Semana do Empreendedorismo Evento reúne histórias sobre a arte de enxergar oportunidades Pg. 10



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Transcrição:

ÍNDICE Pesquisas Trabalhos do FGVcenn publicados Pg. 66 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008 Semana do Empreendedorismo Evento reúne histórias sobre a arte de enxergar oportunidades Pg. 10 FGV Latin Moot Corp Alunos da EAESP vencem competição Pg. 22 Aliança Sumaq Escolas avaliam negócios socialmente empreendedores Pg. 28 Da sala de aula para a Califórnia Aluno do FGVcenn faz sucesso vendendo água de coco nos EUA Pg. 26 Casos Brasileiros Concurso incentiva produção técnica sobre empreendedorismo Pg. 32 Fórum do Empreendedor Relatos sobre inovação e superação nos negócios Pg. 40 Prêmio Empreendedor de Sucesso A saga das empresas que conquistaram o 1º Prêmio Pg. 48 FGVcenn na Imprensa Eventos que viraram notícia na mídia e os principais artigos Pg. 54 EQUIPE Coordenador do FGVcenn Prof. José Augusto Corrêa Coordenadores Adjuntos Prof. Marcelo Aidar Prof. Tales Andreassi Gerente Laura Cristina Prates Pansarella Coordenador de Projetos Sênior Renê José Rodrigues Fernandes Coordenadores de Projetos Batista Gigliotti Edward Yang Fabio Fernandes Fabíola Odani Igor Tasic Jeanete Herzberg José Carlos Cruz Laura Cristina Prates Pansarella Leornardo Leite Mariana Chammas Rogério Tsukamoto Responsável Contábil Bruno Ueno Residentes em Pesquisa Anna Caroline Moreira Daniel Thuronyi Fernanda Ganança Gustavo Inoe FGV-EAESP Av. Nove de julho, 2029 11º andar - Ala Sul Bela Vista - São Paulo - SP E-mail: cenn@fgvsp.br Tel. (11) 3281-3439 Almanaque 2007-2008 é uma publicação do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas. Produção editorial: Pavini & Bittencourt Editora de Textos Ltda ME Endereço: Rua Caraibas, 719, Pompéia. CEP: 05020-000, São Paulo- São Paulo. E-mail: bitt@ uol.com.br. Editora: Fernanda Bittencourt (MTb 19.915) Editora-adjunta: Ana Cristina da Conceição (MTb 18.378) Colaborador: Glauco di Pierri (MTb 35.188) Produção gráfica: Infografe Projeto gráfico: Mario Kanno Diagramação: Isac Barrios Impressão: xxxx gráfica Tiragem: xxxxx Artigos e pesquisas reproduzidos nesta edição são responsabilidade de seus autores. Informações sobre empresas vencedoras do 1º Prêmio Empreendedor de Sucesso foram extraídas da revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios nº 227 (dezembro/2007).

INTRODUÇÃO Marcia minillo/fgvcenn A Fundação Getulio Vargas é uma tradicional geradora de bens públicos e visa o permanente estímulo ao desenvolvimento nacional. Por isso, um dos nossos objetivos é a criação de uma cultura empreendedora na nossa casa, a Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP), e em toda a FGV, tornando-a centro de irradiação desse novo conceito. Estudar, ensinar e difundir idéias sobre Empreendedorismo é educar pessoas para um futuro que será diferente do que já vivemos. As escolas brasileiras, em geral, têm objetivado a empregabilidade dos alunos. Temos preparado pessoas para conseguirem bons empregos. Isso ainda é importante, mas não basta. Daí nosso esforço para que a EAESP passe a aumentar a empresariabilidade dos nossos alunos, sua capacidade de criar empresas. Já enxergamos resultados, pois desde 2007 a EAESP introduziu as disciplinas Experiência Empreendedora I e II nos dois primeiros semestres do curso de graduação em Administração. A EAESP é uma escola onde a geração e a difusão do conhecimento são feitas com objetivos claros de aplicabilidade. Quando se trata de Empreendedorismo, experiências de outros países ajudam, mas não são suficientes. Por essa razão, o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios (FGVcenn) trata também de desenvolver e difundir conhecimento aplicável à realidade de nosso País. Esta publicação mostra o que fizemos no período entre março de 2007 e abril de 2008. A visibilidade é fundamental para que cada vez mais pessoas físicas e jurídicas juntem-se a nós. Essa participação crescente é um dos mais importantes objetivos do FGVcenn. Ela espelha o interesse da comunidade e permite até mensurar a mudança de cultura que buscamos: a disseminação da mentalidade empreendedora. Ver as coisas sob outros ângulos, inovar, enxergar sinergias, livrar-se de paradigmas, criar valor pela inteligência, reunir nesse esforço pessoas dedicadas, sérias e competentes. É o que buscamos com nosso trabalho. Como escreveu Proust, a verdadeira viagem de descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos. José Augusto Corrêa Coordenador do FGVcenn jose.augusto.correa@fgv.br ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 5

Agradecimentos aos patrocinadores - Galeria de Parceiros 2007/2008 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

2oo6/2005 Apoiadores ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 7

Agradecimentos Nossos doadores de tempo O FGVcenn agradece aos palestrantes, debatedores, moderadores e juízes de competições de planos de negócios que gratuitamente compartilharam sua experiência com a comunidade acadêmica e o público em geral Adir Ribeiro Afonso Cozzi Alberto Saraiva Alecsandro Araujo de Souza Alexandre Botton Alexandre Hadade Alexandre Souza Altair Assumpção Amália Sina André Rebelo André Saito Andre Skaf Andrea Matarazzo Angela Hirata Antonio Pulchinelli Augusto Camargo Ayrton Aguiar Bob Wollheim Caio Ramalho Caito Maia Carlos A Gamboa Carlos Balma Carlos Faccina Carlos Lino Carlos Ronaldo Ferreira Célia Cruz Celso Nunes Cesar Adames Cristiano Buerger Daniel Heise Eduardo Bom Ângelo Eduardo Ribeiro Capobianco Elcio de Lucca Emerson Moraes Vieira Eric Acher Fábio Bellotti Fabio Fernandes Felipe Sigrist Fernando Peixoto Flavio Pimenta Flavio Weizenmann Francisco Jardim Francisco Utsch Frederico Greve Heberson Hoerbe Heloisa Helena Assis Henrique Bozzo Netto Henrique Ribeiro Hugo Ribeiro Irineu Gianese Janete Moura Jarbas Castro Neto João Paulo Diniz José Antônio Fernandes Martins José Aurélio Drummond José Dornelas José Ernesto Marino Neto José Luiz Ricca José Manoel José Roberto A Cunha Jr Julio Bueno Julio Capobianco Laércio Consentino Laís Fleury Leila Vélez Leonardo Fontenele Lito Rodriguez Luciana Lanzoni Luigi Giavina Luiz Ernesto Gemignani Luiz Fernando Furlan Luiz Manetti Manoel Benevidez Marcelo Cavalcanti Marcelo Ferraz Marcio Kakumoto Marco Aurélio Bedê Marco Gregori Marcos Hadade Marcus Andrade Maria Inês Ré Marianna Aragão Marilia Rocca Maurício Serafim Monique Shohet Ozires Silva Paulo César F. Montenegro Paulo Duque Paulo Veras Pedro Mello Percival Maricato Prof. Gerald Hills Prof. Hsia Hua Sheng Prof. Stavros P. XanthopoyLos Renato Fonseca de Andrade Renato Velloso Dias Cardoso Riad Nassib Ricardo Kobashi Roberta Rossetto Rodolfo Zabisky Rodrigo Azevedo Rodrigo Froes Rodrigo Mendes Rodrigo Teles Ronaldo Koloszuk Sergio Milano Silvana Mautone Tarcísio Gargioni Ulrico Barini Walter Torre Wilson Poit 8 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 9

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO CASOS 10 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

DE SUCESSO Semana do Empreendedorismo 2008 reúne histórias de empresários e executivos que souberam enxergar oportunidades Mais que um evento em que empresários contam suas experiências no mundo dos negócios, a Semana do Empreendedorismo busca despertar a visão empreendedora, inspirar o surgimento de novas empresas e contribuir para o crescimento de quem está no mercado. Realizada há quatro anos pelo FGVcenn, a Semana do Empreendedorismo, valoriza a capacidade de enxergar oportunidades, caso de Caito Maia, da Chilli Beans, e de Alexandre Botton, da Propay. E também do Sebrae, que incluiu o empreendedorismo no currículo escolar, e da Fundação Amazônia Sustentável, que mostra como ganhar dinheiro salvando a floresta. Na edição 2008, realizada entre 31 de março e 4 de abril, também foram destaques o apoio do Banco Real aos negócios sustentáveis, a filosofia de inovação da Whirlpool, o suporte da Artemisia a empresas de impacto social e a estréia da experiente executiva Amalia Sina como empresária no setor de cosméticos. fotos: marcia minillo/fgvcenn ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 11

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO CHILLI BEANS Divulgação/Chilli Beans Marca para todas as modas Segredo do sucesso é combinar design fashion e pequenas tiragens de novos modelos a cada dez dias Caito Maia foi músico por 14 anos, fez parte de uma banda de rock e chegou a ser um dos dois finalistas de um concurso promovido por um canal de televisão especializado em música. Por sorte, perdeu o prêmio para o grupo J.Quest, deixou a música de lado e se tornou o empresário que transformou, em oito anos, a Chilli Beans, uma desconhecida marca de óculos e relógios, em sinônimo de produtos de qualidade e com preços acessíveis. Marca sempre foi minha preocupação. Queria ter meu próprio produto, não oferecer várias marcas e concorrer com o mercado de óticas e camelôs, contou o empresário. A história da empresa, que conta hoje com 205 pontos de venda apenas no Brasil, além de franquias em países como Portugal e Estados Unidos, começou num pequeno estande do Mercado Mundo Mix, uma feira de moda voltada para o público jovem de São Paulo. Os óculos, com design fashion, ficavam expostos numa tábua apoiada em dois cavaletes e atraíam a atenção de um público alternativo pelo visual e pelos preços convidativos. O sucesso do empreendimento foi baseado no conceito inédito de que o produto foi feito para durar só um tempo. Percebi isso quando morei nos Estados Unidos. Quem ia à praia queria óculos só para aquele momento, destaca o empresário que teve problemas sérios de qualidade no início dos negócios. Por isso fui atrás do Inmetro para conseguir a certificação de qualidade, e agregar valor à minha marca. Hoje, meus óculos têm garantia de oferecer proteção contra raios solares. Existem produtos desenhados por brasileiros e produzidos em Diadema e na China com mais qualidade que muitos feitos na Europa, diz. O sistema self-service das lojas da Chilli Beans e a estratégia de lançar, em pequenas tiragens, 10 novos modelos de óculos a cada 10 dias, além de 15 novos tipos de relógios por mês, conquistou público de todas as idades e garantiu a expansão. Minha primeira loja foi inaugurada em 1997 na Galeria Ouro Fino, na rua Augusta. Quando me convidaram para ir para o Shopping Villa Lobos tive de optar por um quiosque porque não tinha dinheiro para bancar a loja. Foram muitas dificuldades. Hoje, a marca chega a ter quiosque e loja dentro do mesmo shopping e está presente em templos de consumo como os shoppings Iguatemi, Ibirapuera e Eldorado Inovações Inovações como colocar, no lugar de espelhos, um sistema de câmeras e monitores que filma o rosto do cliente e mostra em quatro ângulos como ele fica de óculos, também ajudaram o negócio a prosperar. O empresário também se preocupa com os franqueados. Tenho de oferecer um negócio lucrativo para eles, com retorno rápido. Cansei de tirar dinheiro do meu bolso para colocar no do franqueado e fazer o negócio prosperar, explica Caito Maia. Agora, a Chilli Beans está olhando para Dubai, no Oriente Médio. Porque é lá que estão os formadores de opinião da moda e é lá que as grandes marcas estão lançando seus produtos, conclui. 12 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO SEBRAE Crianças aprendem ABC dos negócios Projeto do Sebrae estimula visão empreendedora dos alunos do ensino fundamental e médio Divulgação/Sebrae SP Emerson Morais Vieira, gerente do Sebrae-SP Cada vez mais o mundo dos negócios ganha espaço nas escolas. A preocupação em formar estudantes capazes de alcançar o sucesso profissional fez com que conceitos que ensinam a superar obstáculos, assumir riscos nos negócios e planejar o futuro se transformassem em experiências práticas na sala de aula. Com a ajuda do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo Sebrae-SP, estudantes de escolas públicas e privadas estão aprendendo princípios básicos de empreendedorismo e desenvolvendo ao longo do curso tradicional as habilidades exigidas para que o jovem seja protagonista de sua carreira. Desenvolvido pela Unidade de Educação do Sebrae-SP, o programa simula, por exemplo, a montagem de uma briquedoteca com materiais recicláveis e ensina às crianças técnicas de negociação, compra, venda e manipulação de dinheiro, além de operações matemáticas simples como soma e subtração. Já crianças mais velhas são convidadas a montar uma locadora de gibis, atividade que exige, além de iniciativa, pesquisa de mercado para definição do perfil do negócio e dos clientes. Ao mesmo tempo, os jovens tomam contato com novos elementos como ética e cidadania, cultura da cooperação, cultura da inovação e sustentabilidade. Oportunidades Segundo Emerson Morais Vieira, gerente da Unidade Educação do Sebrae-SP, levar a cultura empreendedora às crianças nada mais é que estimular os mais jovens a ver oportunidades com seus próprios olhos. A iniciativa tem a ver com o mundo que queremos para os próximos 20 anos. Trata-se de uma mudança com- portamental que pode evitar que o avanço tecnológico transforme os indivíduos do futuro em seres individualistas. Outra vantagem é que os alunos que recebem noções de empreendedorismo têm mais chances de enxergar e aproveitar oportunidades, sem depender apenas das vagas oferecidas pelo mercado do trabalho. Segundo Vieira, o Brasil tem de preparar seus jovens para não perder competitividade em relação ao resto do mundo. O conceito é que o empreendedorismo ajuda a comunidade e não é somente uma questão de economia. ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 13

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO PROPAY Recursos humanos sob medida para o cliente Empresa paulista oferece serviços de administração de pessoal ajustados às necessidades da clientela Divulgação/Propay Desde adolescentes, Alexandre Botton e Mark Barcinski pensavam em ter a própria empresa. Por coincidência do destino, tornaramse amigos ao estudar economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, fizeram cursos de especialização nos Estados Unidos e conseguiram empregos de deixar os parentes com inveja. Tudo muito bom, um futuro promissor. O único porém é que eles ainda queriam ser empreendedores. E foi assim que a idéia de oferecer no Brasil serviços de terceirização de processos de recursos humanos, como administração de pessoal, processamento da folha de pagamento e gestão de benefícios, saiu do papel em 1999 e virou a Propay de hoje, que tem clientes como Drogaria Onofre e Levi s na sua carteira e processa pelo menos 84 mil contracheques por mês. Foram meses de planos, contas e análises de comportamento de mercados estrangeiros até os dois amigos pedirem demissão dos seus empregos e chegarem à conclusão de que o Brasil era sim um mercado em potencial para terceirização de serviços de administração de pessoal. A mudança de rumo era mais que justificada: a oportunidade de se prestar serviços para um mercado de 20 milhões de pessoas que trabalhavam com carteira assinada foi avaliada em R$ 2,3 bilhões. Com o adendo a favor da dupla: a maioria das empresas só podia contar com softwares e escritórios de contabilidade para cuidar do seu pessoal. Para Alexandre Botton, analisar a oportunidade de um negócio também inclui analisar o mercado, antes de mobilizar os recursos. Percebemos o potencial do mercado pouco explorado no Brasil e que, nos Estados Unidos, vinha registrando lucro nas ações em 150 trimestre seguidos. Referências A complexidade da legislação brasileira e o problema da informalidade exigiram esforços redobrados da dupla que, sem muitas referências nacionais, adaptou conceitos usados em países como Estados Unidos. Ter contratado três pessoas que entendiam mesmo do negócio ajudou. Foi preciso ainda equilibrar os custos com a capacidade de pagamento do cliente e convencer médias e grandes empresas de que terceirizar o departamento de recursos humanos valia a pena. A empresa, que nasceu num escritório de apenas 20 metros quadrados em Moema, em São Paulo, não pára de crescer. Seus serviços são cobrados por funcionário atendido, um meio justo de acompanhar o crescimento dos clientes. 14 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO SINA COSMÉTICOS Negócio próprio exige coragem, paixão e criação Desafio do empreendedor é igual ao do executivo: não pode, mas se falhar, deve saber se reerguer e recomeçar Divulgação/Sina Cosméticos Empreender é tão difícil quanto ser empregado e encarar um chefe todos os dias. Exige um pouco mais de liberdade, primairmã da criação, além de paixão e bons profissionais. Também é preciso apertar o cinto, se preparar para o solavanco e avançar sem medo rumo ao sucesso. Essa foi a fórmula que Amalia Sina adotou para abrir seu próprio negócio, a Sina Cosméticos, após bem-sucedida carreira de 23 anos como executiva. Primeira mulher em 100 anos a comandar a divisão de tabaco da Philip Morris, cargo seguinte ao de presidente da Walita e dos laboratórios White Whitehall, Amalia diz que não há diferença entre dirigir o próprio negócio e ser o CEO na empresa dos outros. Você não pode falhar. Mas se falhar, deve saber se reerguer e recomeçar. Critérios Palestrante da 4ª Semana de Empreendedorismo, Amalia revela que a opção pelo ramo de cosméticos obedeceu critérios muito objetivos: o setor cresce à taxa de 12% há 24 anos; o Brasil é o terceiro maior mercado do mundo, com faturamento anual de R$ 16 bilhões; e seu públicoalvo é exigente, informado e influente: a mulher, responsável por 80% das decisões de compra da família. Há dois anos, Amalia escolheu a maior feira mundial de beleza, a Cosmoprof de Bolonha, Itália, para lançar sua empresa com pedigree internacional e a missão de ser ética, eficiente e criativa. Construído com madeiras brasileiras certificadas, o estande ao lado de outros 2.500 expositores já mostrava o diferencial da Sina. Somos uma empresa comprometida em entregar o melhor produto sem destruir o planeta. Até Bolonha, foram nove meses de muito trabalho. Da produção inicial de 25 quilos, hoje a Sina fabrica cinco toneladas de cada produto da linha Amazonutry. Presente na Dinamarca, Inglaterra e Estados Unidos, começa a abrir espaço no mercado chinês e já fechou 360 contratos internacionais. Saber enxergar oportunidades é fundamental. A Sina investe em biotecnologia para ampliar a vocação de empresa verde. Associou-se à empresa SuperBac, que desenvolve bactérias capazes de eliminar qualquer resíduo, como sujeira e gordura, com amplas possibilidades de uso na recuperação ambiental. Juntas, criaram um selo para certificar fabricantes que usam a biotecnologia. Como não poderia deixar de ser, a Sina será a primeira empresa certificada. ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 15

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO Artemisia Brasil Divulgação/Artemisia Oficina de criatividade da Artemisia Capacitar para fazer a diferença Jovens empreendedores recebem formação para tornar viáveis negócios que geram impactos sociais positivos Marcelo Cavalcanti, presidente da Artemisia Brasil Empreendedores de soluções para problemas sociais e ambientais são o alvo da Artemisia Brasil, organização que desde 2004 capacita jovens para o desenvolvimento de novos negócios. A cada ano, a Artemisia promove a seleção de cinco empreendedores de 18 a 35 anos, que vão receber formação para estabelecer um negócio sustentável, capaz de gerar receita e impacto social positivo. O perfil desses jovens deve combinar espírito empreendedor (visão de futuro e de oportunidades para transformar a visão em resultados concretos), liderança para mobilizar as pessoas, comportamento ético e criatividade para buscar novas soluções. Minha função é servir as pessoas que fazem a diferença para milhares de outras pessoas, resume Marcelo Cavalcanti, presidente da Artemisia, que lista entre os desafios do empreendedorismo sustentável a ausência de infra-estrutura jurídica e a busca de novos modelos de atuação. É preciso também oferecer inovação e potencial de escala, com a capacidade de replicar esses novos modelos para outros mercados, influenciar organizações e se tornar uma política pública. Durante a 4ª Semana de Empreendedorismo, a Artemisia apresentou cinco cases de negócios, selecionados e apoiados pelo Programa Jovens Empreendedores. Um desses exemplos é a Gastromotiva, formada há dois anos. A empresa do chef David Hertz é uma organização sem fins lucrativos que capacita e incentiva jovens a abrir negócios gastronômicos em suas comunidades. Essa capacitação acontece na prática: além de aulas sobre gastronomia, liderança, gestão e empreendedorismo, os aprendizes trabalham nos eventos sociais e corporativos atendidos pelo bufê da Gastromotiva. Momentos importantes Quando eu trabalhava como consultor, um problema que me incomodava muito era a falta de capacitação das pessoas, lembra Hertz. Além de transformar a vida dos jovens, essa formação permite oferecer serviço de qualidade nas comunidades de baixa renda. Essas comunidades gastam mais em festa e batizado. São momentos muito importantes para quem tem tão pouco e decidimos participar desses momentos. 16 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

Leandro Leme/Artemisia Esse também é o pensamento de quatro profissionais da Arquitetas da Comunidade, que desenvolvem projetos de construção para a população de baixa renda. Após um projeto piloto no bairro de Campo Grande em Campinas, elas se inscreveram no Programa Jovens Empreendedores da Artemisia para tornar seu negócio visível, sustentável, com redução de custos e otimização de processos. Nós vamos à comunidade, fazemos o contato, identificamos as necessidades e fazemos projetos para famílias com renda de três a seis salários mínimos. A experiência mostra que não basta apresentar um projeto no papel. É preciso saber captar a expectativa do cliente, ajudá-lo a planejar a construção, levantar custos e, às vezes, auxiliar na captação de recursos, explica Katia Sartorelli. O planejamento permite construir em menor prazo e a menor custo, aliar soluções econômicas como o uso da energia solar e prevenir situações de risco. Museu e feira preta O apoio da Artemisia deu novo impulso à Museus Acessíveis. Há dois anos, essa empresa capacita museus para ampliar o acesso de visitantes portadores de deficiência e de outros com dificuldade de locomoção, como idosos e mães que empurram o carrinho do bebê. Aprendi que posso ganhar escala e oferecer essa capacitação em rede, barateando muito os nossos custos, observa Viviane Sarraf. Por meio do Programa de Jovens Empreendedores, ela assimilou os conceitos do negócio sustentável. Hoje sua empresa não espera mais ser procurada: leva aos museus sua proposta de beneficiar o máximo de pessoas. Idealizada por Adriana Barbosa em 2002 como um pequeno evento na Praça Benedito Calixto, a Feira Preta reuniu mais de 400 artistas, 300 expositores e 7 mil pessoas no Anhembi em 2007, em torno da Marcelo Rocha (de boné) orienta participante de oficina Arquitetas da Comunidade Leandro Leme/Artemisia auto-estima da população negra e da valorização da cultura afrobrasileira. A empresa também atua como promotora do empreendedorismo étnico, voltado a produtos para esse público. Adriana percebeu que, enquanto a economia brasileira cresce, aumenta também o poder de compra dos afro-descendentes - que representam 42% da população, consomem aproximadamente R$ 6 bilhões por ano, mas não têm suas necessidades atendidas. Em seis anos, mais de 100 mil pessoas passaram pelos eventos da Feira Preta. Antes da Artemisia, eu achava que era apenas um evento. Agora, vejo como a Feira impacta a vida das pessoas e pude me enxergar como empreendedora, testemunha Adriana. A promoção da cultura é o objetivo de Marcelo Rocha, conhecido como DJ Bola, que lidera o grupo de rap Voz da Periferia e administra uma produtora que capta recursos, patrocinadores e voluntários para eventos gratuitos em comunidades carentes. Em dois anos, já realizou mais de 25 eventos com público médio de 4 mil pessoas. Além de incentivar o microempreendedor local, que pode expor seus produtos nos eventos, DJ Bola possui um selo fonográfico, a Trindade Records, e tem programados seis eventos este ano no Jardim Angela. David Herz e equipe da Gastromotiva

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO FUNDAÇÃO AMAZONas SUSTENTÁVEL Uma floresta pronta para novos negócios Projeto combina preservação ambiental, uso sustentável dos recursos naturais e melhor condição de vida para 8.500 famílias Luiz Fernando Furlan, presidente da Fundação Amazonas Sustentável Sustentabilidade é uma palavra comprida que muita gente costuma associar só à ação dos ambientalistas. Outros, como o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Governo Lula, Luiz Fernando Furlan, a entendem como sinônimo de novas oportunidades profissionais em setores pouco explorados, principalmente para empreendedores jovens. Após colocar no seu currículo de empresário respeitado a experiência da vida pública, Furlan deixou o Governo em março de 2007 e nove meses depois abraçou outro ideal ao aceitar o convite para ser presidente da Fundação Amazonas Sustentável, cujo compromisso é preservar as florestas do Estado do Amazonas e melhorar a vida das pessoas que nelas vivem. Uso sustentável Com capital inicial de R$ 40 milhões metade do Bradesco e outros 50% do governo da Amazonas, a fundação criada em dezembro de 2007 tem uma meta ambiciosa: impedir o desmatamento em 34 unidades de conservação do Estado e ao mesmo tempo viabilizar projetos de uso sustentável dos recursos florestais. Temos um contrato com o governo do Amazonas para explorar, por 20 anos, serviços e produtos ambientais numa área de 16,4 milhões de hectares, explica Furlan. Divulgação/Fundação Amazonas Sustentável Segundo o ex-ministro, nesta área moram 8.500 famílias. As que assinarem um compromisso para manter a floresta em pé receberão como recompensa por evitar o desmatamento R$ 50 por mês, contribuição que faz parte do programa Bolsa Floresta. O benefício é repassado para quem ajuda a proteger a floresta, pois é justamente essa floresta em pé que gera serviços ambientais. O programa incentiva a atividade econômica sustentável e oferece possibilidades a novos empreendedores. À procura de parcerias De olho em novos recursos para financiar operações e projetos de infra-estrutura na região, a Fundação Amazonas Sustentável pretende ampliar parcerias com a iniciativa privada, criando oportunidades para empreendedores que queiram explorar a floresta sem destruir o meio ambiente. Algumas empresas já exploram produtos da Amazônia, caso da castanha do Pará ou mesmo matéria-prima usada por indústrias de cosméticos. As oportunidades de negócios na região são imensas para quem souber aproveitar. O Bradesco, por exemplo, percebeu que o pagamento do Bolsa Floresta criava um novo nicho de clientes e hoje oferece na região até títulos de capitalização para quem mora no meio da floresta. 18 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO BANCO REAL Fazer o que é certo traz resultados Banco Real mostra que é possível promover qualidade de vida e preservar o planeta sem deixar de ter lucro fotos: eduardo lopes merege/fgvcenn Altair Assumpção O que o terceiro maior banco privado brasileiro, com 13,8 milhões de clientes e patrimônio líquido de R$ 12 bilhões pode fazer pelas pessoas? Esta pergunta está presente no dia-a-dia do Real desde 2001, quando o banco optou por um caminho sem volta chamado sustentabilidade. De lá para cá, o Real coleciona histórias de que é possível dar certo, fazendo a coisa certa e do jeito certo. Algumas dessas histórias foram contadas pelos diretores Altair Assumpção e Antonio Pulchinelli na 4ª Semana de Empreendedorismo. A estratégia da sustentabilidade está baseada na relação ganha-ganha-ganha, isto é, o banco, a sociedade e o cliente ganham. Todos os negócios são avaliados sob três perspectivas: a do lucro (mas não a qualquer preço), a social (qualidade de vida para todos) e a ambiental (respeito aos limites biofísicos do planeta). Dentro dessa filosofia, o banco passou a questionar sua responsabilidade em financiar atividades que geram impactos socioambientais. Era o caso de um curtume que possuía um sistema insatisfatório de tratamento de efluentes e que obteve crédito condicionado à eliminação dos problemas ambientais. Avaliamos mais de 7 mil empresas. E deixamos de trabalhar com 48 clientes que apresentavam ótimos balanços financeiros, mas cujas práticas não estavam sintonizadas com os nossos valores, lembra Pulchinelli. Essa sintonia fez com que o Sistema DryWash obtivesse apoio do banco para investir em melhorias no processo de lavar carros sem usar água. Hoje, o sistema, presente em mais de 20 cidades, lava 70 mil carros por mês e economiza mais de 22 milhões de litros de água. Antonio Pulchinelli Fornecedores As práticas dos fornecedores também fazem parte da visão de sustentabilidade do banco. Caso emblemático é o da empresa de entregas rápidas Help Express. Estimulada pelo Real, a Help Express formalizou a contratação dos 1.030 motociclistas e promoveu curso de direção defensiva para melhorar o ambiente de trabalho e a auto-estima da equipe. Vale a pena apostar na sustentabilidade? Em 2001, 92% dos funcionários tinham orgulho de trabalhar na organização. O índice hoje é de 98%. Em maio, o Real foi eleito o banco sustentável do ano pelo jornal britânico Financial Times e o International Finance Corporation, ligado ao Banco Mundial. Exemplos de que fazer o que é certo dá certo. ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 19

Divulgação/meninos do morumbi SEMANA DO EMPREENDEDORISMO MENINOS DO MORUMBI Cantar, dançar e mudar o mundo Música faz os Meninos do Morumbi cruzarem a ponte rumo a um futuro melhor e mais bonito Maestro Flávio Pimenta, idealizador do projeto A banda Meninos do Morumbi teve início em 1996, quando o maestro Flávio Pimenta começou a ensinar música para tirar crianças da rua e do alcance do tráfico e da delinqüência juvenil. No fim daquele ano a banda reunia uma centena de jovens que participavam de atividades musicais e esportivas. Em 12 anos, foram mais de 700 shows, inclusive na França e na Inglaterra, que transformaram a vida de 4 mil crianças e adolescentes de bairros carentes da Zona Sul de São Paulo e dos municípios de Taboão da Serra e Embu. A saga desses meninos abriu a 4ª Semana de Empreendedorismo do FGVcenn. O projeto ensina a se dedicar, a valorizar a família e a escola, a mapear os bons valores, e fazer os jovens da periferia entenderem que existe uma ponte que vai do gueto e da favela para um futuro bonito, resume o maestro. Sem assistencialismo Com uma agenda bastante movimentada - só em 2007, foram 112 eventos - os jovens tocam, dançam e cantam arranjos como jongo, maracatu, funk, samba, maxixe e aguerê. Esses eventos respondem por 60% do orçamento da banda, que cobra cachê por apresentação. Cada jovem ajuda a pagar os funcionários e os prestadores de serviço. Temos 46 funcionários, não há voluntariado, nem assistencialismo, ressalva Pimenta. Um aparato profissional garante a qualidade das apresentações: técnicos, engenheiro de som, caminhão de equipamento, lanche para as crianças. A banda já se apresentou na Inglaterra, França e Estados Unidos. A sede no Morumbi, doada pela British Airways, foi palco da apresentação para o presidente norte-americano George W.Bush durante a visita ao Brasil em 2007. No suporte a esses futuros artistas, a associação conta com uma equipe de funcionários, formada por psicólogos, pedagogos, professores de inglês, informática e tudo o que for necessário para capacitar a banda em artes, esportes, capoeira e jiujitsu, entre outros cursos. Para participar desse grupo, o jovem deve estar na escola e com notas boas. São 600 alunos que aprendem canto, dança e instrumentos musicais. A banda tem programas em parceria com outras instituições para atender famílias, como mediação de conflitos e programas de combate à Aids e às drogas, maternidade precoce e dependência química. As parcerias com empresas fogem do formato assistencialista. Um exemplo é o projeto Garagem Digital com a HP Brasil que oferece 150 microcomputadores com banda larga para capacitação em informática. Essa parceria rendeu, inclusive, o prêmio Corporate Awards 2002, concedido pela Social Accountability International, organização não-governamental norte-americana pioneira em responsabilidade social corporativa, e a construção do portal da banda na internet. 20 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

SEMANA DO EMPREENDEDORISMO Whirlpool Talento para inovar Fabricante investe no desenvolvimento de pessoas para criar eletrodomésticos e manter liderança no mercado Divulgação/Whirlpool Presente no Brasil com as marcas Brastemp, Consul e KitchenAid as duas primeiras líderes com 40% do mercado de linha branca e 70% da preferência do consumidor -, a Whirlpool acredita que as pessoas são a principal vantagem competitiva de uma empresa. Especialmente se a companhia pretende manter consumidores leais por toda a vida. Queremos estar em todos os lares e lugares com orgulho, paixão e performance, observa o presidente da Whirlpool na América Latina, José Aurélio Drummond Júnior. A inovação não acontece sozinha. O talento precisa ter a oportunidade de aflorar e empreender. Por isso, mantemos programas de trainees, estagiários e MBAs. A Whirlpool se orgulha de abrigar em seus três centros tecnológicos no Brasil (Rio Claro, Joinville e Manaus) um total de 500 engenheiros pesquisando novidades para o mercado brasileiro e para o mundo. Eles fazem parte do time de 22 mil funcionários em quatro fábricas e responsáveis por uma receita de R$ 6 bilhões em 2007. Se as pessoas forem mais talentosas, você tem mais confiança de correr o risco, observa Drummond. Importante também é a capacidade de sonhar e perseguir o sonho, sabendo que pode dar errado. Quando dá errado, temos que corrigir rápido. É preciso um ambiente que permita isso, pois tanto o sucesso como o fracasso não são responsabilidade de um só. Regras da inovação A Whirlpool adota algumas regras sobre inovação. A primeira é que a solução não é inovação se não for única, estimulante e difícil de copiar. Deve estar alinhada à estratégia global da companhia. Ah, sim, também deve trazer valor para o acionista, com resultado melhor que a média do produto substituído. Dentro dessas regras, a Whirlpool lançou a minilavadora Eggo, solução originalmente chinesa adaptada para a lavagem de peças íntimas no banheiro, o refrigerador Flex, que se transforma em freezer em menos de duas horas, e a linha Aquarela da Consul que permite escrever e desenhar nas portas e nas laterais do refrigerador. Drummond alerta que produto novo não é a mesma coisa que produto inovador. Inovação é a linha de purificadores de água que não são vendidos, mas alugados. Neste caso, a inovação da Whirlpool não foi alugar o produto e, sim, enxergar as oportunidades oferecidas pelo mercado da água. Este será o bem mais escasso da humanidade, uma commodity para ser negociada na BM&F, prevê. patrocinadores ouro prata bronze

Competições plano de negócios Alunos da EAESP ganham 8 FGV Latin Moot Corp Solução econômica para substituir turbinas de geração de energia eólica conquista primeiro lugar entre os planos de negócios inscritos em 2008 Nove equipes disputaram a oitava edição do FGV Latin Moot Corp, promovida pelo FGVcenn entre os dias 5 e 7 de março em São Paulo. O FGV Latin Moot Corp é a mais renomada competição de planos de negócios da América Latina voltada a alunos de pósgraduação. A equipe HWT, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP-FGV), venceu com uma solução inovadora na substituição das tradicionais turbinas usadas na geração de energia eólica. O segundo colocado foi a equipe e- Guide, da INCAE Business School da Costa Rica, que trouxe à competição um GPS com informações turísticas. A equipe Ecoplast, do IBMEC São Paulo, conquistou o terceiro lugar com a criação de um composto plástico ecológico. O FGV Latin Moot Corp destinou US$ 17 mil aos três vencedores, sendo US$ 10 mil para o primeiro colocado, US$ 5 mil para o segundo e US$ 2 mil para o terceiro. Para Severiano Leão Macedo Junior, integrante da equipe HWT, três fatores foram determinantes para vencer o 8º FGV Latin Moot Corp: "ser um plano ecologicamente correto que engloba um mercado crescente; deter tecnologia inovadora com registro de patente; e contar com um time multidisciplinar de advogados, engenheiros e administradores. O coordenador da competição, Rene José Rodrigues Fernandes, observa que o concurso contribui para o processo educacional e a formação dos concorrentes por meio de uma simulação do ambiente empresarial. "O FGV Latin Moot Corp estimula o clima de competição entre os alunos. E também é uma oportunidade para conhecerem o funcionamento de venture capital, terem contato com colegas de outras nacionalidades e apresentarem projetos para o mundo real", descreve. Sucesso também lá fora Em maio, as vencedoras HWT e e-guide representaram a América Latina na grande final mundial, o Global Moot Corp, promovido há 24 anos pela Universidade do Texas, em Austin (Estados Unidos). A competição reuniu 32 universidades de 13 países, sendo 18 norte-americanas. Em Austin, a equipe HWT recebeu o prêmio Outstanding Presentation e o e-guide conquistou o Outstanding Market. Terceira colocada do 8º FGV Latin Moot, a Ecoplast apresentou seu composto plástico na Stuart Clark Business Plan Competition, em Manitoba, Canadá. Os empreendedores voltaram dessa disputa com uma proposta de investimento para o início do negócio. 22 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

fotos: eduardo lopes merege/fgvcenn ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 23

Competições plano de negócios Participantes do 8º FGV Latin Moot Corp 2008 EQUIPE ORIGEM RESUMO Zapcare SIMS Lavamix Ecommerce USIART E-GUIDE Ecoplast Procría Project HWT Brasil - Unifacs (Universidade de Salvador) Brasil - Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Brasil - UFC (Universidade Federal do Ceará) Brasil - PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Brasil - Mackenzie Costa Rica - INCAE Business School Brasil - IBMEC São Paulo Argentina - Escuela de Direccion y Negócios de La Universidad Austral Brasil - FGV- EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas) Construção de rede de informações sobre médicos e profissionais de saúde que facilite o processo de busca por um especialista e o agendamento de consultas. SIMS (Sistema de Integração Multidisciplinar em Saúde) é um software projetado para integrar e organizar todos os segmentos que atuam em serviços de saúde. Os relatórios, os resultados dos exames e outros diferentes tipos de descrição do tratamento de um paciente podem ser arquivados e acessados pelas pessoas autorizadas. A Lavamix Beneficiamento Têxtil Ltda. é uma empresa de serviços B2B (business-to-business) que realiza modificações em peças jeans através de processos físico-químicos como, por exemplo, o lixamento de uma peça até ficar com aspecto de gasta. Plataforma eletrônica de comércio com enfoque sustentável. Primeiro portal de comércio verde da América Latina, que promove, de forma transparente e responsável, a venda e a compra de produtos "ecologicamente corretos". Atuará no mercado de joalheria e no de prótese por meio do fornecimento de máquinas com cortes, formas e ângulos complexos em uma única instalação. Dispositivo de mão que exclui navegação pessoal (através do GPS) e apresenta informações detalhadas de destinos turísticos da Costa Rica por meio de texto, imagens, áudios e vídeos. Criação de composto plástico ecológico com a aplicação de fibras naturais tais como o bagaço do bastão de açúcar e a fibra do coco no molde de injeção. O Procría oferece um serviço de outsourcing para melhorar a eficiência da produção leiteira durante os primeiros dois anos de vida do animal, assumindo a criação de bezerros. Três dias após o nascimento, o filhote (fêmea) é separado da mãe - que está livre para fazer parte do estoque produtivo novamente - para a realização de exames capazes de estimular sua produtividade precoce, na idade de vinte quatro a vinte sete meses. A tecnologia HWT (Hovering Wind Turbine ou turbinas sustentadas pelo vento) permite a exploração de unidades geradoras eólicas ("UGEs") com custos e prazo de implantação mais baixos que as tecnologias convencionais. Com informações do site Universia. Disponível em: http://www.universia.com.br/materia/materia.jsp?id=15533. patrocinadores

fotos: eduardo lopes merege/fgvcenn Regras do jogo Pelas regras da competição, os participantes devem apresentar um plano completo de negócios com todas as informações para a estruturação e abertura de um novo empreendimento. As apresentações são feitas em inglês. A comissão julgadora, composta por acadêmicos, investidores de venture capital e empresários, avalia a viabilidade financeira e a probabilidade de sucesso dos projetos e escolhe aquele que vai representar os países latinos na Global Moot Corp Competition, em Austin. Para fazer essa escolha, os juízes devem responder à seguinte pergunta: em qual desses planos você, pessoalmente, investiria? Além do plano de negócios, são avaliados também o comportamento, o poder de persuasão e as atitudes dos representantes das equipes durante os três dias de competição. O consultor do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado de São Paulo) Renato Fonseca de Andrade, que fez parte da comissão julgadora, avalia que venceu a equipe com maior poder de persuasão. "O plano de negócio tem que apresentar grande probabilidade de retorno financeiro, mas, na apresentação, a equipe deve saber defender o seu projeto com unhas e dentes. Afinal, se alguém tem que confiar no projeto, esse alguém é o empreendedor." ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 25

Competições ONE NATURAL EXPERIENCE Da sala de aula para a Califórnia Incentivado pelo FGVcenn, vencedor do FGV Latin Moot Corp 2005 é um bem-sucedido empresário de bebidas saudáveis na América do Norte Mais do que um concurso acadêmico, o FGV Latin Moot Corp pode ser a porta do sucesso para um empreendedor de visão. Que o diga o mineiro Rodrigo Veloso, de 29 anos, que venceu a etapa nacional do FGV Latin Moot Corp em 2005 com a idéia de vender água de coco em caixinha no mercado norte-americano e canadense. O plano de negócios elaborado por Rodrigo e seu colega americano Eric Loudon não ganhou a competição mundial na Universidade de Austin, no Texas, mas conquistou algo mais importante: investidores que apostaram nessa idéia. Desde 2006, Rodrigo mora em Los Angeles, Califórnia, de onde comanda a ONE Natural Experience (O.N.E.), cujos produtos naturais estão presentes em mais de 10 mil pontos de venda no mercado norte-americano. Sucesso entre as celebridades, como atestam as fotos na página da empresa na internet, a O.N.E. deve fechar 2008 com faturamento superior a US$ 9 milhões (um crescimento de 250% em relação a 2007) e planos de chegar aos mercados europeu e asiático em 2009. O segredo desse sucesso foi vender não um suco exótico produzido no Brasil e sim bebidas funcionais. Nos Estados Unidos, este é um mercado que cresce US$ 2 bilhões por ano, enquanto cai o consumo das bebidas gasosas, de baixo valor nutricional e alto teor de açúcar como os refrigerantes. No caso da água de coco, estamos vendendo uma bebida com alto poder de hidratação, uma alternativa natural aos isotônicos artificiais e com maior concentração de potássio que a banana. Um produto perfeito, por exemplo, para quem pratica esporte, lembra Rodrigo. Este ano, a O.N.E. foi premiada como melhor empresa de bebidas dos EUA pela Health Magazine. Onde tudo começou A história da O.N.E. começou na Fundação Getulio Vargas, mais precisamente nas aulas de empreendedorismo do professor José Augusto Corrêa, fundador e coordenador do FGVcenn. Ele incentivava a escrever o plano como se fosse o nosso negócio de verdade, lembra Rodrigo. E como um negócio de verdade, a O.N.E. se divulgação/one natural experience prepara para ampliar o seu portfólio de produtos, todos fabricados e embalados no Brasil. Hoje, dois anos depois de lançar a água de coco, a O.N.E. também é conhecida pelo suco de açaí, apresentado ao mercado norte-americano em 2007 como a fruta que contém o maior número de antioxidantes. A empresa acaba de lançar mais duas novidades. Uma delas é o suco 26 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008

de caju, fruta rica em ferro e com cinco vezes mais vitamina C que a laranja. Antes da O.N.E., o suco de caju era encontrado apenas em lojas de produtos étnicos nos EUA. A outra novidade é simplesmente o primeiro suco de polpa de café do mundo. A tradicional bebida quente aproveita apenas o grão (caroço) que é torrado e moído. A inovação da O.N.E. é oferecer suco da polpa (a parte vermelha que envolve o grão) que até agora era desprezada. Rico em polifenóis e vitamina C, o suco estreou este ano com grande aceitação no mercado norte-americano, garante Rodrigo. A O.N.E. também lançou uma edição limitada de água de coco em embalagens criadas pelo artista plástico brasileiro Romero Britto, que mora nos Estados Unidos. O lançamento foi um sucesso, não apenas por causa do artista e das propriedades da bebida: os lucros dessa edição serão doados para construção de cisternas de captação de água das chuvas nas áreas pobres do Nordeste Brasileiro. As pessoas chegam a andar oito quilômetros para conseguir água durante a seca, observa Rodrigo. Um projeto que tem tudo a ver com o negócio da O.N.E.: saúde e Brasil. Rodrigo Veloso: novos produtos e crescimento de 250% no faturamento ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 27

Competições aliança Sumaq Estratégia para empresas que geram valor social Escolas da América Latina e Europa premiam planos de negócios socialmente empreendedores 28 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008 Empresas cujo objetivo é gerar resultados sociais ou ambientais também precisam ter uma estratégia de mercado e de negócio para sobreviver. Esse é foco da Competição de Planos de Negócios Socialmente Empreendedores promovida desde 2006 pela Aliança Sumaq, uma associação que reúne oito escolas de negócios da América Latina e Espanha. Os organizadores da competição definem o empreendedor social como aquele que estabelece ou lidera uma organização, com ou sem fins lucrativos, para oferecer produtos ou serviços inovadores que beneficiam populações excluídas. Esses empreendedores criam organizações híbridas que empregam metodologias de negócio, mas seu objetivo principal é a criação de valor social ou ambiental. A Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), berço do FGVcenn, é a única representante brasileira da Aliança. Também fazem parte da associação a IE Business School (Espanha), Instituto Tecnológico de Monterrey EGADE (México), INCAE (Costa Rica), PUC (Chile), Universidad de San Andrés (Argentina), IESA (Venezuela) e Universidad de Los Andes (Colombia). A competição é aberta a equipes de alunos da graduação, pós-graduação ou ex-alunos formados há pelo menos dois anos nessas escolas. Uma comissão formada por representantes das oito escolas e mais um juiz independente avaliam os empreendimentos segundo critérios como idéia, impacto social, equipe de gestão, oportunidade de mercado, modelo de negócio e estratégia, sustentabilidade financeira e retorno social do investimento. Em 2007, o projeto VeloCity, da espanhola IE Business School, venceu a competição entre os 15 planos de negócios inscritos. Trata-se de um projeto de bicicletas urbanas na Espanha que mede a quantidade de emissões de carbono evitadas por quilômetro e serve como instrumento de responsabilidade social para empresas participantes do programa. O caso brasileiro O case Tekoha foi selecionado pelo FGVcenn para representar o Brasil em 2007. A Tekoha é uma organização que comercializa produtos 100% artesanais e ecologicamente sustentáveis, como cestaria, bijuterias e utensílios domésticos, produzidos por comunidades das regiões Norte e Nordeste do Brasil. O objetivo do negócio, pautado por princípios de ética e trans-

parência, é gerar renda para ser aplicada na melhoria da qualidade de vida das comunidades produtoras, valorizar a cultura local e criar produtos naturais, biodegradáveis e ecologicamente sustentáveis. Na apresentação do plano de negócios, a equipe formada por Henrique Bussacos, Lícia Rosa, Rodrigo Moura e Thiago Seiki Kato, Maurício Romaniewicz, Andressa Trivelli e Isabelle Pavin assinala, porém, que a atuação da Tekoha vai muito além de vender produtos ou serviços. Segundo a equipe, a Tekoha proporciona uma experiência que contribui para a evolução do nível de consciência dos consumidores e de todas as partes envolvidas nos processos Tekoha. Esta experiência pode começar com a compra virtual de um artesanato. E evoluir até o contato direto com a realidade das comunidades. ALMANAQUE FGVCENN 2007-2008 29

ENTREVISTA Com José Augusto Corrêa - fundador do FGVcenn Empreender é muito mais que começar um novo negócio O sucesso de um empreendimento é resultado de inovação no tempo e no espaço O engenheiro José Augusto Corrêa iniciou sua carreira como professor em 1998, por insistência de um consultor de sua empresa que era professor na Fundação Getulio Vargas. Começou na Escola de Administração (EAESP-FGV) dando o curso Competitividade Global, que ele mesmo criou com base na sua experiência no mercado internacional. Dinâmico e entusiasmado, sua vivência empresarial não lhe permitiu ficar somente dando aula. Com a ajuda essencial de outros colegas, em 2004 tirou do papel um projeto embrionário para criação de um centro de empreendedorismo. Somou ao projeto o conceito de novos negócios e daí surgiu o Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios (FGVcenn), cujo objetivo é conscientizar as pessoas sobre seu potencial como empreendedoras. Qual o objetivo do FGVcenn? Do ponto de vista acadêmico, a idéia é criar a cultura empreendedora dentro da Fundação Getulio Vargas, que vem adotando posições de vanguarda no meio universitário. E consolidar a Fundação como um centro de excelência e referência quando o assunto é empreendedorismo. Qual o diferencial oferecido a alunos e colaboradores? Trabalhamos com a realidade brasileira. É difícil ensinar administração e empreendedorismo a partir de cases que fazem parte de currículos de universidades estrangeiras. Outros países têm realidades econômicas diferentes da nossa. O acesso ao capital, por exemplo, é mais fácil. Quais as vantagens que esse tipo de abordagem traz? Ao valorizar o estudo das empresas brasileiras, geramos e expandimos conhecimento sobre empreendedorismo no Brasil, que é outro objetivo do FGVcenn. Isso permite que mais pessoas tenham condições de se tornar empregadores e não mais empregados, fato importante numa economia que não sustenta mais o tradicional mercado de emprego com carteira assinada. Existe diferença entre o empreendedor e uma pessoa que simplesmente abre um negócio? Sim. O empreendedorismo inclui a abertura de um negócio, mas é muito mais do que isso. É a atitude da pessoa que consegue enxergar a oportunidade de negócio onde as demais só enxergam problemas. O que é mais importante para o empreendedor? Definir o mercado no qual quer atuar. Um empreendedor tem mais chances de ter sucesso se conhecer o mercado no qual pretende inovar com seu empreendimento. Se trabalha com gado, por exemplo, pode ver num chip de computador a oportunidade de armazenar toda informação sobre cada boi. E desenvolver um meio de colocar um chip em cada cabeça de gado. É a oportunidade de criar um mercado de 200 milhões de chips. Como uma pessoa consegue calcular o valor de mercado de uma idéia? E como sabe se o negócio vale o investimento? Depende da formação do empreendedor. Mas quanto mais conhecimento tiver e maior sua rede de contatos, cresce a chance de ter a noção correta do negócio. Por isso, vale a pena freqüentar e partici- 30 ALMANAQUE FGVcenn 2007-2008