MÓDULO 2. Neste módulo você conhecerá a epidemiologia do consumo de substâncias psicoativas e os padrões de consumo do álcool e crack.



Documentos relacionados
Epidemiologia das substâncias psicoativas

I Jornada de Saúde Mental do Vale do Taquari: Crack e outras drogas: perspectivas na abordagem psicossocial

Perfil do usuário de crack no Brasil

substâncias psicoativas entre estudantes da rede pública e particular das 26 capitais e Distrito Federal

MÓDULO 3. Você aprenderá algumas das características dessa estratégia, assim como suas funções, componentes e ações relevantes.

Área: ,8km População

Plano terapêutico e monitoramento em gerenciamento de casos

LISTAS DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS

Padrões de Uso e Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas

Como Prevenir e Tratar as Dependências Químicas nas Empresas?

ALCOOLISMO ENTRE ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM: UM ESTUDO TRANSVERSAL

Área: ,8km População

Epidemiologia das substâncias psicoativas

Antes de conhecer algumas informações fornecidas pela Epidemiologia, vamos relembrar alguns conceitos:

Componentes e ações essenciais no gerenciamento de casos.

VIOLÊNCIA CONTRA A CRIANÇA ou ADOLESCENTE

Epidemiologia das substâncias psicoativas

Sumário Executivo Pesquisa Quantitativa Regular. Edição n 05

Experiência com o tratamento de Dependentes Químicos

Centro Regional de Referência ES. CURSO 1: Atualização sobre Intervenção Breve e Aconselhamento Motivacional em Crack e outras Drogas

Consumo de álcool por adolescentes e gênero. Tatiane Vilela Coelho Raínne Costa Sousa

Senado Federal. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas SENAD Ministério da Justiça

Encontro de Empresas Mesa redonda: Programa de Assistência ao Empregado: para onde encaminhar. Ambulatório

Principais Resultados Estudo Comparativo: Brasil e 2005

ABUSO DO CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS, UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA. Senhor Presidente,

Suplementar após s 10 anos de regulamentação

I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil: Estudo Envolvendo as 107 Maiores Cidades do País 2001

Edital nº 002/2010/GSIPR/SENAD

Seminário: Drogas, Redução de Danos, Legislação e Intersetorialidade. Brasília, outubro de 2009.

PLANOS DE TRATAMENTO METAS, OBJETIVOS E MÉTODOS. Conselheiro Tomé

CORRELAÇÃO ENTRE CONSUMIDORES DE DROGAS LICITAS E ILICITAS EM UM CAPS II

INDICE ANTROPOMÉTRICO-NUTRICIONAL DE CRIANÇAS DE BAIXA RENDA INCLUSAS EM PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS

DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS. Vulnerabilidades, riscos e formas de prevenção

Educação em Saúde: Dependência Química. Módulo 1: A dimensão do problema das drogas no Brasil

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Departamento de Saúde - USP POLÍTICA DO PROGRAMA DE ENFRENTAMENTO DO USO DE ÁLCOOL E DROGAS NA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Estudo sobre o Uso de Drogas entre estudantes do Ensino Médio e EJA na Escola Estadual Silveira Martins/Bagé-RS

Experiência: VIGILÂNCIA À SAÚDE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

LEVANTAMENTO DO USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS ENTRE ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

O Crack na Cidade de Salvador

VULNERABILIDADE PARA A MORTE POR HOMICÍDIOS E PRESENÇA DE DROGAS NA OCASIÃO DA OCORRÊNCIA DO ÓBITO 2001 A 2006

Política Nacional sobre Drogas e o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas Crack, é possível vencer. SALVADOR/BA ABRIL de 2012

PERFIL DO CONSUMO DE ÀLCOOL EM MULHERES DE UM NÚCLEO DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Equipe: Ronaldo Laranjeira Helena Sakiyama Maria de Fátima Rato Padin Sandro Mitsuhiro Clarice Sandi Madruga

Oficinas de tratamento. Redes sociais. Centros de Atenção Psicossocial Álcool e drogas

Pesquisa Mensal de Emprego PME. Algumas das principais características dos Trabalhadores Domésticos vis a vis a População Ocupada

DESENVOLVIMENTO DE UM SOFTWARE NA LINGUAGEM R PARA CÁLCULO DE TAMANHOS DE AMOSTRAS NA ÁREA DE SAÚDE

Pesquisa sobre sintomas de transtornos mentais e utilização de serviços em crianças brasileiras de 6 a 17 anos

ATENÇÃO À PESSOAS COM PROBLEMAS RELACIONADOS AO CONSUMO DE CRACK Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e outras Drogas DAPES - SAS- MS

Capítulo 50: centro de atenção psicossocial de álcool e drogas

A Política Nacional sobre Drogas e o Atendimento a Usuários de Drogas no Horto Medicinal da SEMAS de Goiânia-Go.

I PRINCIPAIS RESULTADOS GERAIS DO BRASIL

TELEFONES (11) (11) newsfrancodarocha@hotmail.com

Saúde. reprodutiva: gravidez, assistência. pré-natal, parto. e baixo peso. ao nascer

Francisco Inácio Bastos. Neilane Bertoni dos Reis

Estado de Mato Grosso Prefeitura Municipal de Itanhangá CNPJ: / Gestão 2013/2016

O USO DO ÁLCOOL ENTRE OS JOVENS: HISTÓRIA, POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS, CONSEQÜÊNCIAS SOCIAIS E TRATAMENTO.

Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas

I Seminário. Estadual de enfrentamento ao CRACK. O papel da família no contexto da prevenção e do enfrentamento aos problemas decorrentes do CRACK

Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos Secretaria Executiva de Desenvolvimento e Assistência Social Gerência de Planejamento,

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Carta de Campinas 1) QUANTO AO PROBLEMA DO MANEJO DAS CRISES E REGULAÇÃO DA PORTA DE INTERNAÇÃO E URGÊNCIA E EMERGÊNCIA,

Alunos do 1º ao 5º ano da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas. Fumantes: 1986: 21,6%; 1991: 14,9%; 1996.

Ins$tuto Nacional de Ciência e Tecnologia para Polí$cas Públicas do Álcool e Outras Drogas Consumo de Álcool no Brasil: Tendências entre 2006/2012

XIII Encontro de Iniciação Científica IX Mostra de Pós-graduação 06 a 11 de outubro de 2008 BIODIVERSIDADE TECNOLOGIA DESENVOLVIMENTO

COMISSÃO DE ASSUNTOS SOCIAIS DO SENADO FEDERAL. Brasília maio 2010

O retrato do comportamento sexual do brasileiro

O Dep. Pastor Frankembergem pronuncia o seguinte discurso: Drogas. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados,

PROJETO DE LEI Nº., DE (Do Sr. Roberto de Lucena)

PROGRAMA DE PREVENÇÃO NA EMPRESA: DA IMPLANTAÇÃO À TESTAGEM TOXICOLÓGICA

Universidade Federal do Vale do São Francisco Colegiado de Psicologia. Avaliando a atenção à saúde oferecidas pelo CAPS ad de Petrolina-PE

Michele Borsoi Telerreguladora de Enfermagem Telessaúde /MS

REVOGADA PELA LEI Nº 1.593, DE 21 DE NOVEMBRO DE Cria o Conselho Municipal de Enfrentamento às Drogas, e dá outras providências.

ESCOLA ESTADUAL LUIS VAZ DE CAMÕES PREVENÇÃO AOS VICIOS: ALCOOLISMO, TABAGISMO E DROGAS ILICITAS NA ADOLESCÊNCIA.

MS divulga retrato do comportamento sexual do brasileiro

Dependência Química - Classificação e Diagnóstico -

ANEXO II CONDIÇÕES E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO PARA APOIO E/ OU IMPLANTAÇÃO DE ÓRGÃOS COLEGIADOS E APOIO A FÓRUNS E REDES

Construção de Redes Intersetoriais para a atenção dos usuários em saúde mental, álcool, crack e outras drogas

Comorbidades: Transtorno de AnsiedadeeDependênciaQuímica

Vigilância Epidemiológica. Meio Ambiente e Saúde Pública Prof. Adriano Silva

Melhor Prática vencedora: Monitoramento (Capital)

VIGILÂNCIA SOCIAL E A GESTÃO DA INFORMAÇÃO: A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO, MONITORAMENTO E AVALIAÇÃO

Cenpec Coordenação de Desenvolvimento de Pesquisas. Projeto Equidade e políticas de melhoria da qualidade da educação: os casos do Acre e Ceará

Cristina Almeida. Psicóloga escolar

EIXO 2 PROTEÇÃO E DEFESA DOS DIREITOS: PROPOSTAS APROVADAS OBTIVERAM ENTRE 80 e 100% DOS VOTOS

USO DE DROGAS POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES

RBAC 120. Norma ANAC

DIMENSÕES DO TRABAHO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE: O ENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÕES DE TRABALHO PRECOCE

AMBIENTES DE TRATAMENTO. Hospitalização

Crack, é possível vencer

Governo lança campanha de prevenção dos riscos do consumo de bebidas alcoólicas Resultados das pesquisas:

ICS. Índice de Confiança Social 2015

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Vice-Reitoria Curso de Abordagem da Violência na Atenção Domiciliar Unidade 2-Violência e criança

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Sistema Informatizado Informações Gerais para Navegar no Acesso Restrito

SAÚDE E EDUCAÇÃO INFANTIL Uma análise sobre as práticas pedagógicas nas escolas.

Você conhece a Medicina de Família e Comunidade?

Transcrição:

MÓDULO 2 Neste módulo você conhecerá a epidemiologia do consumo de substâncias psicoativas e os padrões de consumo do álcool e crack. Você aprenderá alguns conceitos relacionados à temática, como os padrões de uso na vida, no mês e no ano. Lembre-se: o conteúdo deste módulo é fundamental para o entendimento dos demais assuntos. Bom estudo!

38 Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas Andrea Campos Romanholi; Marcos Vinícius Ferreira dos Santos Fala Professor: Caro aluno, Os agravos de saúde não ocorrem ao acaso, a distribuição destes é produto dos fatores causais, ou determinantes que se distribuem desigualmente na população. Sendo assim é essencial a identificação de determinantes dos agravos. Bom estudo! Epidemiologia é a ciência que estuda a distribuição e os determinantes dos problemas de saúde (fenômenos e processos associados) em populações humanas. Seu objeto são as relações de ocorrência de saúde-doença em sociedades, coletividades, comunidades, classes sociais e grupos específicos. As relações são referidas e analisadas mediante o conceito de risco (FILHO; ROUQUAYROL, 2003). Conceito A Epidemiologia do uso de drogas estuda distribuição dos números de usuários e os acontecimentos relacionados ao em populações especificadas e em um determinado período (GALDURÓZ; SANCHEZ; NOTO, 2011). Na questão do consumo de drogas, os estudos epidemiológicos permitem estimar a magnitude do problema e identificar os principais fatores de risco e proteção relacionados ao consumo (MEDINA et al., 2010).

Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas 39 São diversos fatores de risco e proteção que se relacionam ao consumo de álcool e outras drogas, estes por sua vez podem ser identificados em todos os domínios da vida: no próprio indivíduo, na família, na rede de amizades, na escola ou no trabalho, na comunidade ou em qualquer outro nível de convivência social (SUPERA, 2006). Os fatores de risco são aqueles que aumentam as chances de um indivíduo iniciar o uso de drogas, ou ainda, aumentam as chances de que o uso inicial ou moderado se torne um uso que apresente consequências mais graves para o indivíduo (SUPERA, 2006). Já os fatores de proteção são aqueles que diminuem a chance de iniciar o consumo de drogas (BAUS, 2002). Contudo é necessário atentar para o fato de um indivíduo estar inserido em um meio com muitos fatores de risco não significa que, necessariamente, ele fará uso indevido de álcool e/ou outras drogas. Fatores de risco não são simplesmente o oposto dos fatores de proteção, eles variam ao longo do processo de desenvolvimento podendo ser mais ou menos relevantes, de acordo com uma situação específica. Conhecer a realidade do consumo de drogas numa determinada população é condição necessária para a implantação adequada de programas de prevenção ao uso de drogas psicotrópicas (CARLINI et al., 2002). Atenção!!! A Política Nacional de Álcool e outras Drogas (SENAD, 2005) tem como uma de suas diretrizes o fundamentar campanhas e programas de prevenção em pesquisas e levantamentos sobre o uso de drogas e suas consequências, de acordo com a populaçãoalvo, respeitadas as características regionais e as peculiaridades dos diversos segmentos populacionais. Os padrões de consumo de substâncias psicoativas são: uso, abuso e dependência (FIGLIE; LARANJEIRA; BORDIN, 2004):

40 Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas Uso é considerado o consumo em geral de forma experimental, esporádico ou episódico. É o que, muitas vezes, consideramos ser o uso social ; Abuso é o consumo de substâncias associado a prejuízos de natureza biológica, psicológica e\ou social, sendo muitas vezes, criticado por outras pessoas, mas não acompanhado de síndrome de abstinência e tolerância. Dependência é compreendida como o consumo sem controle e associado ao desenvolvimento de problemas mais graves para o individuo em diferentes áreas (física, psicológica e\ou social) de sua vida. Mesmo que esses padrões sejam bem abrangentes e úteis, sobretudo na prática clínica, elas apresentam dificuldades metodológicas em serem adotados nos inquéritos epidemiológicos populacionais. Desta forma, com o propósito de uma padronização dos estudos de prevalência de uso de drogas psicotrópicas, a Organização Mundial da Saúde (SMART et al., 1980) propôs uma tipologia que definiu os padrões de uso de substâncias psicoativas da seguinte forma: Uso na vida uso de determinada droga pelo menos uma vez na vida; Uso no ano uso de determinada droga pelo menos uma vez nos últimos doze meses; Uso no mês uso de determinada droga pelo menos uma vez nos últimos 30 dias; Uso frequente uso de determinada droga por seis ou mais vezes nos últimos 30 dias; Uso pesado uso diário de determinada droga nos últimos 30 dias. Atenção!!! O padrão de consumo considerado uso pode evoluir para abuso e/ou dependência. Assim conhecer e estar atento a todos os padrões de consumo de substâncias psicoativas é imprescindível na prática clínica.

Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas 41 Para se avaliar o consumo substâncias psicoativas no país e os fatores relacionados, são utilizados dados de inquéritos populacionais (população em geral e grupos populacionais), indicadores do consumo (internações hospitalares e apreensões policiais) e estudos etnográficos (CARLINI et al., 2002). Atenção!!! Os inquéritos populacionais fornecem dados diretos do consumo de drogas de uma determinada população, já os indicadores de consumo fornecem dados indiretos. Os levantamentos mais abrangentes do uso de álcool e outras drogas no Brasil foram realizados pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). A seguir, serão apresentados os principais achados e as tendências do uso de substâncias psicoativas, a partir da comparação dos inquéritos epidemiológicos na população em geral e com diferentes grupos populacionais. População em geral: os dois levantamentos domiciliares sobre o consumo de substâncias psicoativas, pela população brasileira, foram realizados pelo CEBRID. O I Levantamento (CARLINI et al., 2002), feito em 2001, envolveu as 107 maiores cidades do país, e II Levantamento (CARLINI, GALDURÓZ et al., 2007), realizado em 2005, com as 108 maiores cidades. No segundo levantamento foram utilizadas amostras representativas de cada cidade, com base nos dados do IBGE. Foram entrevistadas 7.939 pessoas, selecionadas por sorteio, na faixa etária de 12 a 65 anos de idade. No quadro abaixo, são mostradas as comparações entre uso na vida e dependência em ambos, a saber: Quadro 1 - Comparação entre uso na vida e dependência nos Levantamentos Domiciliares sobre Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil em 2001 e 2005.

42 Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas SUBSTÂNCIA % DE USO NA VIDA - 2001 % DE USO NA VIDA - 2005 DEPENDÊNCIA 2001 DEPENDÊNCIA 2005 Drogas em geral (exceto álcool e tabaco) 16,9 24,5 19,4 - Álcool 68,7 74,4 11,2 12,3 Tabaco 41,1 44,0 9,0 10,1 Maconha 6,9 8,8 1,0 1,2 Solvente 5,8 6,1 0,8 0,2 Cocaína 2,3 2,9 - - Estimulantes 1,5 3,2 0,4 0,2 Benzodiazepínicos 3,3 5,6 1,0 0,5 Alucinógenos 0,6 1,1 - - Opiáceos 1,4 1,3 - - Crack 0,4 0,7 - - Fonte: CEBRID, 2001; 2005. Como vimos, no II Levantamento 22,8% da população fez uso de alguma droga na vida (exceto álcool e tabaco), representando um aumento do consumo em relação ao I Levantamento (19,4%). Em relação às demais substâncias o II Levantamento apontou os seguintes uso na vida: maconha (8,8%), solventes (6,1%), benzodiazepínicos (5,6%), Cocaína (2,9%) e crack (0,7%). O álcool (74,4%) e o tabaco (44,0%) são ainda as substâncias psicoativas mais consumidas na vida e apresentam uma prevalência de dependência de 12,3% e 10,1%, respectivamennte. (CARLINI; GALDURÓZ et al., 2007). Estudantes: o CEBRID realizou cinco levantamentos sobre uso de psicotrópicos com estudantes dos níveis fundamental e médio de escolas públicas das redes municipais e estaduais, em 1987, 1989, 1993 e 1997 em dez capitais, e em 2004 nas 27 capitais brasileiras. No último Levantamento (2004) as drogas lícitas - álcool (65,2%) e tabaco (25%), foram as mais consumidas na vida, seguidas pelas drogas ilícitas - solventes (15,5%), maconha (5,9%), cocaína (2%) e crack (0,7%). Com relação ao sexo não houve diferença significativa no consumo de álcool,

Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas 43 identificando-se uma tendência de maior consumo de álcool e tabaco entre estudantes do sexo feminino. Destaca-se ainda, a idade precoce de experimentação de álcool e tabaco, com médias de 12,5 e 12,8 anos, respectivamente (GALDURÓZ et al., 2005). Crianças e adolescentes em situação de rua: o consumo de drogas nessa população, particularmente as ilícitas, é elevado e superior aos índices observados nos estudantes. Uma série de estudos foi realizada pelo CEBRID em 1987, 1989, 1993 e 1997 tendo esse último ocorrido em seis capitais. O uso na vida de qualquer substância (exceto álcool e tabaco) foi relatado por 88,1% dos entrevistados com predomínio de inalantes e maconha. Foram encontradas diferenças regionais, com maior consumo de cocaína nas capitais do Sul e do Sudeste, e de medicamentos psicotrópicos nas capitais do Nordeste (NOTO et al., 1998). É interessante observar, entretanto, que o uso de álcool entre as crianças em situação de rua é significativamente menor que entre estudantes. Nestes últimos, foi encontrado prevalência de uso pesado de 6,7% enquanto o uso abusivo foi referido por 3% nas crianças em situação de rua (GALDURÓZ et al., 2005; NOTO et al, 2004). Universitários: no I Levantamento Nacional sobre de drogas entre universitários das 27 capitais brasileiras (BRASIL, 2010), observou-se que em relação ao uso na vida, as drogas relatadas com maior frequência foram: álcool (86,2%) e tabaco (46,7%), enquanto nos últimos 12 meses antecedendo a aplicação do questionário as substâncias mais frequentemente usadas foram: álcool (72,0%), tabaco (27,8%). Nos últimos 30 dias, as drogas mais frequentemente consumidas foram: álcool (60,5%), tabaco (21,6%), maconha (9,1%), anfetamínicos (8,7%), tranquilizantes (5,8%), inalantes (2,9%) e alucinógenos (2,8%). Atenção!!! Considerando a magnitude do problema, as drogas lícitas permanecem como um grave problema significativo e, ainda, superior às drogas ilícitas.

44 Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas Indicadores epidemiológicos de consumo: fornecem dados indiretos do consumo de drogas de uma determinada população. São exemplos: - Internações hospitalares; - Atendimentos ambulatoriais; - Atendimentos em salas de emergências; - Laudos cadavéricos de mortes violentas (fornecidos pelo IML - Instituto Médico Legal); - Apreensões de drogas feitas pelas polícias Federal, Estaduais e Municipais; - Prescrições de medicamentos (ex: benzodiazepínicos e anfetamínicos); - Mídia (notícias veiculadas pelos meios de comunicações sobre as drogas); - Casos de violência decorrentes do uso de drogas; - Prisões de traficantes. As informações sobre internações por dependência de drogas foram obtidas indiretamente junto a hospitais e clínicas psiquiátricas e apontaram que o álcool é responsável por aproximadamente 90% das internações na faixa etária de 31 a 45 anos, no período de 1988 a 1999 (NOTO et al., 2002). No período de 1988 a 2008 o álcool permaneceu como maior responsável pelas internações embora com ligeira redução, ligada à redução da oferta de leitos de internação psiquiátrica em comparação a maior oferta de tratamento ambulatorial, além disso as substâncias psicoativas ilícitas foram causas de internações por dependência, destacando-se: a diminuição decorrente da maconha e o aumento decorrente da cocaína, sobretudo, com a expansão do uso de crack no país (AMUI et al., 2010). Através das apreensões feitas pela Polícia Federal no período de 2004 a 2008, observou-se que a quantidade de cocaína e maconha apreendidas mantiveram-se estáveis, contudo este indicador tem um significado restrito devido ao desconhecimento do universo do tráfico (BRASIL, 2008). Outro indicador relevante é o uso indevido de anfetamínicos e benzodiazepínicos que ocorre de forma lícita, ou seja, sob prescrição médica e que resulta num possível abuso terapêutico (NAPPO; CARLINI, 1993).

Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas 45 Atenção!!! Há muito a ser feito no campo preventivo do abuso de drogas psicotrópicas em nosso país. A prevenção adequada só será possível após o diagnóstico epidemiológico da questão a ser traçado. Resumo: Na Unidade 1, do Módulo 2, você estudou epidemiologia do consumo de drogas conheceu os principais estudos nacionais realizados. O conhecimento destes inquéritos e indicadores é importante, para você vislumbrar a temática como um problema de saúde pública. Referências: AMUI, N.O.; MOURA, Y.G.; NOTO, A.R. Internações por transtornos mentais e de comportamento decorrentes de substâncias psicoativas: um estudo epidemiológico nacional do período de 1988-2008. In: XVIII Congresso de Iniciação Científica da UNIFESP. São Paulo: UNIFESP, 2010. BAUS, J; KUPE, K. E. PIRES, M. Prevalência e fatores de risco relacionados ao uso de drogas entre escolares. Revista de Saúde Pública, v.36, n.1, p.40-6, 2002. BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada: Jó 22:28. Tradução: Centro Bíblico Católico. 109. ed rev. São Paulo: Ave Maria, 2003. p.635. BRASIL. Presidência da República. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. I Levantamento Nacional sobre o Uso de Álcool e Outras Drogas entre Universitários das 27 Capitais Brasileiras. Brasília: SENAD, 2010.

46 Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas CARLINI, E. A. et al. I Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil - 2001. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Departamento de Psicobiologia, UNIFESP, 380 p., 2002. CARLINI, E.A.; GALDUROZ, J.C. II Levantamento domiciliar sobre o uso de drogas psicotrópicas no Brasil: estudo envolvendo as 108 maiores cidades do país. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas. 2007. FIGLIE, N.B.; BORDIN, S.; LARANJEIRA, R. Aconselhamento em Dependência Química. São Paulo, Roca, 2004. FILHO, N.A.; ROUQUAYROL, M.R. Introdução à Epidemiologia. 3a Ed., Rio de Janeiro. MEDSI, 2002. GALDURÓZ, J. C. F. et al. V Levantamento nacional sobre o consumo de drogas psicotrópicas entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino nas 27 capitais brasileiras - 2004. CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, 2005. p. 398. GALDURÓZ, J. C. F.; SANCHEZ, Z.V.M.; NOTO, A.R. Epidemiologia do uso, do abuso e da dependência de substâncias psicoativas. In: DIHEL, A. et al. Dependência química. Porto Alegre: Artmed, 2011.p.49-58. MEDINA, M. G. et al. Epidemiologia do consumo de substâncias psicoativas. In: SEIBEL, S. D. Dependência de drogas. São Paulo: Editora Atheneu. 2010. p.71-97. NAPPO, S.A.; CARLINI, E.A. Benzodiazepinícos no Brasil: um perfil do consumo nos de 1988 e 1989. J Bras. Psiquiatr., v.42, n.6, p.313-319, 1993. MORAES, V. Novos Poemas. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1938.

Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas 47 NAPPO, S.A.; OLIVEIRA, E.M.; MOROSINI, S. Inappropriate prescribing of compounded antiobesity formulas in Brazil. Pharmacoep. Drug Saf, v.7, n.3, p. 207-212, 1998. NOTO, A.R. et al. Levantamento nacional sobre o uso de drogas entre crianças e adolescentes em situação de rua nas 27 capitais brasileiras, 2003. CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas, Departamento de Psicobiologia, UNIFESP, 2004. SMART R.G.; JOHNSTON, L.D.; HUGHES, P.H. et al. A methodology for students drug-use surveys. Geneva: World Healh Organization, 1980. SUPERA. Sistema para Detecção do Uso Abusivo e Dependência de Substâncias Psicoativas: Encaminhamento, Intervenção breve, Reinserção Social e Acompanhamento: Módulo 3 Detecção do uso abusivo e diagnóstico da dependência de substâncias psicoativas. Brasília: Secretaria Nacional Antidrogas, 2006. Momento da Cultura Brasileira: O que é o meu Amor? senão o meu desejo iluminado O meu infinito desejo de ser o que sou acima de mim mesmo O meu eterno partir da minha vontade enorme de ficar Peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes? (Vinícius de Moraes, 1938) Formarás os teus projetos, que terão feliz êxito, e a luz brilhará em ruas veredas. (Jó 22:28).

48 Unidade 1 - Epidemiologia do Consumo de Substâncias Psicoativas