Economistas têm enfrentado um desafio ao longo das últimas cinco décadas: como

Documentos relacionados
Métodos de Valoração Ambiental

Economia Ambiental: Conceitos Básicos

Valor Econômico Ambiental

VALORAÇÃO AMBIENTAL: UMA ANÁLISE DOS MÉTODOS DE VALORAÇÃO CONTINGENTE E PREÇOS HEDÔNICOS.

Aula de hoje Valoração Ambiental

NBR Recursos naturais e ambientais Sérgio Antão Paiva Clube de Engenharia 30 MAI 2017

Valoração Ambiental. Denise Martins Nogueira Instituto de Biologia - Unicamp

3 Valoração econômica do meio ambiente

Valoração Econômica do Meio Ambiente: Aspectos Teóricos e Operacionais (*)

Universidade Federal de Pelotas UFPEL Departamento de Economia - DECON. Economia Ecológica. Professor Rodrigo Nobre Fernandez

Métodos Valoração Ambiental

Valoração dos Serviços Ecossistêmicos

O caso do Parque da Serra da Tiririca Estado do Rio de Janeiro Niterói. Mauro de Souza Gomes, Msc, MRICs

Mestrado em Engenharia de Recursos Florestais Economia dos Recursos Naturais Ano Lectivo 2005/06

Método de Valoração Contingente: Aspectos Teóricos e Testes Empíricos

Universidade Federal de Pelotas UFPEL Departamento de Economia - DECON. Economia Ecológica. Professor Rodrigo Nobre Fernandez

ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS. A avaliação dos recursos naturais

Tendências em Serviços Ecossistêmicos - TeSE

Seção X - PRESERVAÇÃO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

Introdução ao Método da Valoração Contingente: Teoria, Potencialidades e Limitações

VALORAÇÃO ECONÔMICA AMBIENTAL CONCEITOS E MÉTODOS

PARQUE PÚBLICO DE LUMPINEE EM BANGKOK, TAILÂNDIA

Análise de Mercados competitivos Parte 1

De acordo com o Michaelis...

APLICAÇÕES DO MÉTODO DE VALORAÇÃO CONTINGENTE NO BRASIL: Um estudo de caso das regiões Norte e Nordeste

A VALORAÇÃO AMBIENTAL

Valoração Econômica e Conservação da Biodiversidade

Valoração Ambiental e Instrumentos Econômicos para Conservação

VI PROPOSTA DE REVISÃO DA NBR-9648: ESTUDOS DE CONCEPÇÃO DE SISTEMAS DE ESGOTOS SANITÁRIO COM A INCLUSÃO DA VALORAÇÃO AMBIENTAL

ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS / ECONOMIA AMBIENTAL. A valoração do Ambiente

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE FURG INSTITUTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS, ADMINISTRATIVAS E CONTÁBEIS ICEAC. CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

Aspectos conceituais da valoração econômica dos recursos naturais

LEVANTAMENTO DAS METODOLOGIAS PROPOSTAS PARA VALORAÇÃO ECONÔMICA DE BENS AMBIENTAIS

Sumário. Prefácio, xiii

PROGRAMA PRODUTOR DE ÁGUA. Adaptado de Devanir Garcia dos Santos Agência Nacional de Águas Gerência de Uso Sustentável de Água e Solo

APLICAÇÃO DO MÉTODO DE VALORAÇÃO CONTINGENTE PARA ESTIMAR O VALOR ECONÔMICO DO SISTEMA LAGUNAR DE JACAREPAGUÁ

VALORAÇÃO ECONÔMICA PERANTE O DERRAMAMENTO DE PETRÓLEO BRUTO NO AMBIENTE MARINHO Dainy Flores de Vélez¹

Universidade Federal de Pelotas UFPEL Departamento de Economia - DECON. Economia Ecológica. Professor Rodrigo Nobre Fernandez

I CONGRESSO DE MINERAÇÃO DA AMAZÔNIA

O que é a Conservação Estratégica? Economia da conservação Economia da degradação Instrumentos de política ambiental Pagamento por Serviços Ambientais

MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA. Área Desenvolvimento Sustentável. vire aqui

MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA. Ênfase Desenvolvimento Sustentável. vire aqui

PERÍCIA AMBIENTAL MÉTODOS DE VALORAÇÃO AMBIENTAL. Prof. Éder Clementino dos Santos. Copyright Proibida Reprodução.

VALORAÇÃO DE RECURSOS AMBIENTAIS

MESTRADO EM GESTÃO ECONÔMICA DO MEIO AMBIENTE

Política Nacional de Meio Ambiente: unidades de conservação. Biogeografia - aula 4 Prof. Raul

O valor imobiliário de parques e espaços verdes

Farmacoeconomia: Análise de Custo-Benefício. Giácomo Balbinotto Neto (UFRGS/IATS)

MESTRADO EM GESTÃO E CONSERVAÇÃO DA NATUREZA AULAS DE ECONOMIA DOS RECURSOS NATURAIS 1º TUTORIAL: ECONOMIA DOS SERVIÇOS DO ECOSSISTEMA AULA 1/5

Ferramenta de valoração e gestão empresarial de serviços ecossistêmicos

Mapeamento do serviço de recreio e turismo dos ecossistemas no PNSACV

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

MBA EM DESENVOLVIMENTO IMOBILIÁRIO TURMA 8

Capitulo 6: A Teoria do Consumidor

Faculdade de Economia do Porto. Curso de Pós-Graduação em Gestão Imobiliária. Ano Lectivo: 2003/2004 PRINCÍPIOS DE ECONOMIA PARA O IMOBILIÁRIO

ANÁLISE DA DEMANDA DE ÁGUA EM SISTEMAS DE ABASTECIMENTO PÚBLICO

ANÁLISE SROI SOCIAL RETURN ON INVESTMENT

ANÁLISE E INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE. Aula 3

Cost of Illness and Contingent Valuation: Controlling for the Motivations of Expressed Preferences in an Attempt to Avoid Double-Counting

SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

CONTABILIDADE PÚBLICA

VALORAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DE VIABILIDADE AMBIENTAL PARQUE ECOLÓGICO EDMEIA BRAGA MATINHA DO INGÁ, BETIM, MG.

APLICABILIDADE DA VALORAÇÃO AMBIENTAL DO PARQUE URBANO DO LOTEAMENTO CIDADE UNIVERSITÁRIA NO MUNICÍPIO DE PASSO FUNDO/RS

VALORAÇÃO ECONÔMICA DE FLORESTAS

Economia do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais. Danilo Camargo Igliori

A VALORAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS 1

Desafios da NBR Parte 6 na Avaliação de Bens Ambientais

PLANO DO VOLUME I (detalhado)

HISTÓRICOS/ARTÍSTICOS/CULTURAIS VARIÁVEIS A SEREM CONSIDERADAS

KINROSS BRASIL MINERAÇÃO

Q uando um casal decide fazer planos para o futuro, surge a primeira necessidade

PLANIFICAÇÃO ANUAL Documentos Orientadores: Programa e Metas Curriculares do Ensino Básico, Perfil dos Alunos para o séc. XXI,Aprendizagens Essenciais

Peter H. May (organizador) ECONOMIA ECOLÓGICA. Aplicações no Brasil. CORTESIA DA EDJTÔEi REDCAPA

VALORAÇÃO AMBIENTAL. Cálculo I. Prof. Éder Clementino dos Santos. Copyright Proibida Reprodução.

Tipos de Provas Sensoriais. Provas afetivas Provas Afetivas: Prova de preferência. Provas afetivas. Provas discriminativas

O MÉTODO DE VALORAÇÃO CONTINGENTE (MAC): UMA ABORDAGEM TEÓRICA RESUMO

Diferenciais salariais compensatórios

Aula 22: Princípios de Economia Urbana Preços Hedônicos. Prof. Eduardo A. Haddad

Quanto vale aquilo que não tem valor? Valor de existência, economia e meio ambiente (*)

CONCEITOS E PRINCÍPIOS DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS

ECONOMIA NO SETOR PÚBLICO AULA 2-06/03

Mercados e Políticas Agrícolas

VALOR AMBIENTAL DA BIODIVERSIDADE

Aprendizagens essenciais Conteúdos Estratégias Avaliação Aulas Relacionar a existência de vida na Terra com algumas A Terra como um planeta

PARTE I MÉTODOS DE VALORAÇÃO AMBIENTAL

Plano de Estudos. Fundamentos de Economia Economia 6 Semestral 156 ECN11909M

VALORAÇÃO AMBIENTAL. Copyright Proibida Reprodução. Prof. Éder Clementino dos Santos

J M Nogueira & M A A de Medeiros de bens e serviços ambientais Discute, então, aspectos metodológicos que devem ser considerados em qualquer tentativa

PLANO DE ESTUDOS DE CIÊNCIAS NATURAIS - 5.º ANO

ROBERTA FERNANDA DA PAZ DE SOUZA VALORAÇÃO ECONÔMICA AMBIENTAL: O CASO DO RIO PARAIBUNA, JUIZ DE FORA- MG.

Varian, H. Microeconomia. Princípios Básicos. Editora Campus (7ª edição), BENS PÚBLICOS. Graduação Curso de Microeconomia I Profa.

SUSTENTABILIDADE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

EQUACIONAMENTO JURÍDICO E AMBIENTAL DA RENCA VII ENCONTRO DE EXECUTIVOS DE EXPLORAÇÃO MINERAL A AGENDA MINERAL BRASILEIRA ADIMB 29 DE JUNHO DE 2017

VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS EM CENÁRIOS DE REUTILIZAÇÃO HÍDRICA NA INDÚSTRIA

VALORAÇÃO AMBIENTAL: SÍNTESE DOS PRINCIPAIS MÉTODOS

ECOTURISMO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS DO RIO GRANDE DO SUL. 1. Andressa Caroline Trautenmüller 2, Romário Trentin 3.

PROJETO: SETH REFLORESTA

VALORAÇÃO AMBIENTAL NO PARQUE MASSAIRO OKAMURA CUIABÁ-MT

3 Revisão da Literatura

Transcrição:

Parte I

Economistas têm enfrentado um desafio ao longo das últimas cinco décadas: como estimar o valor monetário de bens públicos? Como estimar o valor monetário de externalidades negativas ou das positivas?

Quanto vale a educação pública de boa qualidade? E a saúde pública de boa qualidade?

O mesmo desafio tem sido enfrentado pelos economistas do meio ambiente e pelos economistas ecológicos há, aproximadamente, quatro décadas.

Qual o valor dos benefícios da conservação da biodiversidade relativamente aos custos da sua conservação? Como estimar o valor monetário dos custos e dos benefícios da construção de uma rodovia em uma região de ocupação recente?

Quais os custos da poluição sonora causada por um aeroporto? Quanto que uma sociedade deve gastar na despoluição de uma baía? Ou de um rio? Qual o valor econômico de um parque urbano?

Essas e muitas outras perguntas semelhantes têm sido respondidas através da aplicação de métodos de valoração econômica de bens e serviços ambientais.

Quais são esses métodos? Quais os seus pressupostos teóricos? Quais as suas características operacionais?

Essas perguntas têm sido formuladas com freqüência cada vez maior, pois, como destaca Faria (1988, p. 13), vários são os possíveis usos das estimativas obtidas por esses métodos:

Impactos ambientais geram custos a uma Nação, afetando, por exemplo, a saúde do trabalhador e, conseqüentemente, a produtividade da mão de obra;

incorporação de contas verdes no sistema de Contas Nacionais; instrumento de apoio na definição de prioridades nas escolhas de políticas públicas ambientais, como a busca da eficiência e da eqüidade;

complemento às metodologias convencionais de escolha de programas e projetos que envolvam o uso e a alocação de recursos do patrimônio ambiental; instrumento auxiliar nas decisões judiciais; auxiliar no processo de avaliação do desenvolvimento sustentável.

Economistas observam o comportamento humano em busca de evidências que os permitam estimar o valor econômico dos bens e serviços fornecidos pelo capital natural.

A literatura econômica convencional sugere que o valor de um bem ou serviço ambiental pode ser mensurado através da preferência individual pela preservação, conservação ou utilização desse bem ou serviço (Bateman e Turner, 1992).

Considerando seu gosto e preferências, cada indivíduo terá um conjunto de preferências, que será usado na valoração de todo e qualquer bem ou serviço, inclusive os ambientais.

No caso específico destes últimos, economistas iniciam o processo de mensuração distinguindo entre valor de uso e valor de nãouso do bem ou serviço ambiental (Pearce e Turner, 1990).

O valor de uso refere-se ao uso efetivo ou potencial que o recurso pode prover.

O valor de não-uso ou valor intrínseco ou valor de existência reflete um valor que reside nos recursos ambientais, independentemente de uma relação com os seres humanos, de uso efetivo no presente ou de possibilidades de uso futuro [Marques e Comune (1995)].

De acordo com Pearce e Turner (1990), economistas têm sugerido que o valor de existência origina-se de alguma forma de altruísmo - preocupação com outras pessoas, outros seres ou com coisas. Este altruísmo pode decorrer de:

a) motivo herança - deixar bens e serviços ambientais para seus descendentes e para gerações futuras em geral; b) motivo presente - garantir a amigos ou parentes um presente na forma de bens e serviços ambientais; e

c) motivo simpatia - disposição de garantir a sobrevivência de, por exemplo, plantas e animais por pura e simples simpatia por estes seres.

Este último motivo pode ser interpretado como o reconhecimento, por parte dos seres humanos, do direito que seres não-humanos e as coisas têm de existir.

O valor de uso é sub-dividido em valor de uso propriamente dito, valor de opção e valor de quase-opção. O valor de opção refere-se ao valor da disponibilidade do recurso ambiental para uso futuro.

O valor de quase-opção, por outro lado, representa o valor de reter as opções de uso futuro do recurso, dado uma hipótese de crescente conhecimento científico, técnico, econômico ou social sobre as possibilidades futuras do recurso ambiental sob investigação.

Muitas variantes desta classificação existem. Por exemplo, segundo Boyle e Bishop (1985) é possível distinguir seis tipos de valores para um recurso ambiental.

O primeiro se relacionaria com um valor de uso consumível, como pescar e caçar. O segundo seria um valor de uso não consumível, como observar passarinhos e um cenário natural.

Já o terceiro valor diria respeito da possibilidade de um recurso ambiental prover serviços indiretos através de filmes de cinema, programas de televisão, etc. As pessoas podem ter satisfação pelo simples fato de uma espécie ou de um habitat existir, o que constitui o quarto elemento do valor do ambiente.

Além disso, mesmo que o indivíduo não consuma o serviço provido pelo recurso ambiental ele pode estar interessado em garantir a existência do recurso. Isto é, para ele é desejável que o recurso esteja disponível para outras pessoas agora ou no futuro.

Finalmente, espécies e habita têm o direito de continuar existindo.

Não obstante, pode-se distinguir os seguintes componentes do Valor Econômico Total (VET) de um bem ou serviço ambiental: VET = valor de uso + valor de opção + valor de quase-opção + valor de existência

Valor Econômico Total de um Bosque Principais Componentes dos Bens e Serviços Ambientais Considerações Qualitativas Valor de Uso Direto Madeira Frutos Beleza natural para lazer e turismo Valor de Uso Valor de Uso Indireto Conservação da diversidade biológica. Manutenção da qualidade do ar. Proteção a nascentes de córregos e rios. Prevenção do processo erosivo do solo e de assoreamento de rios. Regulação de micro-dima local. Valor de Opção O desempenho das funções assinaladas no valor de uso direto e no valor do uso indireto pelas gerações futuras, Valor de Quaseopção As funções indicadas em valor de uso direto, valor de uso indireto e valor de opção são definidos com base no conhecimento científico e tecnológico existente hoje. Entretanto, o conhecimento científico e tecnológico aumenta com o passar dos anos. Assim, algo disponível em um bosque que não tenha utilidade alguma para o ser humano hoje, poderá ser identificado como a fonte de um incremento significativo do bem estar humano daqui a dez anos. O valor de quase opção é, portanto, um potencial componente do valor do bosque dependente do progresso científico e tecnológico futuro. Valor de Existência As plantas e os animais que vivem no bosque têm valor em si mesmos, independentemente do uso que possam ter para o ser humano. Esse valor intrínseco dos bens ambientais é chamado de valor de existência, um dos componentes do VET do bem ambiental.

Fica claro que a Valoração Econômica do Meio Ambiente passa pelo cálculo do VET para o bem ou serviço ambiental sob análise. Entretanto, como bem destacam Marques e Comune (1995), o VET do meio ambiente não pode ser integralmente revelado por relações de mercado.

Muitos de seus componentes não são comercializados no mercado e, por outro lado, os preços dos bens econômicos não refletem o verdadeiro valor da totalidade dos recursos usados na sua produção.

Assim, o problema prático com valoração econômica é obter estimativas plausíveis a partir de situações reais onde não existem mercados aparentes ou existem mercados muito imperfeitos.

Sendo possível obter tais valores, eles estarão captando pelo menos parte do que deve ser chamado de valor intrínseco, considerando o ambiente como uma entidade em si mesma.

Não existe uma classificação universalmente aceita sobre as técnicas de valoração econômica ambiental.

Bateman e Turner (1992, p.123) propõem uma classificação dos métodos de valoração econômica distinguindo-os pela utilização ou não das curvas de demanda marshalliana ou hicksiana (Tabela 1).

Métodos para valoração monetária do meio ambiente segundo Bateman e Turner (1992, p. 123 adaptado) Tipo de Abordagem Tipos de Métodos Observações A) Abordagens com Curva de Demanda B) Abordagem sem Curva de Demanda 1) Métodos de Preferência Expressas 1.1) Método de Valoração Contingente (MVC) 2) Método de Preferência Reveladas 2.1) Método de Custos de Viagem (MCV) 2.2) Método de Preços Hedônicos (MPH) 3) Método Dose-Resposta (MDR) a) Curva de Demanda de Renda Compensada (hicksiana). Medida de bem-estar de Variação Compensatória. Medida de bem-estar de variação Equivalente b) Curva de demanda Não- Compensada (marshalliana). Medida de bem-estar de Excedente do Consumidor 4) Método de Custos de Reposição (MCR) 5) Métodos de Comportamento Mitigatório 74 (MCE) c) Não se obtém Curva de demanda (apenas estimativas de dose de valor). Medidas de bem-estar não confiáveis 1 Por Exemplo, o Método de Custos Evitados.

Hufschmidt et al.. (1983, p.65-67) fazem suas divisões de acordo com o fato da técnica utilizar preços provenientes:i) de mercados reais; ii) de mercados substitutos; ou iii) mercados hipotéticos (Tabela 2).

Nesta classificação, as variações na qualidade de um recurso ambiental são mensuradas pelo lado dos benefícios ou dos custos resultantes destas mesmas variações. É uma avaliação da situação com a mudança no recurso ambiental e sem a mudança.

Classificação das Técnicas de valoração de Custos e Benefícios para avaliar as conseqüências sobre a qualidade ambiental (Hufschmidt et al., 1983, p.66-67). Preços obtidos a partir de: Método ou Técnica de Valoração Equivalente na Tabela 1 Mercados Reais Mercados Substitutos Mercados Hipotéticos 1) Valoração de Benefícios 1.1) Mudanças no Valor da Produção 1.2) Perda de Salários/Lucros 2) Valoração dos Custos 2.1) Gastos Preventivos 2.2) Custos de Reposição 2.3) Projeto Sombra 2.4) Análise Custo-Eficiência 3) Valoração dos Benefícios 3.1) Bens de Mercado como Substitutos 3.2) Abordagem do Valor de Propriedade 3.3) Outras Abordagens do Valor da Terra 3.4) Custos de Viagem 3.5) abordagem do Diferencial de Salário 3.6) Aceitação de Compensação 4) Questionamento Direto de Disposição a Pagar 4.1) Jogos de Leilões 5) Questionamento Direto de Escolha de Quantidade (para estimar indiretamente a Disposição a Pagar) 5.1) Método da Escolha Sem Custo 1) Valoração de Benefícios 1.1) MDR 1.2) MCE 2) Valoração dos Custos 2.1) MCE 2.2) MCR 2.3) MCR 2.4) MPM 3) Valoração dos Benefícios 3.1) MPM 3.2) MPH 3.3) MPH 3.4) MCV 3.5) MPH 3.6) MVC 4) Questionamento Direto de Disposição a Pagar 4.1) MVC 5) Questionamento Direto de Escolha de Quantidade (para estimar indiretamente a Disposição a Pagar) 5.1) Escolha Sem Custo (Sem equivalente)

Observando a metodologia em uso corrente na economia ambiental, Pearce (1993, p.105-111) afirma que existem quatro grandes grupos de técnicas de valoração econômica desenvolvidos a um nível sofisticado (Tabela 3).

O primeiro grupo é formado pelas técnicas que ele chama de abordagens de mercado convencional que utilizam os preços de mercado ou preços-sombra como aproximação, semelhantemente aos métodos dos mercados reais de Hufschmidt et al. (1983).

Classificação dos Métodos de Valoração Monetária de acordo com Pearce (1993) Grupos de Técnicas Métodos Equivalente na Tabela 1 Abordagens de Mercado Convencional 1) Abordagem Dose-Resposta 2) Técnica de Custos de Reposição 1) MDR 2) MCR Funções de Produção Doméstica 3) Gastos Evitados 4) Métodos de Custos de Viagem 3) MCE 4) MCV Métodos de Preços Hedônicos 5) Preços de Casas (ou Terras) 6) Salários pelo Risco 2 5) MPH 6) MPH Métodos Experimentais 7) Método de Valoração Contingente 8) Método de Ordenação Contingente (ou de Preferência Estabelecida/Fixa) 7) MVC 8) Sem equivalente 2 Wage Risk Methods (p.115)

O segundo grupo é chamado de funções de produção doméstica (ou familiar). O terceiro, os métodos de preços hedônicos. E o quarto e último grupo são os métodos experimentais.

Já Hanley e Spash (1993) fazem apenas uma distinção dos métodos de valoração econômica ambiental em dois grupos: i) forma direta, como o método de valoração contingente (MVC);

ii) forma indireta, como o método de preços hedônicos (MPH), o método dos custos de viagem (MCV) e as abordagens da função de produção, como o método dos custos evitados (MCE) e o método dose-resposta (MDR).

Tomando como referência a classificação de Bateman e Turner (1992), apresentada na Tabela 1, vamos analisar as características básicas dos seis principais métodos de valoração de bens e serviços ambientais, a saber:

Método de Valoração Contingente (MVC), Método Custos de Viagem (MCV), Método de Preços Hedônicos (MPH), Método Dose-Resposta (MDR), Método Custo de Reposição (MCR) e Método de Custos Evitados (MCE).

Método de Valoração Contingente (MVC)

Método de Valoração Contingente (MVC) O MVC foi originalmente proposto em 1963 num artigo escrito por R. Davis relacionando economia e recreação.

A partir dos anos 1970s houve um grande desenvolvimento da técnica a nível teórico e empírico, tornando-a bastante utilizada [Hanley e Spash (1993, p.53)].

A idéia básica do MVC é que as pessoas têm diferentes graus de preferência ou gostos por diferentes bens ou serviços e isto se manifesta quando elas vão ao mercado e pagam quantias específicas por eles. Isto é, ao adquiri-los, elas expressam sua disposição a pagar (DAP) por esses bens ou serviços.

Isso evidencia o caráter experimental desse método e daí Pearce (1993, p.106) falar em (...) obter as preferências através de questionário (conversas estruturadas). Observe que o MVC mensura as preferências do consumidor em situações hipotéticas.

Difere do MCV, p. e., que avalia o comportamento do consumidor em situações reais [Hufschmidt et al. (1983, p.233)]. Existe também a disposição a receber compensação (DAC), que é o raciocínio inverso: as pessoas receberiam uma quantia monetária para tolerar determinado problema ambiental.

A base teórica do método está nas preferências do consumidor, via função de utilidade individual. O cálculo do valor econômico a partir de funções de utilidade pode ser feito por meio dos conceitos de DAP e disposição a receber compensação (DAC).

O MVC busca exatamente extrair a DAP (ou DAC) por uma mudança no nível do fluxo do serviço ambiental de uma amostra de consumidores através de questionamento direto, supondo um mercado hipotético cuidadosamente estruturado.

E partindo dessas medidas de DAP, em princípio, pode-se obter a curva de demanda de mercado pelo bem ou serviço. A operacionalização do MVC acontece via a aplicação de questionários cuidadosamente elaborados de maneira a obter das pessoas os seus valores de DAP ou de DAC [Pearce (1993, p.116)].

Existem várias formas de fazer isso: jogos de leilão, escolha dicotômica (sim/não), jogos de trade-off, etc. [Hufschmidt et al. (1983)].

Após a aplicação desses questionários, os resultados são tabulados e submetidos a uma análise econométrica de maneira a derivar valores médios dos lances de DAP ou DAC. A literatura sugere que a familiaridade com o objeto de mensuração apresenta resultados mais razoáveis [Pearce (1993, p.116)].

O MVC é mais aplicado para mensuração de: a) recursos de propriedade comum ou bens cuja excludibilidade do consumo não possa ser feita, tais como qualidade do ar ou da água; b) recursos de amenidades, tais como características paisagística, cultural, ecológica, histórica ou singularidade; ou

c) outras situações em que dados sobre preços de mercado estejam ausentes [Hufschmidt et al. (1983, p.233)].

Método Custos de Viagem (MCV)

Método Custos de Viagem (MCV) Hanley e Spash (1993, p.83) afirmam que o MCV pode reivindicar ser a mais antiga técnica de valoração de bens não transacionados em mercado, remontando suas origens a 1947. A sua introdução formal na literatura deve-se a Wood e Trice (1958) e Clawson e Knetsch (1966).

Daí que o modelo básico é freqüentemente conhecido como a abordagem Clawson e Knetsch. A idéia do MCV é que os gastos efetuados pelas famílias para se deslocarem a um lugar, geralmente para recreação, podem ser utilizados como uma aproximação dos benefícios proporcionados por essa recreação [Pearce (1993, p.105-6)].

Em outras palavras, utiliza-se o comportamento do consumidor em mercados relacionados para valorar bens ambientais que não têm mercado explícito. Esses gastos de consumo incluem as despesas com a viagem e preparativos (equipamentos, alimentação, etc.), bilhetes de entrada e despesas no próprio local [Hanley e Spash (1993, p.83)].

É como se as famílias entendessem que os benefícios proporcionados pela viagem em termos de satisfação pessoal, i. e. melhoria de bem-estar, compensassem os gastos no seu preparativo e durante a estadia no local. A fundamentação teórica do MCV está na mesma abordagem da função de produção doméstica utilizada no MCE [Pearce (1993, p.105-6)].

A parte operacional se faz através de regressão múltipla para estimar a curva de demanda por visitas a partir de uma função de geração de viagens. Esta descreveria a quantidade de visitas que um indivíduo faria a um determinado lugar, considerando suas características sócio-econômicas [Hanley e Spash (1993, p.84)].

De acordo com Pearce (1993, p.113), as aplicações do método geralmente são restritas à valoração de características peculiares aos locais (geralmente lugares de recreação) e à valoração do tempo.

Hanley e Spash (1993, p.83) afirmam que o MCV é bastante aplicado pelas agências governamentais americanas e tem sido crescentemente utilizado na Grã-Bretanha para modelar recreação ao ar livre; tendo como aplicações mais comuns pescarias, caçadas, passeios de barco e visitas a floresta.

Método de Preços Hedônicos (MPH)

Método de Preços Hedônicos (MPH) Este é um dos métodos de valoração econômica mais antigos e dos mais utilizados. Quando uma pessoa vai ao mercado imobiliário comprar um imóvel, ela considera também as suas características locacional e ambiental para fazer a sua escolha.

Ao tomar a sua decisão, considerando também a percepção que essas características lhe despertam, ela está, de certa forma, valorando essas particularidades do imóvel.

Isso despertou no economista Ridker (1967) [em Freeman III (1993, p.368-9)] a possibilidade de usar os dados dos valores de propriedade residenciais para estimar os benefícios de mudanças nos parâmetros de qualidade ambiental.

Esse foi o início do que viria a se chamar no futuro, o MPH. As evidências empíricas obtidas nesse e em outro trabalho do mesmo autor estimularam a atual vasta literatura sobre a relação poluição do ar e valor de propriedade [Freeman III (1993, p.367)].

A teoria do preço hedônico fundamentou a explosão de estudos teóricos e empíricos sobre valoração monetária de características ambientais ou locacionais na segunda metade da década de 1970 e durante toda a década de 1980.

Hoje se aceita bem a idéia de que os diferenciais de preço de residências refletem (também) as diferenças na intensidade de suas várias características e que essas diferenças têm relevância para análise de bem-estar aplicada. Os objetos de exploração mais recente na literatura sobre o assunto são:

a) a especificação adequada e estimação do modelo que relacione os preços das residências às características ambientais, b) o desenvolvimento de medidas de mudança de bem-estar que façam o melhor uso dos dados disponíveis e que sejam consistentes com a teoria econômica subjacente [Freeman III (1993, p.367)].

O MPH também utiliza o instrumental econométrico para chegar aos resultados. O modelo mais utilizado é o do valor de propriedade hedônico cross-section.

Assim, o preço da residência pode ser tomado como uma função de sua estrutura, vizinhança e características de qualidade ambiental da localização.

Se P h é o preço da residência, a função pode ser escrita: P hi = P h (S i, N i, Q i ) Onde: S i representa várias características para a i-ésima unidade residencial (tamanho, número de quartos, garagem, jardim, ano e tipo de construção);

N i representa um conjunto de características da vizinhança para a i-ésima unidade residencial (composição étnica, qualidade e número de escolas na área, acessibilidade para parques, lojas ou local de trabalho, taxa de criminalidade); Q i representa as características ambientais para o i- ésimo lugar (qualidade do ar).

Segundo Pearce (1993, p.114), o método tem aplicação apenas nos casos em que os atributos ambientais possam ser capitalizados nos preços de residências ou imóveis. Na literatura pesquisada só foram encontrados estudos associados a imóveis e suas características ou à valoração dos riscos de morbidade e mortalidade associados a atividades profissionais.

Este último é o (Sub)método Salários pelo Risco.