EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE BELÉM, ESTADO DO PARÁ. Peças de Informação nº 1.23.000.



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Transcrição:

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE BELÉM, ESTADO DO PARÁ Peças de Informação nº 1.23.000.000059/2012-90 O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, no exercício da titularidade da ação penal, vem apresentar DENÚNCIA em face de ROGÉRIO LOPES DA ROCHA, brasileiro, CPF nº 042.089.907-32, residente e domiciliado na Rua Vasconcelos, nº 15, Bairro Alto Bonito, Goianésia-PA, pelos fatos a seguir descritos. Nos dias 10 a 21 de outubro de 2011, Auditores Fiscais do Trabalho, Policiais Federais e um Procurador do Trabalho, ao realizarem fiscalização em uma propriedade rural localizada na Rodovia PA 150, aproximadamente a 3km da Vila Bom Jesus, Vicinal, mais 6Km em Tailândia-PA, constataram a ocorrência de trabalho em condições análogas à de escravo na Carvoaria do Rogério de Propriedade de ROGÉRIO LOPES DA ROCHA. No ato da fiscalização, foram localizados 04 (quatro) trabalhadores, todos maiores de 18 anos, sendo que 03 (três) do sexo masculino e 01 (uma) do sexo feminino. Os três homens que trabalhavam na carvoaria exerciam função de produção de carvão artesanal, em fornos preparados para esse fim. A atividade consistia desde o corte da madeira com serras elétricas, até a produção final do carvão, já queimado nos fornos. A empregada exercia função de cozinheira, dentro do alojamento no qual dormiam todos os trabalhadores. Durante a fiscalização foram constatadas inúmeras irregularidades no ambiente de trabalho, pois os empregados eram alojados em local totalmente Rua Domingos Marreiros, 690, Umarizal - CEP 66055-210 - Belém/PA

inapropriado, construído em madeira, com frestas grandes que permitiam a entrada de insetos e animais peçonhentos, piso de terra batida e sem armários ou local adequado para armazenamento de mantimentos e de utensílios pessoais. Ademais, as refeições eram preparadas em um forno improvisado dentro do alojamento e consumidas no mesmo local, sendo que inexistiam mesas e cadeiras, obrigando os trabalhadores a manterem seus pertences, louças e demais utensílios no chão, onde também se alimentavam por falta de local apropriado. Como se não bastasse, não havia banheiro no alojamento, e os empregados realizavam suas necessidades fisiológicas no mato, bem como a água consumida era proveniente de um poço sem condições de limpeza e inapropriado para o consumo. Próximo ao alojamento, havia um rio, usado para banho e lavagem de roupa dos empregados. Não eram fornecidos aos trabalhadores os equipamentos de proteção, bem como os utensílios necessários para a realização das atividades, havendo registro de que alguns trabalhadores já haviam sofrido acidentes de trabalho por conta da inexistência de equipamentos seguros para a realização do trabalho. Tais irregularidades foram apuradas e estão descritas no Relatório de Fiscalização realizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego às fls. 2-B a17 dos autos. As fotos abaixo ilustram o narrado: Foto 01 Forno utilizado para queima da madeira e produção do carvão 2

Foto 02 Alojamento dos trabalhadores, feito de madeira, com frestas e chão de terra batida. Foto 03 -Dentro do alojamento. Detalhe para os pertences no chão ou pendurados e as frestas nas paredes. Foto 04 Fogão improvisado dentro do alojamento. 3

Foto 05 Poço onde era retirada água para consumo. Foto 06 Lago utilizado para banho e lavagem de roupas. Ante a constatação do descumprimento de direitos trabalhistas básicos assegurados pela legislação do trabalho, foram lavrados autos de infração e, em seguida, procedeu-se a libertação e ordem de pagamento das verbas rescisórias devidas aos 04 trabalhadores alcançados durante a ação de fiscalização. 4

Em resumo, constatou-se que os trabalhadores eram expostos a condições degradantes, configurando o tipo penal: os trabalhadores viviam em alojamento sem condições de higiene e habitabilidade, com chão de terra batida, desprovidos de quaisquer instalações sanitárias; Não havia cozinha, apenas um fogão a lenha improvisado dentro do alojamento sem condições mínimas de higiene. os empregados tinham de fazer suas necessidades fisiológicas não era fornecido gratuitamente equipamento de proteção no mato; individual, apesar do grande risco de acidentes das atividades; Tais circunstâncias laborais, sem a menor dúvida, revelam a condição análoga à de escravo a que estavam submetidos os trabalhadores da área fiscalizada, vez que se observa, neste cenário, o trabalho degradante e o cerceamento da liberdade. Este último fator não se resume mais à utilização de correntes a fim de prender o homem à terra, mas, sim, a ameaças físicas, ao terror psicológico ou mesmo às grandes distâncias que separam o trabalhador de sua cidade de origem. Por isto, resta configurada a materialidade delitiva. Quanto a autoria do delito, restou claro que o denunciado, na condição de proprietário, administrador e coordenador dos trabalhos realizados na Carvoaria do Rogério era responsável pelo fato, do qual tinha pleno domínio, assinando inclusive Termo de Ajustamento de Conduta com o MTE, contudo seus termos não foram cumpridos. Por todo o exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL que seja recebida a presente DENÚNCIA, e o denunciado ROGÉRIO LOPES DA ROCHA seja citado, processado e condenado às penas do art. 149 do CPB. Indica-se as testemunhas descritas no rol abaixo, as quais deverão ser intimadas para prestar depoimento. Outrossim, requer à Vossa Excelência a vinda das folhas de antecedentes criminais, federal e estadual, do denunciado. 5

Belém, 19 de janeiro de 2012. UBIRATAN CAZETTA Procurador da República /acb ROL DE TESTEMUNHAS: 1. JOÃO EVARISTO PEREIRA NETO, Auditor Fiscal do Trabalho; 2. PAULO CÉSAR POGGI CORREA, Auditor Fiscal do Trabalho; 3. CAMILLA DE VILHENA BEMERGUI, Coordenadora, devendo essas testemunhas serem requisitadas à Superintendência Regional de Trabalho e Emprego. VÍTIMAS 1. ROBERTO SOUSA DOS SANTOS, Trabalhador Rural da Carvoaria do Rogério End. Rua Anacajú, nº 41, Planalto, Dom Elizeu-PA; 2. AUZILEIA LIMA DO NASCIMENTO, Trabalhadora Rural da Carvoaria do Rogério End. Quinta Travessa, nº 305, São Sebastião Abaetetuba-PA; 3. ANTÔNIO DA ROCHA FERNANDES, Trabalhador Rural da Carvoaria do Rogério End. Rua Vila Rica, nº 45, Bairro Vila Rica Vila Rica-PA; 4. WILRY SAN SOUZA DA SILVA, Trabalhador Rural da da Carvoaria do Rogério End. Rua Santo Antônio, nº 77, Nova Mucuíba Senador La Rocque MA. 6