REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE ORGÂNICO NA PROPRIEDADE RURAL. Carla Cristina Pereira de Castro 1, Gilberto Aparecido Rodrigues 2, Juliana Marta Quimello 3, Margarete Ferreira Lopes 3, Ubajara Cesare Mozart Proença 4 1 Graduanda em Agronegócio, Fatec-Tq,cacacristinacastro@hotmail.com 2 Docente Curso de Agronegócio, Fatec-Tq,gilberto.rodrigues@fatectq.edu.br 3 Tecnóloga em Agronegócio, Fatec-Tq,julianaquimello@gmail.com 3 Tecnóloga em Agronegócio, Fatec-Tq, margareteferreiralopes@gmail.com 4 Mestrando do Curso de Pós-Graduação em Agronomia, UNESP, Jaboticabal, SP, ubajaracesare@yahoo.com.br Temática 2. Agropecuária, Meio-Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. RESUMO O Brasil é hoje um dos maiores produtores de produtos orgânicos, e a produção de leite orgânico e seus derivados tem crescido significamente no pais. O objetivo deste trabalho é fazer reflexão a produção de leite orgânico através de revisão bibliográfica. As maiores dificuldades no sistema orgânico (SO) é o desconhecimento das instruções normativas e falta de certificação de produtores. A Lei n 10.831, de 2003, a instrução normativa(in) nº 46, de 2011, a IN nº 17, de 2014, e a implementação do Sisorg, em 1 de janeiro de 2011, são instrumentos regulatórios imprescindíveis ao avanço pleno do SO de produção. PALAVRAS-CHAVE: sistema de produção orgânico, sustentabilidade da produção, normativas. ABSTRACT Brazil is now one of the largest producers of organic products, and the production of organic milk and dairy products has grown significantly in the country. The aim of this study was to reflections of organic milk production through literature review. The greatest difficulties in the organic system (OS) is the lack of normative instructions and lack of producer certification. Law No. 10,831, 2003, the Normative Instruction (IN) No. 46, 2011, IN No 17 of 2014 and the implementation of Sisorg, of 1 January 2011, are regulatory instruments essential to full advance SO production. Keywords: organic production systems. Sustainable production. Regulations. INTRODUÇÃO De acordo com o Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA,2011; MAPA,2014), alimentos orgânicos são caracterizados por serem produzidos em um sistema de produção orgânica, onde a base do processo produtivo é regida pelos os princípios agroecológicos (DIDONET et al., 2006; GOMES; ASSIS, 2013) que contemplam o uso do solo, da água, do ar, e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais,
e somente pode ser entendida na sua plenitude quando relacionada diretamente ao conceito de sustentabilidade e justiça social. A produção de leite é hoje uma das atividades do agronegócio que está em constante crescimento no Brasil, e grandes pesquisas e aperfeiçoamento nos modos de produção (MAIA et al., 2013). Segundo Marchiori (2006), a produção de leite orgânico é reconhecida pela população pelas suas características organolépticas, químicas e pelo seu alto valor nutricional. De acordo Santos; Silva (2010), a dificuldade está em produzir em grande escala, uma vez que a população mundial pode chegar a 9,1 bilhões da população em 2050. O Brasil foi, em 2010, o quinto maior produtor de leite do mundo (GOMES; ASSIS, 2013). Honorato et al.(2014), relatam em experiências com produtores familiares, e verificara que um dos maiores entraves na percepção dos produtores orgânicos reside na falta de reconhecimento econômico pelo mercado e de assistência técnica bem fundamentada sobre o assunto. O uso Práticas de gestão da qualidade na higiene do rebanho, da ordenha e estocagem do leite, além de pode fazer uso de técnicas como a homeopatia, a acupuntura e a fitoterapia (GALDINO; DOMINGUES; LAPENNA, 2012) colaboram para a qualidade do produto final. MATERIAL E MÉTODOS A metodologia utilizada neste estudo é a revisão bibliográfica com base em consulta em artigos, periódicos, livros, teses e dissertações. O objetivo desse trabalho foi fazer reflexões sobre o sistema de produção de leite orgânico em propriedades rurais. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A Lei nº10.831, de 23 de Dezembro de 2003, diz que alimento orgânico deve ser um produto saudável, isento de contaminantes intencionais, seja ele in natura ou processado, obtido em sistema orgânico de produção agropecuário, ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local. O Brasil encontra-se entre os maiores produtores de orgânicos do mundo. Segundo dados do Censo Agropecuário 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 4,93 milhões de hectares de área destinada ao cultivo de produtos orgânicos. Já no ano 2012 havia cerca de 5,5 mil produtores passando por um elevado crescimento no ano seguinte (2013), indo para 6.719, colocando o Brasil como um dos maiores produtores de orgânico (MAPA, 2014). Segundo Alves (2006), a produção de leite orgânico vem aumentando gradativamente, garantindo maior demanda por produtos diferenciados e também contribuindo com o aumento de empregos nessa área. Solomon (2002, p. 29) define que um dos principais motivos do consumidor adquirir determinados produtos reside não em que eles fazem, mas sim pelo que eles significam. Importa a necessidade de se estabelecer a relação entre as qualidade, benefícios e os resultados relacionados aos valores que estes produtos ou o seu consumo trazem para os consumidores. Nos estudos de Galdino; Domingues; Lapenna, (2012), fica bem evidenciado a preocupação com a questão sanitária dos animais e do produto final, para atender as normas de qualidade e higiene de leite, e com
o uso de medicamentos fitoterápicos ou homeopáticos, fica garantido o controle sobre as eventuais enfermidades do rebanho e o produto final fica isento de resíduos. Em um de seus trabalhos sobre antimicrobianos em leite, Martin (2011) descreve o leite orgânico com sendo diferente em sua composição química quando comparado ao leite produzido pela produção convencional. Para iniciar uma criação do sistema orgânico é indispensável para os produtores de leite tornarem-se conscientes de que o eixo principal do desenvolvimento de uma economia é o planejamento, organização e ganho de escala de produção. Na produção de leite orgânico, geralmente são criados por pequenos produtores rurais (ALTIERI, 2001; LOPES, MARCELLINO & RODRIGUES, 2015). O animal deve apresentar rusticidade, serem produtivos e resistentes às doenças, favorecendo assim a sanidade e a segurança do leite, de modo que sejam tolerantes a doenças e parasitas (GALDINO; DOMINGUES; LAPENNA, 2012). Na Lei n 10.831, de 23 de Dezembro de 2003, estão prescritas detalhadamente as normas para o sistema orgânico de produção agropecuária, e todo aquele em que se adotam técnicas específicas, deixando claro a finalidade da produção orgânica, na qual deve ser ambientalmente sustentável, contemplando todos tipos de ecossistemas. Um pouco mais adiante, a instrução normativa nº 46, de 6 de outubro de 2011, define claramente elementos que fazem parte do sistema orgânico, ou seja, insumos que incrementam a atividade animal ou vegetal, além de aspectos de conformidade de produção. A Instrução normativa nº 17, de 18 de junho de 2014, dentre outros aspectos, faz ressalvas importantes sobre a implementação e dos Planos de Manejo Orgânico, os Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC) ou Organização de Controle Social(OCS). Para que os agropecuários devem seguir para a obtenção do selo e comercialização (MAPA, 2011). De acordo com o Ministério da Agricultura, o produtor orgânico deve fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. De acordo com as orientações técnicas do MAPA (2014), existem três tipos de certificados: Certificação por Auditoria, a obtenção do selo Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica (SisOrg) é feita por uma certificadora privada ou pública, credenciada no Ministério da Agricultura, que obedece a critérios reconhecidos internacionalmente. O Sistema Participativo de Garantia, que se define pela responsabilidade coletiva dos membros que podem ser técnicos, produtores ou mesmos consumidores do produto. É necessário possuir um Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade (OPAC), que responderá pela emissão do SisOrg e por último têm o Controle Social na Venda Direta, onde a legislação brasileira abre exceção, na obrigação de certificação dos produtos orgânicos para os produtores da agricultura familiar, exigindo apenas o credenciamento numa organização de controle social, que seja cadastrado em órgão fiscalizador oficial, para que os mesmos façam parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. Todo certificado tem prazo válido por 12 meses, tendo que ser renovado antes desse prazo se encerrar. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando os relatos de Alves (2006), uma vez que a produção de leite orgânico vem sendo estimulada, promovida provavelmente por uma maior demanda por produtos mais seguros, logicamente todos os atores da cadeia de produção se beneficiam em diversos aspectos, e a certificação é uma alternativa para a diferenciação num mercado competitivo. Desse modo, a certificação de produtos orgânicos é uma prática que acaba por estimular de um lado e ao mesmo tempo limita produtores que não possuem o selo de produto certificado (BARBOSA; BARBOSA FILHO, 2008), com isso a certificação passa a representar um aumento no custo final do produto. A certificação é então uma ferramenta para os produtores passarem uma segurança para os consumidores (ALVES, 2006). As Instruções normativas citadas neste texto e a efetiva implementação do Sistema
Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica, são instrumentos regulatórios cruciais para normatizar a atividade orgânica de produção no Brasil. CONCLUSÃO A produção de leite orgânico ainda é escassa no Brasil, não possuindo grande importância na cadeia produtiva leiteira, no que se refere ao volume ofertado, por se tratar de uma produção feita em sua maioria por produtores familiares. As grandes dificuldades nesse sistema orgânico é a falta de conhecimento em alguns aspectos básicos nas instruções normativas técnicas, e a falta de certificação de muitos produtores juntamente com a dificuldade de conversão do sistema convencional para o sistema orgânico. A Lei n 10.831, de 23 de Dezembro de 2003, a instrução normativa nº 46, de 6 de outubro de 2011, a Instrução normativa nº 17, de 18 de junho de 2014, e a implementação do Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica, em 1 de janeiro de 2011, são instrumentos regulatórios importantíssimos para o avanço pleno da atividade orgânica de produção no Brasil. REFERÊNCIAS ALTIERI, M. Agroecologia. A dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 3.ed.(S.l.}:Editora da Universidade. Universidade Federal do Rio Grande do Sul,2001. 110 p. ALVES, A. A. Analise de Desempenho econômico da produção orgânica de leite em uma propriedade no Distrito Federal. 2006. 60 p. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Minas Gerais UFMG- EV, Belo Horizonte, 2006. BARBOSA, L. C. B. G.; BARBOSA FILHO, A. C. G. Comercialização agropecuária e desenvolvimento local sustentável: a agricultura orgânica como um instrumento indutor de inserção internacional. 2008. In: IV ENCONTRO NACIONAL DA ANPPAS. Brasília DF. Anais... Brasília, Disponível em: <http://www.anppas.org.br/encontro4/cd/arquivos/gt1-8-22-20080510044350.pdf> Acesso em: 13 ago 2016. DIDONET et al. Marco referencial em agroecologia. Embrapa Agrobiologia: Seropédica, RJ, 2006.31p.Disponível em : http://wp.ufpel.edu.br/consagro/files/2010/10/embrapa-marco-referencial- Agroecologia.pdf. Acesso em: 18-08-2016. GALDINO MC, DOMINGUES PF, LAPENNA BS. A produção de leite orgânico e aspectos de segurança alimentar. Vet. e Zootec. 2012 dez.; 19(4): 490-501. GOMES, J. C. C.; ASSIS, W. S.de. Agroecologia: princípios e reflexões conceituais. Brasília, DF : Embrapa, 2013. 245 p. (Coleção Transição Agroecológica; 1). LOPES, M. F.; MARCELLINO, E. R.; RODRIGUES, G. A. A agricultura familiar e a produção de leite orgânico. In: III Mostra Científica, Programa de Educação Tutorial, Pet Zootecnia, Unesp, Jaboticabal, SP, 2015. (Trabalho de Graduação).
MAIA, G. B. de S.; PINTO, A. de R.; TAKAOKA, C. Y.; ROITMAN, M. F. B.; LYRA, D. D. Produção leiteira no Brasil. Agropecuária BNDES Setorial, 37, p. 371-398, 2013. MAPA MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO GABINETE DO MINISTRO INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 46, DE 6 DE OUTUBRO DE 2011. Disponível em :< http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/desenvolvimento_sustentavel/organicos/legislacao/na cional/instrucao_normativa_n_0_046_de_06-10-2011_regulada_pela_in_17.pdf>. Acesso em: 19-08- 2016. MAPA. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 17, DE 18 DE JUNHO DE 2014. Regulamento Técnico para os Sistemas Orgânicos de Produção, substâncias e práticas permitidas para uso nos Sistemas Orgânicos de Produção. Disponível em : < http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/in-17.pdf>. Acesso em: 19-80- 2016. MARCHIORI, J. M. G. Qualidade nutricional dos queijos mussarela orgânico e convencional elaborados com leite de búfala e de vaca. 2006. 56 p. Dissertação (Mestre em Alimentos e Nutrição) Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Araraquara, 2006. MARTIN, J.G.P. Resíduos de Antimicrobianos em leite Uma Revisão. Segurança Alimentar e Nutricional, Campinas, 18(2), p. 80-87, 2011. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). 2013. Lei N 10.831, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2003. Disponível em <http://www.agricultura.gov.br/arq_editor/file/desenvolvimento_sustentavel/organicos /Legislacao/Nacional/Lei_n_010_831_de_23-12-2003.pdf> Acesso em: 15 ago 2016. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Alimentos Orgânicos. 2015. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos/o-que-eagricultura-organica> Acesso em: 16 ago 2016. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Aumenta número de produtores de orgânicos no Brasil. 2014b. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/comunicacao/noticias/2014/02/aumenta-numero-de-produtores-deorganicos-no-brasil> Acesso em: 15 ago 2016. SANTOS, M. C. A; SILVA, T. Avaliação do Mercado de Frutas e hortaliças embaladas, minimamente processadas, orgânicas e desidratadas na capital de minas gerais. Estudo técnico realizado pela CEASAMINAS Unidade Grande BH. 113 p. 2010. SOLOMON, M. R. O comportamento do consumidor: comprando, possuindo e sendo. 5ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2002, 446 p.