Análise de duas espécies de PAM no Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG)

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ValuePam Valorización de las Plantas Aromático-Medicinales silvestres: Gestión sostenible de la biodiversidad vegetal y desarrollo socioeconómico de las zonas rurales del espacio SUDOE (SOE1/P5/P0474) Análise de duas espécies de PAM no Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG) Relatório Síntese Outubro 2017

Interreg SUDOE Número de Projeto: SOE1/P5/P0474 Nome do projeto - Valorização das Plantas Aromáticas e Medicinais silvestres: Gestão sustentável da biodiversidade vegetal e desenvolvimento socioeconómico das zonas rurais do espaço SUDOE Dados do Beneficiário Nome do beneficiário: ADPM Pessoa de contacto: Ms María Bastidas Direção postal: Largo Vasco da Gama S/N, 7750-328 Mértola, Portugal Telefone: +351 286 610 000 E-mail: ambiente@adpm.pt Sitio web do projeto: http://www.valuepam.eu/ Grupo de Trabalho Informação do documento GT1 Caracterização e planificação das PAM nas regiões SUDOE socias do projeto Entregável Análise de 2 espécies de PAM no PNVG Nome Análise de 2 espécies de PAM no PNVG Relatório síntese Produzido por Jamília Machado Data outubro 2017

Projeto ValuePAM Valorização das Plantas Aromáticas e Medicinais Silvestres: Gestão sustentável da biodiversidade vegetal e desenvolvimento socioeconómico das zonas rurais do espaço SUDOE Índice INTRODUÇÃO... 1 1. ÁREA DE ESTUDO PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA 1... 2 1.1. PAISAGEM... 2 1.2. CLIMA... 2 1.3. VEGETAÇÃO... 2 1.4. SOLOS... 3 1.5. ATIVIDADE ECONÓMICA... 3 2. SELEÇÃO DE ESPÉCIES 1... 4 2.1. LAVANDULA VIRIDIS... 5 2.2. ROSMARINUS OFFICINALIS... 6 2.3. LAVANDULA STOECHAS... 6 3. CARACTERIZAÇÃO DAS ESPÉCIES SELECIONADAS E RESPETIVAS POPULAÇÕES NO PNVG 2... 7 3.1. CARACTERIZAÇÃO DAS POPULAÇÕES COM VISTA À DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS DE GESTÃO... 7 3.1.1. Lavandula viridis... 8 3.1.2. Lavandula stoechas... 9 3.2. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DAS POPULAÇÕES SILVESTRES... 10 3.2.1. Óleos essenciais de Lavandula viridis... 11 3.2.2. Óleos essenciais de Lavandula stoechas (luisieri):... 11 3.3. AVALIAÇÃO DO POTENCIAL PARA RECOLEÇÃO SILVESTRE... 12 4. PLANO DE GESTÃO DA RECOLEÇÃO SILVESTRE DE LAVANDULA VIRIDIS E LAVANDULA STOECHAS 3... 14 4.1. AVALIAÇÃO DO RISCO DE RECOLEÇÃO SILVESTRE... 14 4.2. BOAS PRÁTICAS DE RECOLEÇÃO SILVESTRE... 14 4.3. PLANO DE APROVEITAMENTO... 15 4.3.1. Quantidade/Superfície... 15

4.3.2. Momento de Colheita e Frequência... 16 4.3.3. Mecânica de Recoleção... 17 4.3.4. Gestão do Meio... 18 4.4. VALIDAÇÃO DO PLANO DE GESTÃO... 20 4.4.1. Situação Inicial... 20 4.4.2. Avaliação Periódica... 20 4.4.3. Validação das Ações de Conservação do Meio... 21 5. ANÁLISE DA CADEIA DE VALOR E DIVERSIFICAÇÃO DO USO DAS PAM NO PNVG 4,5... 22 5.1. UTILIZAÇÕES DAS PAM 7... 22 5.2. CADEIA DE VALOR... 23 5.3. MERCADO DAS PAM... 26 5.3.1. Nacional... 26 5.3.2. Europeu... 27 5.4. O MERCADO ATUAL E POTENCIAL DAS ESPÉCIES SELECIONADAS... 29 5.4.1. Lavandula spp... 29 5.4.2. Lavandula stoechas... 30 5.4.3. Lavandula viridis... 31 5.4.4. Rosmarinus Officinalis... 33 5.5. CONCLUSÃO... 34 6. CONCLUSÕES GERAIS... 36 BIBLIOGRAFIA... 37 ANEXOS... 38

Projeto ValuePAM Valorização das Plantas Aromáticas e Medicinais Silvestres: Gestão sustentável da biodiversidade vegetal e desenvolvimento socioeconómico das zonas rurais do espaço SUDOE INTRODUÇÃO O presente documento, referente ao projeto ValuePAM Valorização das Plantas Aromáticas e Medicinais Silvestres: Gestão sustentável da biodiversidade vegetal e desenvolvimento socioeconómico das zonas rurais do espaço SUDOE, reúne e sintetiza a informação obtida pela Associação de Defesa do Património de Mértola no âmbito da etapa correspondente à caracterização e planificação da gestão sustentável das PAM nas regiões SUDOE sócias do projeto, neste caso em particular, na região no Parque Natural do Vale do Guadiana. Nos trabalhos efetuados anteriormente, no âmbito do projeto, procedeu-se ao estudo bibliográfico das PAM presentes na região, após o qual foram selecionadas duas espécies de acordo com o seu interesse comercial, e efetuado o respetivo estudo e caracterização das populações existentes e plano de gestão de recoleção silvestre. Foi ainda analisada a cadeia de valor e diversificação do uso das Plantas Aromáticas e Medicinais com especial destaque para as espécies selecionadas, considerando o mercado atual e potencial das mesmas. O presente relatório pretende ser uma síntese dos estudos anteriores, pelo que, para informações mais detalhadas deverão ser consultados os documentos de base. NOTA PRÉVIA: A sustentação e fundamentação dos capítulos apresentados no presente relatório encontra-se disponível nos documentos anteriormente desenvolvidos no âmbito do projeto. Assim, e de forma a permitir a identificação clara da origem das informações apresentadas, serão identificados, ao longo do presente relatório, os documentos que serviram de base a cada capítulo. Toda e qualquer referência adicional (não constante nos documentos anteriores) será corretamente identificada ao longo do texto. 1

1. ÁREA DE ESTUDO PARQUE NATURAL DO VALE DO GUADIANA 1 O Parque Natural do Vale do Guadiana (PNVG), com 69.773ha, foi criado em 1995 (Decreto Regulamentar nº 28/95 de 18/11/1995) devido ao particular interesse e necessidade de preservação do seu património natural biótico e abiótico, bem como do património histórico-cultural, sob ameaça pelo progressivo desaparecimento dos sistemas tradicionais de utilização do solo na região. O PNVG localiza-se no sudeste do território português, na região do Baixo Alentejo, abrangendo os concelhos de Mértola e Serpa, situados no distrito de Beja, sendo Mértola o núcleo urbano mais destacado e com um notável interesse histórico e cultural. Esta área protegida corresponde a um troço do rio Guadiana, que se estende desde uma zona a montante do Pulo do Lobo até à foz da ribeira do Vascão, fronteira entre o Alentejo e o Algarve. 1.1. PAISAGEM Na área do Parque ocorrem unidades paisagísticas bem diferenciadas, agrupadas em três grandes estruturas geomorfológicas: os vales encaixados do rio Guadiana e seus afluentes (de regime torrencial), marginados por escarpas e matagais mediterrânicos bem desenvolvidos, expressão da vegetação original da região, que ocorrem em zonas pouco acessíveis, e consequentemente com pouca intervenção humana; as elevações quartzíticas das serras de Alcaria (ponto mais alto: 370m) e São Barão, e as predominantes e áridas planícies ondulantes onde se encontram as culturas extensivas de sequeiro, as áreas de esteval e os montados de azinho. 1.2. CLIMA O clima é mediterrânico, com verões quentes e secos e invernos frios e pouco chuvosos. A temperatura média anual é de 16.5 C, sendo janeiro o mês mais frio, com uma temperatura média mínima de 4.7 C, e o mês mais quente, agosto, com uma temperatura média máxima de 33.8 C. A pluviometria média anual é de 500 mm concentrados de outubro a março. 1.3. VEGETAÇÃO A vegetação da zona do PNVG é muito marcada pelo caracter mediterrânico da região. Nas zonas florestais predomina a azinheira (Quercus rotundifolia) sobre o sobreiro (Quercus suber) devido às amplitudes térmicas que ocorrem e à baixa precipitação no verão. Antigos terrenos de cultivo abandonados foram colonizados rapidamente por espécies como Cistus ladanifer, Cistus monspeliensis, Cistus crispus, Cistus salviifolius, Lavandula stoechas e Genista triacanthos cuja morfologia está completamente adaptada à baixa pluviometria, à intensa radiação solar e às altas temperaturas. Devido a estas condições, as plantas aromáticas e medicinais também estão muito 2

presentes no Parque. Espécies como o rosmaninho-roxo (Lavandula stoechas), o alecrim (Rosmarinus officinalis), a erva-ursa (Thymus mastichina), a murta (Myrtus communis), a mariola (Phlomis purpúrea) ou o poejo (Mentha pulegium.). Nas margens ribeirinhas a vegetação é diversificada, sendo as espécies mais características, o loendro (Nerium oleander), a tamargueira (Tamarix africana) e o tamujo (Securinega tinctoria ou Flueggea tinctoria). 1.4. SOLOS A maioria dos solos do PNVG é de origem xistosa e corresponde a litossolos ( solos esqueléticos ) e solos mediterrânicos em fase delgada, que se caracterizam pela baixa capacidade quer agrícola quer de retenção de água. 1.5. ATIVIDADE ECONÓMICA Na zona de influência do Parque, o setor primário e secundário tem perdido peso nos últimos anos devido principalmente ao abandono da atividade agrária. A agroindústria está ligada à panificação, pastelaria, laticínios e carpintaria. O pastoreio e a comercialização de carne de borrego são atividades que se mantêm, estando totalmente enraizadas na paisagem mediterrânica e compatíveis com a sua conservação. Na atualidade, a caça é uma importante fonte de rendimento e tem incidência nos programas de gestão do Parque. A pesca, apesar de também ocorrer, tem uma expressão muito menor. 3

1ª fase 2. SELEÇÃO DE ESPÉCIES 1 De forma a definir as duas espécies de PAM presentes no Parque Natural do Vale do Guadiana alvo de análise e caracterização, e criação do respetivo plano de gestão, partiu-se da análise bibliográfica do território, sendo posteriormente aplicados diversos critérios em duas fases distintas, de acordo com o seguinte esquema: Identificação das espécies PAM presentes no PNVG: ±300 espécies Eliminadas espécies abrangidas por legislação de conservação ou que limite o seu uso comercial 43 espécies de PAM Selecionadas espécies: - com potencial de mercado - cujo mercado se abasteça maioritariamente na recolha silvestre - com maior potencial de aplicações 10 espécies de PAM * Aroeira Pistacea lentiscus L. Esteva Cistus ladanifer L. Medronheiro Arbutus unedo L. Rosmaninhos Lavandula spp Calafito Hypercum tomentosum L. Zimbro-comum Juniperus communis L. Alecrim Rosmarinus officinalis L. Salgueirinha Lythrum salicaria L. Salsa-de-Cavalo Smyrnium olusatrum L. Urtiga-maior Urtica dioica L. 4

2ª Fase Critérios para seleção: Recoleção silvestre: necessário a caracterização das populações existentes no que respeita à sua abundância e distribuição. A espécie deverá ter abundância suficiente que permita a sua recolha de forma sustentável. Legislação: consoante a espécie e usos finais em questão é importante averiguar e considerar com precisão as limitações legais relativamente à comercialização Espécies semelhantes, propriedades diferentes: O aproveitamento comercial de determinada planta pertencente ao mesmo género ou espécie (como subespécie) de plantas que já têm mercado estabelecido, poderá facilitar a sua entrada no mercado Cultivo: cultivo para aproveitamento comercial pode ser considerado se forem espécies fáceis de multiplicar e produtivas nas condições de cultivo; espécies cuja recoleção silvestre não seja aconselhada ou demasiado complexa; espécies que não exijam coberto arbóreo ou arbustivo; espécies com elevado potencial de mercado. Espécies de mercado minoritário ou local: Para implementar o aproveitamento comercial de uma espécie de uso tradicional e localizado, sem mercado estabelecido é necessário efetuar um estudo prévio da sua potencialidade, avaliar o interesse real da indústria, fazer a ligação a entidades de investigação. Espécies para aproveitamento silvestre: Lavandula viridis e Lavandula stoechas Espécies para cultivo: Lavandula viridis e Rosmarinus officinalis Fig 1. Seleção de espécies 2.1. LAVANDULA VIRIDIS A escolha do rosmaninho-verde prende-se com ser uma espécie de um género já com forte posicionamento comercial, facilitando a sua entrada no mercado. Para além desse factor, L. viridis, em relação às outras espécies do mesmo género que ocorrem no PNVG, tem um carácter local mais forte que poderá funcionar de forma complementar aos quimiotipos e espécies já existentes no mercado, bem como promover a valorização da zona de estudo (identidade local e identidade de zona 5

protegida). Esta é também uma espécie em desenvolvimento em termos de potencialidade de usos para fins terapêuticos. Atualmente os seus usos atuais são essencialmente na indústria de plantas ornamentais, verificando-se investigação e interesse de mercado nos usos potenciais da espécie noutras áreas de mercado (ex. indústria farmacêutica). 2.2. ROSMARINUS OFFICINALIS Em relação ao alecrim, a sua seleção prende-se com o facto de ser uma espécie com um mercado bastante consistente e diversificado, havendo a possibilidade de, neste caso, valorizar o recurso relativamente à sua origem (zona protegida: PNVG) e, caso as análises o verificassem, eventuais quimiotipos de interesse, específicos das populações de R. officinalis que ocorrem na área de estudo. 2.3. LAVANDULA STOECHAS Depois de várias visitas de comprovação do estado atual das duas espécies referidas no PNVG, devido à escassa presença de R. officinalis, e à presença frequente de Lavandula stoechas como acompanhante de L. viridis na zona de estudo, decidiu-se incluir o estudo desta espécie para aproveitamento silvestre. 6

3. CARACTERIZAÇÃO DAS ESPÉCIES SELECIONADAS E RESPETIVAS POPULAÇÕES NO PNVG 2 Procedeu-se à caracterização biológica e do aproveitamento silvestre das espécies selecionadas (Lavandula viridis e Lavandula stoechas) na área do PNVG, com respetiva análise da regulamentação existente que possa afetar a atividade de recolha silvestre (anexo A fichas de espécie). A caracterização das populações das espécies selecionadas no PNVG foi efetuada com base em 3 protocolos desenvolvidos para o efeito (anexos B, C e D) de forma a permitir: a) caracterização das populações com vista à definição dos objetivos de gestão; b) prospeção e caracterização química das populações silvestres; c) avaliação do recurso a recoletar. 3.1. CARACTERIZAÇÃO DAS POPULAÇÕES COM VISTA À DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS DE GESTÃO Após uma revisão exaustiva dos registos botânicos documentados no PNVG das espécies selecionadas, e uma vez que na maioria das localizações obtidas não se verificou a existências das populações em causa, foram efetuadas visitas de prospeção em toda a área do PNVG, onde foram identificados e localizados 45 lugares com presença de Lavandula viridis; 13 lugares com presença de Rosmarinus officinalis, 15 localizações com ocorrência de Lavandula stoechas. Fig. 2 Localizações das espécies: verde Lavandula viridis; Amarelo Lavandula stoechas; Vermelho Rosmarinus officinalis 7

De acordo com a caracterização efetuada decidiu-se o tipo de gestão mais adequado para cada espécie: - Rosmarinus officinalis: uma vez que esta espécie não apresenta abundância suficiente para ser sujeita a aproveitamento comercial mediante recoleção silvestre e ocorre em zonas declivosas ou de difícil acesso nas envolventes das principais linhas de água do Parque, será apenas possível considerar a sua possibilidade de cultivo. - Lavandula viridis: uma vez que a maioria das populações desta espécie, identificadas no PNVG, apresenta abundância de 3 e 4 na escala de Braun-Blanquet, foi considerado que o seu aproveitamento comercial mediante recoleção silvestre seria à partida viável, sendo também de considerar a possibilidade de cultivo da mesma. - Lavandula stoechas: durante as primeiras visitas de identificação de L. viridis e R. officinalis identificaram-se várias populações de L. stoechas adequadas à recolha comercial. Devido ao potencial comercial de L. stoechas, decidiu-se que esta espécie seria incluída para aproveitamento silvestre. Para a caracterização das populações para aproveitamento silvestre foram selecionadas 7 zonas de amostragem de L. viridis e 3 de L. stoechas, que corresponderam a um total de 30 polígonos. Apresentam-se de seguida os resultados: 3.1.1. Lavandula viridis Dados relativos à zona de estudo Período de recolha de amostras: 4-25 de maio 2017 Área abrangida: 27 polígonos, agrupados em 7 zonas, que correspondem a 3 populações; Área dos polígonos: - intervalo: 676m 2-5,25ha - valor médio: 1,25ha - total: 29,8ha Orientação: maioria dos polígonos orientada a norte. Altitude: 50-180m Declive: 10-45% (moda 30-45%) Distribuição das populações na área de estudo: principalmente na metade norte do Parque, na envolvente das principais linhas de água; Solos: xistosos, esqueléticos de tipo E (solos com elevado risco de erosão e muito limitados para qualquer uso agrícola, florestal, pecuário ou outras utilizações). Apenas se observaram afloramentos rochosos num polígono. Vegetação envolvente: cerca de metade dos polígonos encontra-se em zonas de matos baixos com presença de cistáceas aromáticas (Cistus ladanifer, Cistus monspeliensis), Genista sp. e espécies herbáceas, em alguns casos em associação com vegetação ripícola (Nerium oleander em Vale do Covo) ou com matagal esclerófilo (João Madeira). Alguns polígonos situam-se em pinhais puros ou mistos de Pinus pinea (Mós) e em plantações de azinheira (João Madeira, Cerro de Entulhos), ou em matagais com presença de 8

oliveiras/zambujeiros (Olea europea subp. sylvestris) e eucaliptos. L. stoechas está presente em quase todos os polígonos. Dados relativos à espécie/populações Cobertura - Escala de Braun-Blanquet: 2-4 (valores mais comuns 3 e 4) - Método de interseção de linha (2 polígonos): 23,7±7,1% (valor médio) Distribuição de plantas: congregada com homogeneidade média. Estado sanitário: bom, sem presença de doenças ou pragas. Ameaças: gado e construção (Monte Barranco); cultivos herbáceos circundantes (João Madeira, Pulo Lobo ESQ e Furada). Classes de idades: 2 e 3 em todos os polígonos; classe 1 apenas presente em 5 polígonos. Densidade média total: 1,39 ±0,25 plantas/m 2 Estado fenológico: plena floração. Foram observados polinizadores (himenópteros e lepidópteros) na maioria dos polígonos. Taxa de floração: 98% Plantas recoletáveis: 163,69±30,23 plantas em 120 m 2 (1,36±0,25 plantas/m 2 ) 3.1.2. Lavandula stoechas Dados relativos à zona de estudo Período de recolha de amostras: 12-24 de maio 2017 Área abrangida: 3 polígonos em 3 zonas distintas, cada uma correspondendo a uma população Área dos polígonos: - intervalo: <0,5ha - 7,9ha - valor médio: 3,3ha - total: 9,9ha Orientação: Foram delimitados polígonos em todas as orientações e não se observou orientação predominante. Altitude: 120-170m Declive: 15-35% Solos: semelhantes aos dos polígonos de L. viridis, sem afloramentos rochosos. Vegetação envolvente: semelhante à observada nos polígonos de L. viridis, estando esta espécie sempre presente como acompanhante. Dados relativos à espécie/populações Cobertura - Escala de Braun-Blanquet: 3-4 - Método de interseção de linha (2 polígonos): 31,4±9,1 % Distribuição de plantas: regular ou congregada, formando populações medianamente homogéneas. Estado sanitário: bom, sem presença de doenças ou pragas. Ameaças: seca e erosão (Mina); cultivos herbáceos circundantes (Furada). Classes de idades: à exceção da população da Furada, foram identificadas as três classes de idades 9

Densidade média total: 2,43 ±0,83 plantas/m2 Estado fenológico: plena floração com início de frutificação e frutificação. Foram observados polinizadores (himenópteros e lepidópteros) em todos os polígonos. Taxa de floração: 97% Plantas recoletáveis: 282,07±97,68 plantas em 120 m 2 (2,35±0,81plantas/m 2 ) 3.2. CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA DAS POPULAÇÕES SILVESTRES Nota: Os dados descritos em seguida não contam no relatório de base uma vez que estes resultados foram obtidos posteriormente ao mesmo. Desta forma, a informação descrita refere-se à análise química efetuada com a colaboração da Professora Lígia Salgueiro, Universidade de Coimbra Faculdade de Farmácia. Para o Protocolo 2 recolheram-se amostras vegetais de apenas 5 zonas para L. viridis (Mós, Vale do Covo, Furada, Pulo do Lobo Esquerda, Cerro Entulhos) e 3 zonas para L. stoechas (Furada, Mina de São Domingos, Monte Vento). Fig. 3 Amostras recolhidas para caracterização química dos óleos essenciais (LS Lavandula stoechas; LV Lavandula viridis) 10

Estas amostras de matéria vegetal foram secas e enviadas para um laboratório externo, para caracterização química. As plantas de L. viridis apresentaram um teor de humidade entre 50 e 69% (valor medio: 58%), superior a L. stoechas, que apresentou um valor médio de humidade de cerca de 42%. Em seguida apresentam-se os demais resultados: 3.2.1. Óleos essenciais de Lavandula viridis O rendimento em óleo essencial obtido das amostras de Lavandula viridis, recolhidas no âmbito do projeto, foi de 1,48-2,35% (p/v). Mais de 90% do óleo essencial de cada amostra foi identificado. As amostras caracterizam-se por altos conteúdos de monoterpenos oxigenados (71,4 a 79 %), seguidos de hidrocarbonetos monoterpénicos (10 a 17,8%). Os principais constituintes são o 1,8-cineol (38,1 a 44,4%), a cânfora (9,8 a 18,9%), o α-pineno (4,2 a 9,1%) e o linalol (5,6 a 6,9%). A composição química das amostras analisadas está de acordo com a bibliografia disponível, não sendo detetada nenhuma característica diferenciadora de outras amostras provenientes de outras regiões. Os principais compostos são sempre os mesmos em todas as amostras, apesar de haver algumas diferenças quantitativas, que estão de acordo com o descrito na bibliografia para esta espécie. Estas pequenas diferenças não têm significado na qualidade destes óleos essenciais, podendo salientar-se a homogeneidade em termos de qualidade destes óleos. Destaca-se também o elevado rendimento em óleo essencial, o que é compatível com o uso industrial, pelo que em termos de mercado e cadeia de valor poderá contribuir para o aumento do interesse nesta espécie na região do Vale do Guadiana. 3.2.2. Óleos essenciais de Lavandula stoechas (luisieri): O rendimento em óleo essencial obtido das amostras de rosmaninho lilás, recolhidas no âmbito do projeto, foi de 0,49-0,96% (p/v) Este taxon tem sempre menor rendimento em óleo essencial que a L. viridis, no entanto, este menor rendimento poderá também estar relacionado com as condições em que se encontrava a planta no momento da recolha uma vez que as amostras analisadas foram colhidas quando as plantas já se apresentavam bastante secas, não estando, por isso, nas condições ótimas de colheita. Estes óleos essenciais são misturas muito complexas com elevado teor de monoterpenos irregulares muito raros no reino vegetal. Mais de 87% do óleo essencial de cada amostra foi identificado. As amostras analisadas caracterizam-se por ter altos conteúdos de monoterpenos oxigenados (69,3-77,2 %), seguidos de hidrocarbonetos monoterpénicos (5,9 a 10,8%). Os principais constituintes são o 1,8-cineol (9,2 a 25,1%) e o E-α- acetato de necrodilo (13,7 a 18%). A composição química das amostras analisadas está de acordo com a bibliografia disponível, incluindo alguma variabilidade em termos quantitativos de alguns compostos dos óleos essenciais. Os monoterpenos irregulares, particularmente, E- -necrodyl acetate, Z- -necrodyl acetate, 2,3,4,4-tetramethyl-5 methylene-cyclopent-2-enone, 1,1,2,3-tetramethyl-4- hidroxymethyl-2-cyclopentene, entre outros, são únicos no reino vegetal e característicos da L. luisieri. Assim, a elevada percentagem destes compostos nos óleos 11

essenciais obtidos destas plantas pode ser considerada uma característica diferenciadora da espécie Lavandula luisieri, podendo concluir-se que as plantas colhidas pertencem a este taxon. Do ponto de vista taxonómico a nomenclatura de alguns taxa de Lavandula (por exempo L. stoechas e L. luisieri) é controversa, pelo que a composição dos seus óleos essenciais podem ser uma preciosa ajuda quimiotaxonómica. Uma vez que não foi possível efetuar a recolha de amostras de Rosmarinus officinalis devido às condições em que as plantas se encontravam, recomenda-se que essa recolha seja efetuada na próxima época de floração, de forma a obter uma caracterização dos quimiotipos presentes no PNVG. 3.3. AVALIAÇÃO DO POTENCIAL PARA RECOLEÇÃO SILVESTRE Não sendo possível a caracterização de todos os polígonos identificados definiu-se a recolha de amostras nos polígonos que cumprissem com as seguintes condições: superfície superior a 1ha; abundância relativa da espécie mínima de 4 (escala de Braun-Blanquet). Desta forma foram selecionados para amostragem 2 polígonos de L. viridis e 2 polígonos de L. stoechas. Devido ao avançado estado fenológico das plantas no momento desta avaliação, foram apenas recolhidos dados necessários para o cálculo da densidade de plantas (total e recolectáveis) e da taxa de floração, assim como de cobertura. Analisaram-se estatisticamente estas variáveis, juntamente com o número total de plantas recoletáveis. No caso dos dados biométricos, não foi recolhida a informação correspondente, uma vez o avançado estado de floração das plantas não era o indicado para obter estimativas fiáveis da produção potencial do local. Os resultados obtidos foram os seguintes: Os polígonos avaliados apresentam uma densidade média total de 1,39 ±0,25 plantas/m 2 para L. viridis e 2,43 ±0,83 plantas/m 2 para L. stoechas. A taxa de floração de cada espécie foi de 98 e 97% respetivamente, sendo estas consideradas recoletáveis. A densidade de plantas recoletáveis foi de 1,36±0,25 e 2,35±0,81 plantas/m 2, respetivamente. Quanto ao total de plantas recoletáveis, os registos de terreno resultaram em 163,69±30,23 plantas para L. viridis e 282,07±97,68 plantas para L. stoechas, numa área de 120 m 2. Os valores médios de cobertura obtidos foram de 23,7±7,1 % para L. viridis e 31,4±9,1 para L. stoechas, tendo sido observadas diferenças significativas entre os distintos polígonos avaliados para as duas espécies. É de referir que nos polígonos CE e MINA os valores de cobertura são inferiores ao valor mínimo recomendado para colheita comercial (25%). Os valores médios de cobertura obtidos a partir do método de interseção de linha diferem consideravelmente dos registados com a escala de Braun-Blanquet (Protocolo 1), apresentando uma diminuição perante os valores de cobertura relativa do nível 4 12

para o nível 3, sendo que nos polígonos CE e MINA, esta diminuição é mais marcada, passando do nível 4 ao nível 2, para o qual a recoleção silvestre já não é recomendada. Para cada espécie, em cada polígono foi avaliada a composição de indivíduos em termos de idades, utilizando uma classificação em 3 classes: 1 - indivíduos pequenos, rebentos; 2 - pequenos arbustos com vários pés e 3 - indivíduos adultos, muito lenhificados na base. É importante referir que foi possível verificar uma correlação positiva existente entre rendimento e valor total de plantas recoletáveis, sendo o coeficiente de correlação de 0,9 para L. stoechas e 0,5 para L. viridis. Isto implica que em futuras contagens para L. stoechas é indiferente realizar contagens de planta ou medida de cobertura pelo método de interseção de linha, sendo possível optar pelo método mais fácil, rápido ou económico de aplicar. No entanto, para L. viridis é importante continuar a recolher dados para as duas variáveis (cobertura e total de plantas recoletáveis). À medida que se disponha de maior número de dados, é possível que a correlação aumente. 13

4. PLANO DE GESTÃO DA RECOLEÇÃO SILVESTRE DE LAVANDULA VIRIDIS E LAVANDULA STOECHAS 3 4.1. AVALIAÇÃO DO RISCO DE RECOLEÇÃO SILVESTRE A recoleção silvestre pode supor um risco para a manutenção a longo prazo das espécies-alvo. Neste sentido foi efetuada uma avaliação do risco de recoleção silvestre, utilizando o modelo da norma de recoleção silvestre sustentável FairWild, que se deve complementar com o estudo no terreno das populações de cada um dos recursos/espécies. Com base nos dados de campo recolhidos, realizou-se a avaliação para cada espécie e para cada um dos fatores a ter em conta, resultando num nível de risco baixo/médio para ambas as espécies. A avaliação do risco de recolha é uma ação que se deve repetir cada vez que mudem as condições sobre as quais se aplica a recoleção silvestre, pelo que deve estabelecerse como uma avaliação dinâmica, sendo uma ferramenta muito útil para fazer uma primeira avaliação dos planos de gestão. 4.2. BOAS PRÁTICAS DE RECOLEÇÃO SILVESTRE Tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003) como a European Herb Growers Association (EUROPAM, 2010) estabeleceram uma série de recomendações para melhorar a qualidade das plantas aromáticas e medicinais comercializadas na Europa. No caso da recoleção silvestre de material para a produção de óleo essencial, algumas das recomendações são interessantes de conhecer e aplicar. Mencionam-se em seguida as recomendações OMS/EUROPAM, que não se tenham tido em conta noutros pontos do plano de gestão. Recoletores e equipamentos 1. Os funcionários/recoletores devem receber formação adequada antes de realizar as tarefas que requeiram os respetivos conhecimentos, bem como conhecer as melhores técnicas para colher, processar e conservar plantas. 2. Os funcionários/recoletores devem ter educação botânica apropriada que lhes permita recolher as plantas mediante correta identificação taxonómica. 3. Os funcionários/recoletores devem proteger-se com roupa adequada ao contacto com plantas tóxicas ou potencialmente alergénicas. 14

Recoleção Silvestre 1. Deverá ser efetuada nas melhores condições ambientais (não são considerados favoráveis os solos molhados, chuva, orvalho ou elevada humidade ambiental); 2. O dano mecânico e a compactação do produto durante a colheita podem provocar mudanças indesejáveis na qualidade, deste modo aconselha-se: a. Evitar o sobre-enchimento de sacos; b. Evitar o sobreaquecimento do material durante a espera ou transporte; c. Que o tempo de espera entre a recolha e a destilação seja o mais curto possível. Na impossibilidade de garantir esta questão, deverão ser preparados mecanismos de secagem ou arejamento da planta, que permitam a sua conservação com a mínima perda ou degradação de óleo essencial. 3. O responsável (individual/organização) pela recoleção deve indicar uma pessoa para recolher por escrito toda a documentação necessária e verificar que se cumprem as recomendações estabelecidas durante todo o processo. 4.3. PLANO DE APROVEITAMENTO Desenhando um plano de aproveitamento de uma planta por recoleção silvestre, a primeira premissa é não recolher mais do que o necessário, entendendo como necessário a quantidade de produto que será comercializada. Neste caso, o produto comercial para estas duas espécies é o óleo essencial, portanto, é imprescindível realizar uma estimativa anual da quantidade de óleo essencial que pode ser comercializado. Conhecendo a quantidade de óleo essencial necessária e em função da concentração em óleo essencial avaliada nas análises realizadas ao material amostrado de cada espécie, deverão ser calculadas as quantidades de material vegetal fresco que pode ser colhido anualmente. Durante a campanha de 2017 não se pode realizar uma amostragem exaustiva, logo não foi possível obter resultados robustos, principalmente do parâmetro rendimento, para ambas espécies. Assim, combinando os dados disponíveis de abundância e ocorrência de L. stoechas e L. viridis no PNVG com a informação bibliográfica recolhida, propõe-se um modelo possível de aproveitamento que, para funcionar de forma a garantir uma recoleção sustentável, deverá assegurar que a intensidade e a frequência de recoleção de cada uma das espécies selecionadas será inferior ao respetivo ritmo de regeneração. 4.3.1. Quantidade/Superfície Cálculo da quantidade de material vegetal de L. stoechas e L. viridis a recoletar anualmente De acordo com a sua utilização, a quantidade de material vegetal a recoletar é variável. No que respeita à obtenção de óleos essenciais, multiplicando a quantidade de óleo essencial que pode ser comercializada anualmente de cada uma das espécies pela concentração de óleo que estas apresentam, pode-se calcular a quantidade anual de 15

material vegetal seco a recoletar de L. viridis e L. stoechas. A partir das quantidades obtidas de matéria vegetal seca, calcula-se a quantidade de planta fresca necessária. Por exemplo: Para calcular a quantidade de matéria seca de L. stoechas a recolher deverá aplicar-se a seguinte fórmula: X (l) óleo essencial de L.stoechas x 100g de L.stoechas/ Y (ml) de óleo esencial = Z g L.stoechas seca X= volume de óleo essencial de L. stoechas que se comercializará (dado obtido de um estudo de mercado atualizado) Y = riqueza em óleo essencial das amostras de L. stoechas recolhidas na primavera de 2017 (dado obtido das análises de qualidade de L. stoechas). Z= resultado de caules/ramos(talos) secos de L. stoechas a recolher para abastecer a procura Como não existem dados de rendimento de todos os polígonos estudados, não é possível programar a recoleção anual com maior precisão. Local de Recoleção Relativamente a L. stoechas e L. viridis, é recomendado começar a recoleção pelos polígonos onde a cobertura seja superior a 50 %, continuando até aos que apresentem cobertura de 25%. Polígonos com uma cobertura inferior a 25% não deverão ser alvo de recoleção. Uma vez que esta informação não foi avaliada em todos os polígonos, é necessário proceder à sua determinação. Uma vez que na maioria de polígonos se encontram as duas espécies e que estas não florescem ao mesmo tempo, é recomendado que em cada polígono se efetue a colheita de uma das duas espécies e não de ambas, evitando deste modo pisar duas vezes a mesma zona e mantendo alimento suficiente para insetos polinizadores. Assim sendo num mesmo polígono um ano colhe-se L. viridis, no ano seguinte L. stoechas e no terceiro deixa-se repousar sem nenhuma intervenção. 4.3.2. Momento de Colheita e Frequência Momento Ótimo para Recoleção de Lavandula sp As lavandas são espécies que se multiplicam principalmente por semente, apresentam baixo índice de germinação, com época de floração entre março e junho (L. stoechas março a junho, apesar de se verificar, de acordo com os dados recolhidos, que no PNVG esta época parece terminar mais cedo, e L. viridis - abril a maio) e época de dispersão entre julho e agosto. Considerando estas características e simultaneamente o facto de que as plantas devem ser colhidas na floração, podendo esta variar de ano para ano, segundo as condições meteorológicas, mas garantindo uma referência do comportamento das espécies, seguem-se algumas recomendações: Colher aproximadamente 60% das plantas, ou seja 6 em cada 10 plantas, deixando 4 por colher, de forma a permitir que permaneça no local de colheita quantidade suficiente de exemplares que possam completar o seu ciclo 16

vegetativo anual e produzir sementes que garantam a continuidade dessa população A recolha de indivíduos deverá distribuir-se homogeneamente no terreno evitando fazer uma seleção fenotípica (por aspeto) prévia De acordo com alguns autores, as condições climáticas podem influenciar o coeficiente folhas/flores da planta e assim determinar a composição do óleo essencial A qualidade e quantidade do óleo essencial de L. angustifolia, por exemplo, está positivamente correlacionado com a temperatura e estado de floração e negativamente com a pluviometria durante a floração. Assim: - A colheita deverá ser efetuada quando a floração atinge cerca de 60%, a temperatura supera os 26 C e não ocorreu precipitação durante os 10 dias anteriores. - Momento ótimo de recolha a partir da altura do dia em que estas estejam secas de orvalho, geralmente a partir do meio da manhã até meio da tarde. Deverá ser comprovado que a taxa de recolha estabelecida permite a manutenção ou melhora das densidades iniciais, tanto de plantas recoletáveis como de rebentos, avaliando estes parâmetros durante os anos de repouso que coincidam com dois turnos de recolha, ou seja a cada 6 anos. 4.3.3. Mecânica de Recoleção Definição de Indivíduos a Recoletar e Meio/Técnica de Recoleção Devem ser recolhidas apenas as partes úteis das plantas em classe de idade 2 (pequenos arbustos com vários pés) e 3 (indivíduos adultos muito lenhificados na base), evitando danificar rebentos ou plantas jovens, evitando a recolha de plantas doentes ou que estejam afetadas por alguma praga. Recomenda-se que a colheita seja efetuada com tesouras de poda ou foices limpas (para evitar propagar doenças entre zonas de recoleção) e afiadas. A recolha será efetuada fazendo um corte a cerca de 15-20cm do solo, dependendo da estrutura da própria planta, que lhe permita desenvolver-se a partir de gemas vegetativas na próxima temporada. Em plantas muito lenhificadas na sua base deverão ser cortados apenas os ramos mais verdes (não lenhificados), correspondentes ao crescimento anual, devendo evitar-se o corte das zonas lenhificadas. O material deverá ser recolhido em molhos, reunidos em grupos de 4 ou 5, por sua vez reunidos em grupos de dois ou três. Estes fardos/feixes deverão reunir-se e ser distribuídos sobre malas ou redes dispostas no solo (evitar o contacto direto do material vegetal com o chão) no local onde sejam posteriormente recolhidos por um reboque e levados para o armazém para secar ou destilar. O armazenamento do material recolhido e o transporte deverão ser efetuados o mais rápido possível, para evitar a degradação da matéria-prima. 17

Cada carga de matéria-prima deverá estar identificada com uma ficha onde deverão constar os seguintes dados: Espécie colhida; Data e lugar de colheita; Nomes dos recoletores; Pessoa responsável pela recolha; Pessoa responsável pelo transporte. 4.3.4. Gestão do Meio Em relação ao aproveitamento de plantas por recoleção silvestre, é importante planificar uma adequada gestão do meio, que pode fazer com que as populações das espécies objeto de aproveitamento se mantenham ou inclusive aumentem. Simultaneamente, esta é uma questão relevante pelo impacto do referido aproveitamento sobre as populações de outras espécies que ocorrem no local intervencionado, havendo práticas com mais ou menos risco de incidência. Estas práticas devem levar-se a cabo tentando garantir a sustentabilidade ambiental, devendo ser comunicadas e aprovadas pelo órgão gestor do espaço natural (PNVG ICNF) e contar com a permissão do(s) proprietário(s) de terrenos na zona de recoleção. Foram analisadas 3 práticas que podem ser úteis no planeamento sustentável do aproveitamento comercial de Lavandula stoechas e Lavandula viridis por recoleção silvestre, descritas em seguida. Pastoreio Potenciais efeitos negativos: - destruição de populações devido ao pisoteio e à perda in situ de sementes pela ingestão das infrutescências imaturas por parte do gado; - ingestão das plântulas jovens e/ou renovos. Potenciais efeitos positivos: - manutenção da paisagem, resistência a incêndios e aumento da fertilidade dos solos; - pode contribuir para manter os sistemas com uma menor proporção de arbustos que possam competir com as lavandas, como é o caso de Cistus ladanifer e Genista sp; - as sementes de algumas espécies podem ser dispersas através das fezes das ovelhas favorecendo a colonização da espécie. Para que o balanço do impacto do pastoreio possa ser positivo, principalmente em relação às populações de Lavandula sp., é necessário ter em conta a densidade e a tipologia de animais sobre a zona, a periodicidade e a época de pastoreio. Além disso também tem que se ter em conta se existe fauna selvagem e a densidade e as espécies que a formam. 18

Assim, podemos considerar como uma prática com baixo impacto sobre o meio e que, bem gerida, pode contribuir para a disseminação das espécies e para o aumento da produtividade das zonas de solos mais pobres. É recomendado o uso de gado ovino; o início do pastoreio no verão, quando está concluída a maturação de sementes das duas espécies em estudo; um encabeçamento de baixa intensidade para evitar o pisoteio e exercer esta atividade principalmente nas zonas onde não se tenham observado renovos tanto para aumentar a capacidade de germinação e dispersão de sementes, como para evitar o pisoteio de plântulas e plantas jovens. Desbaste/Limpeza de Arbustos e Árvores O abandono dos sistemas herbáceos complexos provoca o aumento da dominância de arbustos, principalmente Cistus ladanifer, que acompanha habitualmente a L. stoechas e L. viridis, e que se caracteriza pela sua alta inflamabilidade. Efeitos negativos: - aumento do risco de incêndio (aos quais as lavandas têm pouca capacidade de resistência). - aumento da competição por recursos (água, nutrientes e solo), em detrimento da dispersão de novas sementes, sua posterior germinação e o estabelecimento de renovos das populações. Efeitos positivos: - cobertura vegetal diminui a escorrência e protege a estrutura superficial do solo (controlo da erosão e proteção do solo contra a degradação) Apesar desta prática poder gerar um impacto positivo sobre as espécies estudadas, por diminuir a competição por água e nutrientes tanto para plantas adultas como para a germinação de sementes de L. stoechas e L. viridis, a dificuldade de realização da mesma, o potencial elevado impacto seletivo contra outras espécies do coberto vegetal e a existência de outros métodos funcionalmente equivalentes, que já se utilizam na zona, faz com que não se recomende esta prática para a gestão do meio no PNVG. Mobilização do Solo O facto da mobilização de terrenos já se realizar na zona cada 3 a 4 anos, por interesse dos proprietários agrícolas em manter as ajudas agrícolas europeias associadas a essa prática, pode ser aproveitado na gestão do meio benéfica às lavandas. Os estudos analisados na bibliografia consultada indicam que as mobilizações superficiais (até 0,5m de profundidade) podem ser positivas para o rejuvenescimento das populações de L. stoechas e que em 2 anos se recupera e inclusive melhora o coberto vegetal. Posto isto, propõe-se fazer um seguimento exaustivo deste método de gestão tendo em conta as seguintes recomendações: As mobilizações teriam de espaçar-se no tempo tentado que se aproximem ao máximo da vida útil das plantas (8-10 anos). 19

Garantir que não se fazem mobilizações mais profundas que 0,5 m e que se elimina da zona a matéria vegetal cortada. Verificar que o comportamento de L. viridis face às mobilizações é semelhante ao de L. stoechas Fomentar o pastoreio nestas zonas para favorecer a germinação de novas plantas, melhorar a fertilidade do solo e a estrutura etária das populações de L. stoechas e L. viridis em termos de classes de idade. 4.4. VALIDAÇÃO DO PLANO DE GESTÃO A validação do plano de gestão é fundamental para que se possa ter a perceção dos impactos causados pela implementação das medidas sugeridas. Assim, esta validação deverá ser realizada em 3 etapas principais: estudo da situação inicial, avaliação periódica e validação das ações de conservação do meio. Este estudo deverá repetir-se de forma periódica ao longo dos anos, para garantir que a recoleção não comporta um efeito negativo na sobrevivência da espécie a médio e longo prazo. A proposta de validação do plano de gestão e respetivas metodologias poderão ser consultadas no documento base. 4.4.1. Situação Inicial Durante a primeira avaliação (situação inicial) deverá ser comprovada a % real de cobertura de todos os polígonos identificados e selecionados aqueles que apresentem uma cobertura real de no mínimo 25%. Os polígonos deverão depois ser caracterizados permitindo a seleção dos polígonos e posteriormente a planificação da recoleção para cada espécie na área do PNVG. 4.4.2. Avaliação Periódica Concluída a caracterização da situação inicial e iniciada a recoleção das espécies-alvo é recomendado realizar controlos das densidades de planta, número de relevos e cobertura a cada 6 anos, que correspondem a intervalos de 2 turnos de recoleção de cada polígono. Os controlos devem ser efetuados antes da colheita desse ano, para permitir detetar e corrigir possíveis variações negativas na evolução dos parâmetros medidos. Na verificação dos controlos deverá ser tido em conta o seguinte: Se algum dos parâmetros diminui, será necessário adaptar o plano de aproveitamento redução da taxa de extração e/ou aumento dos intervalos de retorno Se os parâmetros se mantêm, deduz-se que o plano de aproveitamento é adequado e pode ter continuidade durante mais dois turnos de recoleção (6anos). 20

Se os parâmetros aumentam, seria possível aumentar a percentagem de plantas recoletadas (passar de 60 a 80 %) ou a periodicidade de corte (de frequência trienal para anual ou bienal). 4.4.3. Validação das Ações de Conservação do Meio Das três práticas de gestão do meio avaliadas, observou-se que duas poderão ter um efeito positivo sobre as populações de Lavandula stoechas e Lavandula viridis: Pastoreio e Mobilização Superficial de Solo. Dada a pouca bibliografia existente e a falta de experiência na zona, é imprescindível, antes de estabelecer ou continuar a exercer as práticas identificadas, seguir um processo de validação relativamente a estas práticas, de forma a assegurar que as ações de conservação sobre o meio tenham o efeito pretendido. Importa salientar que qualquer mudança que se efetue no plano de gestão deverá ter associada monitorização correspondente nos anos sucessivos, para avaliar o impacto dessa mudança, e validá-la ou não. 21

5. ANÁLISE DA CADEIA DE VALOR E DIVERSIFICAÇÃO DO USO DAS PAM NO PNVG 4,5 De forma a caracterizar o potencial económico das espécies selecionadas foi realizada uma caracterização da cadeia de valor das PAM e das espécies selecionadas identificando simultaneamente o mercado e as utilizações das plantas do ponto de vista atual, mas também potencial, através da análise das oportunidades de mercado. A prospeção efetuada pelo CEVRM Centro de Excelência para a Valorização dos Recursos Mediterrânicos permitiu aprofundar e consolidar alguns aspetos neste âmbito. 5.1. UTILIZAÇÕES DAS PAM 7 Aliando o seu valor ornamental às diversas propriedades biológicas que possuem, as PAM têm gerado interesse e uma crescente procura por parte de produtores e consumidores, apresentando também destinos muito variados das suas produções. Assim, a matéria-prima pode ser mais ou menos transformada, sendo comercializada em diferentes produtos ou derivados: Planta viva (ornamental) Verde ornamental Planta fresca Planta congelada Planta seca Sumos frescos/tisanas Extratos Óleos essenciais Essências Águas florais/hidrolatos Fig 4. Produtos comercializados com base nas PAM Estes diferentes produtos podem ser obtidos da mesma espécie, que poderá ser comercializada em diferentes formas simultaneamente, para diferentes aplicações. Em termos da comercialização dos diferentes produtos, existem três principais setores que absorvem quase na totalidade o mercado das PAM: Alimentar; Medicinal e Perfumaria / Cosmética. Dentro de cada setor existem diversas áreas ou subsetores onde se comercializam as PAM ou derivados. 22

SECTOR ALIMENTAR Condimentos Infusões/tisanas Aditivos alimentares Alimentos funcionais SECTOR MEDICINAL Farmacêutica Fitoterapia Fitoterapia Veterinária Aromaterapia Homeopatia Flores de Bach PERFUMARIA/COSMÉTICA Perfumaria Perfumaria Industrial Detergentes Ambientadores Higiene Pessoal Dermofarmácia - Cosméticos Outros sectores: Fitossanitário; Pecuário; Decoração; Têxtil; Jardinagem; Apícola Fig. 5 Produtos à base de PAM comercializados nos principais sectores de mercado de PAM. 5.2. CADEIA DE VALOR Cadeia de Valor é um conjunto de atividades nas quais uma empresa se baseia, de forma a criar valor e vantagem competitiva no mercado sob o seu produto ou serviço. No processo de desenvolvimento de um produto ou serviço cada etapa é essencial para a agregação de valor ao mesmo. Através da análise da cadeia de valor é possível identificar quais as principais etapas que são responsáveis por agregar valor ao produto, e desta forma desenvolver uma estratégia para a realização das atividades dessa cadeia, permitindo determinar os custos e afetar os lucros. Como referido anteriormente, a partir das PAM é possível obter diversos produtos, comercializados em diversos sectores, com diferentes demandas e procura. 23

Fig 6. Fluxo de transformação das matérias primas à base de PAM 7 De acordo com o produto final que se pretenda comercializar, assim se poderá definir e avaliar a cadeia de valor em causa. No caso de produtos resultantes de transformação primária, que consistem essencialmente no produto vegetal como planta fresca, congelada ou seca, tanto a comercialização como a produção são essencialmente feitas a pequena escala traduzindo-se numa cadeia comercial simples, de relações diretas, isto é, sem intermediários. No que respeita a produtos resultantes de transformação secundária, ou seja, produtos derivados de PAM, como por exemplo os óleos essenciais, extratos, aditivos alimentares, ambientadores, fito medicamentos, verifica-se que são poucas as empresas transformadoras que adquirem a matéria-prima nacional e que trabalham diretamente com o produtor. Desta forma, recorrem na maioria das vezes à importação, onde conseguem obter preços inferiores e maior qualidade do produto. A comercialização destes produtos está normalmente associada a longas cadeias de distribuição, desde os coletores ou produtores, contratadores locais, mercados grossistas regionais, mercados grossistas de maior dimensão, até aos mercados especializados, contribuindo para os baixos preços pagos ao produtor/coletor. 24

INTERVENIENTES DA CADEIA 8 Produtores - Pequenas explorações: regra geral o principal canal de escoamento é a venda direta ao consumidor, sendo a mesma complementada com o pequeno comércio ou intermediários. - Produção convencional: normalmente são explorações de maiores dimensões apostando maioritariamente no abastecimento interno da grande distribuição ou nas exportações. - Explorações com modo de produção BIO: a grande maioria são de dimensão reduzida e vendem essencialmente no mercado interno nomeadamente a nível da restauração, onde conseguem garantir preços mais elevados e compensadores e feiras ou casas especializadas em produtos BIO. Intermediários - Exportador - agente que compra os produtos a granel para os vender nos mercados internacionais onde poderão sofrer novos processos de transformação e embalamento. É frequente, no setor das PAM que o agente vá diretamente ao local de produção de forma a assegurar a qualidade do modo de produção. - Broker é o concentrador da oferta que geralmente trabalha com as explorações de menores dimensões ou com apanhadores silvestres. Pode trabalhar com produto nacional ou importado. Está normalmente associado a uma unidade de transformação (moagem, limpeza e destilação) onde vai produzir os seus produtos. - Empresas armazenistas - Responsáveis pela concentração e acondicionamento das plantas, sendo por vezes responsáveis pela secagem, análises de qualidade, preparação do material de acordo com o mercado. Apesar de pagarem a um valor mais baixo, permitem a concentração de diversos produtores, levando aos mesmos informação sobre a demanda do mercado. Conseguem, por outro lado, ser eficazes na venda assumindo o risco de armazenamento e das flutuações de preços do mercado. Estabelecem a conexão entre os produtores ou coletores com a distribuição grossista e/ou a indústria. Unidade de transformação - Indústria de segunda transformação: responsáveis por um novo processamento da matéria prima/produto, têm, geralmente, potencial para processamento em larga escala a diferentes níveis. Permitem, na maioria das vezes, adicionar valor às PAM, mas na verdade as poucas existentes a nível nacional apresentam preços pouco atrativos aos produtores, recorrendo a produtos importados de forma a terem preços competitivos. Estas unidades podem possuir a capacidade de 25