Índice 1 Nota prévia... 6 2 Contextualização histórico-literária... 9 2.1. Contextualização... 9 2.2. Elementos de contexto... 11 2.3. Produção literária de Camilo Castelo Branco... 13 2.4. A novela Amor de Perdição... 15 3 A obra como crónica da mudança social... 19 3.1. Crónica e mudança social... 19 3.2. Tempo histórico... 22 4 Sugestão biográfica e construção do herói romântico... 26 4.1. Sugestão biográfica... 26 4.2. Construção do herói romântico... 28 5 Relações entre personagens... 33 5.1. As personagens... 33 5.1.1. Simão Botelho... 35 5.1.2. Teresa de Albuquerque... 36 5.1.3. Mariana... 37 3
5.2. Relações entre personagens... 38 5.2.1. Plano social... 38 5.2.1.1. Oposição... 40 5.2.1.2. Conjunção impossível... 40 5.2.2. Plano individual... 41 5.3. O amor-paixão... 44 5.3.1. Simão Botelho... 45 5.3.2. Teresa de Albuquerque... 46 5.3.3. Mariana... 47 6 Linguagem, estilo e estrutura... 48 6.1. Linguagem, estilo e estrutura... 48 6.2. O narrador... 50 6.3. Os diálogos... 52 6.4. Concentração temporal da ação... 55 7 Tópicos de análise... 58 7.1. Processo de revisão... 58 7.2. Introdução... 58 7.2.1. Fontes, temas e ação... 60 7.2.2. Leitura... 61 7.3. Capítulo I... 61 7.3.1. Tempo... 70 7.3.2. Personagens e costumes... 71 7.4. Capítulo IV... 73 7.4.1. Narrador... 80 7.4.2. Diálogo... 81 4
7.5. Capítulo X... 82 7.5.1. Aspetos temáticos... 96 7.5.2. Diálogo... 98 7.5.3. Carta... 99 7.6. Capítulo XIX... 101 7.6.1. Narrador... 108 7.6.2. Estilo... 109 7.7. Conclusão... 111 7.7.1. Função da conclusão... 119 7.7.2. Carta... 121 8 Textos de consulta... 123 Leituras complementares Amor... 123 Cartas... 123 Diálogo... 124 Herói... 124 Mariana... 125 Narrador... 125 Pundonor... 126 Relações... 126 Simão Botelho (1)... 127 Simão Botelho (2)... 127 Teresa de Albuquerque... 127 9 Obras consultadas... 128 5
4 e Sugestão biográfica construção do herói romântico 4.1. Sugestão biográfica Falamos de sugestão biográfica a propósito do Amor de Perdição, porque a composição da narrativa e o discurso do narrador sugerem a existência de uma certa relação entre a experiência de vida de quem conta (narrador) e uma das personagens (Simão). Lembremos alguns aspetos da estrutura do relato e algumas informações que nele nos são dadas; tenhamos em conta também o subtítulo Memórias duma Família. Assim: CELLO-AP Porto Editora Na expressão Memórias duma Família podemos ler três sugestões: Está em causa, no Amor de Perdição, um passado que deve ser recuperado. Ao mesmo tempo, as memórias sugerem uma componente pessoal, que é a de quem recorda, componente essa que não pode ser ignorada. Se as memórias são de uma família, elas dizem respeito a um coletivo que podemos encontrar prolongado para além dos acontecimentos relatados. A introdução (que não faz parte, em rigor, do relato) combina dois elementos de informação: Um elemento pessoal. Quem nos diz li [ ] o seguinte (p. 13) introduz, naquilo que escreve, o seu conhecimento pessoal 26
Amor de Perdição e a sua subjetividade. É esta que está presente nas considerações que se seguem, acerca da tristeza que esta história inevitavelmente provoca. Um elemento documental, porque quem nos fala na introdução apoia-se nos livros de antigos assentamentos (isto é, nos registos) da Cadeia da Relação do Porto. O que significa que a história que vai ser contada pode ter uma base de verdade, em função de factos acontecidos. CELLO-AP Porto Editora Essa base de verdade não obriga, contudo, a que o Amor de Perdição seja lido como um livro de história propriamente dito (do mesmo modo que lemos uma qualquer história de Portugal, por exemplo). É preciso lembrar que os escritores românticos cultivaram muitas vezes este procedimento: introduziam na composição da obra o seu conhecimento pessoal do que era contado, a fim de impressionarem os leitores com esse testemunho de autenticidade. Um testemunho que muitas vezes era reforçado por documentos citados: cartas, testamentos, notícias da imprensa, livros de registos, etc. No Amor de Perdição isso acontece com frequência. O narrador apoia-se repetidas vezes em cartas que transcreve, sobretudo naquelas que foram trocadas entre Simão e Teresa. Veremos adiante como essas cartas chegaram ao conhecimento do narrador. Por agora, vamos dar atenção ao seguinte: no capítulo XII, é transcrita parte de uma carta que o narrador atribui a uma senhora daquela família. Nessa carta (que se percebe ter sido escrita pela irmã mais nova de Simão, Rita Emília) é contada uma parte daqueles tristes acontecimentos da minha mocidade (p. 129); a certa altura, o narrador interrompe o relato que a carta contém, para não anteciparmos a narrativa de sucessos, que importa, em respeito à arte, atar no fio cortado (p. 132). Note-se o que o narrador diz: em respeito à arte. Sendo assim, por muito que a história de Simão e Teresa esteja baseada em factos e em testemunhos verídicos, a sua composição é, por fim, artística e 27