A GEOGRAFIA DO BRASIL NO ENSINO MÉDIO: LIMITES E POSSIBILIDADES CURRICULARES

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Transcrição:

A GEOGRAFIA DO BRASIL NO ENSINO MÉDIO: LIMITES E POSSIBILIDADES CURRICULARES Thiago Augusto Nogueira de Queiroz Professor de Geografia da SEEC-RN, Doutorando em Geografia pela UFRN, queiroztan@gmail.com. Resumo: O parágrafo primeiro do artigo vinte e seis da LDB traz como prioritário o ensino do mundo físico e natural e da realidade social e política do território brasileiro. Nesse contexto, a Geografia tem um papel importante, na medida que é uma disciplina que trata tanto da dinâmica da natureza quanto da dinâmica da sociedade. Esse enfoque nacional deve estar presente também no currículo. O objetivo deste artigo é analisar a Geografia do Brasil no Ensino Médio, para mostrar os limites e as possibilidades curriculares. Para tal fim, utilizamos como procedimentos metodológicos a análise documental do PCNEM, da OCEM e da BNCC. Buscamos nesses documentos, nos eixos temáticos de Geografia, a palavra-chave Brasil. Com isso, construímos um quadro e analisamos quantiqualitativamente como está exposta a Geografia do Brasil nesses documentos. Os resultados apontaram que os temas relacionados especificamente ao Brasil não chegam à 25% dos temas de Geografia no Ensino Médio, podendo ser um limite para a produção de livros didáticos e para a prática do professor em sala de aula. A conclusão deste trabalho traz uma proposta, uma possibilidade curricular para a construção de uma práxis nacionalizante (e não nacionalista), com eixos temáticos geográficos sobre o Brasil, divididos nos três anos do Ensino Médio. Palavras-chave: Geografia do Brasil, Ensino Médio, Currículo. Introdução O parágrafo primeiro do artigo 26 da Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB), expõe que: Art. 26 Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil. (BRASIL, 1996). Podemos observar que o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política nos currículos do Ensino Médio (EM) devem abranger especialmente o Brasil. A Geografia é uma ciência formada por dois polos: um físico e um humano. Então, a ciência geográfica abrange, em seu cabedal de eixos temáticos e conteúdo, tanto os temas naturais quanto os temas sociais. O enfoque no Brasil deve estar presente no currículo. Nesse contexto, este artigo tem como objetivo analisar a Geografia do Brasil no Ensino Médio, para mostrar os limites e as possibilidades curriculares.

A Geografia torna-se uma importante disciplina, pois engloba tanto o conhecimento natural quanto a realidade social e política do país, sendo fundamental para a interdisciplinaridade, como também, para a integração entre áreas de conhecimento: as ciências naturais (com a biologia, física e química) e as ciências humanas (com história, sociologia e filosofia). As possibilidades curriculares devem tomar como base a educação popular a formação do cidadão. A educação popular é o diálogo, a problematização com e a conscientização das classes populares, em termos geográficos, dos lugares populares, por meio da educação, da ciência e da tecnologia (FREIRE & NOGUEIRA, 1989). Através da educação popular é possível cada sujeito histórico-geográfico apreender os problemas sociais dos seus lugares, quais os cenários sociais possíveis e desejáveis para esses lugares, e o que fazer e como fazer para lutar e resolver os problemas sociais desses lugares. A educação popular também deve possibilitar a apreensão do saber científico, colocando-o em diálogo com o conhecimento popular do senso comum (FREIRE, 1993). Esse encontro do saber popular e científico é o encontro entre o saber existente e o saber possível (FREIRE, 1968). A educação popular proporciona a superação do senso comum por meio da ciência e da tecnologia, fazendo com que cada pessoa encontre seu lugar no mundo, sendo agente não só da sua própria história, como também sujeito da sua geografia, ou seja, um agente do seu espaço, do seu território, da sua região, um agente de transformação do seu próprio lugar. Portanto, precisamos conhecer o território brasileiro para sobre ele pensar e agir, daí a importância do ensino da Geografia do Brasil nas escolas de Ensino Médio. Esse enfuqe nacionalizante (e não nacionalista) proporcionará a construção do sujeito biológico-históricogeográfico-social, o cidadão brasileiro completo, para além do que Milton Santos (1987) denominou de cidadão mutilado, o cidadão imperfeito e o consumidor mais que perfeito, proporcionando o advento do período popular da história. A educação nacionalizante é uma educação progressista de Paulo Freire (1996): libertadora, respeitadora das diferenças culturais e ideológicas, que promovem a construção de um país da diversidade de pensamentos e práticas, emancipador e nacionalizante, produzindo um território nacional para todos. Enquanto a educação nacionalista é uma educação tradicional: conservadora, não respeitadora das diferenças culturais e ideológicas, que promovem a construção de um país de pensamento único, alienante e nacionalista,

formando um território nacional para alguns privilegiados. O período popular da história está atrelado à educação popular e corresponde ao que Milton Santos (2000) denominou de globalização possível, que é aquela construída pelos agentes não hegemônicos, os atores e sujeitos sociais. Essa globalização caracteriza-se pelas relações horizontais, pelos circuitos inferiores da economia (em termos tecnológicos e de capital), pelas contra racionalidades ou racionalidades paralelas e pelas solidariedades orgânicas. Essa globalização possível pode se tornar realidade a partir da flexibilidade tropical (diferente da flexibilidade pós-fordista). A flexibilidade tropical é marcada pela criatividade, pelo cotidiano, pela força dos lugares e dos sujeitos sociais, pelo uso das tecnologias da informação e da comunicação diferente do objetivo pelo qual elas foram criadas. É nessa esteira que se constrói a educação popular a se forma o cidadão. Metodologia Para atingir o objetivo deste trabalho, fizemos a análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) na secção de Ciências Humanas e suas Tecnologias. Em seguida, analisamos o Volume 3 (Ciências Humanas e suas Tecnologias) das Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM). Logo após, nos debruçamos sobre a última parte (A Etapa do Ensino Médio) da 2ª versão da Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Primeiro, buscamos as referências ao Brasil nas sugestões de organização dos eixos temáticos em Geografia no PCNEM, a articulação entre conceitos e conteúdos nos eixos temáticos de Geografia na OCEM, e as unidades curriculares de Geografia no Ensino Médio na BNCC. Segundo, construímos um quadro e calculamos o percentual de temas com a palavra-chave Brasil na secção de Geografia do Ensino Médio em cada um desses documentos, para mostrar os limites da Geografia do Brasil no currículo do Ensino Médio. Por último, produzimos uma proposição de sequência de conteúdos da Geografia do Brasil, uma possibilidade curricular. Resultados e Discussão O PCNEM apresenta como eixos temáticos de Geografia: a dinâmica do espaço geográfico; o mundo em transformação - as questões

econômicas e os problemas geopolíticos; o homem criador de paisagem / modificador do espaço; o território brasileiro um espaço globalizado (BRASIL, 2000). Nos temas e nos subtemas dos três primeiros eixos temáticos não há nenhuma referência ao Brasil. No último eixo temático apresentado, há os seguintes temas: nacionalidade e identidade cultura; a ocupação produtiva do território; o problema das comunicações num território muito extenso; a questão ambiental no Brasil. Os subtemas apresentados são: População brasileira e sua identidade; crescimento populacional e dinâmica migrações; urbanização; periferização; transformações culturais da população brasileira; as minorias étnicas e sua integração na sociedade brasileira; o campo brasileiro e suas transformações; os caminhos da industrialização brasileira; o delineamento e a estrutura da questão energética no Brasil; as cidades brasileiras e as prestações de serviços; o modelo brasileiro e a rede de transportes; o transporte nas áreas urbanas e metropolitanas; a circulação de valores e o pensamento; o Brasil no contexto internacional; transportes, comunicação e integração nacional; os interesses econômicos e a degradação ambiental; a degradação ambiental nas grandes cidades; dependência econômica e degradação ambiental; o Brasil e os acordos ambientais internacionais (BRASIL, 2000). A OCEM apresenta os seguintes eixos temáticos em Geografia: formação territorial brasileira; estrutura e dinâmica de diferentes espaços urbanos e o modo de vida na cidade, o desenvolvimento da Geografia Urbana mundial; o futuro dos espaços agrários, a globalização a modernização da agricultura no período técnico-científico-informacional e a manutenção das estruturas agrárias tradicionais como forma de resistência; organização e distribuição mundial da população, os grandes movimentos migratórios atuais e os movimentos socioculturais e étnicos, as novas identidades territoriais; as diferentes fronteiras e a organização da geografia política do mundo atual, Estado e organização do território; as questões ambientais, sociais e econômicas resultantes dos processos de apropriação dos recursos naturais em diferentes escalas, grandes quadros ambientais do mundo e sua conotação geopolítica; produção e organização do espaço geográfico e mudanças nas relações de trabalho, inovações técnicas e tecnológicas e as novas geografias, a dinâmica econômica mundial e as redes de comunicação e informações (BRASIL, 2006). Só há menção ao Brasil no primeiro eixo temático da OCEM, a formação territorial brasileira, que deve ser apreendida no contexto mundial e latino-americano do capitalismo, destacando a economia agrária até o século XIX e a economia urbano-industrial e a reestruturação agrária no século XX:

Esse eixo temático pretende destacar que a compreensão da formação territorial brasileira se insere em um processo geo-histórico mais amplo de mundialização da sociedade europeia iniciado no final do século XV. Para entender o Brasil, é necessário também compreender a formação do território latino-americano. Posteriormente, é importante analisar o Brasil como formação social subordinada aos centros dominantes do capitalismo e o modo de ajuste da sua economia e do seu território às necessidades desse centro. Basicamente temos dois grandes períodos, o primeiro, o da economia e da formação territorial colonial-escravista (economia agrário-exportadora), do século XVI ao século XIX, e o período da economia e da formação territorial urbano-industrial, a partir do final do século XIX e ao longo de todo o século XX (BRASIL, 2006). A BNCC terá uma terceira versão, que deverá ser lançada ainda no ano de 2017. A segunda versão da BNCC, de 2016, tem as seguintes unidades curriculares de Geografia no Ensino Médio: linguagens e tecnologias na produção do conhecimento geográfico; dinâmicas da natureza e questão ambiental; Brasil território e sociedade; dinâmicas populacionais, fluxos e movimentos sociais; globalização, geopolítica e configuração do espaço mundial. A quinta unidade curricular traz o seguinte tema sobre o Brasil: analisar a atuação do Brasil nas instituições, blocos, associações e acordos internacionais, identificando mudanças nos sistemas produtivos e suas implicações territoriais (BRASL, 2016). A terceira unidade curricular, Brasil território e sociedade, tem os seguintes temas: examinar a posição do Brasil dentro do contexto político, econômico, científico, ambiental e cultural na contemporaneidade; debater emprego e ocupação, estabelecendo relações entre renda, gênero, educação, saúde e condições de trabalho e suas implicações nas dinâmicas territoriais no Brasil; distinguir e relacionar as dinâmicas entre campo e cidade, analisando usos e ocupações da terra, finalidade da produção, questão fundiária, seus conflitos e ações dos movimentos sociais no espaço brasileiro; avaliar fluxos populacionais e suas relações com conflitos, tensões sociais e injustiças ambientais que definem novas territorialidades no Brasil; demonstrar as influências do poder econômico e político nas desiguais condições de infraestrutura no território brasileiro (BRASIL, 2016). A partir dessa análise inicial, construímos o Quadro 1, sobre os eixos temáticos da Geografia nos currículos do Ensino Médio.

QUADRO 1 OS EIXOS TEMÁTICOS DA GEOGRAFIA NOS CURRÍCULOS DO ENSINO MÉDIO Eixos temáticos do PCNEM Eixos temáticos da OCEM Unidades curriculares da BNCC A dinâmica do espaço geográfico. As questões ambientais, sociais e econômicas resultantes dos processos de apropriação dos recursos naturais em diferentes escalas, grandes quadros ambientais do mundo e sua Linguagens e tecnologias na produção do conhecimento geográfico. Dinâmicas da natureza e questão ambiental. O mundo em transformação: as questões econômicas e os problemas geopolíticos. O homem criador da paisagem / modificador do espaço. O território brasileiro - um espaço globalizado. conotação geopolítica. As diferentes fronteiras e a organização da geografia política do mundo atual, estado e organização do território. Produção e organização do espaço geográfico e mudanças nas relações de trabalho, inovações técnicas e tecnológicas e as novas geografias, a dinâmica econômica mundial e as redes de comunicação e informações. O futuro dos espaços agrários, a globalização a modernização da agricultura no período técnico-científicoinformacional e a manutenção das estruturas agrárias tradicionais como forma de resistência. Estrutura e dinâmica de diferentes espaços urbanos e o modo de vida na cidade, o desenvolvimento da Geografia Urbana mundial. Organização e distribuição mundial da população, os grandes movimentos migratórios atuais e os movimentos socioculturais e étnicos, as novas identidades territoriais. Formação territorial brasileira. Globalização, geopolítica e configuração do espaço mundial. Dinâmicas populacionais, fluxos e movimentos sociais. Brasil: território e sociedade. Observamos que a temática sobre o Brasil corresponde a 25% do PCNEM, 14% da OCEM, e 20% da BNCC. Essa contabilidade mostra que são inexpressivos os eixos temáticos sobre a Geografia do Brasil no currículo oficial do

Ensino Médio, diante da quantidade de conteúdos que devem ser ministrados. Os resultados apontaram que os temas relacionados especificamente ao Brasil não chegam à 25% dos temas de Geografia no Ensino Médio, podendo ser um limite para a produção de livros didáticos e para a prática do professor em sala de aula. Menos de um terço dos três anos do EM devem focar o Brasil. Isso se reflete nos livros didáticos que, geralmente, em cada coleção tem apenas um dos volumes exclusivos sobre o Brasil e os demais se distanciam. Essa baixa ênfase no Brasil contraria o parágrafo primeiro do artigo 26 da LDB, que sugere o ensino das questões naturais e sociais do Brasil devem ser prioridade. Será que essa pouca ênfase curricular não está levando ao desconhecimento da geografia e da história do Brasil entre a população brasileira? Será que tem como consequência a falta de um patriotismo ou de um nacionalismo? Será que esse nacionalismo aparentemente fraco está associado aos temores da volta de uma educação moral e cívica como na ditadura militar? Será que esse fraco sentimento de pertencimento à nação não está associado aos escândalos de corrupção e às desigualdades socioespaciais tão evidentes no país? Será que a falta de um conhecimento maior sobre o Brasil não está levando ao crescimento do pensamento neoliberal e integralista no país? Como podemos transformar o país por meio da educação se a população não tem conhecimento do Brasil, o objeto da transformação? São perguntas que fazemos, porém, não pretendemos e não temos condições de responde-las neste artigo em tela. Conclusões Após a análise de como a Geografia do Brasil é abordada no currículo oficial do Ensino Médio, ou seja, no PCNEM, na OCEM e na BNCC, produzimos uma sequência de conteúdo, divididos por eixos temáticos para o ensino de Geografia no Ensino Médio. Essa proposta tem por base a construção de uma práxis nacionalizante (e não nacionalista), com eixos temáticos geográficos sobre o Brasil, divididos nos três anos do Ensino Médio: Eixo 1 As paisagens naturais do Brasil - A formação, localização e organização do território brasileiro. - As regionalizações do Brasil. - A ocupação e transformação dos domínios morfoclimáticos brasileiros - Os recursos minerais e energéticos da estrutura geológica e das bacias hidrográficas do Brasil.

Eixo 2 A paisagens culturais do Brasil - A industrialização e as redes de transportes e comunicações no Brasil. - A modernização da produção e os problemas socioambientais no espaço agrário brasileiro. - A urbanização e os problemas socioambientais no Brasil. - Formação, dinâmica, estrutura e desenvolvimento humano da população brasileira. Eixo 3 O Brasil no espaço geográfico mundial - O Brasil no contexto da globalização. - O Brasil no contexto da Nova Ordem Mundial. - O Brasil no contexto dos blocos econômicos e nos grupos supranacionais. - O Brasil no contexto dos conflitos territoriais. Essa proposta do enfoque nas questões naturais e sociais do Brasil, nos eixos temáticos de Geografia no EM, é importante, em primeiro lugar, para o cumprimento do parágrafo primeiro do artigo 26 da LDB. Em segundo lugar, esse enfoque nacionalizante dissipa as dicotomias tão presentes na Geografia: física X humana; local (regional) X global (geral). Como também dissipa as dicotomias educacionais-pedagógicas: escola para a reprodução social X escola para a transformação social. O ensino de Geografia no nível médio com foco no Brasil abarca tanto a Geografia física quanto a humana. Abrange a geografia local, regional, nacional e global, cabendo ao professor fazer o diálogo entre essas escalas, demonstrando que as paisagens naturais e culturais nacionais estão em um contexto global e que são diversificadas nos contextos regionais e locais. Por fim, torna a educação e a escola não só um instrumento de reprodução social, como a preparação dos alunos para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), pois a proposta apresentada abarca praticamente todos os conteúdos do ENEM. Em certa medida, possibilitar aos alunos a aprovação no ENEM já é uma educação que possibilita as transformações sociais. Enfim, esse enfoque torna a escola um meio de transformação social, na medida em que é necessário conhecer o território do seu país para possibilitar a educação libertadora e a formação do cidadão integral e não mutilado.

Referências BRASIL. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: MEC, 1996. BRASIL. PCNEM Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000. BRASIL. OCEM Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Brasília: MEC, 2006. BRASIL. BNCC Base Nacional Curricular Comum. Brasília: MEC, 2016. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1968. FREIRE, Paulo. Política e educação. São Paulo: Paz e Terra, 1993. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1996. FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: teoria e prática em educação popular. Petrópoles: Vozes, 1989. SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Hucitec, 1987. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro, 2000.