DESAFIOS E POSSIBILIDADES DA EXTENSÃO NA BUSCA PELA EMANCIPAÇÃO E AUTONOMIA DA COMUNIDADE SÃO PEDRO Área Temática: Saúde Nome do Responsável: Tatiana Reidel Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Nome dos Autores: Tatiana Reidel 1 Mariana Motta Vivian 2 : Anely Marmitt 3 RESUMO Este artigo versa sobre um relato de experiência no projeto de extensão Emancipação e Autonomia: despertar da comunidade São Pedro vinculado ao Programa de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Apresenta-se introdutoriamente a comunidade onde se desenvolve o Projeto que tem como objetivo principal: contribuir no processo de emancipação e autonomia dos moradores da comunidade São Pedro através de intervenções que envolvam estudantes e docentes de diferentes áreas e profissionais, políticas e setores. A metodologia adotada estrategicamente é a de mobilização social, através do desenvolvimento de ações que se utilizam de mecanismos de escuta, troca, reflexão coletiva, articulação, mediação e encaminhamentos que resultam na aproximação da comunidade com as políticas públicas. Ainda como resultados destacam-se: desvendamento desta comunidade invisibilizada, identificação de demandas, criação de estratégias de encaminhamentos, realização de grupo de mulheres, elaboração e execução de projeto sócio-ambiental, articulação com diferentes projetos, serviços e políticas, busca pela democratização de informações e fortalecimento destes sujeitos. Destaca-se a relevante contribuição no despertar de uma conscientização crítica na comunidade, na busca pela efetivação direitos, no despertar das políticas públicas frente ao desamparo e invisibilização da mesma, no despertar da equipe e do segmento acadêmico para a realidade de exclusão e estigmatização que se coloca a determinada camada da sociedade e à necessária interlocução entre ensino-pesquisa e extensão. PALAVRAS-CHAVE Extensão mobilização comunidade INTRODUÇÃO O presente artigo versa sobre a vivência da extensão universitária por meio de um relato de experiência no projeto de extensão Emancipação e autonomia: despertar da 1 Tatiana Reidel: Assistente Social, professora, pesquisadora do Curso de Serviço Social e coordenadora do Projeto de Extensão Emancipação e Autonomia: despertar da comunidade São Pedro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Doutora em Serviço Social pela PUC-RS. E-mail: tatynhar@terra.com.br. 2 Mariana Motta Vivian: Acadêmica do Curso de Ciências Jurídicas e Sociais e extensionista/bolsista do Projeto de Extensão Emancipação e Autonomia: despertar da comunidade São Pedro da UFRGS. E-mail: marianavivian@live.com. 3 Anely Marmitt: Acadêmica do Curso de Serviço Social, extensionista/bolsista do Projeto de Extensão: Emancipação e Autonomia: despertar da comunidade São Pedro da UFRGS. E-mail: anely1992@hotmail.com 1
comunidade São Pedro, que está articulado a um conjunto de projetos ligados ao Programa de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades. Este Programa tem por objetivo geral contribuir para aumentar a produção/mobilização/comunicação/circulação da informação sobre determinantes físicos, biopsicossociais e econômico-culturais das desigualdades nas cidades, dentro da UFRGS e com outras instituições públicas e privadas, locais e globais, interessadas em promover o desenvolvimento urbano sustentável e equitativo, requisito para a Promoção da Saúde da população (ROSA, 2014). O Projeto de extensão realiza suas atividades desde 2012, na comunidade São Pedro 4, é coordenado por uma professora do curso de Serviço Social e conta com estudantes bolsistas dos cursos de Direito, Serviço Social, Engenharia Ambiental e outros. Pertencente ao bairro Partenon 5 -POA, luta há mais de 30 anos pela legalização das terras, obtendo em 2010 a Concessão de Uso Especial para fins de Moradia, mas ainda falta a regularização fundiária completa, o que contemplaria a urbanização da São Pedro 6. Sendo assim, esta comunidade continua em condições de saneamento deficientes, moradias precárias, falta de iluminação e pavimentação adequadas, número expressivo de animais, tais como cachorros e cavalos transitando pelas ruas, dentre outros condicionantes que interferem nas condições de saúde 7 desta comunidade. Com um contingente expressivo de moradores 8 manifesta inúmeras e diferentes demandas como a pobreza, contexto de opressão, invisibilidade, falta de acesso a políticas públicas e a garantia de direitos sociais, dificuldade de mobilização e participação, diferentes expressões de violência, entre outras. Considerando este contexto, iniciou-se o Projeto de Extensão Emancipação e Autonomia: despertar da comunidade São Pedro, que tem como objetivos contribuir no processo de emancipação e autonomia dos moradores desta comunidade, através de 4 A aproximação com esta comunidade se deu através do Projeto de extensão da UFRGS que já trabalhava nesta comunidade, que se chama Casa dos Cata-Ventos, atendendo a infância, com ênfase no brincar e na literatura infantil desenvolvido em parceria com Instituto APPOA de Porto Alegre. 5 O bairro possui 45.768, representando 3,24% da população do município de Porto Alegre. Com área de 6,25 km², sua densidade demográfica é de 7.589 habitante/km². Representa 1,31% da área da cidade (IBGE, 2010). 6 Esta comunidade é conhecida popularmente como Cachorro Sentado, uma denominação pejorativa que traz consigo o estigma social vivenciado pelos moradores deste território. 7 No ano de 2013 identificou-se que o Partenon é o bairro de Porto Alegre com maior número de casos autóctones de dengue, com 23 pessoas infectadas, de um total de 44 na cidade. No segundo boletim divulgado pela Coordenadoria-Geral de Vigilância em Saúde (CGVS), da Secretaria Municipal de Saúde são 65 casos autóctones no bairro Partenon de 131 casos em total na capital. 8 São 151 domicílios envolvendo em média 275 famílias que ali residem. 2
intervenções que envolvam estudantes e docentes de diferentes áreas e profissionais de diferentes políticas e setores. Além disso, buscam-se dar visibilidade as potencialidades desta comunidade; contribuir para a discussão, reflexão e materialização dos Direitos Humanos; criar e fortalecer canais de comunicação entre os moradores com vistas à socialização de informações; contribuir para criação de espaços de troca, reflexão e encaminhamentos coletivos; promover encontros e articulações da rede de serviços das diferentes políticas públicas com vistas a contribuir para o acesso e garantia de direitos; desenvolver ações que permitam reflexões e discussões sobre gênero feminino, sua identidade e representação social com vistas a contribuir no processo de fortalecimento das mulheres moradoras desta comunidade e possibilitar aprendizagens e vivências que impactem na formação dos estudantes e professores envolvidos. MATERIAL E METODOLOGIA As estratégias interventivas do projeto utilizam-se de mecanismos de escuta, troca, reflexão coletiva, articulação e mediação na aproximação da comunidade com as políticas públicas, visibilidade das violações que sofrem, entre outros. Desenvolve suas ações na perspectiva de mobilização social que pressupõem (...) contribuir para o fortalecimento de processos emancipatórios, nos quais há a formação de uma consciência crítica dos sujeitos frente à apreensão e a vivência da realidade, sendo ela, também facilitadora de processos democráticos, garantidores de Direitos e de relações horizontais entre profissionais e usuários, ao mesmo tempo em que projeta a sua emancipação e a transformação social (LIMA, 2006, p.137). Considerando que as questões socioambientais relacionadas à saúde urbana se mostraram emergentes nesse período 9, realizaram-se ações socioambientais que partiram de uma perspectiva de sensibilização dos moradores através da promoção de espaços de troca de conhecimento, experiências e informações acerca dos manejos e impactos de resíduos sólidos do local, objetivando minimizar os focos de doenças provenientes do saneamento precário do local com ações educativas. Além disso, buscou articular e fortalecer a relação das políticas públicas de atendimento socioambiental da Região Partenon e de Porto Alegre junto à 9 Saneamento extremamente precário, a contaminação da água e do solo pelos resíduos deixados no chão e espalhados pelos animais da comunidade, a acumulação de escombros e materiais de grande porte inutilizados, a problemática do sistema de coleta dos lixos. 3
comunidade, a fim de articular e aproximar os agentes públicos desta população tão invisibilizada. Seu objetivo norteador foi a melhoria da qualidade de vida dessa população. Foram realizadas idas à comunidade para a escuta e o diálogo com os moradores acerca destas problemáticas; realização de reuniões com o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU); elaboração de material informativo; reuniões com a subprefeitura da região Partenon de Porto Alegre (CAR-Partenon), interlocução com representantes do Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável (MNCR) para compreensão das alternativas viáveis frente à imposição da Lei nº 3581/08 10 em Porto Alegre; a proposição de um encontro socioambiental focado em saúde com os moradores e catadores da comunidade. RESULTADOS E DISCUSSÕES Entende-se que foi possível minimamente representar alguns dos interesses e necessidades desta comunidade, bem como dar voz aos moradores na articulação e mediação do contato com as políticas públicas. Destaca-se também a continuidade do Grupo de Mulheres 11 que ocorre através de uma metodologia participativa onde se trabalha com elas e não para elas. Garantiram-se espaços de escuta e acolhida no que se refere à violação dos direitos humanos, posteriores encontros e encaminhamentos/denúncias que ocorreram através projetos, serviços e políticas sociais que atendem esta comunidade, na perspectiva de contribuir para garantia da dignidade destas pessoas. Início de elaboração de projeto de pesquisa sobre as condições e modo de vida dos moradores da comunidade, assim como sistematização de informações sobre a comunidade. Sensibilização dos moradores através da promoção de espaços de troca de conhecimento, experiências e informações sobre questões socioambientais que contribuíram na minimização dos focos de doenças bem como a articulação e aproximação com políticas sociais públicas favorecendo a melhoria da qualidade de vida dessa população. No que se refere à equipe, aponta-se como resultado a possibilidade de aproximação com a realidade, a vivência de como na prática é possível materializar a teoria, a aprendizagem de um trabalho interdisciplinar e intersetorial o que dá um sentido único e 10 A Lei nº. 3581/08 proibiu a circulação de veículos de tração humana e animal (carroças) nas principais ruas de Porto Alegre. 11 Demanda advinda das próprias moradoras do local desde 2012. 4
qualifica em demasia o processo de ensino de todos os envolvidos, sejam eles professores ou estudantes. CONCLUSÃO Através deste Projeto de Extensão buscou-se construir um trabalho que contribui na garantia dos Direitos Sociais a populações vulneráveis e invisibilizadas, moradoras da comunidade São Pedro, marcadas pela falta de acesso às políticas públicas, precariedade habitacional, preconceito, desinformação e pobreza. Destaca-se a indissociável articulação entre ensino, pesquisa e extensão que o projeto busca desenvolver e a contribuição da vivência na extensão no processo de formação dos envolvidos. O conhecimento agregado a partir destas trocas orienta uma formação que implica a consideração e reconhecimento de uma multiplicidade de aspectos internos e externos ao saber universitário nas atuações pretendidas, permitindo relevante ampliação do saber e viver individual de cada um dos participantes. Assim, por um lado, desenvolveu-se de forma significativa a formação e aprendizado dos envolvidos e, por outro lado, avançou-se na contribuição para a garantia de direitos e autonomia da Comunidade São Pedro. O Projeto Emancipação e Autonomia: despertar da comunidade São Pedro engajou-se na contribuição do despertar de uma conscientização crítica da comunidade São Pedro na busca pela efetivação de seus direitos, no despertar das políticas públicas frente ao desamparo e invisibilização da mesma, no despertar da equipe para a realidade de exclusão e estigmatização que se coloca a determinada camada da sociedade, e no despertar do segmento acadêmico frente à necessária interlocução ensino-extensão. REFERÊNCIAS ABREU, M.M.; CARDOSO, F. G. Mobilização Social e práticas educativas. IN Serviço Social: Direitos e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS. 2009. LIMA, T.C.S. As ações socioeducativas e o projeto ético-político do serviço Social : tendências na produção bibliográfica. 2006. Dissertação (Mestrado em Serviço Social)- Progama de Pós Graduação em Serviço Social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,2006. MIOTO, R. C. Orientação e acompanhamento social a indivíduos, grupos e famílias, In: Serviço Social, Direitos Sociais e Competências Profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. ROSA, R.S. Programa de Extensão e Pesquisa em Saúde Urbana, Ambiente e Desigualdades. Disponível em http://www.ufrgs.br/saudeurbana. Acesso em março2014 5