INCLUSÃO DIGITAL NA EDUCAÇÃO DE PESSOAS ADULTAS: SUPERANDO EXCLUSÕES E CONTRIBUINDO PARA ALFABETIZAÇÃO E PÓS- ALFABETIZAÇÃO.



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Transcrição:

INCLUSÃO DIGITAL NA EDUCAÇÃO DE PESSOAS ADULTAS: SUPERANDO EXCLUSÕES E CONTRIBUINDO PARA ALFABETIZAÇÃO E PÓS- ALFABETIZAÇÃO 1. HENRIETTE GONÇALVES, Becky UFSCar. becky_hg@yahoo.com.br Categoria: Pôster GT: Educação de Pessoas Jovens e Adultas / n. 18. Agência Financiadora: CAPES. INCLUSÃO DIGITAL NA EDUCAÇÃO DE PESSOAS ADULTAS: SUPERANDO EXCLUSÕES E CONTRIBUINDO PARA ALFABETIZAÇÃO E PÓS- ALFABETIZAÇÃO. No contexto da sociedade capitalista, também denominada de sociedade industrial, as exclusões se apresentam nos mais diversos contextos e com diferentes sujeitos. Nesta sociedade, pautada na exploração do homem pelo homem, o modelo de desenvolvimento é baseado no crescimento econômico e na produção material, revelando-se profundamente desigual. Esta sociedade industrial, sob a perspectiva de Flecha, Gómez e Puigvert (2001), tem seu eixo pautado na produção dos recursos materiais, que na década de 1970 passou a ser questionado no sentido de seu esgotamento enquanto modelo de desenvolvimento de sociedade industrial, caracterizando o que Habermas (1980) chama de crise na estrutura de um sistema social, iniciando-se assim uma nova concepção de sociedade, que é então indicada por Daniel Bell, com o eixo agora pautado na informação, denominada de sociedade pós-industrial ou sociedade da informação. Tal processamento e seleção de informação, segundo Flecha, Gómez e Puigvert (2001), devem ser feitos com base na reflexão humana ajudadas por tecnologias que surgem da própria comunicação entre os sujeitos. Mas, mesmo diante desta nova configuração social, são reforçados ainda os mais variados tipos de exclusões, dentre elas, a gerada pela própria formulação dos métodos de ensino, o que muitas vezes leva o educando ou educanda a abandonar os estudos antes mesmo de sua conclusão. 1 A pesquisa foi realizada em uma turma do Movimento de Alfabetização MOVA, no município de São Carlos SP, atendida pela política pública Inclusão Digital, na qual uma vez na semana as aulas ocorrem no computador, que atua enquanto mais uma ferramenta no processo de ensino-aprendizagem.

2 Além das exclusões advindas da sociedade desta maneira configurada, os educandos e educandas lidam com outro tipo de exclusão, denominada por Taylor (1994) de misrecognition, ou auto-proteção 2, que mostra não apenas uma carência de um devido respeito, como também, pode causar cicatrizes que deixam indivíduos debilitados com o processo de auto-aversão. Por longos anos a escola auxiliou a reproduzir e a acentuar as desigualdades sociais postas pela forma de organização da sociedade, hoje agravadas pela consolidação da pseudoglobalização e da sociedade da informação da forma que são postas. Ainda que atualmente excludente, a sociedade da informação permite uma maior possibilidade de democratização de informação e conhecimento segundo Flecha, Gómez e Puigvert (2001), o que permite superar ou diminuir algumas das piores desigualdades existentes, devendo os movimentos sociais e os países em desenvolvimento lutar para esta democratização do conhecimento e da informação. Além de selecionar e lidar com informações em tempo real, na atual sociedade são exigidos também conhecimentos tidos como prévios, a leitura e a escrita, bem como domínio e controle de instrumentos de alta tecnologia. E este ainda não é o perfil de milhares de homens e mulheres que se encontram em salas de educação de jovens e adultos e de tantos outros que continuam a ter negado o acesso à escolarização. Diante desta realidade, é necessário, como aponta Freire (2005), lutar por uma educação libertadora, que se paute no diálogo, em uma relação horizontal entre os sujeitos, que estimule a reflexão e a ação, em uma transformação criadora, que lute pela emancipação do homem na busca, em comunhão, do ser mais, com a consciência crítica integrada à realidade. No processo de alfabetização, fundamental para inserção ainda que inicial na sociedade da informação, o educando deve ser o sujeito de seu processo de aprendizagem, ou seja, de sua alfabetização, que é para Freire (1979), um ato de criação, capaz de 2 Também classificada por outros autores como auto-exclusão, ou seja, um discurso já introjetado de uma suposta incapacidade no processo de ensino-aprendizagem. Será utilizado o termo auto-proteção, pois acredita-se que os sujeitos estão, na verdade, se protegendo das exclusões que sofrem.

3 desencadear outros atos criadores, pois basta ser homem 3 para realizar relações com a realidade, não precisa ser alfabetizado. Portanto, certamente, a chave para a alfabetização, enfocando aqui a educação de pessoas jovens e adultas, sob a perspectiva de Freire, é a anterior leitura do mundo, precedendo a leitura da palavra. Freire e Macedo (1990), afirmam que os alfabetizandos precisam compreender o mundo, o que implica falar a respeito do mundo e este exercício da oralidade é fundamental na prática da alfabetização. Desta maneira, não é viável separar a alfabetização do processo produtivo da sociedade. O ideal é uma abordagem concomitante, em que a alfabetização evolua em diversos ambientes, afinal tanto a alfabetização, como a pós-alfabetização (educação) são expressões culturais. Sendo então a educação regida pelo contexto de seu tempo e atendendo às necessidades de sua sociedade, como afirma Freire (1979), é fundamental que esta se adeqüe a fim de colaborar com as superações de exclusões presentes na sociedade da informação. Várias são as diretrizes que a educação pode assumir a fim de realizar tais superações e a utilização de novas tecnologias enquanto ferramentas no processo de ensinoaprendizagem é uma delas. O uso de tecnologias no processo de alfabetização, tais como o computador, por exemplo, devem se encontrar a serviço da humanização, tanto de oprimidos quanto de opressores, como discute Freire (2005). E neste processo de humanização as tecnologias devem ser utilizadas enquanto escravas desta humanização e jamais enquanto senhoras. Assim sendo, esta pesquisa traz enquanto objetivos investigar quais são as contribuições e quais são os empecilhos do processo de inclusão digital na alfabetização de jovens e adultos e quais são os fatores que podem potencializar a superação da autoproteção nos educandos e educandas e quais elementos são obstáculos neste processo. A pesquisa foi realizada em uma turma de educação de jovens e adultos, que uma vez por semana utilizava o computador enquanto ferramenta no processo de ensinoaprendizagem, a inclusão digital, ou seja, uma vez por semana as atividades de alfabetização e de pós-alfabetização, pois se tratava de uma turma multisseriada, eram 3 Aqui entendido enquanto espécie humana, homem mulher, não demarcação de gênero masculino.

4 elaboradas e aplicadas no computador, utilizando também seus recursos e comandos tecnológicos. Compuseram a turma 14 (catorze) educandos e educandas, sendo onze mulheres e três homens, com idades variadas entre 40 (quarenta) e 82 (oitenta e dois) anos. Dos 14 (catorze) educandos e educandas, 12 são aposentados, seja por tempo de serviço ou por problemas de saúde e 2 (duas) alunas estão desempregadas, tendo atuado anteriormente enquanto auxiliares domésticas. Para desenvolver o trabalho foi utilizada a metodologia comunicativa, que é pautada na coleta e análise conjunta dos dados, entre sujeitos e pesquisadora. Para coleta dos dados foram utilizadas observações e anotações em diário de campo, entrevistas em profundidade com os educandos e educandas e tertúlias dialógicas, que são discussões conjuntas baseadas em determinado assunto 4, sempre focando o uso do computador e as novas tecnologias. Desta maneira, os dados coletados e analisados com os participantes disseram respeito essencialmente às contribuições da utilização do computador para a alfabetização e pós-alfabetização e também seus benefícios para a qualificação para o mundo do trabalho. Os participantes da pesquisa afirmaram unanimemente que a utilização do computador, tanto na elaboração de atividades de aquisição da leitura e escrita, como na aplicação destas, ou seja, os alunos e alunas fazerem as atividades no computador, auxiliava muito. Afirmaram que se torna mais fácil, pois o computador já traz as letras prontas no teclado, cabendo aos alunos se preocuparem em identificar as letras através do som, sem a grande preocupação que apontam em ter que desenhar a letra, processo este que segundo eles é deveras penoso, afinal são adultos e até mesmo idosos que desenvolveram sempre atividades que exigiam muita força nas mãos e hoje em dia lidar com a sensibilidade e precisão de um lápis é um fator complicador. Chegam a comparar as letras no teclado com o alfabeto móvel 5. Afirmam que através das letras prontas no teclado se torna mais fácil escrever, sendo também mais fácil reconhecer as letras ali escritas. 4 Tal metodologia foi desenvolvida pautada no conceito de dialogicidade de Freire e Teoria da Ação Comunicativa de Habermas. Nesta pesquisa todos os dados foram analisados com os participantes da pesquisa. 5 O alfabeto móvel é muito utilizado durante a alfabetização e pode ser de diversos materiais: cartolina, papelão, EVA, madeira... Em quadrados independentes escreve-se uma letra do alfabeto, de A a Z. O alfabetizando manuseia estes quadrados procurando as letras e formando palavras.

5 Outro fator que apareceu com freqüência durante a pesquisa foi a importância desta inclusão digital na qualificação para o mundo do trabalho, reconhecendo as necessidades atuais postas pela sociedade da informação, bem como a exigência de saber lidar com tais tecnologias. Sendo assim, diante desta realidade e da leitura de mundo feita pelos próprios educandos e educandas, a inclusão digital no processo de alfabetização e pós-alfabetização de jovens e adultos se mostra uma alternativa necessária à superação de exclusões sociais e econômicas, bem como à superação da auto-proteção, pois através da inclusão digital, como foi constatado ao longo da pesquisa, a aquisição da leitura e da escrita são facilitadas pelo uso da ferramenta, além de esta servir à qualificação para o mundo do trabalho, como aponta Flecha, Gómez e Puigvert (2001). A superação da auto-proteção se apresenta, então, enquanto conseqüência de todo este processo de superação das demais exclusões, afinal, uma vez superados o analfabetismo e o desemprego, por exemplo, o educando ou educanda, passa a fazer uma leitura ainda mais crítica do mundo e de sua própria realidade. Portanto, no atual contexto da sociedade da informação não basta à educação buscar apenas uma alfabetização letrada, mas também uma alfabetização digital, que unidas possam superar exclusões e democratizar conhecimento. Referências Bibliográficas. FLECHA, GÓMEZ e PUIGVERT. Teoría sociológica contemporánea. Ediciones Paidós Ibérica, Barcelona, 2001. FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização: leitura do mundo leitura da palavra. Tradução Lólio Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 9.ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.. Pedagogia do Oprimido. 40.ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.

6 HABERMAS, Jürgen. Sistema e Mundo Vital. IN:. A crise de legitimação no capitalismo tardio. Tradução de Vamireh Chacon Rio de Janeiro: Edições Tempo Brasileiro, 1980, p. 11-19. TAYLOR, Charles. The politcs of recognition. IN: GOLDBERG, David Theo. Multiculturalism: a critical reader. Blackwell publishers, Malden, Massachusetts, USA, 1994, p. 75-106.