Contribuições do Sistema Cooperativista - Consulta Pública MDA Critérios e procedimentos de concessão, manutenção e uso do Selo Combustível Social As políticas de apoio à agricultura familiar desempenham importante papel na ampliação da oferta de alimentos e energia, contribuindo fortemente para o atendimento das demandas dos consumidores brasileiros e na melhoria da qualidade de vida dos pequenos produtores rurais. As cooperativas agropecuárias brasileiras inserem-se perfeitamente neste contexto. Em muitas localidades, representam uma das poucas possibilidades de agregação de valor à produção rural, bem como da inserção de pequenos e médios produtores em mercados concentrados. Promovem redução dos custos de transação, em consequência de seu maior poder de negociação na aquisição de insumos e venda de produtos. Geram ganhos de eficiência por sua capacidade coordenadora, através de economias de escala e redução dos riscos em ações conjuntas. São legítimas balizadoras de preços em mercados concorrenciais, com precificação razoável e justa, além de viabilizar a recepção, classificação, padronização, armazenamento, beneficiamento, industrialização e comercialização a produção dos associados. Isso evidencia os diferenciais competitivos da prática cooperativista, de fortalecimento pela união. O cruzamento das bases de dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), em 2012, sinalizou que do total de famílias de agricultores familiares organizados em cooperativas, 76% estão registradas no Sistema OCB. Esta informação ratifica e comprova a importância da Organização como representação legítima no atendimento aos anseios e necessidades do homem do campo. Apesar dos impactos positivos decorrentes das políticas de crédito rural no âmbito do Pronaf e do programa Selo Social - Biodiesel, a forma como é realizada a contratação e a compra da produção, tanto de agricultores quanto de cooperativas, requer uma reavaliação, haja vista que as empresas compradoras da produção vêm adquirindo diretamente de agricultores pronafianos, os quais são associados das cooperativas, desestruturando as mesmas e causando a elas significativas perdas. Teme-se, com isso, que
este processo acabe resultando em impactos negativos para as cooperativas e, consequentemente, para as economias locais nas quais as mesmas estão inseridas. Diante disso, seguem as sugestões do Sistema Cooperativista sobre a Consulta Pública que trata dos critérios e procedimentos de concessão e uso do Selo Combustível Social (Biodiesel): 1. Permitir que as cooperativas detentoras de Dap pessoa jurídica procedam a inserção/alimentação dos dados dos cooperados uma vez por ano no Software Sabido quando do encerramento da comercialização da safra. Justificativa: A comercialização/fixação da soja pelo produtor familiar ocorre ao longo de todo o ano e a comercialização com a empresa/indústria de biodiesel é realizada até o final do 1º semestre. Tal procedimento simplificaria o processo de envio das informações dos produtores. 2. Possibilitar a concessão das Dap s para CNPJs de entrepostos de cooperativas, de forma a beneficiar regiões de atuação das cooperativas onde predominam associados enquadrados como agricultores familiares. Justificativa: Esta proposta permitiria o enquadramento do entreposto da cooperativa que tivesse em seu quadro social predominantemente agricultores familiares e por extensão seus cooperados passariam a ter benefícios do programa. 3. Permitir a operacionalização dos programas voltados à comercialização de produtos da Agricultura Familiar para Biodiesel, diretamente pelas cooperativas, independentemente de percentual mínimo do quadro social com Dap-pessoa física. Justificativa: Esta proposta se justifica uma vez que muitos agricultores familiares filiados a uma cooperativa que não tem a Dap pessoa jurídica (mínimo de 60% de cooperados com Dap pessoa física) deixariam de se beneficiar com a
venda de soja para biodiesel e estariam excluídos desta política pública, embora possuam a Dap pessoa física. 4. Nos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, para fins de comprovação e obtenção do selo social as indústrias de biodiesel devem adquirir a matéria prima integralmente de cooperativas agropecuárias (100%), conforme estabelecido nos critérios do PNPB. Dessa forma, promover-se-á a inclusão social e econômica de milhares de agricultores associados a cooperativas e o reconhecimento do trabalho destas no desenvolvimento sustentável e endógeno. Portanto, a política pública efetivamente será de apoio ao cooperativismo, o qual deve ser estimulado, fortalecido, interrompendo a compra pelas indústrias diretamente do produtor nos três estados do Sul. 5. A partir de 2014, nos três Estados do Sul, seja aumentado o percentual das aquisições da matéria prima feitas pelas indústrias produtoras de biodiesel das cooperativas agropecuárias para fins de comprovação e obtenção do Selo Social. Diga-se, de passagem, que a presente sugestão prende-se ao fato de que as cooperativas do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná produzem quantidade suficiente de matéria prima para as indústrias manterem o selo social; 6. Realizar chamadas públicas de ATER direcionadas para cooperativas com DAP Jurídica que participam do PNPB, para que as mesmas possam melhorar os serviços de assistência técnica junto com seus associados que hoje é feita de forma integral aos cooperados durante o ano todo, nas principais atividades econômicas em suas unidades produtivas, e não somente de uma cultura. 7. Incentivar a agroindustrialização da cadeia produtiva do biodiesel por organizações do cooperativismo da agricultura familiar.
8. Inserir o 5 à redação do Art.10, com os seguintes dizeres: O MDA admitirá a contratação da produção nas fases pós plantio, exclusivamente de cooperativas habilitadas a vender para fins do Selo Combustível Social, de acordo com regulamentação emitida pela instituição e mediante o cumprimento cumulativo dos seguintes requisitos: a) a cooperativa habilitada possua corpo técnico próprio ou terceirizado e realize a assistência técnica em conformidade com as normas contidas nesta Portaria, durante todo o ciclo produtivo da cultura; b) a cooperativa demonstre ao MDA, por meio de carta, as razões que justificam a contratação e venda da produção à empresa interessada; c) o contrato firmado seja feito em conformidade com modelo aprovado pela instituição representativa da agricultura familiar no estado relativo à safra originária da produção, que o assinará, na condição de anuente; e Justificativa: A criação do critério de contratação da produção previamente ao plantio objetivou dar segurança ao agricultor familiar em relação a venda da sua produção com preços justos e dar-lhe acesso a assistência técnica durante, no mínimo, todo o ciclo produtivo da cultura. Tal medida é muito efetiva, sobremaneira para os agricultores de regiões com baixa dinamização da economia ou cujo produto tenha baixa liquidez de mercado. Entretanto, o critério de contratação prévia da produção gera alguns problemas para as cooperativas, surgem, a saber: a) as cooperativas não podem firmar contratos além do limite de matériaprima originada na agricultura familiar com DAP. Como as empresas fazem uma previsão de necessidade de aquisições da agricultura familiar com base na sua expectativa de venda, é comum que vendam menos do que o planejado. Isso implica em menor necessidade de aquisições da agricultura familiar, o que faz com que não executem a integridade dos contratos firmados com as cooperativas. Nesta situação, a cooperativa não vende a
integridade da produção da agricultura familiar, mesmo que surjam outras empresas interessadas, pois a condição de contratação prévia não é satisfeita. Isto implica vários problemas para a cooperativa e para os seus associados. Um deles é como justificar a premiação (bônus) para um agricultor e não fazê-lo para outro; b) nos casos em que a cooperativa aumenta seu quadro de sócios com DAP, há aumento da oferta de matéria-prima lastreada. Mas, devido à limitação imposta na contratação da produção, novos associados não conseguem, na sua maioria, usufruir dos benefícios do Selo Social na sua primeira safra como cooperados. Tal situação tende a ser mais grave e de maiores proporções nos casos em que há saída de uma cooperativa do mercado. Os agricultores rapidamente filiam-se a uma nova cooperativa, no intuito de permanecer no mercado do Selo Social, mas a restrição de contratação prévia limita as chances de escoamento da produção familiar para este fim; c) outro problema é relativo aos custos da assistência técnica. As cooperativas já fazem a assistência técnica aos seus agricultores sistematicamente e historicamente. Mas as normas do Selo Social trouxeram um conjunto de exigências novas, relativas à forma da assistência técnica, ao número mínimo de técnicos e aos procedimentos burocráticos de comprovação, exigidos pelo MDA. Essas exigências implicam em significativos aumentos de custos da atividade que são cobertos, pelo menos em parte, pelo pagamento da ASTEC feito pelas empresas. Entretanto, este pagamento é vinculado ao montante de matéria-prima adquirida. Ora, se a empresa adquire menos do que contratou, irá pagar menos para a assistência técnica. Mas a cooperativa faz o desembolso integral, implicando em custos não previstos. Do lado das empresas, a limitação da contratação prévia também implica em problemas, tais como: a) a empresa faz uma contratação com base em sua expectativa de produção de biodiesel. Por várias razões, a empresa pode vir a vender mais biodiesel do que o originalmente planejado. Com isso, a empresa corre o risco de que o montante contratado não seja suficiente para dar lastro à sua produção. Como existe a restrição à contratação prévia, a empresa não tem
saída, exceto vender menos. Tal suposição é absolutamente inviável, pois a empresa foi feita para produzir e com a menor ociosidade possível. Além disso, uma vez que a empresa tem seus volumes arrematados em leilão, tem a obrigação legal de produzir o biodiesel, visto tratar-se de um produto essencial para o abastecimento público, sob pena de ser processada judicialmente ou penalizada; b) é muito comum que o contratos feitos pela empresa não sejam cumpridos em sua totalidade, afastadas as hipóteses de frustração de safra e de evento de força-maior. Isto tem diversas causas. Por exemplo, no caso de cooperativas, elas podem priorizar um ou outro cliente (com selo social ou não), quer seja por questões de preço, de logística ou quer seja porque tem obrigações com relação a eles, tais como adiantamentos, CPRs vinculados à matéria-prima. Como a empresa, ao fazer o contrato com a cooperativa, não sabe, na prática, o quanto do contrato será executado, corre o risco de não conseguir comprar toda a produção que deseja para dar lastro ao seu biodiesel. Esse tipo de situação começa a ser observado um pouco depois da fase de colheita. Nos meses de julho a dezembro é que a empresa já possui uma visão mais clara do quanto produzirá de biodiesel no ano e do quanto conseguirá executar de seus contratos (tomando-se a soja como exemplo). Ao perceber a necessidade de adquirir mais do que o que fora contratado, a empresa se vê impedida pela restrição de firmar contrato prévios, mesmo que haja cooperativas habilitadas (que cumpriram os requisitos de MDA relativos a assistência técnica). Do exposto, espera-se ter tornado tácito que a exigência de contratação da produção da cooperativa previamente ao plantio torna-se uma camisa de força tanto para as cooperativas quanto para as empresas. Situação que resulta em perdas ao agricultor familiar que não terá acesso ao mercado de biodiesel (e suas vantagens), perdas financeiras para as cooperativas e riscos para a empresa de biodiesel.