LUXAÇÃO ÚMERO-ULNAR CONGÊNITA BILATERAL REDUZIDA POR PINO TRANSARTICULAR Jeniffer Gabriela Figueroa CORIS 1, Luciane dos Reis MESQUITA 2, Sheila Canevese RAHAL 3, Washington Takashi KANO 4, Maria Jaqueline MAMPRIM 5, Maíra Sales CASTILHO 6 1 Aluna do Programa de Aprendizagem e Treinamento, Universidade Estadual Paulista Campus Botucatu. coris.jenny@gmail.com 2 Professora substituta cirurgia veterinária, Universidade Estadual Paulista Campus Botucatu 3 Professora titular docente Universidade Estadual Paulista Campus Botucatu. 4 Doutorando em Biotecnologia Animal, Universidade Estadual Paulista Campus Botucatu. 5 Professora Adjunta, Diagnóstico por Imagem, Universidade Estadual Paulista Campus Botucatu 6 Mestranda em Biotecnologia Animal, Universidade Estadual Paulista Campus Botucatu. Resumo Objetiva-se descrever a evolução cirúrgica de um caso de luxação de cotovelo congênita do tipo II bilateral. O diagnóstico se deu por meio de anamnese, histórico, exame ortopédico e confirmado pelo exame de imagem radiográfica. Optou-se pelo tratamento cirúrgico, utilizando pino transarticular e ao final do tratamento o paciente recuperou de forma satisfatória a deambulação. Palavras-chave: luxação de cotovelo, hereditariedade, pinscher, fio de Kirschner. Keys words: elbow luxation, heredity, pinscher, Kirschner wire Revisão da Literatura A luxação congênita do cotovelo é resultante de má-formação da articulação úmero-rádio-ulnar, a qual resulta em rotação lateral da ulna proximal (SCHULZ, 2008). Esta afecção é considerada como uma das principais causas não traumáticas de claudicação de membro torácico em cães recém-nascidos (MCDONELL, 2004; VALASTRO et al., 2005; PIERMATTEI e FLO, 2009). A etiologia é desconhecida, porém, sugere-se que seja hereditária (BINGEL e RISER, 1977). São descritos três tipos de luxação de cotovelo: tipo I (úmero-radial), tipo II (úmero-ulnar) e tipo III (associação da úmero-radial e úmero-ulnar) (MCDONELL, 2004). A luxação úmero-ulnar afeta principalmente raças pequenas, como Pinscher, Pug, Chihuahua, Bulldog Inglês, Pastor de Shetland, Pequinês, Cocker Spaniel, ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0583
Yorkshire Terrier, Boston Terrier e Poodle (CAMPBELL, 1969; MILTON et al., 1979; DENNY, 1993), sendo os machos mais afetados (MILTON e MONTGOMERY, 1987). O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico. O tratamento clinico consiste em estabilizar a articulação com talas ou bandagens, sendo indicado apenas para cães que apresentem alterações ósseas e de tecido mole discreta. No entanto, o tratamento clinico não impedem a progressão da doença (SCHULZ, 2008). O tratamento cirúrgico é mais indicado, tendo como objetivo o retorno da função do membro e não a completa reconstrução articular (MILTON et al., 1979). Pode-se utilizar redução fechada ou aberta. Como método fechado, tem se utilizado pino transarticular. Na redução aberta, utiliza-se técnicas como a transposição e fixação do olécrano, imbricação medial e suturas suportes, fixação transarticular e reconstrução da fossa articular e troclear (WITHROW, 1977; MILTON, 1979; MONTGOMERY e FINN, 1993). A artrodese é indicada quando a degeneração articular se encontra em um grau avançado ou nos casos em que a cirurgia não obteve sucesso (MILTON e MONTGOMERY, 1987; PIERMATTEI e FLO, 1997). O objetivo do presente relato é descrever um caso de luxação congênita de cotovelo bilateral e a evolução do caso após tratamento cirúrgico. Descrição do caso Foi atendido no Hospital Veterinário uma cadela da raça Pinscher com 49 dias de idade, pesando 0,5 Kg, com histórico de dificuldade locomotora observada pelos proprietários em torno dos 15 dias de vida do animal. O paciente encontravase com todos os parâmetros vitais dentro dos valores de referência para a espécie canina, assim como o hemograma. Ao exame ortopédico, o animal locomovia-se apoiando sobre os cotovelos de ambos os membros torácicos. À palpação, notavase o deslocamento lateral da ulna em ambos os membros torácicos, sendo essa redutível apenas no lado direito. O exame radiográfico em projeções mediolateral e craniocaudal permitiram o diagnóstico definitivo da luxação bilateral úmero-ulnar. O tratamento consistiu na redução da luxação e estabilização por meio de um pino transarticular, o qual foi inserido por meio de perfuração do aspecto caudal do olécrano. O exame radiográfico do pós-operatório imediato demonstrou redução articular com o pino inserido na diáfise umeral no lado direito e no côndilo umeral do lado esquerdo. Aos 14 dias de pós-operatório, retirou-se o fio do lado direito e no lado esquerdo foi necessária nova intervenção devido à reluxação, constatada aos ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0584
sete dias de pós-operatório. Após mais 14 dias houve a recuperação do membro que houve a complicação, sendo retirado o fio de Kirchner. Ambos os membros torácicos permaneceram com tala durante o período em que o pino transarticular estava presente e após a retirada do mesmo por mais duas semanas. A deambulação do animal foi recuperada de forma satisfatória com apoio sobre coxins palmares e digitais. Discussão A luxação congênita do cotovelo acomete principalmente raças pequenas e jovens (RAHAL et al., 2000; MCDONELL, 2004). Assim como o encontrado na literatura, a raça acometida neste caso era de pequeno porte, um pinscher, com menos de dois meses de idade. A etiologia é desconhecida, podendo ser resultante de uma hipoplasia e remodelamento da tróclea e da incisura troclear; da hipoplasia do côndilo medial do úmero com alongamento do ligamento do ligamento colateral medial e da cápsula articular; pode estar relacionado com a hiperplasia do côndilo lateral do úmero e com a contratura da cápsula articular lateral e do ligamento colateral lateral; contratura e deslocamento dos múscuios tríceps; e alterações degenerativas da cartilagem articular (SCHULZ, 2008). São conhecidos três tipos de luxações congênitas (RAHAL et al., 2000). No presente caso, o paciente possui luxação congênita de cotovelo tipo II (úmero-ulnar), sendo pouco comum e com possível predisposição genética. No entanto, o cão foi o único a apresentar a afecção de uma ninhada de 4 filhotes. O diagnóstico da afecção se dá por meio do histórico, exame ortopédico e radiográfico. Sendo o exame radiográfico imprescindível para confirmar a presença de luxação e diferenciá-la de outras doenças do desenvolvimento, como fechamento prematuro da linha fisária distal da ulna e a ectodactilia (MCDONELL, 2004; WEBSTER et al., 2012). Neste caso, optou-se pela redução aberta de ambos os cotovelos, e a estabilização por meio de um pino transarticular. Acredita-se que esta técnica seja uma boa opção de tratamento por ser menos invasiva e com menor tempo de recuperação pós-operatória quando comparada às técnicas que envolvem osteotomia (PIERMATTEI, 2009). Além disso, optou-se por realizar o procedimento cirúrgico em ambos os cotovelos no mesmo tempo, pois segundo Milton et al.(1979) ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0585
em casos de luxação bilateral, em que ambos os membros foram operados no mesmo tempo cirúrgico apresentaram melhores resultados do que os realizados em dias diferentes, uma vez que durante o pós-operatório o animal tende a poupar o membro operado, prejudicando a recuperação do mesmo e quando se opta pela cirurgia bilateral concomitante força-se o animal a utilizar ambos os membros operados de forma precoce, favorecendo assim a recuperação. Complicações podem ocorrer após o uso desta técnica, sendo especialmente associadas ao grau da alteração e o tempo de presença da lesão. Uma outra possível causa é a forma de aplicação do pino. Quando o pino é inserido dentro da diáfise umeral, a chance de reluxação é menor, como observado no presente caso (RAHAL et al., 2000). Conclusão A abordagem cirúrgica com a utilização de um fio de Kirscher transarticular foi o suficiente para o retorno funcional dos membros com luxação de cotovelo congênita. Referências BINGEL SA, RISER WH. Congenital elbow luxations in the dog. J Small Anim Pract. v.18, p.445-456, 1977. CAMPBELL JR. Nonfracture injuries to the canine elbow. J Am Vet Med Assoc. v.155, n.5, p.735-744, 1969. DENNY HR. A Guide to Canine and Feline Orthopaedic Surgery. 3rd ed. London: Blackwell, 1993: p.237-238. MCDONELL, H.L. Unilateral congenital elbow luxation in a Cavalier King Charles Spaniel. Can Vet J. v.45 p.941 943, 2004. MILTON JL, HOME RD, BARTELS JE, HENDERSON RA. Congenital elbow luxation in the dog. J Am Vet Med Assoc. v.175, n.6, p.572-582, 1979. MILTON JL, MONTGOMERY RD. Congenital elbow dislocations. Vet Clin North Am Small Anim Pract. v.17, n.4, p.873-888, 1987. MONTGOMERY RD, FINN S. What is your diagnosis? Am Vet Med Assoc. v.203, n.11, p.1535-1536, 1993. PIERMATTEI DL, FLO GL. Handbook of small animal orthopedics and fracture repair. 3rd ed. Philadelphia: WB Saunders, 1997, p.293-296. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0586
PIERMATTEI, D.L.; FLO, G.L.; DECAMP, E.C.; Ortopedia e tratamento de fraturas de pequenos animais. 4.ed. Barueri: Manole, 2009, p. 369-382. RAHAL, S.C.; DE BIASI, F.; VULCANO, L.C.; NETO, F.J.T. Reduction of humeroulnar congenital elbow luxation in 8 dogs by using the transarticular pin. The Canadian Veterinary Journal, v. 41, p. 849-853, 2000. SCHULZ, K. Afecções articulares. In: FOSSUM, T.W. Cirurgia de pequenos animais. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. Cap. 33, p.1143-1315. VALASTRO, C.; BELLO, A.; CROVACE, A. Congenital elbow subluxation in a cat. Veterinary Radiology & Ultrasound, Bari, v. 46, n. 1, p. 63-64, 2005. WEBSTER, N.; ALLAN G.; LAMPEN, G.; MUNRO, Z. Radiographic features of presumed congenital subluxation of the radio head in three Newfoundland littermates. Journal of Small Animal Practice, v. 53, p. 365-366, 2012. WITHROW SJ. Management of a congenital elbow luxation by temporary transarticular pinning. Vet Med Small Animal Clin, v.72, n.10, p.1597-1602, 1977. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.0587