Desfechos clínicos pós-revascularização do miocárdio no paciente idoso

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Transcrição:

Universidade de São Paulo Biblioteca Digital da Produção Intelectual BDPI Departamento de CardioPneumologia FM/MCP Artigos e Materiais de Revistas Científicas FM/MCP 1 Desfechos clínicos pósrevascularização do Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, v., n., p., 1 http://producao.usp.br/handle/bdpi/88 Downloaded from: Biblioteca Digital da Produção Intelectual BDPI, Universidade de São Paulo

ARTIGO ORIGIAL Rev Bras Cir Cardiovasc 1; (): Desfechos clínicos pósrevascularização do Outcomes after coronary artery bypass in aged patients José Carlos Rossini IGLÉZIAS 1, Alex CHI, Aleylove TALAS, Luis Alberto de Oliveira DALLA, Artur LOUREÇÃO JÚIOR, oedir Antonio Groppo STOLF RBCCV 118 Resumo Objetivo: Comparar os desfechos clínicos nos pacientes octogenários submetidos à revascularização cirúrgica do miocárdio com e sem a utilização de circulação extracorpórea. Métodos: Estudo de coorte histórico com pacientes octogenários operados no InCor no período entre 1/1/ e 1/1/, divididos em dois grupos: G1 constituído por 111 pacientes operados sem circulação extracorpórea (CEC) e G com 1 operados com CEC. Foram analisadas variáveis utilizandose o teste t de Student, qui quadrado e as curvas de sobrevida pelo método de KaplanMeier; ível de significância de %. Resultados: a análise univariada apresentaram significância: insuficiência cardíaca congestiva préoperatória (P=,), tabagismo (P=,), número de enxertos realizados (P=,), tipo de enxerto (P=,), procedimentos associados (P=,), uso de balão intraaórtico no pósoperatório (P=,), óbito hospitalar (P=,) e tipo de morte (P=,). o pósoperatório imediato, foi significativa apenas a incidência de acidente vascular cerebral (AVC) no G (P =,). A longo prazo tivemos maior incidência de reinternação por angina (P=,8) no G1. A análise das curvas de sobrevida apresentou diferença estatística (P=,; LogRank Test). Conclusão: A revascularização do miocárdio sem CEC, nesta série, mostrou ser vantajosa para o paciente octogenário a curto prazo, pois os pacientes apresentaram menor índice de AVC no pósoperatório mediato, enquanto a longo prazo houve maior número de reinternação por angina no G1 e uma mortalidade maior no G. Descritores: Ponte de artéria coronária. Ponte de artéria coronária sem circulação extracorpórea. Doença das coronárias. Idoso de 8 anos ou mais. Abstract Objectives: Analyze the octogenarians patients submitted to the surgical myocardium revascularization (CABG) with and without extracorporeal comparing the clinical outcomes and its survival curves. Methods: Observational study of the cohort type involving octogenarians submitted to the CABG between 1/1/ and 1/1/. Elaboration of an itinerary for collection of data of the handbooks containing variables. Comparison between groups using t test for independent samples, chisquare and survival curves using Kaplan Meier. Results: We analyzed patients that possessed appropriate information. The first group G1, of the patients operated without extracorporeal, was constituted of 111 patients and the second group G, of the operated ones with extracorporeal was constituted of 1 patients. The univariate analyzes had presented statistics significance for the variables: cardiac insufficiency functional class preoperative (P=.), tobacco smoking (P=.), number 1. Professor Livre Docente; Professor Associado da Disciplina Cirurgia Cardiovascular da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).. Graduando em Medicina da FMUSP; Bolsista da FAPESP.. Graduando em Medicina da FMUSP; Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.. Professor Colaborador do Departamento de Cardiopneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Médico Supervisor do Grupo Cirúrgico de Coronariopatias do Instituto do Coração (InCor HC FMUSP).. Médico Assistente da Unidade Cirúrgica de Coronariopatia do InCorHCFMUSP.. Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Cardiovascular do InCor HC FMUSP. Trabalho realizado no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Endereço para correspondência: José Carlos Rossini Iglezias. Av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, São Paulo, SP, Brasil CEP:. Email: dcirossini@incor.usp.br FAPESP Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica fornecida ao acadêmico Alex Chi. Artigo recebido em de setembro de Artigo aprovado em de abril de 1

IGLÉZIAS, JCR ET AL Desfechos clínicos pósrevascularização do Rev Bras Cir Cardiovasc 1; (): of performed grafts (P=.), graft type (P=,), associates procedures (P=.), preoperative use of intraaortic balloon (P=.), hospital mortality (P=.) and type of death (P=.). In the postoperative outcomes stroke (P=,), reinternment for angina (P=,8). The analyze of the survival curves presented statistic difference (P=,). Conclusions: Hospital mortality and stroke were bigger in the G In the long time the patients of the G1 had respectively presented greater number of reinternments for angina and the late mortality was larger in G for the largest prevalence of cardiac deaths. Descriptors: Coronary artery bypass. Coronary artery bypass, offpump. Coronary disease. Aged, 8 and over. ITRODUÇÃO Apesar do uso da circulação extracorpórea (CEC) ser considerado o padrão ouro na revascularização do miocárdio (RM) durante décadas, existe um crescente entusiasmo com a RM sem o uso de CEC. Estudos comparativos com a utilização dos dois métodos mostraram que ambos apresentam resultados similares quanto à melhora da qualidade de vida [1] e a perviabilidade dos enxertos utilizados [,,], enquanto vários estudos demonstraram algumas vantagens sem o uso da CEC, como menor risco de acidente vascular cerebral (AVC), diminuição da incidência de fibrilação atrial e infecções da ferida operatória []. Em relação à possibilidade de RM incompleta em decorrência do menor número de enxertos por pacientes, realizados sem CEC [], Magee et al. [] demonstraram que tal diferença relacionase mais com a escolha de pacientes que necessitam menor número de enxertos para a operação sem CEC. O objetivo primário do estudo consistiu na análise comparativa dos desfechos clínicos de curto, médio e longo prazo que se seguiram à RM, com e sem o uso da CEC, nos pacientes octogenários e sua influência na morbidade e mortalidade. Secundariamente, comparar as curvas de sobrevida das diferentes amostras de estudo. MÉTODOS Tratase de um estudo de observação, do tipo coorte não concorrente, envolvendo os pacientes octogenários submetidos à RM no InCorHCFMUSP, no período de 1/1/ a 1/1/. esse período, foram realizadas.8 cirurgias cardíacas, das quais 8. estavam relacionadas ao tratamento da doença arterial coronária, sendo que, deste montante, pacientes tinham 8 anos ou mais. A pesquisa foi levada a efeito examinando os prontuários dos pacientes, e devido à ausência de dados, anotações incompletas ou inconsistentes, descartamos 1 casos, ficando a amostra com apenas pacientes. Ainda assim, em alguns casos, não havia dados suficientes para comprovar a existência ou não da variável, sendo necessário calcular a porcentagem válida para tais situações. A análise estatística comparando os dois grupos foi efetuada com o uso do teste t para amostras independentes, com nível de significância de cinco por cento (P,) e a análise das curvas de sobrevida pelo método de Kaplan Meier. O projeto teve apoio da FAPESP e foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição. Os pacientes foram estratificados em dois grupos, respectivamente operados com CEC (G1) e sem CEC (G) (Tabela 1). Os pacientes do G1 foram revascularizados utilizando hipotermia leve e proteção miocárdica com solução cardioplégica sanguínea anterógrada; e, no grupo G, a operação foi realizada com auxílio de estabilizador, com o número de enxertos por paciente equivalente (,1±,81 e,1±,, respectivamente; P=,8). Tabela 1. Distribuição demográfica. úmero Sexo Masculino Feminino Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) IMC G1 (com CEC) 111 8,1 ±,8, ± 11, 1, ±,,1 ±,81 G (sem CEC) 1 8 8, ±,,± 1, 1, ±,,8 ±,,,,,*,8*,18 * significativo; CEC circulação extracorpórea; IMC índice de massa corpórea O grupo com CEC foi constituído de 111 pacientes, dos quais % do sexo masculino e o G com % dos 1 pacientes do sexo feminino; a idade foi de 8,1 ±,8 anos no G1 e 8, ±, anos no G; o grupo G1 apresentou peso médio (, kg±11,) maior que o grupo com CEC (, ±1, kg), havendo significância estatística (P=,), o mesmo ocorrendo em relação à altura, que também foi maior no G1 (1, ±, m versus 1, ±, m), com P=,8. Mas quando confrontamos o índice de massa corpórea (IMC) notamos não haver diferenças estatísticas significantes (,1 ±,81 versus,8 ±,; P =,18). Em relação à condição clínica préoperatória (Tabela ), os grupos apresentavam predominância quanto à presença de insuficiência cardíaca classe funcional III/IV no grupo da CEC (18,% versus,%, P =,), demonstrando tendência de indicar esse método nos casos com pior função ventricular;

IGLÉZIAS, JCR ET AL Desfechos clínicos pósrevascularização do Rev Bras Cir Cardiovasc 1; (): quanto à presença de infarto agudo do miocárdio (IAM) prévio, a proporção foi similar nos dois grupos (,% versus,1%, P =,) e também sem significância estatística, dos pacientes com IAM há menos de meses da operação. Outra diferença entre os grupos foi o menor número de enxertos por paciente naqueles em que não foi utilizada a CEC (,1±,81 versus,1±,1; P =,8), apesar de ambos os grupos apresentarem média de artérias coronárias com lesão sem diferença estatística (,±, versus,±,1, respectivamente; P=,). Também não houve diferença, entre os grupos, quanto ao tipo de enxerto empregado na operação e em relação ao caráter da operação (Tabela ). RESULTADOS o período de pósoperatório mediato (hospitalar), tivemos incidência semelhante e não significativa de assistência respiratória por mais de horas, de IAM, de aparecimento de comprometimento renal (concentração plasmática de creatinina ultrapassando mg/dl). O mesmo ocorreu ao analisarmos a necessidade de reoperação e o aparecimento de infecção do sítio operatório; contrariamente, ao estudarmos a presença de AVC após a realização da RM, notamos maior incidência nos pacientes que foram submetidos ao emprego da CEC (P =,). Tabela. Situação clínica préoperatória. Angina ICC préoperatória (CF III/IV) IAM prévio Intervalo entre IAM e a operação Diabetes DPOC Tabagismo Dislipidemia HAS (PA > 1/) AVC prévio Fração de ejeção VE (> %) Creatinina (> mg/dl) Trombólise prévia Angioplastia prévia Stent prévio Operação cardíaca prévia BIA Préop 8 1 8 1 1 1 1 1 1 G1 (sem CEC) 1 % Válida, % 18, %, % 8,1 %, %, % 1,8 % 8,%,1%,% 8,1% 8,%,% 18,%,% 11,1% 1,% 1 1 1 1 8 8 1 1 1 G (com CEC) 1 1 11 1 1 % Válida,1 %, %,1 1, %,8 %, %,% 1,% 8,%,1%,%,%,% 1,% 8,% 1,%,%,,*,,,1,,8,1,11,,,1,1,8,,1,11 º de ocorrência; 1 º de pacientes perdidos quanto à variável; * significativo; ** < meses; ICC insuficiência cardíaca congestiva; CF classe funcional de acordo com a ew York Heart Association; IAM infarto agudo do miocárdio; DPOC doença pulmonar obstrutiva crônica; HAS Hipertensão arterial sistêmica; PA pressão arterial; AVC acidente vascular cerebral; VE ventrículo esquerdo; BIA Balão Intraaórtico Tabela. Dados operatórios Caráter da operação Eletiva º de artérias comprometidas º de artérias abordadas Tipo de enxerto Venoso Arterial Venoso e Arterial G1 (sem CEC) 1 % Válida 8, ±,,1 ±,81 1 1,% % 1,%,1% G (com CEC) 1 % Válida 1, ±,1,1 ±,1 º de ocorrência; 1 º de pacientes perdidos quanto à variável; * significativo 8 8,% 8,%,%,8%,1,,8* 1

IGLÉZIAS, JCR ET AL Desfechos clínicos pósrevascularização do Rev Bras Cir Cardiovasc 1; (): Tabela. Evolução pósoperatória. IAM AVC Assistência respiratória > h Creatinina >, mg/dl BIA Droga Vasoativa (sem) Reoperação Infecção Reinternação por Angina ICC AVC Arritmia Óbito Hospitalar Tardio Tipo Cardíaco 8 1 1 G1 (sem CEC) 1 % Válida,8% % 1,1% 11,1%,% 18 1,% 1,%,% 8,%,%,%,8% 11,% 8,1% %,,*,8,8,*,,8,,8*,8,1,,*,*,* º de ocorrência; 1 º de pacientes perdidos quanto à variável; * significativo; BIA Balão intraaórtico 1 1 11 8 G (com CEC) 1 % Válida,%,% 1,%,% 1 1,%,%,% 1,% 1 11,%,% 1,%,% 8,% 1,8% 1,% Chamou a atenção o fato que apesar de ambos os grupos apresentarem porcentagem válida de pacientes que não necessitaram de suporte com drogas vasoativas similares, o mesmo não ocorreu em relação à necessidade de suporte hemodinâmico com o uso de balão intraaórtico (BIA), já que o grupo G apresentou maior frequência no uso de BIA ao término da operação e no período de pósoperatório imediato (1,% versus,%, P=,). As reinternações ocorreram por angina, arritmia cardíaca ICC e AVC e foram estatisticamente similares, exceção feita quando o motivo foi angina, que apresentou maior prevalência no grupo sem CEC, com significância estatística (P =,8). Também foi significativo o maior número de óbito, tanto hospitalar quanto tardio entre os pacientes do G (P =,), os óbitos da causa cardíaca também foram predominantes no grupo com CEC (Tabela ). DISCUSSÃO Sedrakyan et al. [] alegam que a RM realizada sem o auxílio da CEC reduz a ocorrência de AVC, quando comparada com a RM convencional, o que está de acordo com nossa casuística, pois também observamos menor percentual de AVC no grupo de pacientes operados sem o uso da CEC ( versus %; P =,). O fato dos pacientes do G1 apresentarem maior incidência de AVC no pósoperatório imediato pode acarretar maior comprometimento da função cerebral e produzir impacto na qualidade de vida apresentada pelos pacientes. Essa observação não é concordante com as feitas por Motallebzadeh et al. [1] e Jensen et al. [], segundo os quais as qualidades de vida são melhores em ambos os grupos, sem distinção entre eles. Diferentemente de AlRuzzeh et al. [], que asseguram que os pacientes submetidos à RM sem CEC apresentam menor tempo de permanência hospitalar em relação aos que não utilizaram a CEC, nossos dados não mostraram diferença estatística, com tempo de permanência de 1,±, dias no grupo sem CEC e de 1,±, dias nos pacientes operados sem auxílio da CEC, talvez porque nossa amostra seja constituída apenas de pacientes octogenários. Outro ponto de discordância com os achados de Al Ruzzeh et al. [] é com relação à afirmação que a patência dos enxertos, que foi similar nos pacientes dos dois grupos. Embora não tenhamos reestudados os pacientes para avaliar a perviabilidade dos enxertos, observamos maior número de reinternações por angina no grupo de pacientes que não usaram CEC (P =,8) e esse fato pode ter sido determinado pela menor perviabilidade dos enxertos, sendo pouco provável essa diferença ser causada apenas pela evolução da ateromatose coronariana nesse grupo específico. Quanto às afirmações feitas por Pereira et al. [8], de que em estudos randomizados o médico funciona como importante preditivo de desfechos, podemos afirmar que, embora nosso estudo seja de coorte, em nossa casuística os desfechos do tipo IAM, disfunção renal e infecção pósoperatória não foram alteradas pelo profissional médico e não alcançaram diferença clínica e estatística significante. Concordamos com RomeoCorral et al. [] quando afirmam que o índice de massa corpórea não possui poder

IGLÉZIAS, JCR ET AL Desfechos clínicos pósrevascularização do Rev Bras Cir Cardiovasc 1; (): determinante para prever os desfechos clínicos entre os grupos estudados. Em nossa casuística, não encontramos diferença clínica e estatística entre os grupos estudados (,8 ±,81 versus,8±,; P=,18), embora vários desfechos tenham apresentado diferenças clínicas e estatísticas significativas, principalmente AVC no pósoperatório imediato (P =,) e a mortalidade hospitalar (P =,). Vale a pena comentar que o grupo G1 apresentou maior peso corpóreo médio (, ± 11, versus, ± 1,; P =,) e mesmo assim foi o que exibiu menor taxa de mortalidade hospitalar. Em nossa observação, apenas 1% dos pacientes do G1 e % dos pacientes do G tiveram necessidade de drogas vasoativas no pósoperatório imediato (P =,), o que está de acordo com Tatoulis et al. [1] quando afirmam que os dois grupos necessitam de pouco suporte de drogas vasoativas. Dentre os resultados de longo prazo identificamos maior taxa de reinternação por angina entre os pacientes do G1 (8, % versus, %; P =,8). A explicação mais provável para o fato é que no grupo dos pacientes revascularizados sem o uso da CEC, o número médio de enxertos realizados foi significativamente menor do que no G (,1 ±,81 versus,1 ±,; P =,8). Observamos ainda que o grupo G1 apresentou taxa menor de artérias coronárias acometidas (, ±, versus, ±,1; P =,). o que diz respeito à mortalidade hospitalar, podemos afirmar que ela foi menor no grupo sem CEC (1% versus 8%; P =,). Essa observação pode ser explicada pelo fato do grupo G reunir pacientes com maior número de fatores desfavoráveis associados, como classe funcional para insuficiência cardíaca III/IV (,% versus 18,%; P =,), necessidade de uso de BIA no período préoperatório (,% versus 1,%; P =,11) e no pósoperatório (1,% versus,%; P =,). Em relação aos óbitos tardios, observamos maior percentual no grupo de pacientes operados com CEC (1,8% versus 8,1%; P =,) e esses óbitos foram produzidos por causas cardíacas (1% versus %; P =,). A análise das curvas de sobrevida apresentou diferença estatística (P =,; LogRank test). COCLUSÕES Baseados em nossa casuística, podemos afirmar que, no paciente idoso, caso as condições clínicas permitam, é melhor evitar o uso da CEC e, dessa maneira, reduzir a mortalidade hospitalar em quase quatro vezes (risco relativo RR =,; IC % = 1,8,). O uso da CEC na RM no paciente idoso resulta em mortalidade hospitalar mais elevada e maior prevalência de AVC no pósoperatório imediato. Quanto aos desfechos de médio e longo prazo, constatamos maior taxa de reinternações por recorrência de angina no grupo dos pacientes idosos operados sem auxílio da CEC. a mortalidade tardia, a taxa foi maior no grupo dos operados com auxílio da CEC, sendo predominante a morte por causa cardíaca. REFERÊCIAS 1. Motallebzadeh R, Bland JM, Markus HS, Kaski JC, Jahangiri M. Healthrelated quality of life outcome after onpump versus offpump coronary artery bypass graft surgery: a prospective randomized study. Ann Thorac Surg. ;8():1.. Angelini GD, Culliford L, Smith DK, Hamilton MC, Murphy GJ, Ascione R, et al. Effects on and offpump coronary artery surgery on graft patency, survival, and healthrelated quality of life: longterm followup of randomized controlled trials. J Thorac Cardiovasc Surg. ;1():.. Jensen BO, Hughes P, Rasmussen LS, Pedersen PU, Steinbruchel DA. Healthrelated quality of life following offpump versus onpump coronary artery bypass grafting in elderly moderate to highrisk patients: a randomized trial. Eur J Cardiothorac Surg. ;():.. Sedrakyan A, Wu AW, Parashar A, Bass EB, Treasure T. Offpump surgery is associated with reduced occurrence of stroke and other morbidity as compared with traditional coronary artery bypass grafting: a metaanalysis of systematically reviewed trials. Stroke. ;(11):.. AlRuzzeh S, George S, Bustami M, Wray J, Ilsley C, Athanasiou T, et al. Effect of offpump coronary artery bypass surg. on clinical, angiographic, neurocognitive, and quality of life outcomes: randomised controlled trial. BMJ. ;():1.. AbuOmar Y, Taggart DP. The present status of offpump coronary artery bypass grafting. Eur J Cardiothorac Surg. ;():11.. Magee MJ, Herbert E, Herbert MA, Prince SL, Dewey TD, Culica DV, et al. Ann Thorac Surg. ;8:1118. 8. Pereira AC, Lopes H, Soares PR, Krieger JE, Oliveira SA, Cesar LA, et al. Clinical judgment and treatment options in stable multivessel coronary artery disease: results from the oneyear followup of the MASS II (Medicine, Angioplasty, or Surgery Study II). J Am Coll Cardiol. ;8():8.. RomeroCorral A, Montori VM, Somers VK, Korinek J, Thomas RJ, Allison TG, et al. Ass. of bodyweight with total mortality and with cardiovascular events in coronary artery disease: a systematic review of cohort studies. Lancet. ;8():8. 1. Tatoulis J, Rice S, Davis P, Goldblatt JC, Marasco S. Patterns of postoperative systemic vascular resistance in a randomized trial of conventional onpump versus offpump coronary artery bypass graft surgery. Ann Thorac Surg. ;8():1.