Gestação - Alterações Hormonais e Metabólicas Durante o Exercício

Documentos relacionados
30/05/2017. Metabolismo: soma de todas as transformações químicas que ocorrem em uma célula ou organismo por meio de reações catalisadas por enzimas

METABOLISMO ENERGÉTICO integração e regulação alimentado jejum catabólitos urinários. Bioquímica. Profa. Dra. Celene Fernandes Bernardes

21/10/2014. Referências Bibliográficas. Produção de ATP. Substratos Energéticos. Lipídeos Características. Lipídeos Papel no Corpo

Epinefrina, glucagon e insulina. Hormônios com papéis fundamentais na regulação do metabolismo

Controle Hormonal do Metabolismo

Pâncreas Endócrino Controle da glicemia

REGULAÇÃO HORMONAL DO METABOLISMO DO GLICOGÊNIO E DE LIPÍDIOS

Prof. Dra. Bruna Oneda

Metabolismo do exercício e Mensuração do trabalho, potência e gasto energético. Profa. Kalyne de Menezes Bezerra Cavalcanti

Bioenergética. Trabalho Biológico. Bioenergetica. Definição. Nutrição no Esporte. 1

ALTERAÇÕES METABÓLICAS NA GRAVIDEZ

Profa. Dra. Raquel Simões M. Netto NECESSIDADES DE CARBOIDRATOS. Profa. Raquel Simões

BE066 - Fisiologia do Exercício BE066 Fisiologia do Exercício. Bioenergética. Sergio Gregorio da Silva, PhD

Bases Moleculares da Obesidade e Diabetes

Curso: Integração Metabólica

Integração de Metabolismo.

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM. Fisiologia Endócrina. O Pâncreas. Prof. Wagner de Fátima Pereira

SISTEMA ENDÓCRINO Órgãos endócrinos e suas secreções, alvos e efeitos principais

Glândulas endócrinas:

Hormônios do pâncreas. Insulina. Glucagon. Somatostatina. Peptídeos pancreáticos

PERÍODO ABSORTIVO E PÓS-ABSORTIVO

Bioquímica Prof. Thiago

Disciplina: Bioquímica Curso: Análises Clínicas 3º. Módulo Docente: Profa. Dra. Marilanda Ferreira Bellini

Fisiologia do Exercício. Aula 01

Adaptações Metabólicas do Treinamento. Capítulo 6 Wilmore & Costill Fisiologia do Exercício e do Esporte

TIPOS DE ENERGIAS E FORMAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA NO CORPO As fontes energéticas são encontradas nas células musculares e em algumas partes do co

Fisiologia do Sistema Endócrino. Pâncreas Endócrino. Anatomia Microscópica. Anatomia Microscópica

Monossacarídeos. açúcares simples. Monossacarídeos. Carboidratos formados por C, H, O

4/19/2007 Fisiologia Animal - Arlindo Moura 1

Alterações do equilíbrio hídrico Alterações do equilíbrio hídrico Desidratação Regulação do volume hídrico

Sistema glicolítico ou metabolismo anaeróbio lático

FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO. Profa. Ainá Innocencio da Silva Gomes

Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Ano Lectivo 2010/2011. Unidade Curricular de BIOQUÍMICA II Mestrado Integrado em MEDICINA 1º Ano

Jose Roberto Fioretto

Diabetes e Outros Distúrbios na Homeostasia dos Hidratos de Carbono

Mecanismo de ação do cortisol Ação genômica

BIOENERGÉTICA. O que é Bioenergética? ENERGIA. Ramo da biologia próximo da bioquímica que

GUIA DE ESTUDOS INSULINA E GLUCAGON

Aula 05 DIABETES MELLITUS (DM) Definição CLASSIFICAÇÃO DA DIABETES. Diabetes Mellitus Tipo I

TEORIA DO TREINAMENTO DE NATAÇÃO

BIOENERGÉTICA. O que é Bioenergética? ENERGIA. Trabalho Biológico

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA NO IDOSO

Como classificar um exercício em aeróbico ou anaeróbico?

As alterações são grandes para que haja sustentação das necessidades maternas e para o desenvolvimento do feto

Interpretação de Exames Laboratoriais para Doença Renal

GUIA DE ESTUDOS INSULINA E GLUCAGON

CONTRAÇÃO MUSCULAR: NO ANIMAL VIVO NO PÓS-ABATE: ALTERAÇÕES BIOQUÍMICAS E HISTOLÓGICAS RELAÇÃO COM A QUALIDADE DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS PROGRAMA DE ENSINO DE DISCIPLINA

Profa. Angélica Pinho Zootecnista. Dpto de Zootecnia Fones:

REGULAÇÃO HORMONAL DO METABOLISMO PROTEÍCO

RESPOSTAS FETAIS AO EXERCÍCIO CIO MATERNO

Nutrição e Fisiologia Humana

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

Hormonas e mensageiros secundários

A Diabetes É uma doença metabólica Caracteriza-se por um aumento dos níveis de açúcar no sangue hiperglicemia. Vários factores contribuem para o apare

Pâncreas Endócrino. Prof. Dr. Luiz Carlos C. Navegantes. Ramal: 4635

Metabolismo e produção de calor

Objetivo da aula. Trabalho celular 01/09/2016 GASTO ENERGÉTICO. Energia e Trabalho Biológico

Composição química. Profª Maristela. da célula

TREINAMENTO Processo repetitivo e sistemático composto de exercícios progressivos que visam o aperfeiçoamento da performance.

Gliconeogênese. Gliconeogênese. Órgãos e gliconeogênese. Fontes de Glicose. Gliconeogênese. Gliconeogênese Metabolismo dos aminoácidos Ciclo da Uréia

Universidade Federal do Pampa Campus Itaqui Bioquímica GLICONEOGÊNESE. Profa. Dra. Marina Prigol

Fisologia do esforço e metabolismo energético

Aula: Sistemas Reguladores II. Sistema Endócrino

Prof. Gustavo Santos Medicina 4º Bloco RESPOSTA NEUROENDÓCRINA E METABÓLICA AO TRAUMA

Metabolismo da Glicose. Glicose, metabolismo e enfermidades relacionadas. Metabolismo da Glicose. Prof. Me. Diogo Gaubeur de Camargo

DIETA PARA ENDURANCE. Endurance é o tipo de exercício de alta intensidade por tempo prolongado.

METABOLISMO DE CARBOIDRATOS METABOLISMO DOS LIPÍDIOS METABOLISMO DE PROTEÍNAS

Bioquímica Aplicada ao Exercício Físico e Princípios do Treinamento

FATOR DE IMPACTO : 1,651. Apresentadores: Dante Ferrari Frigotto, Nathanael Ramos Montanez. Orientação: Viviane Rohrig Rabassa

DIETAS DE ESPORTISTAS

Fisiologia do Sistema Endócrino. Introdução e Conceitos Gerais. Profa. Dra. Rosângela F. Garcia

BIOLOGIA - 1 o ANO MÓDULO 03 GLICÍDIOS E LIPÍDIOS

Tudo sobre BCAA (Branch-Chain Amino Acids) - Uma análise científica além da minha opinião e sugestão de uso!

Fisiologia: Digestão, Respiração, Circulação, Excreção, Coordenação e Reprodução

Células A (25%) Glucagon Células B (60%) Insulina Células D (10%) Somatostatina Células F ou PP (5%) Polipeptídeo Pancreático 1-2 milhões de ilhotas

Limiar Anaeróbio. Prof. Sergio Gregorio da Silva, PhD. Wasserman & McIlroy Am. M. Cardiol, 14: , 1964

HORMÔNIOS ESTRUTURAS DIFERENTES PARA FUNÇÕES DIFERENTES

Curso: Integração Metabólica

O QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE DOENÇA METABÓLICA

ESTRESSE EMBASAMENTO FISIOLÓGICO E RELAÇÕES COM A PRODUÇÃO ANIMAL

MONITORAMENTO FISIOLÓGICO DO EXERCÍCIO: O FUTURO DO CAVALO ATLETA

Funções do Metabolismo

Fisiologia do sistema endócrino: hormônio do crescimento (GH)

Aluna: Laise Souza Mestranda em Alimentos e Nutrição

Fisiologia: Digestão, Respiração e Circulação

Visão clínica: desregulação epigenética. Há como reverter o fenótipo (obesidade e crescimento)?

Universidade Ibirapuera Arquitetura e Urbanismo CONFORTO AMBIENTAL: ERGONOMIA E ANTROPOMETRIA. AULA 8 Metabolismo

Pr P o r f o a f Al A essan a d n r d a r a B ar a o r n o e n

Metabolismo de PROTEÍNAS

Glândulas endócrinas:

MANUAL DA DISCIPLINA DE BIOQUÍMICA CURSO DE FISIOTERAPIA

Respostas hormonais ao exercício Mecanismos do emagrecimento e da hipertrofia. Prof. Ms. Alexandre Sérgio Silva

PROAC / COSEAC - Gabarito. 1 a Questão: (1,0 ponto) 2 a Questão: (1,0 ponto)

ENDOCRINOLOGIA DA REPRODUÇÃO. Elisângela Mirapalheta Madeira Medica Veterinária, MC

Metabolismo de Carboidratos

CARBOIDRATOS 23/08/2016. Carboidratos. Monossacarídeos. Classificação (quanto ao número de monômeros)

Metabolismo dos Carboidratos

Transcrição:

Gestação - Alterações Hormonais e Metabólicas Durante o Exercício

Alterações Metabólicas Durante o Exercício na Gestação Durante a gestação as alterações são direcionadas para a manutenção da gestação e um bom desenvolvimento fetal. As alterações metabólicas são direcionadas para uma boa disponibilidade energética principalmente para o feto.

Carboidratos, Proteínas e Lipídios ATP Tais substratos podem vir da dieta ou de reservas corporais. O ganho de peso materno está inversamente relacionado ao ganho na gestação: as mulheres obesas ganham proporcionalmente menos peso que as magras

Proteínas O aumento de proteínas maternas parecem ser exclusivamente para feto, placenta e útero.

Carboidrato Glicose combustível para o metabolismo aeróbio e anaeróbio Glicose Sistema nervoso central

Interconversão de Substratos Glicogênio Insulina Epinefrina Insulina Glicose Ác. Graxo Lipídios Cortisol ACTH Aminoácidos Cortisol ACTH Insulina Proteínas

Mecanismo de Estresse Hormônios são mobilizados para poupar glicose. lipólise e glicogenólise causado pela epinefrina Resultado: hiperglicemia, hiperlipidemia, cetonemia, acidemia lática, diminuição do bicarbonato de sódio plasmático e queda no ph. Insulina hormônio anabólico Resultado: síntese de glicogênio, proteínas e gorduras glicemia, aminoácidos no sangue, cetose, ácidos graxos livres

Mecanismo de Estresse Se o estresse permanece... Ação do Cortisol e ACTH (ação lenta) degradação de proteínas e aminoácidos gliconeogênese Na gestação os hormônios direcionam o metabolismo para que exista sempre um suprimento adequado de substrato para o feto, por meio do catabolismo materno aumentado.

Hormônios e substratos energéticos na gestação ACTH e cortisol porém há resistência hipotalâmica ao cortisol na gestação. A gestante permanece no estágio II do estresse. Há um aumento significante de estrógeno aumenta a lipólise e a degradação proteíca, melhora a tolerância a glicose por interagir com a insulina o que corrobora com o aumento da insulina no final da gestação. A progesterona também contribui para o aumento da insulina O lactogênio placentário mobiliza os ácidos graxos tendo portanto um efeito diabetogênico. A prolactina tem um efeito antiinsulínico

Adaptações Metabólicas No início da gestação ocorre um aumento no armazenamento de gordura corporal e de síntese proteíca. Na segunda metade da gestação cessa o acúmulo de gordura e pode até ocorrer uma diminuição da gordura depositada. A gestante responde rapidamente ao jejum sendo que os sintomas do mesmo aparecem apenas após 4hs. A síntese de lipídios pelo feto ocorre principalmente por meio da glicose e aminoácidos maternos.

Adaptações Metabólicas

Adaptações Metabólicas A sensibilidade à insulina é de 1/5 quando comparada a não gestante. A cetose gestacional é protegida pelos níveis aumentados de insulina, além do fato do feto poder usar cetonas como fonte energética.

Adaptações Metabólicas O consenso é que a cetose deve ser evitada de qq forma. Para isso o jejum deve ser evitado Não deixar de ingerir o desjejum Alimentar-se em intervalos de no máximo 4hs.

Utilização da Glicose Todos os substratos são usados para consumo energético da mãe e filho no final da gestação. As necessidades energéticas do feto no final da gestação são as mesmas da mãe por quilograma de massa. A necessidade total de energia do feto ao final da gestação é de 110Kcal/dia 66g

A glicose materna é preferencialmente direcionada ao feto, de forma contraria que no início da gestação, onde as necessidades fetais são praticamente nulas. No início da gestação grande parte da glicose é convertida em lipídios e uma pequena parte em glicogênio. No final da gestação o consumo de glicose pelo músculo está aumentado, pelo maior período absortivo e altos índices de insulina circulante. Os músculos em exercícios absorvem glicose independente da insulina.

Utilização da Glicose

Respostas Hormonais ao exercício na Gestação Durante a gestação a necessidade de suprimento energético ao feto é primordial A hiperinsulinemia na gestação aumenta o consumo periférico de glicose e a síntese de glicogênio e diminuição da liberação de glicose hepática No final da gestação há uma diminuição do consumo de glicose pela mãe e um na produção de ácidos graxos e cetonas. Durante o exercício de qualquer intensidade sempre há o consumo de glicose a partir do sangue.

Respostas Hormonais ao Exercício na Gestação da atividade simpática adrenégica Glucagon plasmático Insulina plasmática

Efeito do Exercício Sobre as concentrações Maternas de Glicose, Glucagon e Insulina 100 80 60 40 20 0 0 30 45 75 Tempo (min) glicose glucagon insulina Comparação das Concentrações de Norepinefrina, Epinefrina e Cortisol antes e após o Exercício 1600 1400 1200 1000 800 600 Noerpinefrina Epinefrina Cortisol 400 200 0 0 Exercício 75 Tempo (min)

Respostas Hormonais ao Exercício na Gestação Nos exercícios leves a fonte de energia é predominantemente lipídica Com o aumento da intensidade do exercício os carboidratos passam a ter uma contribuição importante. A diminuição da glicemia é proporcional a duração do exercício. Com o aumento da intensidade do exercício aumenta também os níveis de glucagon e assim a disponibilidade de glicose pela glicogenólise e gliconeogênese. O estado de jejum ou pós-prandial interferem nas respostas hormonais ao exercício. As alterações hormonais são sensíveis ao tipo, duração e intensidade do exercício

Comparação do R em Gestantes e Não Gestantes durante o exercício suave, moderado e extenuante 1,5 R 1 0,5 Gestante Não Gestante 0 Suave Moderado VO2 max R VCO 2 / VO 2 quoeficiente respiratório no exercício determina o principal substrato utilizado

Alteração da Glicose Plasmática com exercício suave, moderado e máximo glicose (mg/dl) 15 10 5 0-5 -10-15 Suave Moderado Máximo Gestante Não Gestante

Comparação da Alteração de Norepinefrina Plasmática com exercício suave, moderado e extenuante 2500 2000 ng/ml 1500 1000 Gestante Não Gestante 500 0 Suave Moderado VO2 max.

Alterações hormonais no exercício A ativação simpática progressiva no exercício promove um aumento também progressivo na liberação de norepinefrina. As catecolaminas podem agir de forma a estimular as funções uterinas. Nos exercícios suave e moderado as liberações são pequenas não oferecendo riscos. Nos exercícios exaustivos o aumento da norepinefrina não é tão expressiva

Comparação da Alteração da Epinefrina plasmática no Exercício Suave, Moderado e Exaustivo 200 150 dg/ml 100 50 Gestante Não Gestante 0 Suave Moderado Exaustivo

Alterações Hormonais no Exercício A menor elevação da epinefrina na gestante no exercício exaustivo facilita a utilização da glicose no exercício. As alterações no exercício suave e moderado retornam aos níveis de repouso em 15 min. e no exercício exaustivo em 30 min. Os glicocorticóides liberados durante o exercício aumentam a disponibilidade de glicose e assim aumentam a performance A liberação do cortisol durante o exercício aumenta mas não parece exercer grande aumento na performance da gestante e da não gestante.

Alterações Hormonais no Exercício A liberação da prolactina se mantém até uma hora após o término da sessão de exercício. E é importante para o balanço eletrolítico. Os hormônios ovarianos, estradiol, progesterona também aumentam durante o exercício e de forma mais pronunciada no exercício exaustivo, porém parece não promover aumento da performance da gestante. As alterações hormonais durante a gestação e exercício são transitórias e não trazem prejuízo materno-fetal. Todas as alterações hormonais são menos drásticas em mulheres gestantes treinadas.

Liberação do Cortisol durante o Exercício 1150 1100 1050 n mol/litro 1000 950 Cortisol 900 850 800 exercício 15 30 45 60 75

Liberação de Prolactina no Exercício 220 200 180 ng/ml 160 140 120 100 exercício 15 30 45 60 75

Alteração do Estriol durante o Exercício 35 34 33 32 31 n mol/litro 30 29 28 27 26 Estriol 25 exercício 15 30 45 60 75

Alteração da glicemia no exercício prolongado 5,5 5 mmol/l 4,5 4 Glicemia 3,5 3 0 15 30 45 60 75 exercício repouso

Alteração da insulinemia durante o exercício prolongado 40 35 30 25 U/ml 20 15 insulina 10 5 0 0 15 30 45 60 75 exercício repouso