias e práticas de educação continuada em favor da superação de problemas, como a estreita associação entre as restrições ao acesso à educação e a incidência da pobreza no país, em favor da universalização da alfabetização e da garantia da continuidade e eficácia de programas voltados para a EJA (HADDAD e DI PIERRO, 2000a). A pesquisa objeto desta tese efetivou-se com um trabalho de campo em três escolas com PEJA, perfazendo um total de seis turmas pesquisadas, tanto do bloco inicial quanto do bloco final do PEJA I (correspondentes à alfabetização e séries iniciais do Ensino Fundamental). Foram realizadas entrevistas com as diretoras, as coordenadoras pedagógicas, as professoras e os alunos das escolas envolvidas na pesquisa, além de observação de aulas e aplicação de questionários socioeconômicos para os alunos. A tese está organizada em seis capítulos. O primeiro discute os resultados das pesquisas recentes sobre Educação de Jovens e Adultos, desde o ano de 1986 até 2007, baseando-se no estado da arte das pesquisas em EJA coordenado por Sérgio Haddad (2002) e nos bancos de teses das principais universidades do país. O capítulo II apresenta a fundamentação teórica, baseada na pesquisa sobre características de escolas eficazes, com uma revisão dos principais achados na literatura internacional e ainda nas pesquisas internacionais sobre o tema realizadas na educação de adultos. O capítulo III apresenta a inserção do PEJA na política pública do município do Rio de Janeiro, traçando um histórico do Programa e apontando as pesquisas que se debruçaram sobre o mesmo nos últimos anos. O capítulo IV apresenta o desenho da pesquisa, com os procedimentos metodológicos, o tipo de estudo e uma breve apresentação dos instrumentos de coleta de dados utilizados. Os dados coletados, a análise de dados e os resultados obtidos estão presentes no capítulo V. Neste capítulo, as informações são esmiuçadas para que se compreendam os resultados da análise a partir da forma como a investigação

20 ocorreu, os principais achados e contribuições do material recolhido. E no capítulo VI são apresentadas as considerações finais do trabalho. A pesquisa serve, então, como uma reflexão crítica sobre a prática pedagógica e contribui para pensar sobre a escola oferecida aos jovens e adultos do município do Rio de Janeiro, bem como para mostrar caminhos de atuação que as escolas vêm tomando ao longo dos últimos anos. As principais conclusões a que chega o estudo sugerem que gestões pedagógicas; altas expectativas sobre o desempenho dos alunos; objetivos e metas claros e concretos para o trabalho; regras claras e explícitas; profissionalismo e responsabilidade de todos os envolvidos; desenvolvimento profissional docente; classes motivadas; com alto aproveitamento do tempo; clima acadêmico favorável; avaliação e monitoramento da aprendizagem; atividades de recuperação paralela e cumprimento das funções docentes são características apresentadas pelas escolas pesquisadas que garantem um trabalho positivo e contribuem para a melhoria do desempenho, além de evitarem a evasão dos alunos e alunas do PEJA.