ASPECTOS PSÍQUICOS E FUNCIONAIS DA DOENÇA DE PARKINSON: RESULTADOS FINAIS DE UM ESTUDO LONGITUDINAL



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Transcrição:

ASPECTOS PSÍQUICOS E FUNCIONAIS DA DOENÇA DE PARKINSON: RESULTADOS FINAIS DE UM ESTUDO LONGITUDINAL Clariany Soares Cardoso 1 ; Evandro Rocha Cândido 2 ; Rosana Tannus Freitas 2 ; Juliana Vasconcellos 3 ; Gustavo Christofoletti 4 ; Delson José da Silva 5 1 Bolsista PBIC/UEG, graduada do Curso de Fisioterapia, UnU Goiânia (UEG-ESEFFEGO). 2 Bolsista PVIC/UEG, graduado do Curso de Fisioterapia, UnU Goiânia (UEG-ESEFFEGO). 3 Bolsista PVIC/UEG, graduanda do Curso de Fisioterapia, UnU Goiânia (UEG-ESEFFEGO). 4 Orientador, doutorando pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 5 Coordenador do Ambulatório de Neurociências da Universidade Federal de Goiás (UFG). RESUMO A doença de Parkinson (DP) é uma patologia crônica e progressiva, caracterizada pela degeneração de neurônios dopaminérgicos da pars compacta da substantia nigra mesencefálica. A lesão das vias subcorticais, em especial a nigro-estriato-palidal, é característico da doença, e ocasiona uma série de sinais e sintomas incapacitantes. O objetivo deste trabalho foi analisar as variáveis psíquicas e funcionais que afetam a saúde de pacientes com DP. Sob um delineamento longitudinal, foram avaliados 26 sujeitos com diagnóstico clínico de DP idiopática, com idade igual ou superior a 50 anos, de ambos os sexos. A coleta de dados ocorreu por meio da aplicação dos seguintes instrumentos: Escala de Equilíbrio Funcional de Berg; teste Timed Get Up and Go; e Escala de Depressão em Geriatria. Os participantes foram divididos em dois grupos: Grupo Experimental (GE) e Grupo Controle (GC). Os sujeitos do GE foram assistidos durante 6 meses através de sessões fisioterapêuticas específicas centradas em exercícios que estimulassem o equilíbrio, a força muscular, a coordenação motora, a cognição e a flexibilidade. Não houve nenhuma alteração nas atividades motoras basais do GC. Os resultados obtidos indicaram um benefício considerável em sujeitos com DP idiopática, submetidos à intervenção fisioterapêutica específica aplicada com freqüência de 3 sessões semanais de 60 minutos, durante 6 meses. Palavras-chave: Doença de Parkinson, Fisioterapia, Reabilitação. 1

Introdução A Doença de Parkinson (DP) atualmente representa uma das doenças neurodegenerativas mais comuns em nosso dia-a-dia acometendo 3,3% da população brasileira. Trata-se de uma patologia neurológica crônica e progressiva que ocorre geralmente na segunda metade de vida, acomete mais freqüentemente o sexo masculino. Caracteriza-se pela degeneração de neurônios dopaminérgicos da pars compacta da substantia nigra mesencefálica, o que leva à atrofia e degeneração dos núcleos da base (substantia nigra e striatum) acarretando em sintomatologia diversa em todo o sistema nervoso central ( MELO et al., 2006; CHRISTOFOLETTI et al.,2006). A DP é dividida em cinco estágios, conforme o grau de acometimento funcional (HOEN & YAHR, 1967). O quadro clínico da doença é marcado por quatro sinais semiológicos principais: tremor de repouso, rigidez, bradicinesia e instabilidade postural (DENNISON et al., 2007). Ocorre também alteração do padrão de marcha, rigidez facial, sialorréia, postura em flexão e demência (ASHBURN et al., 2007; MORRIS, 2006). Diante do surgimento de tais fatores, os portadores da DP se tornam vulneráveis a uma deterioração progressiva da qualidade de vida e como agravante está o alto índice de depressão nesses pacientes (WEINTRAUB et al., 2008). Há importante carência de estudos envolvendo abordagens não-farmacológicas nas doenças neurodegenerativas (CHRISTOFOLETTI et al., 2007). Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo analisar as condições psíquicas e funcionais de pacientes com DP, a fim de que seja analisado e criado um programa coeso e específico de reabilitação fisioterapêutica. Material e Métodos Este ensaio clínico controlado foi realizado sob delineamento longitudinal. A amostra foi constituída por 26 pacientes portadores da DP com 50 anos ou mais, de ambos os sexos, de qualquer credo ou escolaridade. Como critérios de inclusão, foram admitidos indivíduos portadores da DP idiopática nos estágios de acometimento 2, 3 e 4 na escala de Hoehn-Yarh (1967) diagnosticada pelo neurologista responsável e baseado nos critérios estabelecidos pelo CID-10 (OMS, 1998). Foram excluídos os sujeitos que apresentavam outros distúrbios neurológicos e/ou psiquiátricos, aqueles que não realizavam marcha independente, os participantes com quadro vertiginoso (associado ou não ao uso 2

medicamentoso), bem como os sujeitos que se encontravam com comorbidades cardiovasculares/osteomioarticulares não associadas a DP. A seleção dos participantes ocorreu no Ambulatório de Neurociências da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás. As coletas dos dados foram realizadas na Escola Superior de Educação Física e Fisioterapia do Estado de Goiás Universidade Estadual de Goiás (UEG) sendo aplicado inicialmente um questionário geral para caracterizar a amostra. Para a avaliação psíquica e funcional dos sujeitos, foram aplicados os seguintes instrumentos: Escala de Equilíbrio Funcional de Berg (BERG, 1989); teste Timed Get Up and Go (PODSIADLO & RICHARDSON, 1991); Escala de Depressão (YESAVAGE et al., 1986); e a Escala de Atividades da Vida Diária (LAWTON & BRODY, 1969). Os participantes foram divididos em dois grupos: Grupo Experimental (GE) e Grupo Controle (GC). Durante 6 meses (março a setembro de 2008), com freqüência de 3 dias/semana e 1 hora/dia os sujeitos do GE foram assistidos por uma equipe de fisioterapeutas (docentes e discentes) da Universidade Estadual de Goiás. As sessões fisioterapêuticas específicas foram centradas em exercícios que estimulassem o equilíbrio, a força muscular, a coordenação motora, a cognição e a flexibilidade dos sujeitos. Em relação ao GC, não houve nenhuma alteração nas atividades motoras basais deste grupo. A medicação administrada aos participantes foi mantida nos dois grupos, sendo registrada no inicio e no final do estudo. O presente estudo foi submetido ao Comitê de Ética do Hospital Materno Infantil protocolo 30/2009 e todos os participantes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O software SPSS 12.0 (versão Windows) foi utilizado para o agrupamento e processamento dos dados. A distribuição dos dados foi verificada pelos testes Shapiro-Wilk e Levenne. Foram também utilizados o teste de análise de variâncias para medidas repetidas (ANOVA two-way) e o teste t-student para amostra independentes. Para todas as análises, foi considerado um nível de significância de 5%. Resultados e Discussão Este estudo envolveu 26 indivíduos diagnosticados com DP idiopática, divididos em dois grupos: GE e GC. A Tabela 1 demonstra as características dos grupos em relação à idade, gênero, grau de escolaridade médio e escala Hoenh-Yahr. 3

Tabela 1. Estatística descritiva dos grupos em relação à idade, gênero, grau de escolaridade, classificação e AVD s. Idade Gênero Escolaridade Hoenh-Yahr AVD S (anos) (Masc.: Fem.) (anos) (pontos) (pontos) Grupo Experimental 68,2±11,4 8:5 5,7±2,4 3,2±0,8 24,63±2,2 Grupo Controle 62,5±9,6 6:7 4,8±1,1 3,0±0,7 23,5±3,4 Por meio do test t Student para amostras independentes, foi possível constatar similaridade dos grupos em relação às variáveis acima descritas, indicando que estas não interferiram nos resultados da pesquisa (p>0,05). Transcorridos 6 meses de acompanhamento, ocorreram perdas amostrais nos dois grupos. O grupo GE apresentou 7,6% de perdas e, no GC, ocorreu 15,3% de perdas amostrais. A figura 1 demonstra os valores iniciais e finais dos grupos em relação às variáveis. Legenda: GC: Grupo Controle; GE: Grupo Expermental; EEFB: Escala de Equilíbrio Funcional de Berg; TUG_s: Teste Timed Get Up and Go (segundos); TUG_p: Teste Timed Get Up and Go (número de passos); SD: Sintomas depressivos. Figura 1. Escore dos participantes em relação as variáveis psíquicas e funcionais. Os resultados obtidos neste trabalho indicaram um considerável benefício em relação ao equilíbrio e à marcha de sujeitos com DP idiopática, submetidos à intervenção fisioterapêutica específica aplicada com freqüência de 3 sessões semanais de 60 minutos, durante 6 meses. Vários fatores podem estar relacionados essa melhora. Nitrini (2005) afirma que a melhora da marcha é resultado de uma melhora das reações de equilíbrio e das reações de endireitamento dos pacientes, o que confirma a significativa evolução apresentada nos déficits da marcha devido o aumento do tamanho e da velocidade do passo em nosso trabalho. 4

Christofoletti et al. (2007) observaram nos sujeitos com DP uma importante alteração na qualidade de vida que é evidenciada pelo alto índice de depressão e pelo estigma negativo propiciado pela doença. Em nosso trabalho foi constatado que o grupo assistido pela fisioterapia teve um decréscimo dos valores médios iniciais e finais, em relação aos sintomas depressivos, enquanto o GC teve um leve acréscimo de pontuação, transcorrido 6 meses após a avaliação inicial. O tratamento fisioterapêutico foi realizado em grupo, assistido pelos familiares/amigos cuidadores, o que possibilitou um aumento nas redes sociais dos pacientes, promovendo benefícios neuropsíquicos extremamente importantes e, em alguns casos, chegando até a reinserir o sujeito na sociedade. Conclusões Os resultados obtidos neste trabalho indicaram um benefício considerável em sujeitos com DP idiopática, submetidos à intervenção fisioterapêutica específica aplicada com freqüência de 3 sessões semanais de 60 minutos, durante 6 meses. A intervenção proposta promoveu resultados satisfatórios principalmente quanto o equilíbrio, ainda assim, novos estudos são importantes nesta temática, visando analisar as diversas terapias na população em questão. Referências Bibliográficas ASHBURN, A.; FAZAKARLEY, L.; BALLINGER, C.; PICKERING, R.; MCLELLAN, L. D.; FITTON, C. A randomized controlled trial of a home based exercise programme to reduce the risk of falling among people with Parkinson s disease. Journal of Neurological and Neurosurgery Psychiatry, v. 78, p. 678-684. 2007. BERG, K. Balance and its measure in the elderly: a review. Physiotherapy Canada, v.41, n. 5, p. 240-246. 1989. CHISTOFOLETTI, G.; OLIANI, M. M.; GOBBI, S.; STELLA, F.; GOBBI, L. T. B. Risco de quedas em idosos com doença de Parkinson e demência de Alzheimer: um estudo transversal. Revista Brasileira de Fisioterapia, v.10, n.4, p.429-433, 2006. CHRISTOFOLETTI, G. et al. Effects of motor intervention in elderly people with dementia. Topics in Geriatric Rehabilitation, v. 23, n.2, p. 149-154, 2007. 5

DENNISON, A. C.; NOORIGIAN, J. V.; ROBINSON, K. M.; FISMAN, D. N.; CIANCI, H. J.; MOBERG, P.; BUNTING-PERRY, L.; MARTINE, R.; DUDA, J.; STERN, M. B. Falling in Parkinson s disease: identifying and prioritizing risk factors in recurrent fallers. American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation, v.86, p. 621-632, 2007. HOEHN, M. M.; YAHR, M. D. Parkinsonism: onset, progression and mortality. Neurology, v. 17, n.5, p.427-42, 1967. LAWTON, M. P.; BRODY, E.M. Assesment of older people: self mantaining and instrumental activities of daily living. Gerontologist, v.9, n.3, p:179-86, 1969. MELO, L. M.; OSA, E. R. B.; CARAMELLI, P. Declínio cognitivo e demência associados à doença de Parkinson: características clínicas e tratamento. Revista de Psiquiatria Clínica. 34 (4); 176-183, 2006. MORRIS, M. E. Locomotor training in people with Parkinson s disease. Physical Therapy, vol 86, n. 10, p. 1426-1435, 2006. NITRINI, R.; BACHESCHI, L. A. A Neurologia que todo médico deve saber, 2 ed. São Paulo: Atheneu, 2005. PODSIADLO, D.; RICHARDSON, S. The Timed Up and Go : A test of basic functional mobility for frail elderly persons. Journal of the American Geriatric Society, v. 39, n. 2, p.142-148, 1991. WEINTRAUB, D.; COMELLA, C. L.; FAAN, V; HORN, A. S. Parkinson s Disease Neuropsychiatric Symptoms. The American Journal of Managed Care, v. 14, n. 2, 59-69 2007. YESAVAGE, J. A. et al. Development and validation of a geriatric depression screening scale: a preliminary report. Journal of Psychiatric Research, v.17, p.37-49, 1983. 6