DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL.

Documentos relacionados
DIAGÓSTICO E RASTREAMENTO PRÉ- NATAL como se conduzir?

DIÂMETRO BIPARIETAL- VALORES NORMAIS IG (semanas) RELAÇÕES BIOMÉTRICAS FETAIS

BENEFÍCIOS E LIMITAÇÕES DO ULTRASSOM MORFOLÓGICO FETAL

Aconselhamento Genético e Diagnóstico Pré-natal

Como Conduzir o Recém- Nascido com Malformações. Sessão Clínica da Pediatria Angelina Acosta - FAMEB/UFBA

9. BIOPSIA DE VILO CORIAL

Teste de Triagem Pré-natal Não Invasivo em sangue materno

premium Teste de Triagem Pré-natal Não Invasivo em sangue materno

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DA PÓS- GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM MEDICINA FETAL

Opções Reprodutivas em Genética Clínica

Rastreio Pré-Natal na Região Norte

DESCRIÇÃO DOS ACHADOS CITOGENÉTICOS EM ANOMALIAS CONGÊNITAS DIAGNOSTICADAS PELA ULTRA-SONOGRAFIA

Risco fetal Testes Preditivos Pré-natais para Síndrome de Down e Malformações do Tubo Neural

Infecções congênitas. Prof. Regia Lira

Microcefalia na atenção básica

Resultados altamente precisos e abrangentes que você pode confiar.

HERANÇA MULTIFATORIAL

Diagnóstico Pré-natal Diagnóstico Genético Pré-implantação. Fabiana Ramos Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 9 de Março de 2015

ENSINO DAS MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS: UMA APROXIMAÇÃO NECESSÁRIA ENTRE EMBRIOLOGIA E GENÉTICA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA FACULDADE DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO E SAÚDE GRADUAÇÃO EM BIOMEDICINA ANDRESSA ALVES VIEIRA

TÉCNICAS INVASIVAS DE DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA FETAL

ANENCEFALIA. Prof. Diotto

Herança multifatorial

Brasil. Pinto Júnior, Walter Diagnóstico pré-natal Ciência & Saúde Coletiva, vol. 7, núm. 1, 2002, pp Rio de Janeiro, Brasil

Técnicas utilizadas para estudo citogenético clínico. Prof. Dr. Bruno Lazzari de Lima

Aula 20 Pré-Natal de Alto Risco IV: Doenças. Prof. Ricardo Mattos UNIG,

Informação precoce sobre o desenvolvimento do seu bebé

SÍNDROME DE EDWARDS. Brasília, fevereiro de SUMÁRIO. 1. Introdução

DESPISTAGEM PRÉ-NATAL DAS TRISSOMIAS 21, 18 E 13

DIAGNÓSTICO DA GESTAÇÃO

Opções Reprodutivas para indivíduos afetados e em risco de apresentar Ataxias Hereditárias

NÚCLEO CELULAR. Disciplina: Embriologia e Genética Curso Odontologia Profa Ednilse Leme

MARCADORES ECOGRÁFICOS DO SEGUNDO TRIMESTRE E RASTREIO DE ANEUPLOIDIA FETAL

FORMULÁRIO DE RELATO DE CASO DO VÍRUS ZIKA CUIDADOS PRÉ-NATAIS MATERNOS - CPNM [8] Código de identificação da mãe: Código de identificação do neonato:

Saúde DEFEITOS CONGÊNITOS E DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL. Andressa antunes prado de frança 1

Farmacoterapia aplicada em grupos alvo. Profa. Fernanda Datti

CentoNIPT - Formulário de solicitação:

AS ANOMALIAS CROMOSSÔMICAS EM HUMANOS

Glossário. Formas alternativas de um gene no mesmo locus (posição no cromossoma). Uma pessoa herda um alelo do pai e outro alelo da mãe

O osso nasal como marcador de cromossomopatias

SÍNDROME DE DOWN E DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL: PERSPECTIVAS DAS GRÁVIDAS EM RISCO E DAS MÃES DE PORTADORES DE TRISSOMIA 21

Marcadores ultrassonográficos e bioquímicos de aneuploidia no primeiro trimestre gestacional. DGO HCFMRP USP 23 a 26 de março de 2011

CITOGENÉTICA HUMANA Anomalias Cromossômicas. Professor Ronnie

Herança multifatorial

NIPT Noninvasive Prenatal Testing

Gravidez após os 40 Anos

SANGRAMENTO DE PRIMEIRO TRIMESTRE NA EMERGÊNCIA- O PAPEL DO RADIOLOGISTA. Carla Milan

PRÉ-REQUISITO R4 ULTRASSONOGRAFIA (402)

Importância do Laboratório Clínico na Análise do Risco Fetal

CentoNIPT EXPERTISE YOU CAN TRUST

PATOLOGIAS CIRÚRGICAS NO RECÉM-NASCIDO

Amniocentese por idade materna. Sempre?

Gravidez. Prof.ª Leticia Pedroso

TÍTULO: CASOS DE MALFORMAÇÕES NO DEFEITO DO FECHAMENTO DO TUBO NEURAL DFTN EM RELAÇÃO À FALTA DE ÁCIDO FÓLICO NO PRÉ-NATAL NO BRASIL.

Análise dos resultados dos procedimentos. invasivos para estudo do cariótipo fetal

É uma cromossomopatia, cujo quadro clínico global deve ser explicado por um desequilíbrio na constituição cromossômica (presença de 1 cromossomo 21

BIOLOGIA. Hereditariedade e diversidade da vida. Mutações e alterações cromossômicas Parte 2. Professor: Alex Santos

Genética Clínica História e Exame Físico

Diagnóstico pré-natal: avanços e perspectivas

Distúrbios multifatoriais e malformações congênitas

DEFICIENCIA INTELECTUAL

Sumário ANEXO I COMUNICADO HERMES PARDINI

Renata Wendel de Moraes. quantitativa (QF-PCR) para detecção de aneuploidias fetais

AMBULATÓRIO DE ENDOCRINOLOGIA OBSTÉTRICA ENDOB

Sumário. 1. Visão geral da enfermagem materna Famílias e comunidades Investigação de saúde do paciente recém nascido...

06/09 Quinta-Feira. 07/09 Sexta-Feira

Panorama. Teste Pré-natal não invasivo. Revista Médica

Diagnóstico Precoce de Gestação

HIDRÓPSIA FETAL Protocolo de Actuação Clínica

ASSUNTO: TESTE DE SEXAGEM FETAL ALTERAÇÕES NO EXAME

AVALIAÇÃO DO ESTILO PARENTAL DE PAIS DE CRIANÇAS PORTADORAS DE SÍNDROMES GENÉTICAS NA TRÍPLICE FRONTEIRA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE ULTRASSONOGRAFIA EM GINECOLOGIA, OBSTETRÍCIA E MEDICINA INTERNA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE ULTRASSONOGRAFIA EM GINECOLOGIA, OBSTETRÍCIA E MEDICINA INTERNA

GRAVIDEZ. Profª: Karin

A síndrome do alcoolismo fetal, SAF, é resultado da ingestão de bebida alcoólica pela mãe durante o período de gestação.

Diagnóstico e Triagem Pré-natais

Deficiência Intelectual. RCG441 Genética Médica 2016

Infertilidade e Perda Fetal. Caracterização da Contribuição dos Distúrbios Genéticos

Sumário ANEXO I COMUNICADO HERMES PARDINI

Avaliação em DI - Protocolo Clínico

CentoNIPT. Experiência em que pode confiar

SÍNDROME DE DOWN. Abordagem Clínica Geral. Dra. Ana Araújo

Os Desafios Éticos das Tecnologias Genéticas. Gerson Carakushansky

A ASSISTÊNCIA IMEDIATA AO RECÉM- NASCIDO. Profa. Dra. Emilia Saito Abril 2018

Indicação de avaliação cromossômica em gestantes encaminhadas a um centro de referência em Medicina Fetal no Sul do Brasil

PLACENTA E MEMBRANAS FETAIS

ENFERMAGEM DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS. ZIKA VIRUS Aula 3. Profª. Tatiane da Silva Campos

CITOGENÉTICA HUMANA. Conceitos Básicos. Leniza Pola Citogeneticista Sênior

ASPECTOS ÉTICOS NA MEDICINA FETAL PRÁTICA DA. Prof. Dr. Hermes de Freitas Barbosa Departamento de Patologia e Medicina Legal FMRP - USP

Biologia. Mutações e Aconselhamento Genético. Professor Enrico Blota.

INVESTIGAÇÃO DOS PADRÕES DE HERDABILIDADE DE DOENÇAS HUMANAS: MUTAÇÕES GÊNICAS E CROMOSSÔMICAS

24ª Jornada de Obstetrícia e Ginecologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo 10 a 12 de junho de 2010

FECUNDAÇÃO SEGMENTAÇÃO

RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 PRÉ-REQUISITO (R4) PROVA ESCRITA

Otimização da técnica de Array CGH em Diagnóstico Pré-Natal

Transcrição:

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL lrmartel@fmrp.usp.br

A filosofia fundamental do diagnóstico pré-natal é garantir segurança a um casal (com risco de doenças genéticas) de que eles podem seletivamente ter crianças não afetadas, mesmo se o risco de procriação de filhos com anomalias congênitas for inaceitavelmente elevado. Milunsky, 1998

Thompson (2011): 1. Oferecer um leque de escolhas informadas aos pais com risco de ter um filho malformado; 2. Oferecer segurança e reduzir ansiedade, especialmente no grupo de alto risco; 3. Oferecer a casais (que optariam por não engravidar) a possibilidade de gravidez, sabendo que a presença ou ausência da MF pode ser confirmada por teste pré-natal.

INTERRUPÇÃO DA GESTAÇÃO < 2% de todos os abortos eletivos são realizados após DPN de anormalidade fetal. 98% dos achados de DPN são normais

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL DETECÇÃO PRÉ-NATAL DE ANOMALIAS GENÉTICAS Dosagem bioquímica em Método não invasivo Métodos invasivos soro materno (AFP, hcg, (Ultrassonografia (Amniocentese, Bp de ue 3, PAPP-A) gestacional) vilosidade coriônica e Cordocentese)

DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL DETECÇÃO PRÉ-NATAL DE ANOMALIAS GENÉTICAS Dosagem bioquímica em Método não invasivo Métodos invasivos soro materno (AFP, hcg, (Ultrassonografia (Amniocentese, bx de ue 3, PAPP-A) gestacional) vilosidade coriônica e cordocentese) TRIAGEM DIAGNÓSTICO

DOSAGEM EM SORO MATERNO 1. Alfa-Feto-Proteína em defeitos de fechamento do tubo neural (DFTN) em Sd. de Down e outras cromossomopatias, onfalocele e gemelaridade 16 18 semanas de idade gestacional

DOSAGEM EM SORO MATERNO 2. Gonadotropina coriônica humana (hcg) em Sd. de Down Segundo trimestre ( -hcg no primeiro trimestre)

DOSAGEM EM SORO MATERNO 3. Estriol não-conjugado em Síndrome de Down

DOSAGEM EM SORO MATERNO 4. Proteína A plasmática associada à gestação (PAPP-A) em Sd. de Down e outras cromossomopatias, Sd de Cornelia de Lange e det. complicações na gravidez; Primeiro trimestre (10 semanas).

TESTE TRIPLO Dosagem da -feto proteína, estriol não-conjugado e gonadotrofina coriônica humana no soro materno entre 15 a e 20 a semana de gravidez -feto proteína Estriol nãoconjugado Gonadotrofina coriônica S. Down Trissomia do 18 DFTN NA NA NA = não aplicável

NÃO INVASIVO - ULTRASSONOGRAFIA Transvaginal Transabdominal

ULTRASSONOGRAFIA GESTACIONAL Ultrassonografia é a principal ferramenta na detecção prénatal de malformações fetais; A primeira malformação a ser detectada intra-útero, levando a interrupção terapêutica da gravidez, foi Anencefalia (1972); Recomendação do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (UK) USG de toda gestante com IG= 20 semanas biometria fetal busca de MF fetais

ULTRASSONOGRAFIA GESTACIONAL Screening USG de MF para gestantes de baixo risco: Sensibilidade = 20-70% Especificidade = 99,9%

MALFORMAÇÕES X ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS HOLOPROSENCEFALIA 33% 4% qdo MF única; 39% associada a outras MF Cromossomopatias mais comuns: T13, T18 MICROCEFALIA 15-25% >90% associado a outras MF Cromossomopatia mais comum: T18

USG MALFORMAÇÕES X ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS HIDROCEFALIA 13% 2% MF única 17% associado a outras MF Cromossomopatias mais comuns: T21, T18 e T13 Hidrocefalias pequenas mais associadas a cromossomopatia. DFTN baixa associação com cromossomopatia Espinha bífida, Mielomeningocele, Anencefalia *Uso de ácido fólico recomendado como rotina pré concepção reduz em 75%.

Ultrassonografia Gestacional

HIGROMA CÍSTICO alt. cromossômica em 46-90% Cromossomopatia mais comum: Sd. de Turner

Ultrassonografia Gestacional MALFORMAÇÕES X ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA 18% 2% qdo MF única; 39% qdo associado a outras MF MALFORMAÇÃO CARDÍACA 28% 16% qdo MF única; 65% qdo associado a outras MF Cromossomopatia mais comum: T21, T18, T13

Ultrassonografia Gestacional ONFALOCELE 36% 8% qdo MF única; 46% qdo associado a outras MF Cromossomopatias mais comuns: T18, T13 * Onfaloceles pequenas, contendo apenas alças intestinais, estão mais associadas a cromossomopatia do que as grandes, com herniação de fígado.

Ultrassonografia Gestacional

Ultrassonografia Gestacional

Ultrassonografia Gestacional FENDAS LÁBIO-PALATINAS Alteração cromossômica pós-natal < 1%. No período pré-natal anomalia cromossômica em 40% 100% quando associadas a outras MF. Cromossomopatia mais comum: T13, T18

nariz lábios Lábio fendido queixo Face normal - 3D Face normal - 3D

Outras MALFORMAÇÕES Sinais de Alerta USG Agenesia de Corpo Caloso Atresia Esofágica, Atresia Duodenal Cistos Abdominais Gastrosquise Malformação/Agenesia Renal Redução/ausência de Membros Polidactilia Medida do osso nasal Micrognatia Retardo de Crescimento Intra-Uterino

Ultrassonografia Gestacional

Ultrassonografia Gestacional

Ultrassonografia Gestacional

Ultrassonografia Gestacional TRANSLUCÊNCIA NUCAL ou PREGA NUCAL Medida de coleção fluida no tecido subcutâneo da nuca fetal Varia com tamanho do feto e tende a desaparecer no 2 semestre Idade gestacional para medida entre 11 e 14 semanas > 2,5 mm é sinal de alerta

Translucência nucal

Translucência nucal

Translucência nucal

Aumento da Translucência nucal Associação com cromossomopatia (S.Down) em aproximadamente 30% Definição do Risco para cromossomopatia depende da IM. Sensibilidade para T21 = 85%

Diagnóstico Pré-natal MÉTODOS INVASIVOS Procedimentos realizados com objetivo de coletar material fetal para estudo cromossômico (convencional ou FISH), bioquímico ou molecular.

INDICAÇÕES Diagnóstico Pré-natal Idade materna avançada Criança/Gestação anterior com anormalidade cromossômica de novo Aberração cromossômica em um dos pais Achados ultrassonográficos sugestivos História familiar para doenças genéticas diagnosticadas por biologia molecular ou testes bioquímicos História familiar de doença ligada ao X sem teste diagnóstico específico Triagem bioquímica materna sugestiva de cromossomopatia Ansiedade materna

Diagnóstico Pré-natal 1. BIÓPSIA DE VILOSIDADE CORIÔNICA Obtenção de tecido trofoblástico fetal através da aspiração da área vilosa do córion Coleta pode ser transcervical ou transabdominal 10 12 semanas de idade gestacional Risco de perda fetal = 1% Cultura de curto prazo (24-48h) e longo prazo Mosaicismo confinado à placenta

Diagnóstico Pré-natal

Diagnóstico Pré-natal 2. AMNIOCENTESE Coleta de líquido amniótico para análise das células fetais Sempre por via transabdominal 13 18 semanas (16 semanas) Risco de perda fetal = 0,5%

Diagnóstico Pré-natal

Diagnóstico Pré-natal 3. CORDOCENTESE Coleta de sangue fetal do cordão umbilical Sempre por via transabdominal A partir de 18 semanas Risco de perda fetal = 1,6 3% Útil para esclarecer resultados citogenéticos ambíguos na amniocentese ou vilosidade.

Diagnóstico Pré-natal

Diagnóstico Pré-natal LIMITAÇÕES ABERRAÇÕES CROMOSSÔMICAS Tempo para liberação do resultado; Falha no cultivo celular; Contaminação com células maternas; Pseudo-mosaicismo.

DOENÇAS GÊNICAS Diagnóstico Pré-natal Impossibilidade da confirmação diagnóstica Inúmeras Mutações Falta de correlação genótipo-fenótipo

Atitudes Frente ao Diagnóstico Pré-Natal e Detecção de Anomalias Congênitas Quem toma as decisões? A gestante e seu companheiro, dentro dos limites éticos e legais, após esclarecimento completo da situação A paciente necessita apoio Familiar Psicológico Equipe de Medicina Fetal

Atitudes Frente ao Diagnóstico Pré-Natal e Detecção de Anomalias Congênitas Quais os requisitos da informação? Clara Segura Completa Imparcial O que evitar? Informações precipitadas e contraditórias Juízos pessoais Atitudes diretivas Paternalismo