A ESTABILIDADE E OS DESEQUILÍBRIOS DA POSTURA EM IDOSOS E SUA RELAÇÃO COM AS QUEDAS E A QUALIDADE DE VIDA Michele Zimermann UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos Resumo Com o envelhecimento há inúmeras alterações físicas e psíquicas no corpo do idoso, onde muitas funções desempenhadas têm um certo declínio. Os desequilíbrios e instabilidades posturais são muito comuns neste momento devido à perda de alguns reflexos, o aumento da oscilação do corpo, a perda de equilíbrio e a falta de consciência corporal. Entretanto, muitas vezes, os idosos não querem admitir estes declínios, tentando manter sua independência como fora outrora na juventude, o que poderá ocasionar maior probabilidade de sofrerem quedas. Uma proposta de prevenção para estes casos seria a educação postural objetivando uma maior consciência corporal e compensação dos desequilíbrios posturais sempre buscando restabelecer sua própria confiança, para que o idoso consiga se opor à força da gravidade e obter equilíbrio nas atividades diárias. Isto proporcionará ao idoso maior estabilidade e segurança, prevenindo as quedas e trazendo maior independência que conseqüentemente contribuirá para uma melhor qualidade de vida. Este estudo tem como objetivo fazer uma revisão das bibliografias sobre o assunto de estabilidade e desequilíbrios da postura de idosos e qual será sua relação nas quedas e na qualidade de vida. Com base na bibliografia existente, será procurado confirmar que a Educação Postural contribui para a melhora nos aspectos funcionais da estabilidade e equilíbrio postural minimizando a propensão das quedas e, conseqüentemente levando a uma melhora na qualidade de vida devido à diminuição da incidência de dor e a melhora da autonomia. Palavras-Chave: Estabilidade e desequilíbrio Postural; Educação Postural; Idosos. E-mail: michele.zimermann@bol.com.br; mi.zimermann@hotmail.com INTRODUÇÃO Devido às alterações funcionais sofridas com o envelhecimento os idosos possuem dificuldade de manutenção da postura corporal. A manutenção da postura ereta não é uma tarefa simples, pois requer a integração central apropriada de sensações visuais, vestibulares e proprioceptivas, e a capacidade de regular o equilíbrio em situações instáveis e permitir o rápido início do movimento (DUARTE E MOCHIZUKI, 2001). A instabilidade e os desequilíbrios posturais se manifestam pela perda de reflexos e pelo aumento na oscilação do corpo que acabam comprometendo a marcha e predispondo a quedas (ZINNI E PUSSI, 2004). Vários fatores (biológicos, doenças e outras causas externas como a queda)
podem influenciar na forma como será o envelhecimento (Rodrigues e Costa Júnior, 2004). No caso da queda ela está intimamente ligada à questão da qualidade de vida que, muitas vezes, está relacionada a questões de dependência e autonomia (SOUZA E FIGUEIREDO, 2003). O impacto causado pelas quedas se dá, principalmente, pela dificuldade de realizar as atividades diárias e maior dependência de outras pessoas, tendo como resultado diminuição da qualidade de vida (RODRIGUES E COSTA JÚNIOR, 2004). Sabemos que desequilíbrios de força e flexibilidade dão maior propensão à queda e que a coluna vertebral é responsável pelo equilíbrio corporal. Por isso a educação postural objetiva a consciência corporal, prevenindo e compensando os desequilíbrios e minimizando os efeitos da má postura (SCHUCH; CANDOTTI; PRESSI, 2000). ESTABILIDADE E DESEQUILÍBRIOS POSTURAIS EM IDOSOS A postura ereta nos desafia pela força da gravidade a manter o equilíbrio do corpo sobre a pequena área dos pés e isto se dificulta ainda mais se analisarmos o movimento do andar (DUARTE E MOCHIZUKI, 2001). O processo de envelhecimento acarreta diversas alterações funcionais que resultam no declínio de diversas funções (acuidade visual, auditiva, desequilíbrio do aparelho vestibular, competência cognitivas e motoras, desequilíbrio e instabilidade postural), que podem comprometer a manutenção da postura ereta (ZINNI E PUSSI, 2004). Se o indivíduo tiver uma má postura, os desequilíbrios musculares de força e flexibilidade irão aumentar e agravar o desequilíbrio corporal (SCHUCH; CANDOTTI; PRESSI, 2000). Nossa vida moderna também contribui para uma má postura, pois traz hábitos que modificam a postura corporal e acabam por originar problemas posturais que, se não corrigidos, tornam-se definitivos (SCHUCH; CANDOTTI; PRESSI, 2000). Todas estas modificações da postura corporal poderão refletir-se numa postura instável, propensa à quedas. QUEDAS Rodrigues e Costa Júnior (2004) define a queda como: "um evento não intencional que tem como resultado a mudança de posição do indivíduo para um nível mais baixo, em relação a sua posição inicial, que se dá em decorrência da perda total do equilíbrio postural e relacionada à insuficiência dos mecanismos envolvidos na manutenção da postura". A instabilidade e os desequilíbrios posturais também são
decorrentes da fraqueza muscular que acabam por comprometer a marcha, tornandoa lenta, cautelosa, arrastada, acompanhada do gingado, ocasionando maior propensão às quedas (ZINNI E PUSSI, 2004). As quedas estão relacionadas à redução funcional do indivíduo que afetem o controle postural e sua capacidade de manter o equilíbrio. Na pesquisa realizada por Rodrigues e Costa Júnior, 2004, verificou-se que nenhum dos idosos referiu relação entre estas alterações e a queda, mostrando como há dificuldade na consciência corporal dos idosos. Para os idosos, a queda está relacionada à incapacidade, injúria e morte. Embora a maior parte das quedas não resulte em mortes (ZINNI E PUSSI, 2004), existe uma morbidade significativa devido à situação de dependência e sofrimento causado pela dor, que resulta numa diminuição da qualidade de vida (SOUZA E FIGUEIREDO, 2003). Por isso muitos idosos não aceitam o declínio de suas capacidades funcionais, com o intuito de manter a juventude e manter a independência. DOR Dor é uma sensação desagradável que varia de intensidade e localização que é estimulada por terminações nervosas especializadas em sua recepção. A dor pode tornar-se crônica e levar a desgastes físicos, psicológicos e até alterar a sociabilidade da pessoa (SCHUCH, CANDOTTI E PRESSI, 2000). No idoso é comum a incidência da dor nas costas, devido à má postura que ocasiona uma sobrecarga mecânica nos receptores de dor. Devido ao envelhecimento, existe uma tendência de aumentar a curvatura cifótica da coluna torácica, diminuindo a lordose lombar, aumento do ângulo de flexão do joelho, deslocamento da articulação coxa-femoral para trás, inclinação do tronco e anteriorização da cabeça (SCHUCH, CANDOTTI E PRESSI, 2000). Visto que a incidência da dor prejudica a qualidade de vida do idoso é importante aliviar a dor para garantir-lhe a execução de suas tarefas do dia-a-dia. É preciso estar claro também, que a queda trará, muitas vezes, conseqüências irreparáveis à vida do idoso, como a dependência nas atividades diárias além do sofrimento causado pela dor, e por isso se faz necessária uma forma de prevenção que traga confiança e segurança.
EDUCAÇÃO POSTURAL A alteração da postura corporal em idosos pode ser considerada um grave problema, pois resulta em ocorrência de dor e aumento da propensão a quedas. A proposta da Educação Postural é prevenir e reabilitar pessoas com problemas na coluna vertebral, através de um curso com informações teóricas sobre o assunto e prática de treinamento das atividades da vida diária (AVD's) (SCHUCH, CANDOTTI E PRESSI, 2000), com o intuito de ter uma postura que ajude a opor-se contra as forças externas, que lhe dê equilíbrio na realização do movimento e que lute contra a ação da gravidade (VERDERI, 2004). A má postura se evidencia quando nos posicionamos fora da linha de gravidade e permanecemos longo tempo nesta posição inadequada. A Educação Postural proporciona uma importante consciência corporal que trará a consciência da má postura e orientará para uma boa posição da postura corporal e equilíbrio corporal. Em uma pesquisa realizada por Schuch, Candotti e Pressi (2000), os autores verificaram que 90% dos idosos tiveram uma melhora no equilíbrio corporal após cursarem a Escola Postural. A escola postural é classificada como "um programa que tem por objetivo prevenir e reabilitar pessoas com problemas degenerativos ou não da coluna vertebral, através de cursos com informações teórico-práticas sobre a estrutura e o funcionamento dos diversos órgãos e segmentos corporais que sustentam e locomovem o ser humano, bem como o seu treinamento e tratamento através de exercícios e de atitudes da vida diária" (SCHUCH, CANDOTTI E PRESSI, 2000). Com todas as melhoras funcionais proporcionadas pela educação postural estaremos contribuindo para uma melhor qualidade de vida. QUALIDADE DE VIDA Verderi (2004) entende que para um indivíduo ter qualidade de vida ele deve ter o mínimo de condição para que se possa usufruir todas as suas potencialidades. Saúde também é qualidade de vida que tem um componente biológico e um comportamental e se alteram de acordo com a relação do indivíduo com o meio. A qualidade de vida para o idoso está intimamente ligada a questões de dependência, incapacidade física para realizar atividades diárias, pois a própria sociedade já estereotipou o idoso como inútil e dependente, implicando em sua
exclusão social. Mas, há muita diversidade desta concepção de idosos para idoso, diferindo pelo nível de dependência e percepção de qualidade de vida (Souza e Figueiredo, 2003). A pesquisa de Souza e Figueiredo (2003) apontou que 81,3% dos idosos que foram positivos à qualidade de vida eram idosos independentes, segundo questionários respondidos pelos próprios idosos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta revisão de bibliografias demonstrou que a educação postural proporciona uma melhor consciência corporal, melhora no equilíbrio e na estabilidade corporal, e diminuição da ocorrência de dores. Estes resultados são positivos no que se corresponde a quedas, pois devido à estabilidade corporal diminui a propensão de quedas e conseqüentemente melhora a qualidade de vida dos idosos, de modo que se aceita a hipótese inicialmente formulada. REFERÊNCIAS BENÍCIO, M. H. D'A.; LATORRE, M. do R. D. de O.; RAMOS, L. R.; ROSA, T.E.da C. Fatores determinantes da capacidade funcional em idosos. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 37, n. l, fev. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 01 set. 2004. CANDOTTI, C. T.; PRESSI, A. M.S.; SCHUCH, E. V.. Escola postural para a terceira idade. Revista Perfil, Ano IV, n. 4, p. 16-24, 2000. COSTA JÚNIOR, M. L. da; FABRÍCIO, S. C. C.; RODRIGUES, R. A. P.. Causas e consequências de quedas de idosos atendidos em hospital público. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 38, n. l, fev. 2004. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 01 set. 2004. DUARTE, M.; MOCHISUKI, L. Análise estabiliográfica da postura ereta humana. Revista Movimento, Rio Claro, 2001. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 01 set. 2004. FIGUEIREDO, D.; GALANTE, H.; SOUZA, L.. Qualidade de vida e bem-estar dos idosos: um estudo exploratório na população portuguesa. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 37, n. 3, jun. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 01 set. 2004. PUSSI, F.A.; ZINNI, J. V. S. O papel da fisioterapia na prevenção da instabilidade e quedas em idosos. Revista Virtual Fisioweb Wgate, abr. 2004. Disponível em: http://www.fisioweb.com.br. Acesso em: 30 ago. 2004. VERDERI, É.. Educação postural e qualidade de vida. Revista Virtual EFArtigos, Natal, v. 2, n. 4, jun. 2004. Disponível em: http://www.efartigos.com.br. Acesso em: 30 ago.