O SESI/SÃO CARLOS E A EDUCAÇÃO PARA O LAZER *



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Transcrição:

O SESI/SÃO CARLOS E A EDUCAÇÃO PARA O LAZER * Robson Amaral da Silva; Luiz Gonçalves Junior INTRODUÇÃO E REVISÃO DE LITERATURA O Centro de Lazer e Esportes (CLE) do Serviço Social da Indústria (SESI) / São Carlos desenvolve, entre outras ações, o projeto SESI Cooperação e Ação: Brincando para ser Feliz. Este projeto é dividido em quatro momentos: o recreio lúdico, as atividades de lazer e esportes eventuais com os alunos, atividades de lazer e esportes para as famílias nos finais de semana e o calendário de eventos. A elaboração das atividades que fazem parte do projeto ficam a cargo dos estagiários, juntamente com o Orientador e Coordenador de Lazer e Esportes, em consonância com o Coordenador do Centro Educacional (CE). O objetivo principal do projeto em questão é propiciar o exercício da cidadania por parte dos alunos, pais e professores, por meio de atividades recreativas gerando assim, a criação coletiva e resgate do elemento lúdico na relação de interdependência entre escola, processo educativo e lazer. O recreio lúdico é um momento de tornar o intervalo escolar (recreio) em um espaço agradável e desafiador para os alunos através de jogos, brincadeiras, oficinas, rodas cantadas, promovendo o exercício da criatividade por parte das crianças e da equipe técnica responsável por essas ações. As atividades de lazer e esportes eventuais são intervenções de caráter lúdico-recreativas realizadas semanalmente junto aos alunos de 1ª a 4ª séries (ciclos I e II) do Ensino Fundamental. A estrutura organizacional da escolaridade no CE nº 407 do SESI/São Carlos adota a mesma proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Segundo as propostas dos PCN e Referenciais Curriculares da Rede Escolar do SESI-SP (BRASIL, 1997; SESI-SP, 2003), a organização por ciclos procura proporcionar aos alunos um avanço contínuo em busca da concretização das metas do ciclo, evitando as freqüentes rupturas e fragmentações do percurso escolar, assegurando a continuidade do processo escolar. 11 * Referência: SILVA, Robson Amaral da; GONÇALVES JUNIOR, Luiz. O SESI/São Carlos e a educação para o lazer. In: 4º CONGRESSO CIENTÍFICO LATINO-AMERICANO DE EDUCAÇÃO FÍSICA / 2º CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE MOTRICIDADE HUMANA: EDUCAÇÃO FÍSICA, CULTURA E SOCIEDADE: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E INTERVENÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO COTIDIANO DA SOCIEDADE BRASILEIRA, 2006, Piracicaba. Anais... Piracicaba: UNIMEP/FACIS, 2006. v. 1. (CD-ROM).

As atividades de lazer e esportes para as famílias nos finais de semana são ações recreativas que procuram integrar a família de um modo geral, através de jogos, palestras, gincanas, festivais,dentre outras atividades. Tais intervenções são realizadas permanentemente ou eventualmente de acordo com a programação da unidade. Por fim, temos o calendário de eventos elaborado de maneira integrada entre o Centro de Lazer e Esportes e o Centro Educacional que se baseia na definição de comemorações, festas, e eventos comuns as duas divisões. Partindo do conhecimento das ações promovidas no âmbito do projeto Cooperação e Ação: Brincando para ser Feliz, alguns questionamentos logo nos tomaram: é possível a educação para e pelo lazer na escola? A escola pode contribuir para uma experiência de lazer diversificada, prazerosa, crítica e compromissada com o desenvolvimento pessoal e social dos alunos? Há, no entanto, diversas compreensões/conceitos de lazer, tais como as de: Bramante (1998), Camargo (1998), Gutierrez (2001) e Dumazedier (2004), apresentando em seus escritos diferentes tendências e proposições. Neste sentido, para o delineamento teórico deste estudo esclarecemos compartilhar com a tendência apontada por Marcellino (1995) que concebe o fenômeno lazer como: a cultura compreendida no seu sentido mais amplo vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível. O importante, como traço definidor, é o caráter desinteressado dessa vivência. Não se busca pelo menos fundamentalmente, outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. A disponibilidade de tempo significa possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa (p.31). OBJETIVO O presente estudo procurou fazer um levantamento das experiências de lazer dos alunos do terceiro (5ª e 6ª séries) e quarto (7ª e 8ª séries) ciclos do Ensino Fundamental do CE nº 407 do SESI/São Carlos, particularmente no ambiente desta escola, estabelecendo considerações a

respeito dos aspectos tempo e atitude, além de verificar se há uma contribuição da Instituição no que diz respeito a uma diversificação das experiências quanto aos interesses culturais do lazer desses alunos, e no tocante ao que Marcellino (1995) identifica como educação para o lazer, não desconsiderando a importância e nem a existência da educação pelo lazer. Para melhor compreensão esclarecemos que os interesses culturais do lazer se tratam de um conjunto mais ou menos estruturado de atividades proposto inicialmente por Dumazedier (1999) dividindo-os em interesses físicos (práticas esportivas, pescas, ginástica...) -, manuais (exploração e transformação de objetos/materiais, trato de elementos naturais e/ou animais, tais como o artesanato, a jardinagem, a bricolage e o cuidado com os animais), artísticos (busca da satisfação do imaginário através do teatro, cinema, artes plásticas, festas...), intelectuais (ênfase no conhecimento vivido, contato com informações, cursos, leitura...) e sociais (contato com outras pessoas em bailes, cafés, bares...). Posteriormente foram acrescentados por Camargo (2003) os interesses turísticos (busca de novas paisagens, ritmos e costumes através de passeios e viagens) e por Schwartz (2003) os virtuais (atividades que utilizam da tecnologia como as do computador, videogame e televisão). Observa-se que estes não são excludentes, estão interrelacionados, havendo a distinção desses interesses apenas em termos de predominância. METODOLOGIA A coleta de informações necessárias para a execução desse estudo ocorreu logo após o contato com cada professor, aluno e diretora, quando foram informados sobre o caráter e o objetivo da pesquisa, bem como todas as ações que seriam adotadas em sua execução. Somente participaram do estudo aqueles profissionais e estudantes que concordaram plenamente com os procedimentos que seriam adotados durante a execução do trabalho que ocorreu em quatro momentos distintos. Na primeira etapa foram analisados os Referenciais Curriculares que norteiam a práxis (ação refletida) de todos os docentes dos Centros Educacionais do SESI, no Estado de São Paulo (SESI-SP, 2003), além dos Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs - (BRASIL, 1997) com o objetivo de identificar o lazer enquanto objeto de educação (MARCELLINO, 1995; CAMARGO, 1998). Em seguida, ocorreram as entrevistas semi-estruturadas (NEGRINE, 2004) com os alunos visando fazer um levantamento das atividades de lazer dos estudantes do terceiro e quarto ciclos (quinta a oitava séries) do Ensino Fundamental do Centro Educacional nº 407 do SESI/ São

Carlos. Posteriormente foi realizada uma análise das respostas dos estudantes, a fim de verificar a relação entre as experiências de lazer no tempo disponível desses alunos com os interesses culturais do lazer anteriormente apresentados. Durante essa análise procurou-se identificar o aspecto atitude, tão importante quanto o aspecto tempo disponível para caracterização do lazer e das atividades que são desenvolvidas em seu âmbito. Na entrevista realizada junto aos alunos foram formuladas as questões: 1) O que você mais gosta de fazer no seu dia-a-dia? e 2) O que você menos gosta de fazer no dia-a-dia? Por fim foram realizadas as terceira e quarta etapas do estudo que consistiram na observação de dez aulas, contemplando todas as disciplinas, com a concomitante anotação em um diário de campo, dos fenômenos ocorridos durante as aulas. As entrevistas com sete docentes e a coordenadora da instituição também fizeram parte desta etapa do estudo. À diretora do CE nº 407 do SESI/São Carlos foram colocadas as perguntas: 1) Qual a sua compreensão de lazer? e 2) A escola, durante o ano letivo, desenvolve a temática do lazer em suas atividades? Descreva. Já para os docentes da instituição, lhes foram perguntados: 1) Qual a sua compreensão de lazer? e 2) Você desenvolve a temática do lazer em suas aulas? Descreva. Todas as entrevistas foram realizadas de maneira individual e gravadas em fitas cassetes magnéticas, após o término das entrevistas todas elas foram transcritas integralmente. Os nomes dos entrevistados foram preservados. Durante as aulas optou-se por adotar uma observação semi-estruturada "(...) delimitando algumas pautas a serem observadas, mas, ao mesmo tempo, não se fechando a outras ocorrências que possam surgir no decorrer do processo (NEGRINE, 2004, p.70). Os acontecimentos foram anotados em um diário de campo-registro, que segundo Falkembach (1987) consiste em um instrumento para registro de anotações, comentários e reflexões durante a ocorrência dos eventos. RESULTADO E DISCUSSÃO Análise documental

Diante da análise dos documentos pode ser observado que tanto os Parâmetros Curriculares Nacionais PCNs - (BRASIL, 1997) quanto os Referenciais Curriculares da Rede Escolar do SESI-SP (SESI-SP, 2003) apresentam em seus textos algumas discussões sobre o lazer. No que se refere aos PCNs, no volume referente à Educação Física, o lazer é citado com uma certa freqüência, entretanto, são poucos os momentos que o documento se refere a uma educação para o lazer e, quando o faz, é de uma maneira implícita. Neste documento a Educação Física é tratada como componente curricular que deve fazer um trabalho de pesquisa e cultivo de brincadeiras, jogos, lutas e danças de origem popular, a fim de incluir sistematicamente estes conteúdos na escola e, conseqüentemente contribuir para a construção de opções de lazer em uma posição de privilégio no que diz respeito ao processo criativo e, não como um mero consumidor acrítico. O volume referente à disciplina Português, no tópico que discorre sobre os valores e atitudes subjacentes às práticas da linguagem, temos que os alunos devem adquirir o interesse pela leitura e escrita como fonte de informação, aprendizagem e lazer e arte (BRASIL, 1998b, p.64). Os volumes referentes às demais disciplinas não fizeram referencia a educação para o lazer. Os Referenciais Curriculares da Rede Escolar do SESI-SP apresentam algumas menções sobre o lazer. Na parte que trata da disciplina de Educação Física há um tópico específico que fala sobre o lazer, apesar de só ocorrer na parte referente à citada disciplina. Em tal documento vislumbra-se a educação para o lazer como uma prática educativa que irá ser verificada nas vivências dos alunos no tempo de lazer dos mesmos. Em relação às práticas corporais no tempo disponível dos alunos ciclos III e IV, o documento nos mostra que elas são reconhecidas como possibilidade de manifestação no tempo de lazer dos estudantes, mas que, de acordo com SESI-SP (2003), direcionar a ocupação do tempo livre, aconselhando atividades esportivas ou recreativas, seria manipular a escolha, e este não é nosso objetivo. Finalizando a parte referente ao componente curricular Educação Física, os Referenciais do SESI-SP atentam para que ao final do ciclo IV, os alunos devem ser aptos a planejar e organizar de forma autônoma as atividades na hora de lazer. É importante ressaltar que não

estamos falando somente de atividades físicas e sim de outras vivências, contribuindo para a ampliação da possibilidade de atividades para os alunos no tempo disponível. O que os alunos falam sobre o lazer Após o término da transcrição das entrevistas, iniciou-se a formação de categorias para análise dos dados. Ao trabalharmos com categorias de atividades que os alunos mais gostavam de realizar em seu dia-a-dia, procurou-se agrupar as atividades que possuíam características comuns e que fossem relacionadas aos interesses culturais do lazer. A primeira categoria diz respeito à vivência de interesses físicos no dia-a-dia dos alunos, tendo se mostrado saturada, já que todos os 20 alunos entrevistados fizeram asserção relacionada, como se observa em alguns depoimentos: Ahh, eu gosto de jogar futebol, natação, (...) jogar basquete. (Aluno III); (...) jogar futebol, vôlei, queimadão (...) (Aluna IV). Embora todos os 20 depoentes tenham demonstrado afinidade, percebemos 6 falas com divergência interna, ou seja, em que há uma ou outra atividade relacionada a este interesse citada como não sendo do agrado. A Aluna I, por exemplo, afirma não gostar de jogar futebol, correr, atletismo (...), enquanto o Aluno XVII alega não gostar De praticar muito esporte, caminhar, andar (...). O interesse manual obteve apenas uma menção positiva, da Aluna IV ao dizer: (...) eu gosto de recortar (...). Reflete por outro lado, um descontentamento de 7 alunos, dentre os quais: Arrumar o quarto, (...) dobrar minhas roupas, deixar tudo organizado (Aluna VI); (...) fazer serviço de casa (...) (Aluna XII). O gosto pelo interesse artístico foi demonstrado por dois estudantes, a Aluna I alega: (...) eu gosto de aula de artes (...) e a Aluna XIII afirma gostar de: (...) dançar, ouvir música, fazer teatro (...). O interesse intelectual é manifestado em todas as falas se referindo não há um tempo livre (DUMAZEDIER, 2004) ou disponível (MARCELLINO, 1995), mas ao tempo dedicado à escola. De qualquer modo resolvemos manter as asserções relacionando-a a esta categoria. De modo positivo foi aludida por 2 alunos, o Aluno III ao dizer que aprecia ir (...) às vezes pra escola, (...) também gosto de estudar bastante e o Aluno VI que também compactua do gosto de ir pra escola (...). No entanto, percebemos a não preferência de 10 alunos por este tipo de

atividade, conforme o exemplo que segue: Quando venho pra escola e tenho aula de matemática, isso ai é o ô do borogodó, aula de ciências nem tanto (...) (Aluna VIII). A categoria de interesses sociais apresentou 10 asserções, tais como: gosto de ir ao clube com minha amiga (...) (Aluna I); Paquerar, (...) ficar com meus amigos (...) (Aluna II). O interesse turístico foi citado por 3 alunos, como a fala da Aluna VIII: (...) ir pra casa da minha avó, viajar, quando vou viajar no dia-a-dia com meu pai. Uma categoria de atividades também lembrada por 4 alunos, é a do interesse virtual, como nos seguintes depoimentos: (...) Entrar na internet também é um dos meus passatempos preferidos (Aluna XII); O que eu mais gosto é (...) brincar no computador, vídeo-game, só! (Aluno XVIII) O que os professores e a diretora falam sobre o lazer Após a análise do discurso dos professores e da diretora, tivemos a formação de quatro categorias a partir do entendimento que os mesmos possuíam acerca do lazer. A primeira delas se refere ao lazer como algo prazeroso. De acordo com os professores e diretora do CE nº 407 do SESI/São Carlos, o lazer é algo que está intimamente relacionado ao prazer, como podemos observar nos seguintes trechos retirados dos discursos dos docentes e diretora: Lazer é incentivar a alegria e o prazer (Diretora); (...) uma atividade que lhe dê prazer (Professora III); e (...) de uma forma prazerosa (Professora IV). Uma outra categoria formada a partir do discurso dos entrevistados nesta parte do estudo (docentes e diretora) é o entendimento do lazer como um momento para o descanso. Esta categoria pode ser exemplificada através dos seguintes trechos: (...) Entendo o lazer como um período necessário para o recarregar as baterias (...) (Professora III); e (...) um momento de descanso ou uma folga (Professora I) Prosseguindo na análise dos discursos dos professores e diretora em relação ao entendimento de lazer que eles possuem, temos a escolha pessoal como uma categoria formada e que se revela nos trechos a seguir: uma folga para fazer coisas que aprecio, como ler, caminhar, etc... (Professora I); e (...) uma atividade que leva o ser humano a buscar algo fora da sua rotina diária (...) (Professor II).

A disponibilidade de tempo também foi uma categoria construída para análise de acordo com as respostas dadas pelos entrevistados, e traduz a idéia de separação entre duas esferas da vida humana: trabalho e lazer. Como os professores e a escola desenvolvem a temática do lazer ao longo do ano letivo Com relação ao desenvolvimento da temática do lazer durante as aulas, as respostas dos professores se referiam a atividades como leitura de textos, recorte de imagens, conversas em grupo e jogos. Durante o período de observação das aulas para concretização da pesquisa, observou-se que três das atividades citadas, leitura de texto, recorte de imagens e jogos foram desenvolvidos junto aos alunos. Tais iniciativas são de suma importância quando procuramos desenvolver a educação para o lazer. Alguns professores e a diretora citaram estarem desenvolvendo a temática do lazer através de jogos e atividades lúdicas que também foram constatadas durante as observações. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os documentos analisados apresentaram uma boa contribuição no que diz respeito à temática do lazer, mais especificamente a educação para o lazer.o CE nº 407 do SESI/São Carlos, apresenta um referencial curricular que norteia a práxis dos docentes desta instituição muito coerente em suas propostas e objetivos, mas que, no entanto, não se traduziu completamente no cotidiano, levando-se em consideração o conjunto das 10 aulas observadas. No transcorrer da pesquisa pudemos observar que os alunos predominantemente possuem um gosto especial pelo interesse físico no tempo disponível. O gosto pelas atividades sociais também foi uma das ocorrências que surgiu de modo expressivo. A não afinidade pelo interesse manual e o desprazer dos alunos pelo interesse intelectual, refletem o peso do caráter obrigatório que estas atividades têm habitualmente trazido consigo. Sem nos esquecermos de algumas das atividades físicas que ora foram veneradas pelos estudantes, ora foram rechaçadas. Os professores e a diretora apresentaram um entendimento de lazer que se aproximou dos pressupostos teóricos delineados para este estudo apesar dos mesmos não enfatizarem o lazer como um meio rico para o desenvolvimento pessoal e social, e divertimento.

Os jogos, as atividades lúdicas, a leitura de textos, recorte de imagens e conversas em grupo, foram estratégias utilizadas pelos professores para desenvolverem a temática do lazer em suas aulas. Acreditamos que o esforço educacional deve se voltar para a estimulação dos alunos na participação efetiva em atividades diversificadas no tempo de lazer, procurando evitar o risco da monocultura de um dos interesses culturais, à medida que compartilhamos com os alunos (e comunidade) atividades variadas, orientando a participação de cada um deles dentro das mesmas, respeitando as ações individuais e coletivas, melhor nos preparamos (alunos,professores,comunidade) para o engajamento em atividades fora do ambiente escolar, de modo crítico, criativo e humanizado. REFERÊNCIAS BRAMANTE, A. C. Lazer: concepções e significados. Revista Licere, Belo Horizonte, v.1, n.1, p.09-17, 1998. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: uma introdução aos parâmetros curriculares nacionais/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997.. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: língua portuguesa/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998b. Disponível em: <www.mec.gov.br/sef/estrut.2/pcn/pdf/portugues.pdf>. Acesso em: 20 out.2005 CAMARGO, L. O. L. Educação para o lazer. São Paulo: Moderna,1998.. O que é lazer? São Paulo: Brasiliense, 2003. DUMAZEDIER, J. Sociologia empírica do lazer. São Paulo: Perspectiva: SESC, 1999.. Lazer e cultura popular. São Paulo: Perspectiva, 2004. FALKEMBACH, E. M. F. Diário de campo: um instrumento de reflexão. Revista Contexto e Educação, Ijuí, v.2, n.7, p. 19-24, 1987. GUTIERREZ, L.G. Lazer e prazer: questões metodológicas e alternativas políticas. Campinas: Autores Associados, 2001. MARCELLINO, N. C. Lazer e educação. Campinas: Papirus, 1995.

NEGRINE, A. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa qualitativa. In.: MOLINA, N.; TRIVIÑOS, A. N. S. (org.). A pesquisa qualitativa em educação física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Editora Universidade/UFRGS/Sulina, p. 61-93, 2004. SCHWARTZ, G. M. O conteúdo virtual: contemporizando Dumazedier. Revista Licere, Belo Horizonte, v.2, n.6, p.23-31, 2003. SESI-SP. Referenciais curriculares da rede escolar SESI/SP. São Paulo: SESI, 2003.