TIC S: INCLUSÃO E/OU EXCLUSÃO
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- Beatriz Van Der Vinne Carneiro
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1 TIC S: INCLUSÃO E/OU EXCLUSÃO Raquel Monteiro Alberto Moraes - Graduanda do curso de Pedagogia (UERJ) Renata Oliveira de Sousa- Graduanda do curso de Pedagogia (UERJ) A sociedade atual se encontra imersa nas tecnologias de informação e comunicação (TIC s) e essas tecnologias vem transformando o nosso cotidiano, como afirma Kensky (2003) as novas tecnologias de informação e comunicação, caracterizadas como midiáticas, são, portanto, mais do que simples suportes. Elas interferem em nosso modo de pensar, sentir, agir, de nos relacionarmos socialmente e adquirimos conhecimentos. Criam uma nova cultura e um novo modelo de sociedade. Porém essa cultura digital exige aos indivíduos novas habilidades, podendo reforçar a exclusão de determinados grupos sociais, pois de acordo com Franco (2008) conhecer características da linguagem digital pode ser decisivo para participar ativamente da sociedade globalizada. Assim, esta pesquisa em andamento da disciplina de Pesquisa e Prática Pedagógica, tem o objetivo de fazer uma breve análise dos impactos das TIC s no cotidiano de jovens e adultos que não concluíram a educação básica; refletindo em como as práticas educacionais e as tecnologias podem tanto contribuir para a inclusão como para a exclusão. Para isso, utilizaremos alguns teóricos como, Kensky (2003), Franco (2008), Negri & Texeira (2008) e algumas literaturas de Paulo Freire. Na tentativa de abordar a sociedade informatizada como um espaço de lutas simbólicas e discursivas evidenciando a importância da escola nesse contexto. Palavras chaves: TIC s; EJA; inclusão; exclusão. Introdução O presente trabalho tem o objetivo de refletir o impacto das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC s) no cotidiano de jovens e adultos, dando destaque às relações de inclusão e exclusão que tais tecnologias envolvem. Além disso, verificamos o importante papel que as práticas educativas desempenham, fazendo com que as TIC s sejam utilizadas de forma positiva. Inicialmente, apresentaremos algumas idéias sobre as TIC s e como esta se encontra presente na nossa sociedade, para num segundo momento tratarmos do papel que essas tecnologias podem exercer, seja ele de exclusão e/ou inclusão. E finalmente, apresentaremos uma breve apresentação do projeto Inclusão Cidadã, realizado paralelamente com a nossa disciplina de Pesquisa e Prática Pedagógica, com o intuito de elucidar o interesse e necessidade dos jovens e adultos sobre as tecnologias. TIC s: Tecnologias de Informação e Comunicação Antes de esclarecermos o que são as TIC s, é necessário entender que as tecnologias fazem parte da nossa sociedade desde o início dos tempos. Quando o homem das cavernas
2 2 utilizava o fogo para a sua sobrevivência, ele estava fazendo uso de uma tecnologia; quando antigos sábios escreviam em seus pergaminhos, eles estavam fazendo uso de tecnologias; portanto, podemos dizer que as tecnologias foram evoluindo de acordo com as necessidades do indivíduo. Hoje, temos as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC s) que vem transformando o nosso contexto social, reestruturando o modo como pensamos, adquirimos conhecimentos e nos relacionamos com o próximo. Logo, as TIC s exercem grande influência nas nossas vidas, sendo importante ressaltar que tais influências podem ser tanto positivas como negativas. Nesse contexto, Kensky (2007) diz que a evolução social do homem confunde-se com as tecnologias desenvolvidas e empregadas em cada época, isto é, a tecnologia caminha junto com o ser humano, ela altera comportamentos, idéias e até o uso que fazemos destes aparatos tecnológicos; sendo importante refletirmos como essas tecnologias nos afetam. O papel das TIC s na nossa sociedade As tecnologias de informação e comunicação (TIC s) são muito importantes na nossa sociedade, visto que elas realizam o acesso e a veiculação não só das informações, mas também de todas as demais formas de comunicação. Logo, essas tecnologias são facilmente encontradas em situações cotidianas, como urnas, rádios, caixas eletrônicos, celulares, televisores, computadores, etc. Dessa forma, é importante ressaltarmos que televisores, computadores e todos os novos suportes midiáticos são mais que ferramentas, (Kensky 2003, p. 22 apud Reeves e Nass 1996, p.251) eles participam de maneira ativa do mundo real. No qual Kensky (2003) irá afirmar que: As novas tecnologias de informação e comunicação, caracterizadas como midiáticas, são, portanto, mais do que simples suportes. Elas interferem em nosso modo de pensar, sentir, agir, de nos relacionarmos socialmente e adquirirmos conhecimentos. Criam uma nova cultura e um novo modelo de sociedade. Porém esse novo modelo de sociedade não oferece as mesmas possibilidades para todos, isto é, o acesso a essas tecnologias não é democrático, além disso, uma grande parcela
3 3 da população não possui conhecimento necessário para o seu domínio, produzindo uma sensação de ansiedade e de impotência diante de uma determinada situação. Kensky (2007) diz que existe uma intrínseca relação entre conhecimento, poder e tecnologia, isto é, quem não detém o conhecimento fica separado da tecnologia e conseqüentemente do poder, pois segundo Franco (2008), conhecer características da linguagem digital pode ser decisivo para participar ativamente da sociedade globalizada. Se antes, ter o domínio da leitura e da escrita era fundamental para atuar de maneira consciente na sociedade, hoje, na sociedade da informação, dominar as tecnologias é imprescindível. De acordo com Silveira (2001) a não-apropriação das novas tecnologias tende a ampliar a desigualdade social, já que: A exclusão digital impede que se reduza a exclusão social, uma vez que as principais atividades econômicas, governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade vão migrando para a rede, sendo praticadas e divulgadas por meio da comunicação informacional. Estar fora da rede é ficar fora dos principais fluxos de informação. Desconhecer seus procedimentos básicos é amargar a nova ignorância. TIC s e a ascensão da exclusão de Jovens e Adultos Ao refletirmos a relação das TIC s com a nossa sociedade, é possível percebermos que ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos servem para dinamizar e beneficiar nossas vidas, eles também servem para potencializar guerras, domínio, fome, desemprego. De acordo com kensky (2007) tecnologia é poder. ; logo a tecnologia tem tanto o poder de promover a ascensão da inclusão como da exclusão. Dessa forma, por atualmente vivermos na sociedade da informação, esta irá nos exigir a adoção de novas condutas diante das tecnologias, sendo necessário possuirmos conhecimentos variados para a apropriação das mesmas; no qual o indivíduo que não atende a esses requisitos acaba sendo excluído, amargado numa nova ignorância que é da cultura digital. Diante disso, Franco (2008) se utiliza de Fernando José de Almeida para dizer que: O mundo das novas tecnologias da informação e comunicação não se apresenta aos seus usuários docilmente como se fosse um éden de facilidades e de libertação do ser humano das tarefas repetitivas e rotineiras. Ele faz parte de um mundo que deve ser conquistado por ações lógicas, educativas e políticas. No fundo, a sociedade da informação é um espaço de lutas simbólicas e discursivas. Sua apropriação se dá por
4 4 esforços organizados, intencionalmente construídos em planejamentos estratégicos sofisticados. Esse mundo das novas tecnologias faz com que as informações cheguem rapidamente, ampliando a possibilidade de interação e comunicação, porém esses meios tecnológicos são utilizados para beneficiar apenas uma parcela da população, isto é, as TIC s muitas vezes, são empregadas para reproduzir a cultura dominante, dificultando uma reflexão crítica e fazendo destes usuários meros reprodutores do sistema e aqueles que não conseguem acompanhar o ritmo acabam sendo marginalizado do processo, sendo portanto, excluídos. Diante disso, vimos que as TIC s servem a um grupo em especial, que detém o poder em relação aos demais. Todavia é importante dizer, que as tecnologias estão a serviço da sociedade e elas podem ajudar e facilitar a comunicação de todos. Cabe a escola promover a inclusão digital de modo que o processo de ensino-aprendizagem seja segundo Freire (1987), construída através do diálogo, da reflexão, isto é, que os alunos compreendam a quem esses meios tecnológicos servem e qual sua finalidade. TIC s e o seu caráter inclusivo: uma prática educacional Assim como as TIC S podem propagar a cultura hegemônica dominante, promovendo a exclusão de determinados grupos sociais; não podemos deixar de salientar que tais tecnologias também podem promover um grandioso processo inclusivo; sendo importante ressaltarmos que quem define se as TIC s vão promover a inclusão ou a exclusão são os próprios usuários de tais tecnologias, assim como toda a sociedade. Dessa forma, é necessário que a escola se aproprie de tais tecnologias com a finalidade de promover a inclusão de seus alunos, inserindo-os na nossa sociedade que se encontra cada vez mais digitalizada e multifacetada. Logo, não basta ensinar aos jovens e adultos manusear os aparelhos digitais, é necessário fazer com que esses alunos possam ser atuantes na construção de seus saberes, podendo desta forma, transformar sua realidade. É fundamental que se configure uma educação, segundo Freire (1979), problematizadora que vai além do aprender a ler e escrever por si só, mas que seja uma educação que te ensina a ler o mundo e lhe possibilita ser autor de sua vida e do meio que a cerca. Assim, o uso das tecnologias no processo de alfabetização, como por exemplo, o
5 5 computador, deve estar a serviço da humanização, tanto de oprimidos quanto de opressores, isto é, as tecnologias devem ser vistas como um instrumento da cultura que deve estar à disposição do homem, fazendo com que as mesmas sejam apropriadas de forma a construir uma sociedade mais igualitária, justa e libertária. Assim, a democratização do acesso a esses aparatos tecnológicos é um grande desafio para a sociedade atual e necessita de apoios e mudanças tanto na esfera econômica quanto na esfera educacional. E a escola deve oferecer esse ambiente de construção, de modo a atender as necessidades de seus alunos, levando-se em conta que a mesma faz parte da sociedade, que se encontra em constante mudança. Portanto, é necessário repensarmos as práticas educacionais e assim como Freire (1979) condenarmos de vez a educação bancária, configurando a visão de que o homem integra-se e não se acomoda. Nesse sentido, o autor também chama atenção para um dilema entre tecnologia e humanização, ele diz que: O erro desta concepção é tão nefasto como o erro da sua contrária a falsa concepção do humanismo -, que vê na tecnologia a razão dos males do homem moderno. É o erro básico de ambas, que não podem oferecer a seus adeptos nenhuma forma real de compromisso, (...) não percebem o óbvio: que humanismo e tecnologia não se excluem (...). Se meu compromisso é realmente com o homem concreto, com a causa da humanização, de sua libertação, não posso por isso mesmo prescindir da ciência, nem da tecnologia... Então a escola não deve excluir as TIC s de sua prática, em vez disso, deve trabalhálas de maneira consciente para que haja a inclusão de todos, pois a educação não deve negar as tecnologias, visto que desde a história ela se apoiou nas ferramentas tecnológicas como os livros didáticos e o quadro de giz, contudo, atualmente, a educação tem como um dos desafios tornar a escola um espaço crítico em relação ao uso e à apropriação das TIC s e entender que o recurso tecnológico possibilita ao aluno ter seu próprio ritmo de aprendizagem e que a mesma não esta limitada ao espaço escolar. Portanto a escola traz consigo a possibilidade de inclusão dos jovens e adultos que muitas vezes são marginalizados devido ao seu nível de instrução; sendo de suma importância a erradicação do analfabetismo e o oferecimento de uma educação digna. Porém, isso não é tudo, pois atualmente além desses indivíduos serem excluídos da cultura letrada, há a exclusão feita pela cultura digital, logo a escola deve promover um ambiente democrático, o que
6 6 significa dar subsídio tanto para a alfabetização como para a incorporação das tecnologias em sua prática pedagógica. No qual, segundo Duran (2008), o que vai definir a constituição de saberes para o aluno é a apropriação que os mesmos fazem dessas tecnologias. Apesar de reconhecer a importância das TIC s, é evidente que não se pode compreender o acesso a elas como sinônimo de desenvolvimento social e cognitivo. A apropriação que os sujeitos fazem das tecnologias é que vão definir na medida em que elas contribuem, ou não, para o aprendizado e o exercício da cidadania. Nesse sentido, voltamos nosso olhar para o projeto Inclusão Cidadã, com a finalidade de elucidar que é possível repensarmos as práticas educativas existentes e incluirmos as tecnologias no processo de ensino-aprendizagem. A possibilidade de mudanças: Projeto Inclusão Cidadã O projeto Inclusão Cidadã, em andamento, tem o objetivo de promover a inclusão social de populações esquecidas digitalmente, utilizando as múltiplas mídias digitais como instrumento de construção e exercício da cidadania, possibilitando a livre discussão e interatividade entre os integrantes do projeto, proporcionando o aumento da solidariedade social, o despertar para uma responsabilidade comunitária e a produção de consensos sobre as dificuldades individuais e coletivas de suas regiões. O projeto pretende alcançar oito regiões do Rio de Janeiro, tendo início em Ilha Grande, mais precisamente em Vila dos Rios, onde podemos dispor do apoio do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável (CEADS) da UERJ. Este projeto foi dividido em três fases. Na primeira fase realizamos uma pesquisa com os moradores de tal vila, com o intuído de conhecer sua realidade e necessidades; na segunda fase foi observado a implementação do projeto UCA (Um Computador por Aluno) numa escola da região; já a terceira fase, será realizada em novembro, no qual faremos oficinas com as mídias digitais para atender as crianças, jovens e adultos da região. Diante da primeira fase do projeto, percebemos que a população é composta em sua maioria de jovens e adultos e apesar de terem pouca escolarização eles ansiavam ter o acesso e o domínio dessas tecnologias, uma vez que relatavam em situações cotidianas a dificuldade em lidar com as tecnologias.
7 7 A partir dessa primeira fase, projetamos oficinas que envolvam as mídias digitais, valorizando a leitura de mundo de cada um e do grupo; fazendo que essa população muitas vezes marginalizada digitalmente, construa uma visão crítica-social da sociedade, refletindo e possibilitando sua transformação e do mundo que a cerca. Vale ressaltar, por estarmos envolvidas nesse projeto, nós encontramos um grande desafio pela frente, que é fazer com que essas oficinas possibilitem não somente o acesso da população de Vila Dois Rios às TIC s, mas sim, fazer disto uma apropriação significativa para os envolvidos. Considerações Finais Desta forma, ao refletirmos sobre o impacto das TIC s no cotidiano de jovens e adultos, percebemos que é o uso que fazemos dessas tecnologias que fará a diferença entre aqueles que dominam ou não as mídias. Sendo necessário proporcionar meios para que estes sejam inseridos na cultura digital, fazendo com que os mesmos se tornem autores e co-autores de sua própria aprendizagem. Cabe lembrar que as TIC s podem tanto potencializar e dinamizar o ensino, como podem ampliar e disseminar a exclusão; sendo este, um grande desafio para a educação, que deve repensar em como trabalhar valores numa sociedade cada vez mais informatizada e multifacetada. Logo, não poderíamos refletir sobre as TIC s no cotidiano de jovens e adultos, sem repensar sobre as práticas educativas que estão sendo utilizadas atualmente na Educação de Jovens e Adultos; sendo necessário questionarmos se os atuais processos de ensinoaprendizagem estão de fato promovendo a inclusão digital desse grupo social, ou se estão exacerbando a inclusão já existente.
8 8 Referências Bibliográficas: DURAN, D. Alfabetismo digital e desenvolvimento: das afirmações às interrogações. Dissertação de Mestrado da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, FRANCO, M.G. Inclusão Digital de Jovens e adultos Não Alfabetizados: um Compromisso Histórico, um Dever Ético. In: RAIÇA, D. (org.) Tecnologias para a educação inclusiva. São Paulo: Avercamp, FREIRE, P. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, KENSKY, V.M. Tecnologias e ensino presencial e a distância. Campinas, SP: Papirus, Educação e tecnologias: O novo ritmo da informação. Campinas, SP: Papirus, SILVEIRA, S. A. Inclusão digital: a miséria na era da informação. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2001.
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