RELATÓRIO DE PESQUISA

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Transcrição:

RELATÓRIO DE PESQUISA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Outubro de 2010

RELATÓRIO FINAL COORDENAÇÃO Profª. Drª. Edinusia Moreira C. Santos ELABORAÇÃO Profª. Drª. Edinusia Moreira C. Santos Prof. Ms. Agripino Souza Coelho Neto Prof. Dr. Onildo Araújo da Silva UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Outubro de 2010

EQUIPE DE TRABALHO Nome Entidade Função Edinusia Moreira Carneiro Universidade Estadual de Feira de Coordenadora Santos Santana Onildo Araujo da Silva Universidade Estadual de Feira de Vice-coordenador Santana Agripino Souza Coelho Neto Departamento de Educação - Campus XI-UNEB Pesquisador Gilca Carneiro CODES-Sisal Representante da Instituição Parceira Ranusio Santos Cunha Cooperativa Valentense de Crédito Rural Ltda.-COOPERE Representante da Instituição Parceira Allan Tiefiesee Fundação de Apoio aos Trabalhadores e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Representante da Instituição Parceira Semi Árido da Bahia-FATRES Virgínia Araujo Lima Santana Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira- FUNDAÇÃO APAEB Representante da Instituição Parceira Taise da Silva Costa Departamento de Educação - Bolsista de Campus XI-UNEB Iniciação Cientifica Vagna Brito de Oliveira Departamento de Educação - Bolsista de Campus XI-UNEB Iniciação Cientifica Tiago Moraes Cerqueira Universidade Estadual de Feira de Santana Bolsista de Iniciação Cientifica

Divanice da Paixão Universidade Estadual de Feira de Bolsista Ferreira Santana Iniciação Cientifica Josete Figueredo Universidade Estadual de Feira de Bolsista Vasconcelos Santana Iniciação Cientifica Wilma Paim das Virgens Universidade Estadual de Feira de Bolsista Maia Santana Iniciação Cientifica Joselane da Rocha Universidade Estadual de Feira de Bolsista Brandrão Santana Iniciação Cientifica Ana Carolina Ribeiro Universidade Estadual de Feira de Bolsista Santana Iniciação Cientifica Davi Andrade Santos UNOPAR Pesquisador de de de de de Local Eliane Cruz Maciel Departamento de Educação - Campus XI-UNEB Pesquisador Local Adriana Oliveira da Silva UNOPAR Pesquisador Local Vangigleide Silva Santos UNOPAR Pesquisador Local Adineide Oliveira dos Anjos Departamento de Educação - Campus XI-UNEB Pesquisador Local

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. 1. Introdução Esse relatório organiza e registra o trabalho realizado pelo Grupo de Pesquisa em Geografia e Movimentos Sociais (GEOMOV/DCHF/UEFS) para a concretização da pesquisa intitulada Inclusão Social e Desenvolvimento no Território do Sisal: Diagnóstico e Construção de Mecanismos de Apoio ao Fortalecimento da Ação das Associações e Cooperativas, que, financiada pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), tem o objetivo de analisar o atual estágio das associações e das cooperativas no Território do Sisal e fortalecer as ações dessas entidades a partir da implantação de um Centro de Pesquisa e Apoio à Gestão das Associações e Cooperativas. Ressaltamos que é um texto mais descritivo e baseado nos dados em si, com objetivo de oferecer uma visão mais centrada nas respostas dos entrevistados e menos nas análises dos pesquisadores. Essas análises serão divulgadas no livro Tecendo a associação, tecendo a inclusão social: o caso do Território do Sisal, a ser publicado nos próximos meses, pois já se encontra na gráfica e em processo de revisão. Nessa pesquisa analisamos o associativismo e o cooperativismo no Território do Sisal, contando para isso com uma equipe de geógrafos da Universidade Estadual de Feira de Santana e da Universidade do Estado da Bahia, além de outros profissionais, agrônomos, pedagogos e administradores, que representam as entidades parceiras no projeto. Do ponto de vista teórico assume que as associações e as cooperativas são entidades que embasam suas ações nos princípios do trabalho coletivo, da democracia e da justiça social, por isso a pesquisa pode impulsionar através de suas ações de apoio a inclusão social e ao desenvolvimento, o fortalecimento das entidades existentes. Assim, diagnosticamos a situação das associações e cooperativas existentes no Território do Sisal, com o objetivo de montar mecanismos de apoio à gestão das mesmas. Dessa forma, pretendemos contribuir para que as ações dessas entidades possam provocar a inclusão social e o 5

desenvolvimento. Desenvolvimento entendido como um processo integrado e que inclui os aspectos sociais como elemento central, pois as experiências ao longo da história demonstraram que apenas investimentos em infra-estrutura não ocasionam desenvolvimento na perspectiva integradora, é preciso investir nas pessoas, na melhoria das condições de vida. Assim, esse relatório contextualiza as idéias de território e região, aplicadas à área de estudo ao longo dessas últimas cinco décadas, situa a origem do Território do Sisal no contexto da política territorial brasileira, caracteriza o processo produtivo do sisal, apresenta uma síntese dos aspectos econômicos e sociais do território em questão e registra o número de associações e cooperativas, categorizadas de acordo com critérios desenvolvidos pela nossa equipe de trabalho e apresenta um amplo diagnóstico do tecido associativista dos 20 municípios do Território do Sisal. 1.1 Do processo de investigação A investigação que ora apresentamos o resultado teve origem na concretização de uma parceria entre diversas instituições que concorreram ao edital temático do semi-árido, na FAPESB, e obtiveram financiamento para realização de suas etapas, a saber: Primeira fase - foi centrada na caracterização do Território do Sisal, através de dados secundários, com a realização de pesquisa bibliográfica e documental. Além disso, foi realizada também a identificação e categorização das associações e cooperativas, com a utilização de um amplo levantamento dos dados registrados nos cartórios dos fóruns de cada município e/ou na Corregedoria Geral de Justiça do Estado da Bahia. Segunda fase - a aplicação de um questionário a um representante de cada associação e cooperativa. Desse questionário resultou um banco de dados (que pode ser acessado em www.uefs.br/geomov) que foi o suporte para o desenvolvimento de todas as outras etapas da pesquisa. É importante ressaltar que a aplicação do questionário foi atribuição dos pesquisadores locais, a tabulação foi atribuição dos bolsistas de iniciação cientifica, sempre sob a coordenação de um professor pesquisador. Além disso, nessa fase, foi

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. construído o primeiro relatório de pesquisa com a análise dos dados obtidos. Nesse caso o trabalho ficou por conta dos pesquisadores. Esse relatório foi suporte para a execução da fase posterior. Terceira fase - preparação das ações necessárias a implantação do Centro de Pesquisa e Apoio à Gestão do Associativismo e do Cooperativismo através da identificação dos principais problemas enfrentados pelas associações, da identificação de entidades desativadas, da identificação das principais possibilidades visualizadas pelos líderes das entidades. De posse do conhecimento registrado no relatório anterior a pesquisa entra na sua quarta fase que é a implantação do Centro de Pesquisa e Apoio à Gestão, com a realização de atividades já envolvendo diretamente as associações anteriormente identificadas e previamente selecionadas. Essa fase será realizada pelos professores pesquisadores e pelos representantes das entidades parceiras e pretende gerar ações de intervenção direta na realidade pesquisada, a avaliação dos impactos imediatos dessa intervenção e a construção dos mecanismos de manutenção do Centro de Pesquisa e Apoio após a finalização desse projeto. A ação deve ser matéria prima para reavaliação do percurso realizado, dando suporte para requalificar o conhecimento produzido. Ao final da execução das primeiras ações do Centro de Pesquisa e Apoio, a equipe realizara um outro relatório com a análise da fase, mas pretende-se que a ação do centro seja efetivada por tempo indeterminado, enquanto ele ainda tiver função relevante. 7

2. Origens e contextos do surgimento da política de territórios rurais no Brasil. No âmbito das políticas territoriais brasileiras, dois conceitos geográficos foram erguidos à condição de aporte teórico-metodológico. Tradicionalmente o conceito de região apoiou o planejamento e a gestão pública e privada, carregando a concepção de regionalização como instrumento de ação (DUARTE, 1980; CORRÊA, 1986) em conformidade com as teorias do desenvolvimento econômico de matriz neoclássica. Neste prisma, diversas políticas de desenvolvimento regional foram levadas a efeito, especialmente no Nordeste brasileiro. Esses pressupostos fundamentaram a elaboração de diversas divisões regionais e a criação de um aparato público para planejar e executar políticas de desenvolvimento regional, bastante marcantes na história da Região Nordeste do Brasil, conforme evidenciaram as obras de Oliveira (1977), Andrade (1988), Burztyn (1987), Carvalho (1987), Carvalho (1988) e Castro (1992). No início do século XXI, o conceito de território passou a constituir-se em referencial central na política e gestão territorial do Estado brasileiro. A análise dos documentos oficiais que apresentam as concepções basilares e as práticas adotadas informa a constituição de uma nova escala de governança territorial ou unidade de planejamento e intervenção estatal, que vem sendo confundida com a escala regional, intermediária entre as instâncias de poder políticoadministrativo municipal e dos estados federados. No entanto, a dinâmica do processo de estruturação das novas políticas do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) tem proposto novas denominações, a exemplo dos chamados territórios rurais, territórios da cidadania e territórios da identidade, que carregam junto concepções teóricas e uma carga de significados que passam a ser incorporados pelas comunidades territoriais. As mudanças incorporam outras perspectivas de condução da política e do planejamento governamental amparado em novas formas de relacionamento com a sociedade civil, como fica evidenciado na idéia de território que vem sendo gestada no contexto do MDA.

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. Esta perspectiva, construída na escala nacional, vem sendo incorporada pelo Governo da Bahia em função do alinhamento político-partidário com o governo central tornando-se base para o levantamento de dados e para a elaboração de políticas públicas no estado da Bahia. A mudança de região para território também evidencia uma tentativa de incorporação de um discurso não mais focado no coronelismo, mas sim na ação de movimentos sociais de base como MOC, APAEB, FATRES, CODES, entre outros. Ao longo do século XX, e mais notadamente, entre as décadas de 1950 a 1980, a concepção de planejamento e execução das políticas territoriais assumiu uma linha centralizada, autoritária e vertical, conforme destacam os estudos de Burztyn (1987), Carvalho (1987) e Gonçalves Neto (1996). Caracterizou-se pela concentração das decisões na escala do poder central, pela condução das decisões sem discutir com a sociedade civil, e pelo distanciamento físico e de interesses, entre o lugar da decisão e os lugares da materialização das ações. Essas perspectivas podem ser verificadas na política de criação de perímetros irrigados pela Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) (COELHO NETO, 2004), na atuação do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), nas frentes de emergência e em programas estatais como o POLONORDESTE e PROTERRA (BURZTYN, 1987), e mesmo na atuação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) (OLIVEIRA, 1977). Nas últimas décadas do século XX, num cenário marcado pela redemocratização política e contestação da eficiência do Estado em gestar o território nacional, acentuado pela predominância do ideário neoliberal e ampliação da atuação dos movimentos da sociedade civil organizada, ocorre embates e avanços nas discussões sobre a gestão territorial. Dagnino (2004) apresenta uma leitura desse contexto, identificando dois movimentos que operam dialeticamente formando uma confluência perversa, unindo e opondo, de um lado: 9

[...] o projeto neoliberal que se instala em nossos países ao longo das últimas décadas e, de outro, um projeto democratizante, participativo, que emerge a partir das crises dos regimes autoritários e dos diferentes esforços nacionais de aprofundamento democrático (Dagnino, 2004. p. 140) (o autor refere-se aos países da América Latina grifo nosso). Esse é um longo processo que decorre dos esforços de organização da sociedade civil, da ação coletiva de uma gama diversificada de grupos, movimentos sociais e inúmeras organizações que lutaram pela solução de graves problemas de exclusão sócio-econômica da sociedade brasileira, pela cidadania, democracia, respeito às diferenças culturais e autonomia política de diversos segmentos sociais (SHERER-WARREN, 1999). Esses movimentos originaram-se na esteira da atuação sindicalista, dos partidos de esquerda e da vertente progressista da Igreja Católica (ALBUQUERQUE, 2004). Esse cenário ganha novos contornos, com o processo de redemocratização política e do amparo legal-institucional viabilizado pela Constituição de 1988. Verificam-se mudanças importantes nas últimas décadas, no âmbito da política e da sociedade, com o surgimento e ampliação de espaços públicos de discussão e decisão política, o fortalecimento da atuação da sociedade civil organizada, ampliação da ação dos movimentos sociais, ampliação dos fenômenos de associativismo e cooperativismo, ampliação das redes sociais de solidariedade em escala regional, nacional e global, entre movimentos sociais, ONG s e a população, ampliação dos fóruns sociais de debate sobre relevantes questões públicas, com a participação de diversos segmentos representativos da sociedade e com a presença de integrantes do Estado. Esses processos ajudam construir o envolvimento da sociedade civil, redefinindo as relações Estado-Sociedade (NOGUEIRA, 2005). Esse contexto ilustra a implantação do Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Territórios Rurais (PNDSTR), proposto pelo MDA, cuja estruturação pressupõe a construção de projeto político e de gestão, compartilhadas pelos diversos agentes territoriais, sejam as instituições públicas, organizações não-governamentais, entidades de classe, associações, cooperativas, enfim, todo um conjunto de atores que produzem, vivem e interagem no território.

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. O referido programa originou-se de uma linha de ação do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) que destinava recursos para a construção de obras e aquisição de serviços comunitários, durante o período de 1997 e 2002. A proposta trabalhava com a idéia de promoção do desenvolvimento, valorizando a escala municipal, instrumentalizados numa gestão estruturada em Conselhos Municipais de Desenvolvimento Rural (CMDR). Com o Governo Lula, o programa ganha outra dimensão com a elaboração de um conjunto de diretrizes que passam a referenciar a política e a gestão territorial no Brasil, ampliando as fronteiras da pasta do MDA e da ação do governo central, tornando-se fundamento para atuação governamental num plano mais geral, e incorporado na esfera de atuação dos estados federados. A concepção de política e gestão territorial que fundamenta o PNDSTR encontra-se centrada na construção de uma nova institucionalidade que recebe o nome de território, apoiando-se na idéia de promoção do desenvolvimento territorial, no estabelecimento do espaço rural como foco de atuação, e da gestão social como princípio que pretende garantir o envolvimento da sociedade civil no processo de construção política. Nesta perspectiva suas diretrizes pressupõem: a) Criação de colegiados territoriais, compreendidos como espaços públicos ou arenas decisórias, que se configuram como uma nova governança territorial; b) Criação de mecanismos de participação e construção do protagonismo da sociedade civil, para fortalecer os processos de descentralização política e estímulo à autogestão dos territórios; c) Construção e fortalecimento de redes de articulação de atores, instituições e programas para condução do processo de gestão das políticas territoriais. Esse processo tem influência nas relações de poder, antes o planejamento regional geralmente embasava seu exercício na ação de uma 11

elite política extremamente articulada a elite econômica e com pouco ou nenhuma ligação com os movimentos populares ou mesmo pouco sensíveis às reivindicações dos trabalhadores, agora a proposta é o exercício do poder de decidir através de arenas públicas, deslocando tanto a forma quanto o conteúdo da decisão. Temos que questionar ainda se realmente essa nova forma proposta, a partir das ações do MDA, implica em efetiva mudança. Essa é ainda uma questão que teremos que nos debruçar num futuro bem próximo. Assim, a formação dos territórios na política do governo federal tem como base os municípios. Os limites do recorte territorial se definem a partir da adesão ou saída dos municípios, dos respectivos colegiados ou conselhos territoriais. Os critérios de demarcação têm se conduzido pelas relações políticas no interior do recorte espacial instituído como território e pelo sentimento de pertencimento e identificação a mesma realidade. Atualmente a Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), especialmente criada para coordenar a política territorial do MDA, identifica a existência de 160 territórios rurais (40% na região Nordeste), abrangendo 4.297 municípios (24% na região Nordeste), dados que demonstram a expressão, atualidade e relevância do fenômeno para a sociedade brasileira 1. Na Bahia, os diversos órgãos da gestão pública (Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia SEI e Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária - SEAGRI) estão trabalhando com a demarcação dos territórios de identidade alinhados com posição da Coordenação Estadual dos Territórios (CET), elaborada em 2007, que reconhece 26 territórios de identidade. 1 Dados obtidos em 10 de agosto de 2008 no endereço eletrônico: http://www.mda.gov.br/sdt.

3. O Território do Sisal O Território do Sisal é composto atualmente por 20 municípios: Monte Santo, Itiúba, Cansanção, Nordestina, Queimadas, Quijingue, Tucano, Araci, Teofilândia, Biritinga, Ichú, Lamarão, Serrinha, Barrocas, Candeal, Conceição do Coité, Retirolândia, Valente, Santa Luz e São Domingos (mapa 01), localizados no semi-árido baiano e identificados com a cadeia produtiva da agave sisalana, espécie vegetal xerófila conhecida popularmente apenas como sisal. A denominação Território do Sisal, em substituição a tradicional Região Sisaleira, origina-se nas novas propostas de políticas territoriais adotadas pelo Estado brasileiro a partir de 2003, com a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CONDRAF), e no ano seguinte, com a implantação do Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios Rurais (PNDSTR), no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A proposta mais efetiva de demarcação da Região Sisaleira foi elaborada pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), abarcando 27 (vinte e sete) municípios do semi-árido baiano (mapa 02), envolvendo quase a totalidade dos municípios que hoje compõem o Território do Sisal. Essa delimitação regional apoiou-se na concepção de regiões econômicas, tradicional divisão regional elaborada pela Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia (SEPLANTEC), adotada por longo tempo como unidade de planejamento e para fins de levantamento de informações dos órgãos governamentais do estado da Bahia. Esse processo de regionalização significou recortar o estado da Bahia a partir das homogeneidades conformadas pelos sistemas produtivos que indicariam uma economia regional. O espaço atualmente demarcado como Território do Sisal começa a se forjar a partir da década de 1930 com a progressiva estruturação da cadeia produtiva do sisal.

MAPA 01 TERRITÓRIO DO SISAL NO CONTEXTO DO ESTADO DA BAHIA BRASIL. 2008. Elaboração: Onildo Araújo da Silva

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. MAPA 02 REGIÃO SISALEIRA DO ESTADO DA BAHIA BRASIL. 2008. 15

Apesar da existência de certa diversificação de atividades agropecuárias, com destaque para a ovinocaprinocultura e os cultivos próprios da agricultura de subsistência, foi a introdução do agave sisalana 2, sua expansão geográfica e crescimento de sua importância econômica como atividade produtiva, que conformou e configurou o espaço reconhecido como Região Sisaleira da Bahia (SANTOS, 2007). Relevante destacar que a posição que o sisal passa gradativamente a ocupar no contexto regional vai oferecer também elementos para a construção de uma identidade e um sentimento de pertencimento regional. Essa idéia de pertencimento a região sisaleira é constatada por Silva (1999) quando trabalha a questão da imagem de Nordeste nos municípios de Valente, São Domingos e Retirolândia. Segundo esse estudo parte dos alunos da 8ª série das escolas públicas utilizava a região sisaleira como referência de pertencimento. O Território do Sisal tem se singularizado no âmbito das políticas territoriais, em face da inserção e adesão as concepções e diretrizes do PNDSTR do MDA, bem como pelos resultados efetivos que tem alcançado na implantação desta proposta. Essa preeminência decorre do nível de organização e do protagonismo dos agentes sociais e pelas condições sociais historicamente construídas, apontadas como precursoras do arranjo políticoinstitucional pretendido pela política estatal. A construção da nova institucionalidade no Território do Sisal é produto das transformações mais amplas ocorridas na sociedade brasileira, bem como das condições particulares que foram forjadas regionalmente. Esse processo é produto da mobilização e atuação de diversos agentes sociais que vêm contribuindo para tessitura deste território e para a perspectiva de construção da territorialidade. Contribuiu pioneiramente nesse processo, o Movimento de Organização Comunitária (MOC), organização não-governamental que surge em 1967, através do trabalho da Igreja Católica, cuja atuação priorizou o apoio à organização política da sociedade civil, ocupando-se centralmente da mobilização e formação política de lideranças e do estímulo ao surgimento e 2 Planta originária da península de Yukatan, no México, trazida para a Bahia, por Horácio Urpia Júnior (PINTO, apud SANTOS, 2007).

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. autonomização de entidades da sociedade civil (OLIVEIRA e COELHO NETO, 2008). Outra organização que exerce um papel seminal no processo de organização comunitária e no desenvolvimento de vários municípios do Território do Sisal (SANTOS; 2007) é a Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira, que surge como entidade regional na década de 1980 com a denominação de Associação dos Pequenos Agricultores do Estado da Bahia (APAEB), municipalizando-se na década seguinte. A entidade tem trabalhado no sentido da mobilização e organização dos esforços dos pequenos produtores de sisal, adquirindo enorme expressão em face dos resultados alcançados: sisal; a organização produtiva dos pequenos agricultores; a diversificação de atividades em torno da cadeia produtiva do a valorização das potencialidades e produtos regionais; a construção de redes de solidariedade; o reforço do sentimento de pertencimento; e a reorganização do espaço regional. Essas questões foram detidamente analisadas por Santos (2000, 2002, 2007, 2010b) que destaca, ainda, a influência da APAEB para a reorganização espacial do município de Valente e para o desenvolvimento da região sisaleira, além da influência da associação em outras entidades que a apresentam como modelo a ser seguido. Mais recentemente, destaca-se a Cooperativa Valentense de Crédito Rural (SINCOOB-COPERE), formalmente fundada em 1993, como desdobramento da atuação da APAEB-Valente com o objetivo de promover a economia solidária, através da prestação de serviços financeiros e assistência técnica, visando o desenvolvimento sustentável da região sisaleira do estado da Bahia (www.sicoobcoopere.coop.br. Acesso em 10 de maio de 2009). A 17

cooperativa possui atualmente 12.251 cooperados e agências distribuídas em três municípios do Território do Sisal (Conceição do Coité, Valente e Retirolândia), três municípios do Território da Bacia do Jacuipe (Nova Fátima, Gavião e Quixabeira) e um no Território Piemonte da Diamantina (Capim Grosso), buscando oferecer crédito mais barato aos produtores e viabilizando suas as atividades produtivas. Outra entidade que tem marcante influência é a Fundação de Apoio aos Trabalhadores e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semi Árido da Bahia (FATRES) que é uma sociedade civil, cuja missão é: [...] contribuir para a construção do desenvolvimento social e ambientalmente sustentável, voltado para a melhoria das condições sociais de vida dos agricultores e agricultoras familiares da região semi-árida da Bahia, visando a sua permanência na unidade produtiva familiar numa perspectiva de fortalecimento da agricultura familiar (http://www.fatres.org/fatres.php. Acesso em 10 de maio de 2009). A atuação da entidade envolve a mobilização, articulação e assessoramento dos diversos sindicatos de trabalhadores rurais dos municípios do Território do Sisal e sua articulação externa com outras entidades regionais da sociedade civil. 3 A atuação dessas e outras organizações e a ação de políticas públicas de erradicação da pobreza, engendraram um processo de mobilização e organização da sociedade civil, formando um diversificado tecido associativista e cooperativista, conforme demonstrou Santos (2010a). Esse conjunto de fatores culmina na construção de um ambiente político-institucional favorável ao debate, ao levantamento de demandas e a criação de alternativas centradas na idéia de desenvolvimento local. É neste contexto que é gestada a criação do Conselho Regional de Desenvolvimento Rural Sustentável da Região Sisaleira do Estado da Bahia (CODES-SISAL), em 2002. 3 As informações foram obtidas em 25 de fevereiro de 2008 no endereço eletrônico: http://www.fatres.org/index.php

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. Essa entidade é composta (quadro 01) por representantes das 20 (vinte) prefeituras municipais, de 4 (quatro) órgãos governamentais, 24 (vinte e quatro) entidades da sociedade civil ONG s, associações, cooperativas e sindicatos de trabalhadores rurais, e 01 (uma) empresa de transportes rodoviários (CODES-SISAL, 2007). Valendo-se da instituição da política territorial do MDA, através do PNDSTR, o CODES/SISAL tem ocupado um papel relevante na estruturação do Território do Sisal, aglutinando as aspirações e as propostas de desenvolvimento territorial, constituindo-se num colegiado que articula uma rede diversificada de agentes territoriais, com seus conflitos, valores, propósitos e interesses, inerentes ao exercício da política. A experiência da estruturação do Território do Sisal se mostra enigmática e emblemática pelas particularidades estruturais e pela condição histórica que se forjou nesse recorte espacial. O enigma se configura, por um lado, pela existência de um contexto de prevalência do uso da seca e das adversidades físicas, durante décadas, para justificar a constante ampliação da pobreza e da miséria, da precariedade das condições sócio-econômicas e do conservadorismo político, cuja história brasileira registra a produção dos processos de cooptação e clientelismo político, passividade e conformismo social. E por outro lado, pela constituição de uma emblemática institucionalidade, centrada na amplitude do processo de mobilização e organização da sociedade civil, na formação de complexas e diversificadas redes sociais que se articulam nas escalas regional, nacional e internacional. 19

Poder Público Prefeitura Municipal de Araci QUADRO 01 ENTIDADES INTEGRANTES DO CODES SISAL Sociedade Civil Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Araci - APAEB Araci Prefeitura Municipal de Barrocas Prefeitura Municipal de Biritinga Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Serrinha - APAEB Serrinha Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira - APAEB Valente Prefeitura Municipal de Candeal Agência Regional de Comercialização do Sertão da Bahia - ARCO Sertão Prefeitura Municipal de Cansanção Centro de Apoio às Iniciativas Comunitárias do Semi-Árido da Bahia - CEAIC Prefeitura Municipal de Conceição do Coité Cooperativa de Beneficiamento e Comercialização - COOBENCOL Prefeitura Municipal de Ichu Cooperativa Regional de Artesãs Fibras do Sertão - COOPERAFIS Prefeitura Municipal de Itiúba Cooperativa de Produção de Jovens da Região do Sisal - COOPERJOVENS Prefeitura Municipal de Lamarão Prefeitura Municipal de Monte Santo Prefeitura Municipal de Nordestina Prefeitura Municipal de Queimadas Prefeitura Municipal de Quijingue Prefeitura Municipal de Retirolândia Prefeitura Municipal de Santa Luz Prefeitura Municipal de São Domingos Prefeitura Municipal de Serrinha Prefeitura Municipal de Teofilândia Prefeitura Municipal de Tucano Prefeitura Municipal de Valente Cooperativa dos Apicultores do Semi-árido Baiano - COOPMEL Fundação de Apoio aos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares da Região do Sisal e Semi-árido da Bahia - FATRES Movimento de Mulheres Trabalhadoras Rurais - MMTR Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Ichu - STRAF Ichu Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Itiúba STRAF Itiúba Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Monte Santo - STRAF Monte Santo Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Queimadas - STRAF Queimadas Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Quijingue - STRAF Quijingue Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Santa Luz - STRAF Santa Luz Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Serrinha STRAF Serrinha Sindicato dos Trabalhadores Rurais e Agricultores Familiares de Tucano - STRAF Tucano Associação de Rádios Comunitárias do Sisal - ABRAÇO Sisal

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. Entidades de Apoio (governamentais e não-governamentais) Agência de Desenvolvimento Solidário ADS Bahia Banco do Nordeste do Brasil - BNB - Agência Feira de Santana Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola - EBDA - Gerência Regional de Serrinha Federação das Cooperativas de Crédito de Apoio a Agricultura Familiar - FENASCOOB Movimento de Organização Comunitária MOC Rede de Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semi-Árido - REFAISA Universidade do Estado da Bahia UNEB - Campus XIV Vicariato São Matheus Departamento Nacional de Obras Contra Seca - DNOCS FONTE: CODES, 2007 Essas redes já são produtoras de um protagonismo das associações e cooperativas como agentes territoriais que influenciam na condução de seus interesses, no processo de gestão do território e na própria condução de seus destinos. Esse processo se articula com a ação do MDA na busca por uma nova forma de gestão territorial, exemplo disso é verificarmos que em 2004: O Plano Safra para a agricultura familiar 2004-2005 da Região Nordeste foi lançado em Valente, Bahia, um dos municípios que integram o Território do Sisal, do qual fazem parte dezenove comunidades que estão entre as mais pobres do país, em uma das regiões mais áridas do estado (MDA, 2005, p. 24, grifo nosso). Foram lançadas as novas bases de apoio ao Território do Sisal, uma experiência bem sucedida de organização e cooperativismo, que merece a mesma atenção dos demais territórios em fase de estruturação (MDA, 2005, p. 25, grifo nosso). As informações descritas acima, que fazem parte da publicação Territórios Rurais, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, reforçam o grau de pioneirismo adquirido pelo Território no Sisal, que devido as suas condições construídas, aderiu de modo singular a proposta de implantação da política territorial do Estado. Independentemente do caráter promocional da publicação, a superposição e convivência das condições estruturais desse território e a força da experiência organizativa da sociedade local/regional se mostra desafiadora como fenômeno a ser compreendido. 21

Portanto, a idéia da existência de um Território do Sisal é relativamente recente. Até o final da década de 1990 os municípios que compõem o que hoje denominamos de Território do Sisal normalmente eram enquadrados como pertencentes à Região Sisaleira da Bahia. Essa mudança de foco ocorre com as novas diretrizes adotadas pelo governo federal a partir da administração do Partido dos Trabalhadores e foi reforçada com o governo do PT no Estado da Bahia a partir de 2007. Outro fator relevante, não simplesmente por uma questão climática, é constatarmos que todos esses municípios estão inseridos no semi-árido baiano, espaço diferenciado em função da construção histórica do espaço centrada na ação de combate, por um lado, e de convivência com a seca, por outro. Ou seja, o espaço semi-árido possui índices pluviométricos aceitáveis, entre 600 e 800 mm anuais, mas o regime de chuva concentra a precipitação, principalmente no verão, o que demanda uma ampla capacidade de armazenar água para a convivência com os meses de estiagem. Esse aspecto ainda está associado à existência de ciclos de estiagem, que origina, em todo o Nordeste brasileiro, os mecanismos políticos e econômicos denominados de indústria da seca (SILVA, 2008). Portanto, o território alvo desse estudo faz parte de um espaço diferenciado, um espaço que está inserido no Nordeste semi-árido do Brasil, possui uma identidade nordestina associada a uma outra identidade construída ao longo de décadas em função da predominância da atividade de plantio e beneficiamento da agave sisalana. A palavra sisal denomina tanto uma planta quanto a fibra que essa planta origina. A planta, com predominância para a agave sisalana, é xerófila e se adaptou extremamente bem as condições de semi-aridez. Da palha dessa planta é possível obter uma fibra forte, de boa textura e biodegradável, normalmente utilizada para a produção de fios e cordas. Como é uma planta resistente à seca e essa fibra obtém boa remuneração no mercado nacional e internacional, seu cultivo transformou-se no pilar básico da economia de vários municípios baianos. O processo produtivo do sisal tem características peculiares pois envolve uma fase rural e uma fase urbana. Esse processo de beneficiamento, de acordo com a figura 03, elaborada por SANTOS (2010a), resulta num ciclo

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. produtivo que se realiza tanto no espaço urbano quanto rural, criando uma rede imediata, com fluxos bem demarcados e específicos, conforme identificado e analisado pela autora quando afirma: A lavoura de sisal foi explorada durante todo o século XX, sobretudo para o desfibramento do vegetal, com o objetivo de exportação da fibra que é utilizada como matéria prima nas diversas indústrias. O processo produtivo nessa lavoura (figura 03) se inicia com o plantio de um campo de agave sisalana que após cerca de quatro anos está pronto para começar a ser cortado. Cortam-se as folhas laterais da planta, conhecida regionalmente como palha, deixando as folhas centrais para que a planta produza novas palhas. Depois de cortada, a palha é transportada até um local onde está a máquina de desfibrar conhecida como paraibana, localmente chamada simplesmente de motor. Uma vez desfibrada, a fibra resultante é transportada para uma área onde é estendida ao sol, depois de seca é embalada em fardos e segue para as batedeiras, que são indústrias onde ocorre a seleção e alisamento da fibra. Da batedeira a fibra sai pronta para ser vendida como matéria-prima para outras regiões brasileiras e/ou para o mercado externo. A exportação ainda é o maior destino do sisal beneficiado regionalmente, no entanto, essa fibra pode também ser novamente beneficiada na própria região, resultando na produção de cordas, fios, mantas, tapetes, entre outros. Desse processo, ainda resulta o resíduo, a bucha, o pó e o sumo, que são subprodutos não aproveitados em escala comercial (SANTOS, 2010. p. 55-56). O próprio processo produtivo favorece a articulação entre agentes diferenciados que cooperam e conflitam pela constituição de seus territórios. É comum, portanto, o hábito de associar-se para melhorar esse ou aquele aspecto da cadeia produtiva. Porém, esse hábito deriva já de uma longa luta e tradição desencadeada pelo impulso histórico da influência da Igreja Católica e do Movimento de Organização Comunitária (MOC). Outro ponto importante no processo produtivo do sisal é a ampla necessidade de deslocamento da fibra em suas diversas etapas, o que cria uma intensa relação interna na área do Território do Sisal e dessa com espaços chave no Estado da Bahia e no exterior, a exemplo de Salvador com seu porto que exporta a produção de sisal para a Europa e Estados Unidos da América. Observando detalhadamente o mapa 03 percebemos que os Municípios que compõem o Território do Sisal estão satisfatoriamente interligados por rodovias estaduais. 23

FIGURA 03 ESQUEMA DO PROCESSO PRODUTIVO DA LAVOURA SISALEIRA Fonte: SANTOS, 2010. Essas rodovias se interligam a BR 116, principal via de acesso a Feira de Santana e, conseqüentemente ao resto do Brasil, uma vez que essa cidade baiana é o principal entroncamento rodoviário do Nordeste Brasileiro. A opção brasileira pela rodovia implica, no Território do Sisal, no uso intenso de caminhões para transportar toneladas de sisal e outros produtos derivados.

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. MAPA 03 TERRITÓRIO DO SISAL. ESTADO DA BAHIA BRASIL. 2008. 25

Internamente os municípios se interligam através da BA 120, que liga Monte Santo, Queimadas, Santa Luz, Valente, Retirolândia e Conceição do Coité, entre si e com a BA 409, que por sua vez liga Conceição do Coité a Serrinha e a BR 116. Esse é o eixo principal por onde a maior parte dos produtos da cadeia do sisal é escoada e onde estão localizados os municípios mais importantes do ponto de vista econômico: Valente e Conceição do Coité, e administrativo (Serrinha). Outro eixo importante é o da BR 116 que interliga os municípios de Tucano, Araci e Teofilândia ao município de Serrinha. A partir de Serrinha o acesso a BR 116, como já salientamos, é porta de saída para Feira de Santana e Salvador e para os demais estados do Brasil. Os outros municípios estão interligados a BA 120 ou a BR 116 por rodovias estaduais, como a BA 381 que liga Itiuba a Cansanção e liga Quijingue a BR 116, a BA 365, que liga São Domingos a Valente, a BA 411 que liga Candeal e Ichu ao Município de Serrinha, a BA 233 que liga Biritinga a Serrinha e a BA 400 que liga Lamarão a BR 116. Vale salientar que os Município de São Domingos e Candeal estão facilmente interligados a BR 324 uma das principais estradas federais que corta a Bahia. Outro fator relevante é a distância relativamente pequena entre as sedes dos municípios. São cidades próximas com boa capacidade de articulação entre si. Alem disso, os povoados estão interligados por uma ampla rede de estradas não pavimentadas, que também servem de ligação entre os municípios alvo dessa pesquisa. Outro aspecto a considerar é a inexistência de uma estrutura viária centrada em ferrovias ou hidrovias. No primeiro caso a única ferrovia existente não tem condições estruturais de escoar a produção, no segundo caso os rios não são naturalmente navegáveis e a opção pela construção de canais não se justifica. Logo, o ideal seria mesmo a substituição da opção rodoviária pela ferroviária. Inclusive com a revitalização da ferrovia que já existe isso, é claro, depois de uma análise técnica apurada, que dê conta de justificar investimentos nesse setor. O Território do Sisal é importante não apenas por sua contribuição econômica, através da cadeia produtiva do sisal, mas também porque tem sido historicamente, lócus do fortalecimento dos movimentos sociais na Bahia, de

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. formas não governamentais de ação. Há uma mobilização das pessoas em torno de associações e cooperativas, de movimentos que se organizam, como aqueles ligados a FATRES, ao CODES, ao MOC, ao MMTR, ao MST, enfim, as diversas formas de organização para contribuir com a melhoria de vida das pessoas e com o desenvolvimento. Estando num espaço semi-árido as ações no território devem considerar a água como fator limitante, devem considerar então a possibilidade de conhecer a dinâmica da natureza para aperfeiçoar os mecanismos de interação entre a sociedade e natureza no sentido da promoção de um envolvimento solidário, capaz de atuar e preservar. No território predominam rochas do embasamento cristalino associado aos sedimentos da Bacia Tucano-Jatoba, solos podzolicos e litólicos, recobertos por pequenas áreas dispersas de caatinga, vegetação original que foi substituída por pastagens, plantio de sisal e pequenas áreas de agricultura de subsistência, com predomínio para os cultivos de milho, feijão e mandioca. O pasto é a expressão do predomínio do latifúndio e o pequeno cultivo a expressão da minifundização. Alias essa é uma dualidade histórica, na qual o próprio cultivo de sisal está inserido. O mapa 04 apresenta a rede hidrográfica. O destaque é a predominância da bacia do rio Itapicuru, principal fonte de água para os municípios do território. Porém, a sub-bacia do rio Jacuipe, que é afluente do rio Paraguaçu, um dos mais importantes rios da Bahia, contribui com as suas águas para a Adutora do Sisal, que abastece os municípios de Valente, São Domingos e Retirolândia. Além disso, as água subterrâneas do aqüífero de Tucano são fundamentais para abastecer os demais municípios. 27

MAPA 04 REDE HIDROGRÁFICA DO TERRITÓRIO DO SISAL. ESTADO DA BAHIA BRASIL. 2008.

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. As bacias são formadas por rios intermitentes e ainda não possuem a gestão de suas áreas já adequadas aos novos marcos regulatórios da política nacional de recursos hídricos. A lei existe, mas na prática verificamos dificuldades no seu processo de aplicação. Outro aspecto importante, ainda com ênfase no processo produtivo do sisal, é a área plantada com a agave sisalana, pois expressa uma realidade que centraliza o processo produtivo em alguns municípios. A análise das figuras 01 e 02 permitem identificar os municípios que possuem a maior área plantada de sisal e fazer a seguinte distinção: Grupo de maior área plantada Santa Luz, Conceição do Coité, Valente e Araci, com mais de 8.000 mil hectares de área plantada; Grupo intermediário - Queimadas, Itiúba, São Domingos, Retirolândia, Barrocas e Nordestina, com mais de 4.000 e menos de 8.000 mil hectares plantados; Grupo com pequenas áreas plantadas (de 1 a menos de 4000 mil hectares plantados) Cansanção, Monte Santo, Teofilândia, Quijingue, Tucano, Candeal, Ichu e Serrinha. Além disso, constatamos que nos municípios de Lamarão e Biritinga não se verifica mais a existência de plantações de sisal, justificando-se a inclusão desses municípios no referido território em função de um histórico de intensa articulação com a área sisaleira. No entanto, não basta plantar o sisal, é preciso beneficiá-lo. No Território do Sisal esse processo de beneficiamento criou horizontalidades que tem muita influência na configuração do espaço, pois articula objetos e ações com objetivos bem definidos e constituem territórios de atuação de empresas, associações, cooperativas e demais movimentos sociais, numa ampla gama de cooperação e conflito que fazem e refazem, cotidianamente, cada lugar que o constitui. 29

0 0 Lamarão Biritinga 1.000 1.200 40 Serrinha 1.200 60 Ichu 1.800 190 Candeal 1.800 2.500 350 Tucano 4.000 600 Quinjingue 4.000 5.000 760 Teofilândia 5.200 1.800 Monte Santo 5.500 2.500 Cansanção 6.000 6.000 4.000 Barrocas 6.000 4.000 Nordestina 6.400 6.000 Retirolândia 6.500 6.500 6.000 São Domingos 10.400 6.400 Itiúba 11.500 13.770 6.500 VALOR(ha) Queimadas 18.000 10.400 Araci 18.500 Hectares 11.500 Valente 68.300 18.000 Conceição do Coité 18.500 Santaluz MUNICÍPIOS DO TERRITÓRIO DO SISAL: PLANTAÇÃO DE SISAL. 2005 20.000 18.000 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 Figura 02 Bahia. Muncípios com área plantada com sisal a partir de 1000 hectares. 2005. 75.000 70.000 65.000 60.000 55.000 50.000 45.000 40.000 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 Cafarnaum Capim Grosso Mulungu do Morro Monte Santo São José do Jacuípe Cansanção Barrocas Nordestina Umburanas Várzea Nova Fonte: IBGE. Produção Agrícola Municipal. 2005. Elaboração: Equipe GEOMOV/UEFS. Mirangaba Ourolândia Retirolândia São Domingos Itiúba Morro do Chapéu Queimadas Araci Valente Jacobina Conceição do Coité Santaluz Campo Formoso

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. Essa rede é mais ampla que a própria delimitação do Território do Sisal, pois verificamos que o município que mais planta sisal na Bahia (figura 02) é o município de Campo Formoso, com 68.300 hectares plantados em 2005. Esse município pertence ao território denominado Piemonte Norte do Itapicuru, mas tem intensa relação com o Território do Sisal, aliás, como também acontece com os outros municípios produtores que estão fora desse território, com destaque para Jacobina, Mirangaba, Morro do Chapéu, Ourolândia, Várzea Nova e Umburanas. Campo Formoso envia a maior parte do sisal que produz para ser beneficiado nos municípios de Conceição do Coité, Valente, São Domingos e Retirolândia. É comum empresários desses municípios atuarem diretamente no plantio, na compra e no primeiro beneficiamento do sisal, em municípios que não pertencem ao Território do Sisal. Além disso, esses municípios produtores fazem parte da antiga Região Sisaleira da Bahia, mas não foram incluídos no novo Território do Sisal justamente porque não mais fazem parte da rede mais ampla que é capaz de estruturar um território, pois contribuem apenas com suas terras para plantar sisal, sendo que em muitos casos essas terras pertencem a empresários radicados nos municípios do Território do Sisal ou a seus parceiros diretos. Esse nosso argumento é reforçado quando analisamos os dados do quadro 02 e da figura 03 e não verificamos nenhuma indústria de beneficiamento de fibra de sisal instalada nos municípios produtores que estão fora do Território do Sisal. Aliás, os dados demonstram que das 24 empresas cadastradas no guia industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia em 2009, 70,8% estão localizadas em municípios do Território do Sisal, mas extremamente concentradas, pois, além de Conceição do Coité, que detêm 37,5% dessas empresas, apenas os municípios de Retirolândia, Valente, São Domingos, Santa Luz e Teofilândia possuem unidades de beneficiamento do sisal. 31

QUADRO 02 EMPRESAS QUE FABRICAM PRODUTOS DERIVADOS DO SISAL SEGUNDO O GUIA INDUSTRIAL DO ESTADO DA BAHIA (FIEB). 2009. Razão Social Nome Produtos Município Fantasia 1. Cordebras Ltda Cordebras Fio de sisal Camacari 2. Cotesi do Fio de sisal Conceição do Brasil Com, Ind de Coité Fios e Participações Ltda. 3. Fibra Comercio e Exportação de Sisal Ltda 4. Fibraex Indústria Comercio e Exportação Ltda. 5. Sisaex Ind Com e Exportação Ltda. 6. Hamilton Rios Industria Comercio e Exportação Ltda. 7. Ramos Mota Comercio e Exportação de Sisal Ltda 8. Sisaleira Amanda Ltda 9. Sisaleira Gonçalves Araújo Ind Com e Exp Ltda 10. Sisalgomes Ind Com e Lavoura Ltda 11. Brasil Composite Ind e Com de Artefatos de Fibras Ltda 12. Sisal Rios Comercio e Industria Ltda 13. Embrafios Industria Comercio e Exportação Ltda. 14. Sisalandia Fios Naturais Ltda Fibra Sisaex Hamilton Rios Sisaleira Ramos Mota Sisaleira Amanda Sisaleira Gonçalves Araújo Sisalgomes Brasil Composite Sisal Rios Embrafios Sisalandia Fibra de sisal, Refugo de sisal, Bucha de sisal Fibra de sisal Fibra de sisal beneficiada Fibra de sisal beneficiada Beneficiamento de sisal Beneficiamento de sisal Beneficiamento de sisal Fio de sisal, Corda de sisal, Corda de polietileno, Fibra de sisal Isolador elétrico padrão, Forma para concreto, Mandala de sisal. Beneficiamento de fibra de sisal Fio de sisal, Corda de sisal Fio e corda de sisal, Sisal beneficiado, Barbante de sisal, Fio agrícola (baler twine). Conceição do Coité Conceição do Coité Conceição do Coité Conceição do Coité Conceição do Coité Conceição do Coité Conceição do Coité Conceição do Coité Lauro de Freitas Nova Fátima Retirolândia Retirolândia Continua

Pesquisa sobre inclusão social e desenvolvimento no Território do Sisal GEOMOV/DCHF/UEFS. 15. Tecelagem de Sisal da Bahia Exp e Imp Ltda 16. Cordafios Ind e Com de Produtos Texteis Ltda 17. Companhia Sisal do Brasil - Cosibra 18. Bahia Mantas de Sisal Ltda 19. FC Fio Corda Industria e Comercio Ltda 20. Sisalana S/A Industria e Comercio 21. Jose Otaviano de Oliveira 22. Associacao de Desenv Sust e Solidario da Reg Sisaleira-Apaeb 23. Cisnel Com e Ind de Sisal Nordeste Ltda 24. Fisal Fibras de Sisal Araujo Ltda Tecsal Ltda Cordafios Cosibra Bahia Mantas FC Sisalana Sao Jose Apaeb Cisnel Fibra de sisal, Tela de sisal, Saco de sisal, Manta de sisal, Fio de sisal Fio de polipropileno, Corda de polipropileno, Corda de polietileno, Corda de poliamida Corda torcida de sisal, Fio de sisal. Fibra de sisal, Tapete de sisal, Fio agricola de sisal (baler twine). Manta de sisal Fio de sisal, Cabo de sisal, Corda de sisal Fio de sisal para uso agricola, Corda de sisal Beneficiamento de sisal Tapete e carpete de sisal, Fio agricola (baler), Fio natural/corda/barbant e, Tela de sisal para polimento. Fio de sisal, Corda de sisal Continuação Salvador Salvador Santaluz São Domingos São Domingos Simões Filho Teofilandia Valente Valente Fisal Fibra de sisal Várzea Nova FONTE: GUIA INDUSTRIAL DO ESTADO DA BAHIA (FIEB). www.fieb.org.br/guia - acesso em 27.02.2009. Além disso, destacamos que 8,3% das empresas que beneficiam sisal na Bahia estão concentradas em Salvador. Também os municípios de Camaçari, Lauro de Freitas e Simões Filho aparecem com 4,2% das empresas em cada município. Isso perfaz 20,9% de empresas beneficiadoras de sisal instaladas na Região Metropolitana de Salvador, onde está concentrada a maior parte da produção industrial do Estado da Bahia. 33