Novidades e Perspectivas no Tratamento da Fibrose Cística



Documentos relacionados
O que há de novo no tratamento da Fibrose Cística?

Fibrose Cística. Triagem Neonatal

Dra Camila D B Piragine Pneumopediatria

Imagem da Semana: Radiografia e Fotografia

Pesquisador em Saúde Pública Prova Discursiva INSTRUÇÕES

Circulação sanguínea Intrapulmonar. V. Pulmonar leva sangue oxigenado do pulmão para o coração.

A pneumonia é uma doença inflamatória do pulmão que afecta os alvéolos pulmonares (sacos de ar) que são preenchidos por líquido resultante da

TEMA 003 CONHEÇA E PREVINA AS DOENÇAS DO INVERNO

Infecção Bacteriana Aguda do Trato Respiratório Inferior

Fique atento ao abuso de antibióticos na pediatria

5.1 Doenças do esôfago: acalasia, esofagite, hérnia hiatal, câncer de cabeça e pescoço, câncer de esôfago, cirurgias

PROVA ESPECÍFICA Cargo 48. Na reação de hipersensibilidade imediata do tipo I, qual dos seguintes mediadores é neoformado nos tecidos?

Perguntas e respostas sobre imunodeficiências primárias

Formadora: Dr.ª Maria João Marques Formandas: Anabela Magno; Andreia Sampaio; Paula Sá; Sónia Santos

Azul. Novembro. cosbem. Mergulhe nessa onda! A cor da coragem é azul. Mês de Conscientização, Preveção e Combate ao Câncer De Próstata.

INFERTILIDADE MASCULINA E FIBROSE CÍSTICA

Pulmozyme. (alfadornase) Produtos Roche Químicos e Farmacêuticos S.A. Solução para inalação 1,0 mg/ml

Hepatites Virais 27/07/2011

Medindo a Qualidade de Vida em Estudos Clínicos de FC: Outra Peça do Quebra-Cabeça

TERAPIA GÊNICA. Brasília DF, Julho de 2010.

TERAPIA NUTRICIONAL NUTRIÇÃO ENTERAL

FARMACÊUTICOS DE FIBRA PRÊMIO PRIMEIROS PASSOS FARMACÊUTICOS - CRF-PR 2014 TEMA: DOENÇAS CRÔNICAS

Abordagem do doente com DPOC Agudizada

Sistemas do Corpo Humano

SALSEP cloreto de sódio Solução nasal 9 mg/ml

TEMA: Seretide, para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

GH EM NEONATOLOGIA GH EM NEONATOLOGIA GH EM NEONATOLOGIA GH EM NEONATOLOGIA HIPOGLICEMIA NEONATAL HIPOGLICEMIA NEONATAL DOENÇA DA HIPÓFISE

DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA DPOC.

Protocolo para controle glicêmico em paciente não crítico HCFMUSP

As disfunções respiratórias são situações que necessitam de intervenções rápidas e eficazes, pois a manutenção da função

[PARVOVIROSE CANINA]

Pâncreas. Pancreatite aguda. Escolha uma das opções abaixo para ler mais detalhes.

03/07/2012. Mônica Corso Pereira. Ação: organizando um ambulatório para acompanhamento de pacientes portadores de bronquectasias

PNEUMONIAS COMUNITÁRIAS

TABELA DE PREÇOS REFERENCIAIS DIETAS ENTERAIS

IMPLICAÇÕESCLÍNICAS DO DIAGNÓSTICOTARDIO DA FIBROSECÍSTICA NOADULTO. Dra. Mariane Canan Centro de Fibrose Cística em Adultos Complexo HC/UFPR

Saiba quais são os diferentes tipos de diabetes

SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE HOSPITAL INFANTIL JOANA DE GUSMÃO

Bronquiectasia. Bronquiectasia. Bronquiectasia - Classificação

UNIVERSI DADE CATÓLI CA DE PERNAMBUCO UNICAP PRÓ REI TORI A DE ENSI NO, PESQUI SA E EXTENSÃO PROESPE DEP ARTAMENTO DE BI OLOGI A / ESPAÇO EXECUTI VO

TERAPIA ANTIBIÓTICA TICA INALATÓRIA PASSADO,PRESENTE E FUTURO NO DESAFIO À RESISTÊNCIA MICROBIANA

A DESNUTRIÇÃO DO PACIENTE ONCOLÓGICO

Influenza. João Pedro Marins Brum Brito da Costa (Instituto ABEL) Orientador: André Assis (UFRJ Medicina)

Fibrose Cística: diagnóstico e tratamento

Coordenador do Projeto: Autores: Pneumologia Pediátrica. Dra. Jocemara Gurmini Gastroenterologista Pediátrica e Terapia Nutricional.

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DA SAÚDE CESAU

O QUE VOCÊ PRECISA SABER

Trato Digestivo do Suíno

Vitor Daniel Nasciben

Podem ser portadores e formar uma rede de transmissão. Não, porque contêm químicos e está clorada.

O desafio hoje para o Pediatra e também para sociedade é cuidar das crianças que vão viver 100 anos ou mais e que precisam viver com qualidade de


O que o fonoaudiólogo pode realizar nas duas áreas novas: Disfagia e Fonoeducacional?

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DA SAÚDE CESAU

Aesculus hippocastanum

VI CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM DIABETES DIETOTERAPIA ACADÊMICA LIGA DE DIABETES ÂNGELA MENDONÇA

FUNDAMENTOS DE ENFERMAGEM II. Nutrição Enteral Profª.Enfª:Darlene Carvalho

Fluxograma do Manejo da Estase

EXERCÍCIO E DIABETES

P N E U M O N I A UNESC ENFERMAGEM ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO ADULTO PROFª: FLÁVIA NUNES 10/09/2015 CONCEITO

REGISTRO: Isento de Registro no M.S. conforme Resolução RDC n 27/10. CÓDIGO DE BARRAS N : (Frutas vermelhas) (Abacaxi)

VIROLOGIA HUMANA. Professor: Bruno Aleixo Venturi

IMUNODEFICIÊNCIA COMUN VARIÁVEL

TEMA: Temozolomida para tratamento de glioblastoma multiforme

-.BORDETELOSE CANINA "TOSSE DOS CANIS"

NORMA TÉCNICA 02/2013

DIABETES MELLITUS. Prof. Claudia Witzel

PERFIL PANCREÁTICO. Prof. Dr. Fernando Ananias. MONOSSACARÍDEOS Séries das aldoses

Serviço Especial de Genética Ambulatório de Fenilcetonúria - HC Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico - NUPAD Faculdade de Medicina / UFMG

Hipertensão Arterial Pulmonar Protocolos Por que e para que? Ricardo Fonseca Martins

TEMA: Uso de Calcitriol no hipoparatireoidismo após cirurgia de tireóide

Convivendo bem com a doença renal. Guia de Nutrição e Diabetes Você é capaz, alimente-se bem!

Hemoglobinopatias. Dra. Débora Silva Carmo

Atualização do Congresso Americano de Oncologia Fabio Kater

95% de água, 3% de substâncias orgânicas e 2% de sais minerais. uma secreção serosa outra secreção mucosa

O papel da Nutrição na Saúde dos Peixes. João Manoel Cordeiro Alves Gerente de Produtos Aquacultura Guabi Nutrição Animal

Alergia e Pneumologia Pediátrica Hospital Infantil João Paulo II Hospital Felício Rocho Wilson Rocha Filho

MARIA JOSÉ SANCHES MARIN MARIA PAULA FERREIRA RICARDO MARILIA SIMON SGAMBATTI UNIDADE 6 ABORDAGEM DA CRIANÇA COM ANEMIA FALCIFORME E FIBROSE CÍSTICA

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

Apêndice D: Listas de verificação de múltiplas observações

RESPOSTA RÁPIDA 147/2014 Peptamen Junior, fibra em pó, equipos

Insuficiência de Vitamina D desafio diagnóstico!!!

20/12/2012 NOTA TÉCNICA

Infermun em parvovirose canina

Doenças Respiratórias Crônicas. Caderno de Atenção Básica 25

PROJETO DE LEI Nº, DE 2014

J o r n a l. Esperança: Novos medicamentos em teste prometem avanços no tratamento da Fibrose Cística

Introdução. Metabolismo dos pigmentos biliares: Hemoglobina Biliverdina Bilirrubina Indireta (BI) ou nãoconjugada

95% de água, 3% de substâncias orgânicas e 2% de sais minerais. uma secreção serosa outra secreção mucosa

EPIGENÉTICA E NUTRIÇÃO MATERNA. Augusto Schneider Faculdade de Nutrição Universidade Federal de Pelotas

O que é câncer de estômago?

Conheça alguns mitos e verdades sobre a tosse

NUTRIÇÃO INFANTIL E AS CONSEQUENCIAS NOS CICLOS DA VIDA. Profª Ms. Ana Carolina L. Ottoni Gothardo

Conheça mais sobre. Diabetes

SISTEMA DIGESTÓRIO. Boca Glândulas salivares Esófago Fígado Vesícula biliar. Faringe. Estômago Pâncreas Intestino grosso. Intestino delgado.

SUMÁRIO MÓDULO 6 ALIMENTOS E NUTRIENTES ATIVIDADE 1 (PÁGINA 221)

Transcrição:

Novidades e Perspectivas no Tratamento da Fibrose Cística Dra. Fabíola Villac Adde Unidade de Pneumologia Instituto da Criança Hospital das Clínicas FMUSP APAM 23/06/12

Fibrose Cística Situação no Brasil Doença orfã, apesar de tão grave quanto o câncer infantil - pouco conhecida - sub-diagnosticada - diagnósticos tardios pior prognóstico Teste do pezinho: em SP desde Fev/10 diagnósticos

Mediana de sobrevida de pacientes com Fibrose Cística C (CF Foundation Data Registry) Médiana de sobrevida (anos) 40 30 20 10 0 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 Ano AJRCCM 2006; 173:475-82

Fibrose Cística Definição Doença genética, que envolve as glândulas exócrinas e evolui de forma crônica e progressiva

Alteração genética Produção de proteína defeituosa (CFTR) Transporte inadequado do cloro nas células

Consequências: - níveis de sódio s e cloro no suor - viscosidade das secreções gl.. mucosas: ductos pancreáticos, brônquios, fígado, f intestino obstrução ductos perda da função glandular

Infecção ão: : facilidade à colonização e infecção dos brônquios por bactérias específicas Staphylococcus aureus Pseudomonas aeruginosa Burkholderia cepacia S.maltophilia Outros: Haemophilus influenzae, E.coli, klebsiella, Serratia, Achromobacter Virus

Quadro Clínico Vias aéreas a superiores * Sinusite crônica * Polipose nasal Vias aéreas a inferiores * Tosse crônica * Pneumonias de repetição * Bronquiolite persistente * Atelectasias * Bronquiectasias

Pâncreas Insuficiência pancreática em ~ 85% pctes não há liberação das enzimas digestivas (lipase, proteases, amilase) e bicarbonato no intestino má digestão da gordura, proteínas e carboidratos perda de nutrientes nas fezes diarréia crônica desnutrição deficiência de vitaminas

Nutricional necessidades calóricas baixa ingestão perdas energéticas pelas fezes desnutrição protéico ico-calórica

Fibrose Cística Tratamento Doença pulmonar Fluidificação das secreções: inalações com SF, SF + BD, NaCl7%, dornase alfa, antibióticos Antibióticos orais ou endovenosos quando houver agudização da doença respiratória Azitromicina

Fibrose Cística Tratamento Doença pulmonar Fisioterapia respiratória diária Exercícios Reabilitação pulmonar Oxigenoterapia Transplante Pulmonar

Fibrose Cística Tratamento Doença pancreática 1 Dieta rica em calorias, proteínas e gorduras refeições habituais diversos pequenos lanches suplementos nutricionais hipercalóricos

Fibrose Cística Tratamento Doença pancreática 2 Uso adequado das enzimas pancreáticas junto a cada refeição

Fibrose Cística Tratamento Doença pancreática 3 Uso de vitaminas diariamente -SourceCF -Protovit 4- Dieta hipercalórica por gastrostomia, à noite, em casos selecionados

Mensagens importantes sobre Nutrição em FC É mais fácil prevenir a desnutrição do que tratá-la quando ela já se instalou Pacientes bem nutridos melhor pulmão e melhor qualidade de vida Comer bem faz parte do tratamento da fibrose cística

Novidades e Perspectivas no Tratamento da Fibrose Cística

Novos antibióticos ticos inalatórios e formulações em póp Aztreonam inalatório Nova alternativa de droga nebulizada anti- pseudomonas

3 inalações ao dia (~3 min.cada) 28 dias meses alternados

Tobramicina em pó Respir Care 2009; 54:754-67

Antibióticos inalatórios em estudo - Ciprofloxacina - Levofloxacina - Slit Amicacina

Drogas mucoativas Denufosol Lancovutide Ann Pharmacother 2011; 45:49-59 59

Substâncias ativadoras de canais de cloro alternativos Estimula secreção de cloro do epitélio respiratório rio através s da estimulação de canais de cloro alternativos Denufosol: : resultados ruins Lancovutide: em estudo

Drogas mucoativas NaCl 7% - estudo em crianças as < 5 anos Manitol inalatório Ann Pharmacother 2011; 45:49-59 59

Estudo em 324 pctes (Australia, Nova Zelandia, Irlanda, Reino Unido) - Manitol x Placebo - 26 semanas Melhora significativa na função pulmonar - 6,5% (diferença de 93 ml com placebo) 35% risco de exacerbações

Estudo em 305 pctes (EUA, Am.Sul, Europa) - Manitol x Placebo - 26 semanas Melhora na função pulmonar - 8,2% ( 106 ml comparado a antes do tratamento) risco de exacerbações (NS)

Efeitos adversos do manitol - Tosse - Hemoptise - Dor de garganta

Aprovado na Europa para adultos

Transporte de sódio e cloro nas células Cl - 2 Cl - Camp Na + Cl - K + Na + Ca 2+ Na + ~ K + (-) Amiloride K +

Classes de mutações do gene FC (CFTR)

Desenvolvimento de moléculas pequenas Correção farmacológica do CFTR de acordo com a classe de mutação: melhorar o transporte, expressão e função do CFTR

Nov/2011 Ivacaftor: agente oral desenvolvido para aumentar o tempo que os canais de cloro ativados nas células permanecem abertos ( potenciador )

Nov/2011 Estudo randomizado, duplo-cego, placebo controlado para avaliar o ivacaftor (VX-770), um potenciador do CFTR, em pctes com FC 12a e pelo menos uma mutação G551D

Nov/2011 Grupo tratamento (150 mg ivacaftor 12/12h) = 83 pacientes Grupo placebo = 78 pacientes Duração: 48 sem Idade média = 25,5 a Todo tratamento de base era mantido, exceto NaCl7%

Resultados Ivacftor x Placebo Após s 24 sem: diferença a de 10,6% no VEF1 Manutenção da melhora por 48 sem. 55% risco de exacerbações após s 48 sem.

Resultados Ivacftor x Placebo QQV-FC (domínio respiratório): rio): diferença a de 8,6 pontos Nutricional: diferença a de ganho peso = 2,7 Kg Cloro no suor: diferença a de -48,1 mmol/l

Efeitos colaterais Resultados - Semelhantes entre os grupos - Ivacaftor: enzimas hepáticas em 1 caso (interrompido estudo) e hipoglicemia em 2 -+ frequente no ivacaftor: : dor de cabeça, a, resfriado, obstrução nasal, rash,, tontura

Conclusões Ivacftor levou a melhora da função pulmonar jáj em 2 sem., que foi mantida por 48 sem. Tb observou-se melhora em: Seguro - exacerbações - sintomas respiratórios rios - peso - cloro no suor

Custo alto: US$ 294.000/ano = 24.500/mês

Outras moléculas em estudo VX 809 para DF508

Vacina Anti-Pseudomonas Estudos iniciais resultados ruins Década de 90 Vacina de lipopolissacárides + exotoxina: melhores resultados, mas testada em poucos pacientes Últimos anos - eficácia estudo maior: sem

Vetores - adenovírus - AAV - lipídios catiônicos Terapia Genética Transferência genética: transitória ria múltiplas doses Mais estudos necessários

Conclusões Muitas pesquisas em andamento para se tentar corrigir os defeitos básicos b da FC Manter o pulmão bom com os tratamentos disponíveis e nutrição adequada, para no futuro usufruir desses novos tratamentos

Conclusões Pacientes jáj com colonização crônica por pseudomonas novos antibióticos ticos inalatórios rios,, formulações em pó facilitar o dia-a-dia do paciente, alternativas para bactérias resistentes

Conclusões Novas drogas mucotivas chegando manitol Vacina anti-pseudomonas pseudomonas: : perspectiva Terapia genética: mais estudos necessários Transplante pulmonar: alternativa para casos com doença a pulmonar avançada ada

Conclusões Grande perspectiva Terapias moduladoras do processamento do CFTR