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East Timor Agriculture Network and Virtual Library Rede agrícola e biblioteca virtual de Timor Leste A preliminary list of IMPORTANT BIRD ÁREAS IN EAST TIMOR Author: Colin R. Trainor Date: 2002 Published by: BirdLife International- Asia Programme Documento:TA060 Summary This report is offered as a contribution to the process of establishing a network of conservation áreas in East Timor. It represents the first identification of Important Bird Áreas in the country. Biological surveys are now needed in East Timor to assess the status of selected sites, habitats and key species with the aim of clarifying management priorities and opportunities. The status of the six globally threatened and other restricted range bird species is very poorly known in East Timor. The far-east (Monte Paitchau Iralalora, Jaco Island region) is probably the highest priority for field survey. This current report summarises information available (to BirdLife International) on the eight sites identified by the FAO/UNDP, including one site which has been split, in the format of an Important Bird Áreas (IBAs) directory. Important Bird Áreas are sites that have been primarily identified if they possess one or more species of global conservation concern, or one or more globally restricted-range bird species. Nine East Timor IBAs

were selected based on site specific information on bird species of conservation significance. The IBAs are: Tilomar (12,800 ha), Tata Mailau (20,000 ha), Fatumasin (4,000 ha), Atauro Island (4,000 ha), Sungai Clere (30,000 ha), Lore (10,200 ha), Monte Paitchau-Iralalora (25,000 ha), Jaco Island (1,500 ha) and Mount Diatuto (15,000 ha). The Tata Mailau and Fatumasin sites have the best species information with 11 restricted-range species recorded at each. However, very little data is available for most sites (0-11 species). Resumo Uma lista preliminar das áreas importantes de pássaros em Timor- Leste Este relatório é um contributo para o processo de estabelecimento de uma rede de áreas a proteger em Timor-Leste. Representa a primeira identificação das Zonas Importantes de Pássaros no país. Agora são precisos estudos biológicos em Timor- Leste para estudar o estado dos locais seleccionados, os habitates e as espécies chaves com a finalidade de esclarecer as prioridades e oportunidades de gestão. O estado das seis aves globalmente ameaçadas e outras espécies de aves com áreas restritas é pouco conhecido em Timor-Leste. O extremo leste (Monte Paitchau, Iralalora, região da ilha de Jaco) é talvez a zona de maior prioridade para os estudos de campo. Este relatório resume a informação disponível (ao BirdLife Internacional) sobre as oito áreas identificadas pela FAO/UNDP, incluindo um local que foi dividido, na forma de um directório de Zonas Importantes de Pássaros (ZIP). As Zonas Importantes de Pássaros são locais que foram identificados primariamente porque tem uma ou mais espécies de pássaros que são de preocupação global para conservação ou, um ou mais espécies de pássaros que são de área globalmente restrita. Foram identificados nove ZIPs em Timor-Leste, com base nas informações específicas sobre as espécies com importância para conservação.

Os ZIPs são: Tilomar (12,800 ha), Tata Mailau (20,000 ha), Fatumasin (4,000 ha), Atauro Island (4,000 ha), Sungai Clere (30,000 ha), Lore (10,200 ha), Monte Paitchau-Iralalora (25,000 ha), Jaco Island (1,500 ha) and Mount Diatuto (15,000 ha). As zonas de Tata Mailau e Fatumasin apresentam as melhores informações sobre as espécies (existem registos sobre 11 espécies com área globalmente restrita. No entanto existe pouca informação sobre a maior parte das espécies (0-11 espécies). Rezumu Lista preliminár ida kona-ba área sira ne ebé importante iha Timor Leste Relatóriu ida-ne e hanesan relatóriu ida ne ebé fó ninia kontribuisaun ba prosesu ida atu bele estabelese rede ida iha fatin sira ne ebé hetan protesaun iha rai Timor Leste Reprezenta identifikasaun ida ba dala uluk iha zona sira ne ebé importante ba manu-fuik iha nasaun ida-ne e. Agora daudaun presiza hela estudu biolójiku atu bele estuda hela-fatin sira ne ebé selesiona tiha ona, ba sira-nia ábitat no ba espésie sira ne ebé sai hanesan xave ida ho ninia finalidade atu bele esklarese ba prioridade no oportunidade ba jestaun nian. Estudu ida ba manu-fuik na in neen ne ebé hetan ameasa ba sira-nia moris no espésie manu sira seluk ne ebé ladún hetan koñesimentu ida iha Timor Leste. Iha liu Leste (foho Paitchau, Iralaloro, Rejiaun sira iha rai Jaco nian) karik bele sai hanesan zona ida ne ebé hetan perioridade ba dala uluk atu sai hanesan fatin ida ba estudu ida-ne e. Relatóriu ida-ne e halo rezumu husi informasaun sira ne ebé disponivel (husi Bird Life Internacional) kona-ba fatin ualu ne ebé FAO/UNDP identifika hela inklui ba fatin ida ne ebé fahe tiha ona husi forma ida ba zona ne ebé iha importánsia ba manu-fuik sira. Zona hirak-ne e hanesan fatin ida ne ebé identifika ba dala uluk tanba iha fatin ne ebé eziste espésie ba manu-fuik ruma ne ebé sai hanesan espésie ida be hetan preokupasaun globál ba ninia

konservasaun ka sai hanesan espésie ida ne ebé globál ba fatin sira ne ebé restrita. Identifika tiha ona ZIPs na in sia iha Timor Leste, ne ebé bazeia ba informasaun sira iha kona-ba manu-fuik sira ne ebé importante ba ninia konservasaun. ZIPs sira ne e hanesan: Tilomar (12,800 ha), Tata Mailau (20,000 ha), Atauro (4,000 ha), Mota Clere (30,000 ha), Foho Paitchau-Iralaloro (25,000 ha), no foho Diatuto (15,000 ha). Zona sira hanesan Tata Mailalu no Fatumasin aprezenta informasaun ruma ne ebé di ak tebes kona-ba espésie manu-fuik nian (iha ona rejistu ida kona-ba espésie na in 11 ho ninia Areaglobál restrita. Tanba ne e maka iha de it informasaun ki ik ruma kona-ba espésie sira-ne e) Disclaimer: The availability of a digital version of this document does not invalidate the copyrights of the original authors. This document was made available freely in a digital format in order to facilitate its use for the economic development of East Timor. This is a project of the University of Évora, made possible through a grant from the USAID, East Timor. info: Shakib@uevora.pt

Universidade Técnica de Lisboa Instituto Superior de Agronomia Timor-Leste, 1953 1975: O desenvolvimento agrícola na última fase da colonização portuguesa Luís Manuel Moreira da Silva Reis Dissertação apresentada neste Instituto para efeitos de obtenção do grau de Mestre ORIENTADOR: Doutor Nuno João de Oliveira Valério CO-ORIENTADOR: Doutor Bernardo Manuel Teles de Sousa Pacheco de Carvalho JÚRI: PRESIDENTE: Engenheiro José Eduardo Mendes Ferrão, Professor Catedrático Jubilado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. VOGAIS: Doutor António Pinto Barbedo de Magalhães, Professor Catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; Doutor Nuno João de Oliveira Valério, Professor Catedrático do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade Técnica de Lisboa; Doutor Bernardo Manuel Teles de Sousa Pacheco de Carvalho, Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa; Doutor Augusto Manuel Nogueira Gomes Correia, Professor Associado do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. Mestrado em Produção Agrícola Tropical Lisboa 2000 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 36

RESUMO: Tendo em conta uma análise baseada numa perspectiva de Histórica Económica, avaliam-se as acções desenvolvidas pelo Governo Colonial Português no território de Timor, no decorrer das décadas de 1950 a 1970, enquadradas pelos Planos de Fomento, com a vista a proporcionar o desenvolvimento agrícola do território. O trabalho foi estruturado com base em três eixos de recolha de informação e análise: Enquadramento técnico e histórico do desenvolvimento da Agricultura e do sector de transformação/industrial a jusante do mesmo, no período em causa; Caracterização dos Planos de Fomento em termos de montantes financeiros envolvidos e da sua execução material; Caracterização produtiva e comercial do território, fazendo uso das estatísticas e indicadores macroeconómicos disponíveis. Procede-se, ainda, no final, a uma discussão relativa ao uso de diferentes modelos para caracterização do desenvolvimento agrícola e a aderência da sua aplicação ao caso em estudo. PALAVRAS-CHAVE: Timor-Leste, História Económica, Planos de Fomento, Desenvolvimento Agrícola, Cafeicultura, Orizicultura. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 37

Title: East Timor, 1953 1975: The Agricultural Development by the end of the Portuguese colonization ABSTRACT: This is an analysis, taken from an historical point of view, of the economic policies held by the Portuguese colonial rule, from 1953 to 1975, towards agriculture development in East Timor. At the core of the analysis are the Planos de Fomento, a series of five economic development plans aimed at all the territories under Portuguese administration during the studied period. This work is based on three main lines of research: Review of the techniques used in agriculture over the studied period of time in East Timor, as much as of the technical development of the industrial sector that followed; Description of each Plano de Fomento on what concerns funding and spending; Analysis of local economics figures and of macro-economic indicators available for the territory over the period of time under consideration, in order to evaluate what was produced and commercialised in East Timor at the time. This work ends with a discussion of the different methods available to investigate agricultural development, and presents the models which seem more appropriate to study the East Timor case. KEY-WORDS: East Timor, Economic History, Planos de Fomento, Agricultural Development, Coffee, Rice DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 38

Dedico este trabalho ao Povo Timorense e ao seu futuro que, espero auspicioso. Porque me ensinaram que a cidadania é um direito mas também é um dever. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 39

AGRADECIMENTOS Os contríbutos para um trabalho deste género, para além de espaçados no tempo, são sempre variados, no que se refere ao tipo e à forma como se materializam. Mais que um reconhecimento do valor do seu contributo, referi-los no início de um trabalho deste tipo, é uma obrigação a que cada autor se deve submeter, pelo significado que representa a contríbuição de outros para uma tentativa de adição de conhecimentos, ainda que mínima, sobre um determinado assunto. Antes de mais, agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Nuno Valério, do Instituto Superior de Economia e Gestão, pela contribuíção indelevel para estruturar fio condutor neste processo de investigação que me deu particular prazer desenvolver. Agradeço, ainda pelo constante arrumar de ideias e corrigir desvios programáticos que os meus pensamentos e escritos foram férteis. Não posso deixar de agradecer ao coorientador deste trabalho, Prof. Engº Agrónomo Bernardo Pacheco de Carvalho, do Instituto Superior de Agronomia, pela forma como contribuiu para orientar este trabalho a bom porto, principalmente na parte final da discussão e análise. Ao Professor Engº Agrónomo José Mendes Ferrão, quero agradecer, a sua pronta disponibilidade em ajudar e contribuir relevantemente nesta tarefa, nomeadamente, nas várias fontes de informação que me providenciou. Ao Engº Agrónomo Mário Mayer Gonçalves, uma palavra de profundo reconhecimento pelo empenho constante para a excução deste trabalho. O seu contributo foi sempre o de alguém que viveu a realidade aqui retratada. Não tendo sido um orientador, em termos formais, foi mais que isso em termos informais, já que partilhou uma cumplicidade comum, que nos leva a desenvolver o gosto de conhecer mais Timor. Vários foram os centros documentais ou bibliotecas que contribuiram positivamente para este trabalho. Este agradecimento estende-se ao corpo técnico e administrativo que assegurava o atendimento e o fornecimento da informação que fui solicitando, em cada dessas entidades. Agradeço, assim, ao Centro de Documentação do Banco Nacional Ultramarino, que me facultou o acesso a informação imprescindível e me possibilitou a obtenção de fotocópias, de forma graciosa, bem como o Insituto de Investigação Científica Tropical, que me disponibilizou o acesso, de forma igualmente graciosa, a livros, cartografia existente, nomeadamente no Centro de Estudos de Produção e Tecnologia Agrícola (Centro de Documentação e Informação) e no Centro de Cartografia. Agradeço ainda à Sociedade de Geografia de Lisboa, o acesso à sua biblioteca. À Catarina, tenho que agradecer todo o seu contríbuto, ânimo e apoio na estruturação global do trabalho. O seu contante apoio foi uma fonte de inspiração nos momentos de desânimo e impaciência e que me permitiu levar para a frente esta tarefa. Agradeço, por tudo isto. À Né, pela amizade, orientação e apoio global que permitiu lançar este trabalho na parte inicial e que foi acompanhando, de forma enriquecedora, no decurso do mesmo. Gostaria de deixar uma palavra muito especial à Comissão para os Direitos do Povo Maubere (CDPM) e a todos que nela participam. Agradeço genericamente DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 40

pelo acesso ao seu (importante) acervo bibliográfico mas, mais relevante, por terem contríbuido para ajudar a pensar o Mundo que nos rodeia, permitindo desta forma a génese desta tese. Por tudo o que me transmitiram durante estes sete anos de frutuosa colaboração, um bem-hajam. Ao Centro Nacional de Informação Geográfica (CNIG), gostaria de agradecer à equipa que desenvolve a base de dados geográfica de Timor, na pessoa do Engº Rui Almeida, pelos contributos cartográficos desta dissertação. À minha família, por sempre me terem apoiado nas minhas decisões, e por terem acreditado na feitura do trabalho. Em especial, agradeço ao meu Pai, pelo apoio global, na discussão de ideias e na sempre fastidiosa revisão de textos. ABREVIATURAS BNU Banco Nacional Ultramarino CEPTA - Centro de Estudos de Produção e Tecnologia Agrícola Ha Hectare(s) IICT Instituto de Investigação Científica e Tropical INE Instituto Nacional de Estatística ISA Instituto Superior de Agronomia ISCEF Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras ISCSPU Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina km Quilómetro(s) MCT Ministério da Ciência e Tecnologia MEAU Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar MPAT Ministério do Planeamento e Administração do Território PIB Produto Interno Bruto SAPT Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho SOTA Sociedade Oriental de Transportes e Armazenagem UTL Universidade Técnica de Lisboa ton Tonelada(s) DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 41

ÍNDICE RESUMO:... 37 ABSTRACT:... 38 AGRADECIMENTOS... 40 ABREVIATURAS... 41 ÍNDICE... 42 1. INTRODUÇÃO... 43 2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA TIMORENSE (1945-1975)... 47 2.1 Agricultura no Pós-Guerra... 47 2.2 A Agricultura de subsistência... 47 2.1.1.1 Sector Agrícola... 47 2.1.1.2 Sector Pecuário... 54 2.1.1.3 Sector Florestal... 55 2.1.1.4 Sector industrial a jusante da Agricultura... 58 2.1.2 O aparecimento e desenvolvimento das culturas agrícolas de exportação... 59 2.1.3 A fundação e o desenvolvimento do sistema de plantações: situação pós-2ª Grande Guerra Mundial... 64 2.2 Os esforços desenvolvidos nas décadas de 50 e 60... 69 2.2.1 A Agricultura de subsistência... 69 2.2.1.1 Sector Agrícola... 69 2.2.1.2 Sector Pecuário... 72 2.2.1.3 Sector florestal... 73 2.2.1.4 Sector industrial a jusante da Agricultura... 74 2.2.2 O desenvolvimento das culturas agrícolas de exportação... 74 2.2.3 O sistema de plantações no período até 1975... 76 2.2.4 A Brigada de Timor da MEAU: a última etapa (anos 60 e 70)... 76 2.3 A Agricultura timorense nos anos finais da colonização portuguesa... 80 2.3.1 A Agricultura de subsistência... 80 2.3.1.1 Sector Agrícola... 80 2.3.1.2 O Sector Pecuário... 82 2.3.1.3 Sector florestal... 83 2.3.1.4 Indústrias transformadoras... 85 2.3.2 O sistema de plantações no final da colonização portuguesa... 85 3. OS PLANOS DE FOMENTO E A AGRICULTURA: APLICAÇÃO À EX-PROVÍNCIA ULTRAMARINA DE TIMOR... 88 3.1 Antecedentes e Enquadramento... 88 3.2 O 1º e 2 º Planos de Fomento (1953 a 1964)... 92 3.2.1 Análise referente ao período de 1953 a 1964... 98 3.3 O Plano Intercalar e o 3º Plano de Fomento (1965 1973)... 102 3.3.1 Análise referente ao Plano Intercalar... 108 3.4 O 3º Plano de Fomento (1968-1973)... 111 3.4.1 Análise relativa ao 3º Plano de Fomento... 122 O 4º Plano de Fomento (1974 1979)... 126 4. CARACTERIZAÇÃO SOCIAL, PRODUTIVA E COMERCIAL DO TERRITÓRIO... 75 4.1 População, Emprego e Produto Interno Bruto... 75 4.5 Análise sectorial... 79 4.5.1 Agricultura, Silvicultura e Pecuária... 79 4.5.2 Indústria transformadora... 95 4.6 Circuitos de distribuição - transportes rodoviários... 99 4.7 Comércio... 102 4.7.1 Importação... 104 4.7.2 Exportação... 107 4.8 Crédito bancário... 108 5. DISCUSSÃO... 111 5.1 A agricultura no desenvolvimento económico de Timor... 111 5.2 Modelos de desenvolvimento agrícola... 120 6. CONCLUSÕES... 129 7. BIBLIOGRAFIA... 134 8. Anexos... 147 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 42

1. INTRODUÇÃO O território de Timor era a mais oriental (e distante) parcela de todo o conjunto de territórios sob a administração colonial portuguesa e situa-se no arquipélago de Sonda, entre a Indonésia e a Austrália, com as seguintes coordenadas geográficas extremas: latitude entre 8 17 e 10 22 Sul e longitude entre 123 25 e 127 11 leste de Greenwich. (140: 15-16) A ilha de Timor encontrava-se dividida entre Portugal e a Indonésia, remontando ao século XIX a delimitação da partilha da ilha, com a assinatura do tratado de 20 de Abril de 1859, entre Portugal e a Holanda (ver Anexo 1) (240). A ex-colónia portuguesa de Timor incluia a parte oriental da ilha, o enclave de Oécusse, em território indonésio, a ilha de Ataúro, situada a Norte da cidade de Díli, e o ilhéu de Jaco, situado junto à ponta leste do território. A superfície total da ex-província é de 18.899 Km 2, representando pouco menos de um sexto da área actual de Portugal. (73: 446) (236) Segundo a classificação climática clássica, o clima de Timor é quente por ter temperaturas médias superiores a 20º C, excepto em algumas localidades de altitude elevada; temperado ou oceânico por ter amplitude térmica anual inferior a 10º C, moderadamente chuvoso nas regiões costeiras do Norte por ter precipitação anual entre 500 e 1000 mm; chuvoso na maior parte do território pelo facto da precipitação anual estar entre 1000 e 2000 mm e excessivamente chuvoso em algumas regiões montanhosas, por a precipitação anual ser superior a 2000 mm. (248) (249) A grande distância a que se encontra de Portugal, aliada a outros factores, contribuiu provavelmente para que durante grande parte deste século (e em geral, durante todo o período de colonização portuguesa), para a pouca atenção que despertou aos mais variados níveis do poder de decisão em Portugal, com vista a um almejado desenvolvimento. Foi com a conquista de Malaca, em 1511, que se abriu aos Portugueses o caminho marítimo para as ilhas do sudoeste asiático, de onde provinha, entre outros produtos, o regionalmente apreciado sândalo (241). Os Portugueses terão desembarcado na ilha de DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 43

Timor entre 1511 e 1522 51 e, a partir dessa data, controlado, pelo menos de forma parcial, as rotas comerciais (marítimas e terrestres) da região bem como a ilha em causa. O império português nesta parte do Mundo foi construído com base no comércio de especiarias (144) (146). A colonização de Timor foi iniciada por missionários, e por eles mantida durante durante séculos, constituindo assim um caso único na história da colonização portuguesa (239). O controle dos territórios que estiveram ao longo do tempo sob administração portuguesa naquela região do globo, foi bastante complicado e envolto em conflitos diversos, quer com a Holanda, que ambicionava o controle dos territórios e das riquezas naturais que Portugal à época geria, quer com as populações locais que estavam longe de aceitar pacificamente o domínio português (146). Fruto destas convulsões, só em 1769, o governador à época (Teles de Meneses) toma a decisão de instítuir em Díli, a sede do governo local, que correspondia a uma zona menos acossado pelos Holandeses (146). Será só em 1864, que Díli será elevada a cidade (259). Genericamente, a relação que se foi estabelecendo entre os diversos regulados do território e o poder português esteve longe de ser pacífica, como já referi, facto que se prolongou pelo século XX e que marcou indelevelmente o processo de administração colonial portuguesa do território. No fim do século XVIII, os rendimentos provenientes da exploração da madeira de sândalo (Santalum album L.), até então o grande foco de interesse dos portugueses, começam a diminuir e, no princípio do século XIX, o governador, Alcoforado e Sousa, exerce uma actuação decisiva no campo agrícola fomentando, nomeadamente, a cultura do café (259). 51 O ano da chegada dos Portugueses a Timor é, aparentemente, matéria ainda envolta em alguma indefinição.enquanto Thomaz, L. (1976), refere 1511 a 1514, como período provável de chegada, já Saldanha, J. (1994), adianta um período mais lato: 1512 a 1522. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 44

O início do século XX é marcado decisivamente pela governação efectuada por Celestino da Silva que impulsionou obra relevante na área do desenvolvimento agrícola. Sob a sua direcção, a agricultura sofreu um importante impulso, tendo surgido as primeiras grandes plantações comerciais e introduzido novas culturas (146) (259). Data desta governação a constituição da mais importante sociedade agrícola-comercial de Timor, a S.A.P.T. - Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho, que como veremos, no período objecto de análise deste trabalho, assumiu um papel muito importante no desenvolvimento agrícola e económico de Timor, nomeadamente no que se refere à produção e comercialização de café (146). Durante a 2ª Guerra Mundial, a ilha foi invadida, primeiramente por tropas australianas e holandesas (Dezembro de 1941) e posteriormente tropas japonesas (Fevereiro de 1942), e a soberania portuguesa é interrompida (1942-1945). Finda a referida guerra, o poder português é restabelecido e procedeu-se à reconstrução do que foi destruído, tendo muito desses traços perdurado até 1975 (243). No período que decorre entre os anos 50 e 70, o Estado Português decide implementar uma política coordenada de desenvolvimento económico, com aplicação a todos os espaços sob administração portuguesa. Em termos económicos, Timor foi sempre um território fortemente ligado à agricultura e à exploração dos recursos naturais. Tendo em conta o peso (grandemente maioritário) do sector agrícola na economia timorense, pretende-se, através deste trabalho, analisar o impacte destes Planos no desenvolvimento agrícola de Timor, uma vez que os referidos Planos foram estruturados tendo em conta este enquadramento económico e produtivo. O desenvolvimento agrícola de Timor, no período em análise, foi delineado com base no estruturado pelos Planos anteriormente referidos, sendo que qualquer análise de desenvolvimento agrícola tem que ser visto pelo prisma da aplicação dos Planos de Fomento. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 45

O trabalho que a seguir se apresenta pretende caracterizar o desenvolvimento agrícola ocorrido no território de Timor, enquanto unidade territorial, histórica, económica e aduaneira distínta, do ex-espaço económico português, no período entre 1954 e 1974. O período de tempo referido, coincide basicamente com o último período da colonização portuguesa, historicamente situado entre a ocupação japonesa do território e o fim da presença portuguesa, em 1975. Este trabalho estruturou-se numa perspectiva analítica de Histórica Económica e centrase numa questão; houve, ou não, desenvolvimento agrícola no território no período em análise? Em caso afirmativo, como é que se caracterizou? No sentido de proporcionar resposta(s) a esta(s) questão, o trabalho foi estruturado com base em três eixos de recolha de informação e análise: Enquadramento técnico e histórico do desenvolvimento da Agricultura e do sector de transformação/industrial a jusante do mesmo, no período de tempo que se estende desde o início da aplicação dos Planos de Fomento até ao final da colonização portuguesa ; Caracterização dos Planos de Fomento em termos de montantes financeiros envolvidos e da sua execução material, tendo em conta o que se pretendia para o desenvolvimento do território e as principais opções de desenvolvimento; Caracterização produtiva e comercial do território, fazendo uso das estatísticas e indicadores macroeconómicos disponíveis. Procede-se, ainda, no final, a uma discussão da informação obtida tendo em conta diferentes modelos existentes para caracterização dos processos de desenvolvimento agrícola, através dos quais se pretende tipificar qual foi a(s) forma(s) que se encetaram para exploração/desnvolvimento das potencialidades agrícolas do território e analisar os diferentes passos técnicos tomados. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 46

2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA AGRICULTURA TIMORENSE (1945-1975) 2.1 Agricultura no Pós-Guerra 2.2 A Agricultura de subsistência 2.1.1.1 Sector Agrícola Globalmente pode dizer-se que a agricultura desenvolvida pelos timorenses era à época, eminentemente extensiva e caracterizada por um claro sub-desenvolvimento, patente em variados aspectos, que a colonização portuguesa pouco conseguiu alterar. O grande volume da produção agrícola da colónia, quer em produtos de exportação (como o café) quer em géneros para a subsistência alimentar da população local, era proveniente de produções indígenas muito rudimentares (60: 17) (64: 4-5). Globalmente, o domínio exercido pelos agricultores timorenses era feito um pouco sobre todos os sectores de produção primária (136) (46: 43). Quando no princípio do século XVI, os portugueses chegaram a Timor, encontraram na ilha uma civilização da Idade do Ferro. Os timorenses viviam da agricultura e da criação de gado bem como da recolha de alguns produtos florestais naturais. Cultivava-se batata-doce, inhame e cereais de sequeiro (arroz e milho miúdo) e o arroz em várzeas irrigadas. Na pecuária apareciam o porco, a galinha, a cabra, o búfalo e o cavalo. (156: 387) A presença dos portugueses em Timor durante quatro séculos resultou numa influência praticamente inemutante nestas matérias: foram introduzidas algumas culturas alimentares novas, na sua maioria originárias do Brasil (como a mandioca ou o milho de maçaroca) e a divulgação de novos animais domésticos (a vaca e a ovelha). (173: 6-12) (156: 389) DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 47

No aspecto tecnológico, a sua influência foi irrelevante: quer a agricultura quer as pequenas indústrias artesanais continuavam a utilizar quase exclusivamente as técnicas tradicionais (156: 391) (173: 6-12). O regime de propriedade das terras era essencialmente comunitário: pertence aos sucos, isto é, era a comunidade que dominava a terra. Apenas nas regiões onde predomina a cultura do arroz de regadio, se gerava um sistema tendencialmente de propriedade estritamente privada. O mesmo se passava nas zonas cafeícolas. Thomaz considerava que em Timor, na sua maioria, não existia um sistema de latifúndios (156: 394-395), apesar do desenvolvimento que se tinha assistido ao nível do sistema de plantações. A necessidade da limpeza do terreno, para agriculturar, obrigava à realização de queimadas, mais vulgares na costa Norte, que eram antecipadas pelo derrube de árvores. Através da preparação do solo com meios rudimentares, constituía-se o espaço agrícola junto à habitação, cultivado durante um certo período de tempo que, geralmente, não ultrapassava os 6 anos. Quando o solo perdia a fertilidade, o agrícultor procurava outro local para a sua actividade preferindo as áreas sob floresta, mais férteis, ricas em matéria orgânica e menos infestadas de plantas espontâneas durante os primeiros anos. (101: 6-7) A 2ª Grande Guerra mundial trouxe ao território um legado de destruição generalizada para as infraestruturas do território, em conjunto com uma paralisia incipiente do sistema produtivo do território. A ocupação japonesa de Timor dá-se em Fevereiro de 1942, após o desembarque de forças aliadas (australianas e holandesas) e a administração portuguesa do território cessou até 1945. (23: 226-227) Parte do sub-desenvolvimento que a agricultura timorense vivia, no pós-guerra, era fruto de uma tecnologia agrícola bastante primitiva. O ferramental agrícola mais perfeito que os timorenses usavam, consistia num pau-aguçado 52 que servia para diversos trabalhos agrícolas (136) (58: 35-36), apesar de, no início do século XX 52 Em tétum (língua veicular timorense), Ai -súac DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 48

(décadas 20 e 30) se terem desenvolvido algumas tentativas para a introdução de novos meios e ferramentas. Por exemplo, com a supervisão das instâncias da Administração, ocorreram ensaios para a utilização de charruas, adaptadas para o trabalho nas terras pouco férteis e delgadas das montanhas (41) (63:2) (64: 5) (147: 117-120) (156: 408) Os timorenses desconheciam o arado, desconheciam a tracção animal e não usavam adubos químicos tendo em paralelo um vago interesse em estrumes. As mondas, quando praticadas, eram muito sumárias, não se praticavam sachas, nem conheciam a poda e o enxerto (156: 397) (60: 17) (64: 4-9) Em regra não se praticava o armazenamento dos produtos agrícolas: cada timorense semeava o que julgava bastar-lhe para o ano em curso; se sobrava, vendia-se; se faltava, recorria-se a certas folhas, frutos e raizes de vegetação espontânea do conhecimento da sabedoria tradicional. (156: 399) À época, as culturas dominantes da agricultura de subsistência eram, o milho (considerado o alimento-base dos indígenas) e o arroz, com baixas produções por unidade de superfície (que preenchiam, com dificuldade, a dieta dos timorenses) e de má qualidade 53 (39) (64: 4-5) (46: 43) (102: 1) (156). O arroz era produzido tanto em sequeiro como em regadio, mas não era considerado como produto regular da dieta timorense (99: 71) (214), sendo que a cultura do milho predominava sobre a cultura do arroz, ao contrário do que sucedia em todo o sudoeste asiático (156: 413). As razões para esta situação, Thomaz atribuia-as à relativa secura do clima e ao mau aproveitamento das planícies irrigáveis do território (156: 413) O desenvolvimento da agricultura em Timor era grandemente condicionado pelo carácter rugoso do território, que era caracterizado por grande incidência da erosão. Assim, consideravam-se como, as principais causas da erosão, em Timor (101: 1-12) (147: 293): 53 De acordo com Thomaz, 1974, as produções de milho eram 300 kg/ha em zonas montanhosas e 800 kg nas planícies. Quanto ao arroz a produção média era em média 1000 kg/ha, no máximo 1500 kg/ha. (156: 413-414) DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 49

1. As condições topográficas marcadas por ásperas colinas e montanhas, determinantes de um declive médio elevado na maior parte da ilha (pelo menos em 80% da área). Um esboço das condições topográficas, atendendo à geomorfologia, caracteriza o território da seguinte forma: Quadro 0-I:Condições topográficas do território Percentagem relativa à área total Declive-médio do território 54 Aluviões litorais e interiores 12% 0-5% Planaltos de Baucau e Fuiloro 4% 0-5% Formações geológicas várias 41 % > 10% 43% > 20% Fonte: (101: 3) 2. As altas quedas pluviométricas e a intensidade que as caracteriza, admitindo-se que em cerca de 65% do território e princípalmente nas regiões montanhosas chove anualmente 1500 a 2000 mm, ou mais; 3. A destruição da cobertura vegetal que conduzia à nudez das encostas, agravada nas bacias de recepção, provocando um rápido afluxo das águas às ribeiras que se transformam em torrentes destruidoras; 4. A agricultura itinerante e a queimada que a acompanhava nas encostas com declive excessivo, com a consequente destruição da cobertura vegetal, conduzindo à nudez das encostas; 5. O elevado grau de erodibilidade de alguns solos; 6. A perda de fertilidade destes solos acompanhada pela infestação por gramíneas, dificultando a regeneração das espécies; 7. O facto de algumas das plantas cultivadas (essencialmente milho, feijão e mandioca) fornecerem reduzida protecção ao solo; 8. O excessivo encabeçamento do gado em algumas áreas, originando: ravinamento nas suas passagens habituais, o sobre-pastoreio e a intensificação do uso das queimadas como forma de revitalização das pastagens através do aproveitamento dos rebentos das gramíneas; 54 Relativa a uma área total de cerca de 18.899 Km 2 (que inclui a parte oriental da ilha, o enclave do Oé- Cusse, a ilha de Ataúro e o ilhéu de Jaco) DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 50

9. As fracas ou praticamente nulas técnicas de conservação dos solos em locais onde eram necessárias. Excluiam-se, como é natural, as várzeas onde se efectua a cultura de arroz em regadio. Segundo Metzner existiam dois tipos de agricultura itinerante em Timor: a fila rai e a lere rai. A estas acresce a agricultura de regadio, praticada nas várzeas de arroz (natar), que era efectuada por uma pequena parte dos timorenses, já que implicava a existência de planícies inundáveis que rareavam na ilha. A diferença entre os tipos itinerantes reside no facto de a primeira ser um sistema mais antigo (menos evoluído) que intercala a rotação das culturas, com períodos de pousio de dimensão variada, usada em solos recentemente desflorestados que não necessitavam de matéria orgânica, enquanto a segunda resulta do aumento da pressão populacional que levava a agricultura a adaptar como técnica uma espécie de lavoura do solo, envolvendo no geral seis a oito pessoas que trabalhando lado a lado e usando instrumentos incipientes como ferramentas para o trabalho do solo. Este último tipo de agricultura só era feito, como se disse, devido a uma maior pressão humana (147: 121) (123). Já Thomaz adoptava outra nomenclatura para a caracterização da agricultura timorense tradicional: a agricultura sobre queimada (também designada por ladang), extensiva, quase itinerante, com longos pousios (que podem atingir dez anos ou mais), sempre em regime de sequeiro e a cultura de arroz em várzeas irrigadas (o sawah malaio), feita de forma fixa e intensiva (156: 396). A estas duas formas tradicionais de agricultura, havia que juntar a agricultura das grandes plantações de origem europeia, que predominava nas zonas cafeícolas. (156: 397). Quadro 0-II: Mapa de uso de solo, 1963 Tipo de uso Área estimada Percentagem em relação (km 2 ) ao total Terrenos agricultáveis 1266 6,7 Zona de matos e de cafeicultura 378 2,0 Área florestal 15.478 81,9 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 51

Mangal 6 0,03 Floresta primária 265 1,4 Floresta secundária 15.207 80,5 Zona pastagem natural 378 2 Área não agricultável 1399 7,4 Total 18.899 100 Fonte: Adaptado a partir de (73: 446) Do ponto de vista agrícola, a ex-província de Timor era dividida em 3 regiões (99: 63-64) (104: 1-8) (110: 93) (73): O Norte e o Leste, onde pontuavam manchas de floresta pouco densa; A região montanhosa central, com encostas escarpadas, divididas por afloramentos rochosos e floresta esparsa ocasional; Os planaltos da secção central da costa Sul; A primeira região estende-se desde o litoral Norte até à cota de 600 metros. É uma zona pouco plana, com temperaturas médias anuais geralmente superiores a 24º C, de fraca precipitação 55, com um período seco bastante pronunciado (cinco meses). Pode ser classificada como a menos apropriada para a agricultura, se exceptuarmos o arroz, que pode ser produzido nas zonas adjacentes ao leito dos rios principais da zona Norte. Com irrigação adequada, estas terras podiam produzir, arroz, açúcar e provavelmente algodão (99: 63). A segunda região está compreendida entre o Norte e o Sul, acima das cotas de 600 metros, com uma temperatura média anual do ar inferior a 24º C, com elevada precipitação 56 e com um período seco de quatro meses. É uma zona bastante montanhosa, de gargantas tortuosas, com encostas medianamente cobertas de vegetação e onde se podem encontrar dispersas algumas manchas contínuas de floresta. Existe, por exemplo, um grande número de exemplares de madres del café (Albizzia spp.), visto ser muito usada como árvore de ensombramento para o café. (99:63) 55 Valor médio anual de precipitação compreendido entre os 600 e os 1500 mm. 56 Valor médio anual da precipitação compreendido entre os 1500 e 2500 mm. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 52

Na vizinhança de Ermera, cerne desta zona, existem solos com razoável aptidão agrícola. Estes eram adequados para o café, cacau e borracha 57 (Hevea brasiliensis L.). A flora nesta zona é mais rica que noutros locais, fruto da maior abundância de água que rega esta zona (99:63). Nesta região, ocorre, entre outras culturas alimentares, o cultivo de milho, com produções que dificilmente se consideravam sufícientes para as necessidades das populações locais (99:64). A terceira região estende-se desde o litoral sul até à cota de 600 metros, com planícies de grande extensão, expostas à monção australiana, muito chuvosa 58, com um período seco de três meses e temperaturas médias anuais superiores a 24º C. A vegetação das encostas e das planícies é mais abundante e variada, sendo que a zona das planícies situada entre a base da zona montanhosa e o mar é na generalidade moderadamente florestada, contendo poucas espécies florestais de valor económico, mas com extensas zonas de pasto e com terrenos com maior grau de fertilidade. A zona é considerada como tendo grande parte das terras adaptáveis para o desenvolvimento agrícola do território, sendo apelidada de celeiro de Timor (99: 64). Esta variedade de climas e de orografia permitia a Timor poder produzir uma grande gama de culturas agrícolas, que nunca foram sufientemente exploradas considerando-se que necessitava este sector de um tratamento de choque princípalmente nos aproveitamentos de regadio tradicionais já existentes (156: 387) (155:26). 57 Como à frente veremos, muitos destes terrenos, de boa qualidade, foram detidos por duas das empresas privadas mais importantes de Timor: a SAPT e a Companhia de Timor (99: 64) enquanto as encostas e os vales mais favoráveis eram utilizados pelos nativos para as suas pequenas plantações de café, não execedendo 1 a 2 hectares de dimensão. 58 Valor médio anual de precipitação geralmente superior a 1 500 mm DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 53

2.1.1.2 Sector Pecuário No caso específico da produção pecuária observou-se sempre, no decorrer do século XX, a existência de quantidades apreciáveis de efectivos, sendo que a grande maioria dos mesmos sempre esteve nas mãos da população timorense que lhes atribuia basicamente funções de acumulação de riqueza. Genericamente, pode afirmar-se que não existia exploração pecuária (181: 58). No pós-guerra, o gado existente era essencialmente bovino (pertencia 99% do total à raça balinesa Bibas bauteng Raffl 59 (= sondaicus Mull)), bufalino (representava o maior agrupamento do conjunto pecuário timorense, sendo inclusivamente utilizado para a lavoura nas várzeas de arroz, devido à sua rusticidade e potência), cavalar, caprino, ovino, suíno, e aves de capoeira. Todo este gado era genericamente criado num sistema livre (regime aberto de pastagem, por vezes, quase selvagem) sem controlo na grande maioria do tempo, sendo frequente encontrar os animais em mau estado sanitário. Aos olhos de sistemas mais produtivos era, sobretudo, uma riqueza imobilizada e de baixo rendimento económico (39: 56-66) (41: 70 71; 85) (56: 47-48) (69) (117: 16-162) (147: 140; 277). O armentio foi genericamente crescendo ao longo do século XX, somente com inversões notórias no período da 2ª Grande Guerra mundial, em que sofreu um decréscimo de quase 50%. Em 1950, numa tentativa de inverter a tendência até então registada, iníciou-se um programa de melhoramento animal, tendo parte do gado ficado entregue aos serviços oficiais e outra parte entregue a colonos. Importaram-se reprodutores (essencialmente bovinos e ovinos) de Angola, Moçambique e de Portugal continental. Especial referência a um núcleo de ovelhas importadas da Austrália e 3 exemplares da raça ovina Merino da Fonte Boa, com os quais se estabeleceu a tentativa de criação de ovinos na colónia com acentuada vocação langífera. De Moçambique, foi importado o gado bovino (a raça característica da zona a Sul do Rio Save), considerado de características superiores ao utilizado pelos 59 Conhecida também por raça fundilhos brancos DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 54

timorenses. Parte significativa destes animais foi entregue a colonos: há registo da entrega de 150 animais (de gado bovino, bufalino, caprino, ovino e suíno) a colonos, e de 47 animais de gado bovino a agricultores timorenses (56: 47). 2.1.1.3 Sector Florestal À excepção das várzeas do Norte e Sul do território, onde a agricultura é recomendável, todo o território de Timor apresenta características eminentemente florestais, facto que deveria ser levado em conta na assumpção de qualquer plano ligado à exploração agroflorestal do território. Timor revelou-se pela colheita de produtos florestais, entre os quais o próprio café deve ser incluido. (110: 2-5) Em tempos passados, Timor terá estado coberto de floresta primária 60, quase na íntegra, estando esta reduzida, nos anos pós-guerra, a pouco mais de 1% da área total do território, ocupando a floresta secundária 61 (a que se adicionam áreas de savanas e pastagens) 99% do total da área florestal% (101: 8). A destruição da floresta primária conduziu a um grande aumento da floresta secundária e a formas de ecossistemas do tipo savana. A defesa da floresta primária de Timor revelava-se, portanto, como uma das mais urgentes necessidades, calculando-se que a sua área, nos anos 60, rondasse apenas cerca de 21.000 ha 62. A defesa das relíquias deste tipo de floresta, ainda existentes, era a primeira prioridade, antes mesmo de se promover o reflorestamento do território (110: 89). O desaparecimento do coberto florestal derivou, essencialmente, de um longo processo de desflorestação, de práticas agrícolas erradas e de processos erosivos acelerados (43: 60 Floresta não alterada pela acção do Homem não tendo sido, por exemplo, objecto de qualquer exploração. 61 Floresta já alterada pela acção do Homem. Por exemplo, tendo sofrido cortes de exploração ou a alteração da sua composição inicial. 62 Aplicando a percentagem referida na Tabela 2 ao total da área, apuramos um valor de cerca de 265 Km 2 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 55

157). Entre as práticas agrícolas erradas destaca-se a agricultura itinerante, associada ao fogo, à criação de gado e também aos cortes florestais. Relativamente a estes, pode afirmar-se que a exploração florestal existente na ilha era desregrada e deixada à iniciativa particular (43: 157-158) (156: 397). A exploração florestal característica de Timor mesmo no pós-guerra, limitava-se ao imediatismo do corte e do possível lucro inerente, sem haver uma lógica de longo prazo e de sustentabilidade da exploração. As principais medidas de protecção florestal que foram efectuadas no decorrer do século XX, antes da ocupação japonesa, resumiam-se às efectuadas nas matas do Loré 63 e de Tilomar, pelo facto de nelas existirem riqueza e diversidade florestal. Em 1924, o governo provincial assumiu a posse desses terrenos como propriedade do Estado, decretando-os como reserva. Pretendia-se estabelecer uma gestão destas áreas que permitisse controlar a exploração e a regeneração das espécies, longe no entanto, de qualquer orientação técnica adequada (44: 41) (47: 13-15). Aparenta, no entanto, que esta atitude foi tomada, na sua essência, como uma medida que permitiu ao governo o controle e a obtenção de dividendos da exploração de áreas de um sector potencialmente produtivo que, na prática, nunca esteve nas suas mãos. Esta presunção ganha força a partir da análise dos fundamentos para o estabelecimento do Posto Silvícola do Loré (na mesma época da criação da reserva), que foi criado devido à falta de madeira na cidade de Díli, causada pelo esgotamento das manchas florestais de Manufai (Bétano), sendo que in loco estava associado a uma pequena unidade que permitia uma primeira transformação do material lenhoso (44: 41) (47: 15). No início da década de 50, a madeira com valor comercial estava confinada às reservas da Mata do Loré e de Tilomar, havendo registo de embarques periódicos para Díli ou Baucau, no caso da primeira, onde era utilizada preferencialmente para construção governamental e, em segundo plano, para a venda a privados. Em termos de exploração florestal, registe-se ainda, na sequência do raciocínio desenvolvido anteriormente, que em Tilomar e no enclave do Oécusse, em 1966 e 1967, 63 Toda a faixa do extremo leste de Timor que, desde a ponta de Tetuala, se alonga pelos contrafortes do litoral até proximidades de Lautém por Norte e Iliomar pelo Sul DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 56

foram feitos desbastes no arvoredo de sândalo (Santalum album L.) existente, num total de madeira superior a 50 toneladas e com um rendimento superior a 500 contos (99: 68) (124. 118). Nos anos que se seguiram à guerra, o governo provincial procurou fomentar o desenvolvimento das plantações de coqueiro, procurando aproveitar para esta cultura as grandes extensões de terreno da orla marítima adequadas para este objectivo. Assim, a Sociedade Agrícola de Fomento estava a proceder à plantação de coqueiros em Viqueque, onde já tinha plantadas cerca de 12.000 plantas (em 1953) e que devia atingir as 50.000, em finais de 1957. A Sociedade Belo Horizonte (em Lospalos) e a Empresa Agrícola Algarve, na sua fazenda Esperança (Bazar-Tete), também estavam a plantar palmares, nos finais dos anos 50. (173 7) (185) (187: 79). No entanto, considerava-se que os coqueirais não eram correctamente conduzidos. Em regra, o proprietário limitava-se a deixar crescer os coqueiros e depois colher os frutos. O aspecto que apresentavam era, por isso, de abandono. (181: 58 e 70-71) Acrescente-se que, em meados da década de 50, a Sociedade Agrícola de Fomento era a única entidade que se dedicava, em Timor, à agricultura mecanizada para o que dispunha de maquinaria moderna. Para além da plantação de coqueiros, esta empresa cultivava arroz e milho (173: 7) (176: 4-6) (184) (185) (186) A Hevea brasiliensis foi introduzida na 1ª década do século XX, pela mão da SAPT que importou as sementes da ex-colónia inglesa dos Estados Malaios e que deram origem à plantação de Oileu (Hato-Lia) (46: 38) (51) (57: 12-13) (132: 132) (136: 16). O desenvolvimento da produção de borracha foi lento, como à frente veremos e praticamente assente no sistema de grandes plantações, não tendo nunca assumido a importância potencial que a ela se atribuia. Apesar da riqueza potencial da floresta de Timor e destas iniciativas de carácter mais ou menos despegado, no decurso da década de 50, não se efectuaram iniciativas de fundo para o fomento que dessem, por exemplo, um novo impulso ao sândalo, apesar de referido amiúde, como necessitando de fomento e rejuvenescimento (174: 5-12) (252: 21). DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 57

2.1.1.4 Sector industrial a jusante da Agricultura No início do século XX, o panorama da indústria a jusante do sector agro-pecuário era quase nulo, apesar de se afirmar a existência de condições de viabilidade para algumas unidades transformadoras, por exemplo, ao nível da pecuária (39: 60). No âmbito deste sector, no início dos anos 20, existiam unidades artesanais que trabalhavam o café, o cacau, a cera, numa perspectiva de conservação dos produtos agrícolas, bem como a serração de madeiras, sendo que a madeira serrada era para consumo interno, princípalmente por parte do governo provincial (58: 6 e 35-36). No tempo do governador Filomeno da Câmara, após a implantação da Républica, foram adquiridos mecanismos para descasque do café e de arroz, fabrico de gelo, datando daí, os primeiros passos no sentido do desenvolvimento de um sector agro-industrial no território. Por essa época, o Estado financiou a construção de uma serração de madeira em Loré e, em 1923, é tentada em Díli, sem resultado prático, a farinação de trigo e milho. (220: 31) Entretanto, a SAPT procede, também em Díli, à montagem de instalações para beneficiação dos seus produtos agrícolas, tendo também construído, nas suas plantações de borracha, uma fábrica para transformação de látex, a que posteriormente se juntou outra em Hatolia. Em Maubara, Liquiçá e Aileu, pouco tempo decorrido, surgem novas instalações de beneficiação de café, descasque de arroz e preparação de madeira, iniciando-se em 1924, o fabrico de sabões com o óleo de coco local. Estes esforços foram, no entanto, parados ou destruídos pelo eclodir do conflito da 2ª Grande Guerra em Timor. (220: 31) Uma apreciação oficial australiana sobre o recenseamento populacional, relativo ao ano de 1948 e considerado não muito preciso, sugere que, embora não houvesse estatísticas sobre a divisão profissional no território, cerca de 10.000 timorenses prestavam serviços para a Administração e que 2700 trabalhavam para pequenas indústrias, como a produção de óleos vegetais e tratamento de sisal, na pesca e secagem de peixe ou em DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 58

empresas como uma fábrica de sabão, seis cerâmicas e fábricas de tijolo, em serrações, numa carpintaria mecânica, em tecelagens indígenas ou na indústria do artesanato. Cerca de 2000 ou 3000 trabalhavam para a SAPT, quer nas plantações quer nas unidades de processamento de café, cacau e borracha. Para além da SAPT, cerca de oito outras plantações, empregavam cerca de 1000 timorenses (237: 274). A partir dos anos 50, apareceram ou são reactivadas unidades de descasque de arroz, de preparação de café e de preparação de látex (associadas às grandes plantações) (104: 11) (113: 10) (124: 127-128) (126: 94). Em termos globais, a prática que se verificava ao nível do processamento de produtos agrícolas, situava-se basicamente numa perspectiva de aplicação de tecnologias póscolheita, que pretendiam assegurar a qualidade do produto agrícola, evitando a deterioração dos mesmos. Aplicavam-se, assim, técnicas pós-colheita com um nível de elaboração à altura do (baixo) desenvolvimento tecnológico existente em Timor, à maior parte dos produtos agrícolas de subsistência e também ao café (250) (251). A indústria timorense era, globalmente, um sector muito restrito e sub-desenvolvido onde pontuava a ausência de capitais e de técnica. Em Baucau e Díli, existiam duas pequenas instalações para extracção de óleo, a partir da copra. Pequenas fábricas de sabão satisfaziam o mercado interno que, no que se refere a uma das fábricas, era considerada como tendo qualidade e apresentação. Refere-se ainda a existência de duas modestas unidades que fabricavam referigerantes. Em Óssu-Viqueque, fabricava-se manteiga e queijo de boa qualidade, mas em quantidade que não satisfazia as necessidades internas. Havia ainda cinco empresas de serração. (187: 80). Nos anos 60, dá-se o aparecimento de unidades de produção de cigarros e álcoois (104: 11) (113: 10) (124: 127-128) (126: 94). 2.1.2 O aparecimento e desenvolvimento das culturas agrícolas de exportação Após o declínio das exportações de sândalo no final do século XIX, o café assume primeiro plano das exportações timorenses. Só após 1860 é que o café 64 se torna uma 64 Na altura existia somente a variedade Arábica DISSERTAÇÃO DE MESTRADO 59