A importância da intervenção da fisioterapia na fase inicial da hemiplegia após acidente vascular cerebral AVC Alessandra Antunes Barbosa 1, Ana Karina Souza 1, Anne Gouvea Tozzo 1, Lívia de Cássia Baratella Santos 1, Maria Cândida Carvalho Barruffini de A. Clementino 1, Karina Costa Paes Herdade 2 1 Discente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá; 2 Docente do Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá. karina.herdade@baraodemua.br 1 INTRODUÇÃO Com a melhora da expectativa de vida no mundo e no Brasil tem aumentado o número de pessoas com doenças crônico-degenerativas, entre elas, o acidente vascular cerebral (AVC). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o AVC caracteriza-se por um déficit neurológico focal ou global súbito, com sintomas que perduram mais de 24 horas ou que levam à morte sem outra causa aparente que a de origem vascular (NUNES; PEREIRA, 2005). O AVC é a doença vascular que mais acomete o sistema nervoso central, bem como a principal causa de incapacidades físicas e cognitivas. Corresponde à lesão cerebral resultante da interrupção aguda do fluxo sanguíneo arterial que pode surgir por uma obstrução do vaso provocada por um êmbolo/trombo (coágulo), pela pressão da perfusão cerebral insuficiente ou pela ruptura da parede arterial (SILVA, 2007). No Brasil, é responsável por altas taxas de mortalidade e invalidez, constituindo uma patologia de elevado custo socioeconômico (LESSA, 1999). Os déficits neurológicos focais que resultam de um AVC são um reflexo do tamanho da localização da lesão e da quantidade de fluxo sanguíneo colateral (ROWLAND, 1997). Os déficits neurológicos agudos apresentados por esses pacientes incluem a hemiplegia/paresia, ataxia, deficiências visuoperceptivas, afasia, disartria, deficiências sensórias, de memória e problemas com controle vesical (EKMAN, 2008). Deste modo, a reabilitação de um paciente pós-avc é um processo para o desenvolvimento da máxima capacidade funcional deste e tem como objetivo diminuir o comprometimento imposto pela disfunção, promovendo um modo de vida mais saudável. Estudos prévios mostraram que um programa de fisioterapia imediato na sequência de um incidente de AVC tem se mostrado eficaz na recuperação funcional dos pacientes acometidos (NAKI et al., 2011). 2 OBJETIVOS Avaliar a importância da intervenção fisioterapêutica precoce em paciente portador de hemiplegia pós-avc. 3 MATERIAL E MÉTODOS Após a seleção do paciente através dos prontuários existentes na Clínica-Escola de Fisioterapia do Centro Universitário Barão de Mauá, este foi avaliado pelas alunas pesquisadoras responsáveis pelo projeto. A partir das informações coletadas, foi possível
formular o diagnóstico fisioterapêutico. Feito isso, as condições funcionais apresentadas pelo paciente foram avaliadas pré e pós-protocolo proposto. Para tanto, foi utilizado o instrumento de Medida de Independência Funcional (MIF) (RIBEIRO, MYAZAKI, JUCÁ, 2007), traduzido e validado para seu uso no Brasil em 2000. Este instrumento quantificou as atividades de cuidado pessoal, controle de esfíncteres, mudanças de decúbito, transferências cama/cadeira/banheiro, áreas cognitivas e sociais. Cada atividade recebeu um valor que variou de um a sete de modo que o escore total mínimo foi 18 e o máximo 126, caracterizando os níveis de dependência (RIBEIRO, MYAZAKI, JUCÁ, 2007). Estas informações subsidiaram o protocolo de tratamento fisioterapêutico que o paciente recebeu das alunas pesquisadoras responsáveis pelo projeto. O paciente foi atendido duas vezes por semana, compreendendo o total de 16 sessões, com duração de 50 minutos cada. O protocolo de exercícios incluiu: orientações de transferências (cama/cadeira/banheiro) e posicionamento no leito; treino de posições fundamentais (rolar, atividades de prono, gato, semiajoelhado, ajoelhado e de pé). Nestas posições foram trabalhadas descarga de peso, atividades de alcance e cinesioterapia para inibição de padrões anormais de movimento, equilíbrio, atividades funcionais e do cotidiano, se necessário com o auxílio do rolo e da bola terapêutica. Foi realizada cinesioterapia motora: alongamento dos músculos isquiotibiais e quadríceps com auxílio de uma faixa elástica (três séries de 30 segundos); fortalecimento dos MMII (quadríceps, isquiotibiais, adutores e abdutores de quadril, dorsiflexores e flexores plantares), dentre eles, exercícios isométricos e isotônicos, com uso do theraband e tornozeleiras; treino de marcha com obstáculos na barra paralela (de acordo com as limitações do paciente observadas pós-avaliação), treino de atividades funcionais de sentado para de pé e de pé para sentado, e bicicleta estacionária por 15 minutos finais. 4 RESULTADOS Participou do estudo um paciente com 39 anos de idade, vítima de AVC hemorrágico com diagnóstico fisioterapêutico de hemiparesia espástica à direita completa desproporcionada com alteração de marcha e equilíbrio. O escore total medido pela MIF evoluiu de 99 para 112. Tabela 1 - Medida de Independência Funcional (MIF). Tarefas Escores* Avaliação Reavaliação Alimentação 6 7 Higiene pessoal 7 7 Banho 6 7 Vestir metade superior do corpo Vestir metade inferior do corpo 7 7 6 6 Uso do vaso sanitário 3 5 Controle da urina 7 7 Controle das fezes 7 7
Transferência para cama, cadeira e cadeira de rodas Transferência para vaso sanitário Transferência para chuveiro/banheira 3 4 3 5 6 7 Locomoção 4 5 Escadas 3 4 Compreensão 7 7 Expressão 5 7 Interação social 7 7 Resolução de problemas 6 7 Memória 6 6 TOTAL 99 112 *1-Ajuda total; 2-ajuda máxima; 3-ajuda moderada; 4-ajuda mínima; 5-supervisão ou preparo; 6-independência modificada; 7-independência completa. 5 DISCUSSÃO Os resultados obtidos sobre o paciente estudado, após ser avaliado sobre o nível de sua independência funcional com a aplicação da MIF, apresentaram modificações favoráveis. Estes resultados foram propiciados pela reabilitação precoce (HESBEEN, 2003), o que permitiu minimizar as complicações decorrentes pós-sequela de AVC. Estudos realizados sobre a reabilitação precoce revelam uma redução da incapacidade e melhoria das estratégias compensatórias (RYERSON, 2010). Estudos prévios que compararam início precoce e tardio da reabilitação demonstraram melhor prognóstico se instituída dentro dos primeiros 20-30 dias após o AVC (EUSI, 2003). A recuperação funcional do doente com AVC varia de pessoa para pessoa e pode continuar por meses ou anos. Pesquisas vieram contrariar o que se pensava historicamente, ou seja, que a recuperação da função motora após o AVC estaria completa depois de 3 a 6 meses do início (RYERSON, 2010). Ademais, um estudo mostrou que a maior parte da recuperação se dá até seis meses de uma forma espontânea devido ao processo de plasticidade neural (TEASSEL; BAYONA; BITENSKY et al., 2005). A plasticidade neural refere-se à capacidade que o sistema nervoso central possui em modificar algumas das suas propriedades morfológicas e funcionais em resposta às alterações do ambiente. Na presença de lesões, o sistema nervoso central utiliza-se desta capacidade na tentativa de recuperar funções perdidas e/ou, principalmente, fortalecer funções similares relacionadas às originais (DOMBOVY; SANDOCK; BASFORD, 1986). Após seis meses, a recuperação ainda acontece, mas é melhorada quando é induzida por fármacos e terapia reabilitadora (NUDO, 2003). Assim, a recuperação pós-avc está associada a uma reorganização da atividade neuronal do tecido cerebral, sendo ela ao redor da lesão ou em áreas adjacentes. No entanto, essa reorganização é dependente de estímulos, como, por exemplo, a reabilitação por exercícios (DOMBOVY; SANDOCK; BASFORD, 1986). Os processos de reparação e reorganização do sistema nervoso central que se iniciam
logo após a lesão, se somados à reabilitação fisioterapêutica intensificada na fase inicial, favorecerão o aprendizado ou reaprendizado motor do paciente pós-sequela de AVC, pois o processo de reabilitação acontecerá no pico da plasticidade cerebral, favorecendo, assim, suas respostas motoras, melhorando seu desempenho, como resultado da prática (NUDO, 2003). 6 CONCLUSÃO O presente relato de caso mostra a importância da fisioterapia no atendimento precoce de pacientes portadores de hemiplegia após AVC. Com uma abordagem precoce esses pacientes são privados de diversos problemas decorrentes da hemiplegia, alcançando, assim, um retorno às atividades de vida diária e ocupacionais de maneira mais rápida e garantida. Palavras-chave: acidente vascular cerebral, fisioterapia, hemiplegia, fisioterapia precoce, fase inicial. REFERÊNCIAS DOMBOVY, M. L.; SANDOCK, B. A.; BASFORD, J. R. Rehabilitation for stroke: a review. Stroke, v. 17, n. 3, p. 363-9, 1986. EKMAN, L. L. Neurociências: fundamentos para reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. 178p. THE EUROPEAN Stroke Initiative Executive Committee and the EUSI Writing Committee. Cerebrovasc Dis, v. 16, p. 311-337, 2003. HESBEEN, W. A. Reabilitação: criar novos caminhos. Loures: Lusociência, 2003. LESSA, I. Epidemiologia das doenças cerebrovasculares no Brasil. SOCESP, São Paulo, v. 9, n. 4, p. 509-518, 1999. NAKI, I. K. et al. Acidente vascular encefálico agudo: reabilitação. Acta Fisiatr, v. 19, n. 2, p. 60-65, 2011. NUDO, R. J. Adaptative plasticity in motor cortex: implications for rehabilitation after brain injury. J Rehabil Med, v. 41, n. 4, p. 7-10, 2003. NUNES, S.; PEREIRA, C. Evolução funcional dos utentes após AVC nos primeiros seis meses após a lesão. Essfisionline, São Paulo, p. 57-62, mar. 2005. Disponível em: <http://www.ess.ips.pt/essfisioonline/volume11n3/pdfs/evolucao%20funcional%20de%20ut entes%20apos%20avc.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2014. RIBEIRO, M.; MYAZAKI, M. H.; JUCÁ, S. S. H. Independência funcional em pessoas com lesões encefálicas adquiridas sob reabilitação ambulatorial. Acta Fisiatr, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 87-94, jun. 2007. ROWLAND, L. P. Merritt: tratado de neurologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. 380p.
RYERSON, S. Hemiplegia. In: UMPHRED, D. Reabilitação neurológica. 5. ed. Rio de Janeiro: Elsiever, p. 769-811, 2010. SILVA, A. O essencial da saúde: AVC. 10. ed. Lisboa: Quidnovi, 2007. TEASSEL, R.; BAYONA. N, A.; BITENSKY, J. Plasticity and reorganization of brain post stroke. Top Stroke Rehab, v. 12, n. 3, p. 11-26, 2005.