Jogos musicais com crianças de 3 a 5 anos: uma experiência com a leitura das notas musicais no pentagrama



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Transcrição:

Jogos musicais com crianças de 3 a 5 anos: uma experiência com a leitura das notas musicais no pentagrama Maria Luiza Feres do Amaral liza.amaral@hotmail.com Mônica Zewe Uriarte uriarte@univali.br Edson Costa eds.cta@terra.com.br Luciano Cabral Garcia dungabatera@yahoo.com.br Universidade do Vale do Itajaí Resumo. Com o objetivo de proporcionar para os alunos da educação infantil com idade entre 3 a 5 anos o contato com conteúdos básicos da escrita musical, visando à leitura das sete notas musicais no pentagrama, a presente pesquisa teve como campo de trabalho a Escola Infantil Pingo de Gente, situada no município de Itajaí-SC. Esta proposta é parte integrante das intervenções realizadas por dois acadêmicos do Curso de Licenciatura em Música da UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí, na disciplina Estágio Supervisionado da Prática Pedagógica do quinto período. Foram realizados dez encontros, em que participaram das aulas, em média, onze alunos de duas turmas, sendo que a metodologia utilizada oportunizou aos alunos a construção do conhecimento de maneira lúdica, utilizando-se para tanto, jogos pedagógicos musicais fundamentados em Chiareeli; Barreto e Guia; França. Durante as intervenções foi possível constatar que não houve nenhuma espécie de dificuldade significativa, e como resposta, os alunos trabalharam de maneira espontânea e motivada nas atividades de escrita musical, de coordenação motora e de criação. Dentro desta proposta, foi possível verificar que ao ministrar conceitos teóricos musicais de maneira lúdica e informal na educação infantil, os objetivos propostos para aquisição dos conhecimentos básicos em leitura musical foram atingidos. Palavras-chave: jogos musicais, educação infantil, leitura musical. Origem da Pesquisa Esta pesquisa é parte integrante da disciplina de Estágio Supervisionado do curso de Licenciatura em Música da UNIVALI e oportunizou algumas intervenções com duas turmas de Educação infantil, com crianças de 3 e 4 e de 4 e 5 anos, na escola Pingo de Gente em Itajaí SC. O objetivo central foi o de proporcionar aos alunos da educação infantil, o conhecimento e o interesse aliado a uma maior qualidade no ensino da música de forma lúdica, partindo de elementos teóricos básicos, no caso a escrita musical, reconhecimento das sete notas musicais e sua seqüência ascendente e descendente, primeiramente sem e depois com o uso do pentagrama. Esses elementos, segundo os autores neste artigo referenciados, são de extrema importância para a

construção do conhecimento em música, e que muitas vezes tem sido relegados a um segundo plano por falta de interesse e motivação do aluno, quando tratado de maneira mecânica e técnica. Diante do objetivo proposto, alguns questionamentos surgiram: que procedimentos seriam utilizados? Quais as melhores estratégias para que fosse possível inserir conceitos teóricos musicais de maneira lúdica, prazerosa e eficiente? Como promover aos alunos da educação infantil baseada na interação e construção do conhecimento musical? A trajetória da educação musical no Brasil acompanha o desenrolar da educação brasileira, quando os jesuítas já ensinavam as crianças indígenas a cantar, a dançar e a tocar instrumentos. Em algumas aldeias já havia pequenas escolas de música para os filhos dos índios, sendo que os sacerdotes foram os primeiros mestres de artes instruídos a tocar instrumentos e cantar a vozes. O canto Orfeônico é considerando o maior movimento de educação musical de massas já ocorrido no Brasil, que durante o estado novo se constitui enquanto movimento, tendo a frente o maestro Heitor Villa-lobos que dizia a música, eu a considero em princípio, como um indispensável alimento da alma humana. Por conseguinte, um elemento e fator imprescindível à educação da juventude. (VILLA-LOBOS, 1946, p.498). Nos anos 40, se constata um movimento de criatividade inspiradas pelas pedagogias centradas na infância, onde era salientado o papel da criança no aprendizado. No fim dos anos 50, educadores da esquerda como Paulo Freire, difundiram esta pedagogia enfatizando o benefício para toda a população. Esta nova pedagogia teve nos anos seguintes uma maior elaboração resultante de trabalhos teóricos de Dewey e Piaget 1. Atualmente, os professores dos anos iniciais expressam o seu entusiástico comprometimento com duas atividades recorrentes na educação musical infantil: primeiro o brincar e segundo a construção do conhecimento musical. Freqüentemente empregam termos como brincar com os materiais, brincar com idéias, para descrever com maior exatidão estágios vitais em seu procedimento de trabalho. Considerando mais detalhadamente a natureza e a qualidade da relação 1 Dewey: Filósofo, americano nascido em 1859, que tinha a filosofia como uma proposta para a compreensão e ajuste social, a política como um instrumento para intervir e mudar a sociedade e a educação como laboratório de experiências e comprovações sobra a vida. Piaget: Psicólogo Francês, nascido em 1896. Sua vasta obra contribui para a psicologia e para a educação. Preocupado com a inteligência humana acreditava que se aprende de maneira significativa quando existe uma ação direta e construção pessoal no conhecimento que se adquire.

entre os processos e procedimentos da musicalização infantil, e de certos aspectos do brincar, os professores vão criando as condições para o trabalho de educação musical na educação infantil. Jogos e brincadeiras: uma experiência do estágio supervisionado em educação infantil As atividades em educação musical que envolvem crianças, podem estar contribuindo como reforço no desenvolvimento cognitivo/lingüístico, psicomotor e sócio-afetivo da criança (CHIARELLI; BARRETO, 2005, p. 2). Desta forma, sabemos que a música é um fenômeno universal, que está presente em todos os tempos, e pode ser trabalhada em sua diversidade e dinamismo, como linguagem cultural historicamente construída e em constante movimento. Atividades musicais na educação infantil tendo como suporte os jogos pedagógicos, têm como fundamento não a competição, mas a interação e a cooperação entre todos os envolvidos na medida em que: as atividades do jogo são meios essenciais para o desenvolvimento da representação mental e constituem importantes indicadores do desenvolvimento cognitivo da criança. (GUIA; FRANÇA, 2005, p.19). Segundo as autoras acima citadas, os jogos são importantes porque vão construindo passo a passo, a representação mental e abstrata da linguagem especifica complementando e enriquecendo a experiência direta com os elementos musicais. Desta forma, os jogos foram, sobremaneira, um suporte metodológico para o trabalho com os conteúdos propostos, como a seqüência das sete notas apresentadas de forma ascendente e descendente, bem como a leitura das mesmas no pentagrama. O contato com a música, além de promover intensas relações sociais, acesso à linguagem especifica, possibilita a construção do conhecimento. Neste sentido comenta Deckert: o objeto que a criança usa nas suas brincadeiras serve como uma representação da realidade ausente e ajuda a criança a separar objeto e significado. (DECKERT 2005, p.13). Desta maneira podemos dizer que as brincadeiras desvinculam a criança de processos educativos formais. Envolvendo-se com o conteúdo de maneira prazerosa, incorporando-o e traduzindo-o em ações significativas, é um desafio que todos os educadores da primeira infância precisam enfrentar. Guia e Franca reforçam esse pensamento observando que, o jogo permite praticar e refinar a representação mental dos conteúdos musicais e, pelo componente imaginativo que lhe é inerente, abre caminhos para o desenvolvimento do pensamento abstrato. (GUIA; FRANÇA, 2005, p.20).

A partir destes pensamentos, podemos dizer que através do lúdico, a criança desenvolve e melhora sua concentração, memória, a coordenação motora e raciocínio lógico. Essa experiência na escola nos permitiu a elaboração de estratégias, bem como suas análises, que pontuaram a carência de atividades com elementos de notação musical, e de processos de musicalização que favoreçam o desenvolvimento cognitivo da criança. Cada aspecto da música corresponde a um aspecto humano específico... a estrutura musical contribui ativamente para a afirmação e ordem mental do homem. (CHIARELLI; BARRETO, 2005, p.3). Desta forma, justificamos a escolha em trabalhar os conteúdos básicos da linguagem musical: leitura seqüencial ascendente e descendente das sete notas; utilização do pentagrama para a execução vocal de pequenas melodias a partir de jogos pedagógicos, e da criação para a construção do conhecimento em música, partindo do referencial teórico e pressupostos de Guia e França, Chiarelli & Barreto, quando comentam que a prática do jogo é essencial para o desenvolvimento e aprendizagem musical dos alunos. Desta forma, procuramos desenvolver e buscar procedimentos que propiciassem esse processo e sua aplicação na prática. Para Swanwick a música não é uma anomalia curiosa, separada do resto da vida, não é só um estremecimento emocional que funciona de atalho para qualquer processo de pensamento, mas uma parte integral de nosso processo cognitivo. (SWANWICK, 2003, p.22-23). Podemos compreender que na medida em que o conhecimento em música passa a ser entendido como parte integrante do nosso processo cognitivo, o trabalho lúdico possibilita ao aluno uma capacidade de expressão e percepção em música. Os jogos pedagógicos em suas imagens, movimentos, ações e mesmo no jogo de palavras, proporcionam aos alunos uma aproximação com a realidade musical, onde de maneira dinâmica criam estruturas e conceitos que permitem apropriarem-se de novos conhecimentos. Todo este processo pode oportunizar uma transformação da criança por meio da criatividade, sendo que os jogos e as idéias não se perdem no tempo e sim se materializam em ações e conhecimentos. A seguir serão apresentados relatos das intervenções. Subindo e descendo e os edifícios vizinhos No primeiro contato com os alunos, os professores/estagiários objetivaram a identificação do padrão nominal e seqüencial das notas musicais, e ainda, alongamentos e relaxamento para as

atividades da aula. Houve explicações de conteúdo e em seguida fez-se um círculo com os alunos. As sete notas musicais foram apresentadas, relacionando-as com elementos do cotidiano através de imagens contidas em cartazes. Sendo assim, foi realizado o primeiro exercício que consistia em responder as respectivas figuras mostradas aos alunos com os respectivos nomes das notas, respeitando a seqüência ascendente e descendente. Em seguida, o professor utilizou o violão para tocar as sete notas pedindo para que os alunos repetissem as mesmas de acordo com a ordem ascendente ou descendente, acrescentando mais tarde o acompanhamento com palmas. Nestas atividades houve grande motivação por parte dos alunos em participar e aprender, sendo possível observar uma total interação entre as partes e compreensão dos conteúdos explicados pela grande maioria deles. Desta forma, na prática docente o educador há de acolher, nutrir, sustentar e confrontar o educando de maneira indissociável, na busca de criar e oferecer condições que potencializem a aprendizagem e o desenvolvimento do educando. (LUCKESI, 2005, p. 14). Em outro momento, o professor/estagiário se posicionou na porta de entrada da sala, para que no momento da entrada dos alunos, solicitasse que falassem em voz alta o nome da primeira nota estudada na aula anterior, sendo solicitado ao próximo aluno a nota seguinte, e assim sucessivamente. Este exercício improvisado resultou na resposta correta das notas musicais. A aula começou com alongamento e posteriormente todos foram se sentar juntos as mesinhas que estavam ali dispostas, para a execução do jogo pedagógico Edifícios Vizinhos, o qual contém fichas com a identificação das notas. A turma foi dividida em dois grupos, sendo que cada grupo recebeu uma cartela com formato de edifício para preencher espaços em branco com a seqüência ascendente das notas retiradas uma a uma do monte, e para finalizar fez o mesmo jogo descendente. Houve uma total interação com participação coletiva e individual, evidenciando que as estratégias foram assimiladas facilmente. A bolinha na linha e o Dó central Tendo como conteúdo a notação musical, e como objetivo a identificação do padrão nominal e seqüencial das notas musicais e sua localização no pentagrama, os professores/estagiários utilizaram como material pedagógico, linhas e círculos pretos em EVA para composição do pentagrama e notas musicais, deixando assim, todos muito eufóricos e demonstrando interesse no que estavam vendo no chão. Em seguida foi pedido para que as

crianças falassem a nota seqüencial ascendente e descendente tendo como base a nota dada pelo professor. Essa atividade foi muito interessante porque os alunos progrediram tão rapidamente, que o professor colocou mais uma linha e foram completando assim a escala de Dó maior ascendente e posteriormente descendente nesta aula. O outro professor/estagiário formou mais um pentagrama no chão, e os dois trabalharam com os alunos na montagem dos edifícios vizinhos, marcando duas notas da escala e solicitando aos alunos que completassem os demais andares, o que foi resolvido sem problemas. Na seqüência, os professores/estagiários apresentaram um jogo com ênfase na composição, com o nome de Dó Central. Essa composição tem em sua letra, a forma ascendente das sete notas musicais e à medida que vão evoluindo, os alunos têm a possibilidade de localizar as notas no pentagrama musical através desta letra. O professore executou ao violão, uma progressão harmônica em I-IV-V-I, em todos os tons maiores naturais, de maneira ascendente, acompanhado pelo outro professor/estagiário na bateria. Essa composição foi cantada em todas as intervenções e principalmente todos os dias antes de iniciarem as outras aulas, sendo que a iniciativa foi das crianças apoiadas pelas professoras titulares que nos relataram tal fato expressando sua satisfação, o envolvimento, rendimento e alegria das crianças durante o período que estavam na escola. Algumas considerações A prática das atividades musicais a partir dos jogos se mostrou muito rica e contribuiu para o desenvolvimento musical das crianças. Além de instigar a criação musical, também desenvolveu a capacidade de concentração e participação dos alunos. Quanto à aprendizagem musical, foi possível observar o crescimento de todos durante as intervenções, estagiários e alunos envolvidos no processo de ensinar e aprender, processo esse que nunca se esgota, pelo contrário, está sempre se modificando e conquistando outros espaços e reflexões através de trabalhos de pesquisas. O sucesso dos objetivos propostos se deve também aos vínculos estabelecidos, pois os alunos passaram a utilizar a composição em todo ambiente escolar, tornando-se mais envolvidos com os trabalhos propostos. Outro fator importante no resultado positivo deste processo foram às observações dos estagiários em cada intervenção, e as discussões durante as aulas de orientação, fatores que vieram a melhorar e refletir de forma contundente a construção do conhecimento em música na educação infantil.

Referências CHIARELLI, Lígia K. Menegheti & BARRETO, Sidirley de Jesus: A Importância da Música na Educação Infantil e no Ensino Fundamental - A Música como meio de Desenvolver a Inteligência e a Integração do Ser. Revista Recre@rte, Nº 3,.Disponível em: http://www.iacat.com/revista/recrearte/recrearte03/musicoterapia.htm. Acesso em: mar. 2008. DEKERT, Marta. Anais, III fórum de Pesquisa Cientifica em Artes. Escola de Musica e Artes do Paraná. Curitiba, 2005. GODEMBERG, Ricardo. Educação Musical: a experiência do canto orfeônico no Brasil. Disponível http//:www.samba-choro.com.br/debates/10033405862. Acessado em 12/06 de 2008 as 15 horas. GUIA, Rosa Lúcia dos Mares; FRANÇA, Cecília Cavalieri. Jogos Pedagógicos para Educação Musical. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005. LUCKESI, Cipriano. O Educador quem é ele? In: ABC Educativo: a revista da educação. V.1, Ano 6. N. 50. São Paulo: outubro 2005. p.12-16. SWANWICK, Keith. Ensinando Musica Musicalmente. São Paulo: Moderna, 2003.