Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte

Documentos relacionados
Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Acórdão do Tribunal Central Administrativo Sul

Lei n.º 42/2016, de 28/12 Lei do Orçamento do Estado para 2017 / LOE2017. Alterações para Código Impostos sobre Património

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0734/05. Data do Acórdão: Tribunal: 2 SECÇÃO. Relator: JORGE LINO

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2017 CRIA NOVO IMPOSTO ADICIONAL AO IMI

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de

Proposta de alteração à Proposta de Lei n.º 37/XIII/2.ª. Orçamento do Estado para 2017

Sistema Fiscal Moçambicano GARANTIAS GERAIS E MEIOS DE DEFESA DO CONTRIBUINTE PAGAMENTO DE DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS A PRESTAÇÕES COMPENSAÇÃO DAS DÍVIDAS

MAIS-VALIAS E OUTROS INCREMENTOS PATRIMONIAIS

ACÓRDÃO N.º 20/2016- PL-3.ª SECÇÃO 4ROM-SRA/2016 (P. n.º 1/2014-M-SRATC)

FISCALIDADE DE EMPRESA II

AIMI 135.º-A a 135.º-K. Oficio circulado 40115; Instrução de Serviço 40050

O novo Adicional ao IMI. Caracterização e obrigações declarativas

Nota Informativa sobre o AIMI

Alteração ao Código do IMI Artigo 3.º

79/V/98. (Objecto. IUP- Imposto Único sobre o Património

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

O Adicional ao IMI e o IS sobre Imóveis BBB

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo, de

Pº R.P. 241/2008 SJC-CT-

Tributação dos advogados , delegação de Viana do Castelo

O Orçamento do Estado Fevereiro de 2016

ACÓRDÃO N.º 20/2013-3ª S-PL - 10Julho R.O. nº 02-JC/2013 (P. nº 03-JC/2010)

DECRETO N.º 89/XII. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

Repercussões do Direito Comunitário e das decisões do TJUE no Direito Interno e nas Decisões Judiciais

Tribunal de Contas. Acórdão 4/2008 (vd. Acórdão 2/06 3ª S de 30 de Janeiro) Sumário

RENDIMENTOS DA CATEGORIA B REGIME SIMPLIFICADO / ATO ISOLADO. Regime Simplificado de Tributação. Profissionais, Comerciais e Industriais

S. R. TRIBUNAL CENTRAL ADMINISTRATIVO SUL SUMÁRIO

(Sumário elaborado pela Relatora) Acordam os Juízes no Tribunal da Relação de Lisboa:

IMI. Imposto Municipal sobre Imóveis. Cláudia Ferreira

Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa EXONERAÇÃO DO PASSIVO RESTANTE DIFERIMENTO DO PAGAMENTO DE CUSTAS APOIO JUDICIÁRIO.

IES - INFORMAÇÃO EMPRESARIAL SIMPLIFICADA (ENTIDADES RESIDENTES QUE NÃO EXERCEM, A TÍTULO PRINCIPAL, ACTIVIDADE COMERCIAL, INDUSTRIAL OU AGRÍCOLA)

Códigos Tributários ª Edição. Errata

PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS Grupo Parlamentar. Proposta de Lei nº 37/XIII/2.ª Aprova o Orçamento do Estado para 2017

autoridade tributária e aduaneira

Exame de Estágio Época Especial. Direito Fiscal. I Grupo

S. R. TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE GUIMARÃES

Descritores: - EMBARGOS DE TERCEIRO; DIREITO DE CRÉDITO; DILIGÊNCIA INCOMPATÍVEL COM O DIREITO DA EMBARGANTE.

RECOMENDAÇÃO N.º 3/A/2002 [art.º 20.º, n.º 1, alínea a), da Lei n.º 9/91, de 9 de Abril] I - ENUNCIADO -

Acórdão nº 2/2011-3ª Secção. (Processo n.º 1-RO-E/2010)

IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE TRANSMISSÕES ONEROSAS DE IMÓVEIS (IMT)

Tribunal de Contas ANEXO II. Legislação sobre Benefícios Fiscais

Artigo 71.º. Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares. (Redação dada pela Lei n.º 55-A/2012, de 29 de outubro)

IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS SINGULARES (IRS)

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0439/06. Data do Acordão: Tribunal: 2 SECÇÃO. Relator: JORGE DE SOUSA

RENDIMENTOS DA CATEGORIA B REGIME SIMPLIFICADO / ACTO ISOLADO. Regime Simplificado de Tributação. Profissionais, Comerciais e Industriais

MODELO 3 IRS IMPRESSO 2013 CAMPANHA DE ENTREGA DAS DECLARAÇÕES IRS 2012

CENTRO DE EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL de ÉVORA

IMI. Imposto Municipal sobre Imóveis

S. R. TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE GUIMARÃES

MARÇO 2004 SUMÁRIO. I. Legislação nacional II. Instruções administrativas I. LEGISLAÇÃO NACIONAL. Ministério das Finanças

MAIS-VALIAS E OUTROS INCREMENTOS PATRIMONIAIS

Supremo Tribunal Administrativo: - Relatório-

IVA - IMPOSTO SOBRE O VALOR ACRESCENTADO

Calendário das Obrigações Fiscais e Parafiscais para o mês de MAIO DE 2015

MINISTÉRIO DA FAZENDA SEGUNDA SEÇÃO DE JULGAMENTO IRPF LUIZ CARLOS NUNES DA SILVA FAZENDA NACIONAL.

Para o efeito deve utilizar a opção Contribuintes/ Consultar/ IRS /Divergências.

Circular. Face à publicação da Lei n.º 42/2016, de 28 de dezembro, cumpre-nos comunicar as seguintes alterações:

ACÓRDÃO. São Paulo, 20 de maio de Rômolo Russo Relator Assinatura Eletrônica

EXMO. SENHOR DR. JUIZ DE DIREITO DO

IMPOSTO MUNICIPAL SOBRE TRANSMISSÃO ONEROSA DE IMOVEIS

RENDIMENTOS DA CATEGORIA B REGIME SIMPLIFICADO / ATO ISOLADO. Regime Simplificado de Tributação. Profissionais, Comerciais e Industriais

S. R. TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE GUIMARÃES

P.º R. P. 231/2007 DSJ-CT

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte, de

NOVO MODELO 3 DE IRS

Artigo 16.º 1 [...] Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

TRIBUTAÇÃO DO PATRIMÓNIO

Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 01/09. Data do Acordão: Tribunal: 2 SECÇÃO. Relator: PIMENTA DO VALE

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

RENDIMENTOS DE CAPITAIS

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

CIRCULAR DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA

Descritores doença profissional; requerimento; junta médica; incapacidade; caixa nacional de pensões;

Não dispensa a consulta do Diário da República Imojuris. Todos os direitos reservados.

Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva, Economista com. escritório na Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, nº 236, Castelões, em Vila Nova

NOTA FISCAL. Oferta Pública de Venda de Ações (OPV) da

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0366/13 Data do Acordão:

RENDIMENTOS DA CATEGORIA B REGIME SIMPLIFICADO / ACTO ISOLADO. Regime Simplificado de Tributação ANO DOS RENDIMENTOS MODELO 3

Processo n.º 429/2015 Data do acórdão:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL IV 2015/2016 Mestrado Forense / Turma B (Rui Pinto) EXAME FINAL ( ) - Duração 2 h 30 m

Rui Duarte Morais QUANDO A ADMINISTRAÇÃO FISCAL INCUMPRE QUINTAS-FEIRAS DE DIREITO 7 DE JULHO DE 2011

Preenchimento da Declaração Modelo 3 de IRS de 2016

O regime fiscal dos residentes não habituais. Caracterização e novos procedimentos

A Fiscalidade e o Orçamento de Estado para As Alterações nos Impostos sobre o Património Faculdade de Direito da Universidade do Porto

IRS IRC IMI IMT EBF

FISCALIDADE DE EMPRESA II

O IRS no Orçamento do Estado para Audit Tax Advisory Consulting

de Famalicão 2º Juízo Cível Processo nº 1696/11.3TJVNF Insolvência de CSAG Promoção Imobiliária & Construção Civil, Lda.

Decreto-Lei 20/90. Prevê a restituição de IVA à Igreja Católica e às instituições particulares de solidariedade social Publicação: DR nº 11/90 I Série

PRINCIPAIS BENEFÍCIOS FISCAIS DE INCENTIVO À REABILITAÇÃO URBANA 2014

CONTRATO PROMESSA CESSÃO DE POSIÇÃO CONTRATUAL AJUSTE DE REVENDA

DL 495/ Dez-30 CIRC - Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS) - HOLDINGS

ACÓRDÃO. Rebouças de Carvalho RELATOR Assinatura Eletrônica

ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, NA 1ª. SECÇÃO, DO TRIBUNAL CENTRAL ADMINISTRATIVO SUL

MÓDULO: IRC IMPOSTO SOBRE RENDIMENTOS

Transcrição:

Acórdãos TCAN Processo: Secção: Acórdão do Tribunal Central Administrativo Norte 01135/07.4BEBRG 2ª Secção - Contencioso Tributário Data do Acordão: 15-04-2011 Relator: Descritores: Sumário: José Luís Paulo Escudeiro MAIS VALIAS ISENÇÃO IRS TRANSMISSÃO ONEROSA DE IMÓVEIS DESTINADOS A HABITAÇÃO PRÓPRIA E PERMANENTE COMPROPRIEDADE I- Constituem mais-valias os ganhos obtidos que, não sendo considerados rendimentos empresariais e profissionais, de capitais ou prediais, resultem, designadamente, de alienação onerosa de direitos reais sobre bens imóveis e afectação de quaisquer bens do património particular a actividade empresarial e profissional exercida em nome individual pelo seu proprietário Cfr. artº 10º-1- a) do CIRS; II- São excluídos da tributação os ganhos provenientes da transmissão onerosa de imóveis destinados a habitação própria e permanente do sujeito passivo ou do seu agregado familiar, se, no prazo de vinte e quatro meses contados da data de realização, o valor da realização, deduzido da amortização de eventual empréstimo contraído para a aquisição do imóvel, for reinvestido na aquisição da propriedade de outro imóvel, de terreno para a construção de imóvel, ou na construção, ampliação ou melhoramento de outro imóvel exclusivamente com o mesmo destino, e desde que esteja situado em Território português; III- O comproprietário de prédio alienado, que vinha constituindo a sua habitação própria e permanente e que, tenha adquirido, mediante compra e venda, outro imóvel, no prazo de 24 meses, que destinou à sua habitação própria e permanente, beneficia da exclusão da tributação estabelecida na alínea a) do nº 5 do artº 10º do CIRS. IV- Em ordem à exclusão da tributação nele referenciada, irreleva para o efeito a circunstância de se ser mero comproprietário do móvel alienado e não proprietário da sua totalidade, porquanto a lei não exige que o alienante seja proprietário da totalidade do imóvel alienado, não havendo razões para distinguir a situação em que apenas um dos comproprietários fazia da coisa comum a sua residência própria e permanente, daquela outra em que todos os comproprietários residissem no imóvel alienado e reinvestissem o produto da venda na aquisição de imóvel para habitação própria.* * Sumário elaborado pelo Relator Aditamento: Parecer Ministério Publico: 1 Decisão Texto Integral: Acordam, em conferência, na Secção do Contencioso Tributário do TCAN: I- RELATÓRIO

A FAZENDA PÚBLICA inconformada com a sentença do TAF de Braga, datada de 31.OUT.08, que julgou procedente a IMPUGNAÇÃO contra si instaurada por M, devidamente id. nos autos, do despacho do Chefe de Divisão da Gestão Tributária e da Cobrança, por delegação do Director de Finanças de Viana do Castelo, de 28.MAI.07, que indeferira a reclamação graciosa deduzida contra a liquidação de IRS respeitante ao ano de 2002, recorreu para o TCAN, formulando as seguintes conclusões: 1. Só os ganhos provenientes da transmissão onerosa de imóveis destinados a habitação própria e permanente do sujeito passivo ou do seu agregado familiar estão excluídos da tributação, nos termos do n º5 do artº 10º do CIRS. 2. O facto de a impugnante continuar a residir em prédio que herdou e que lhe foi adjudicado em regime de compropriedade (cujo produto da venda foi reinvestido na aquisição de outro prédio destinado a habitação própria e permanente) não significa que ela, possa só por si, destinar esse prédio, exclusivamente e objectivamente, a habitação própria e permanente, nos termos e para os efeitos do nº 5 do artº 10º do CIRS, na medida em que é apenas titular de uma parte alíquota (16,67%) desse prédio. 3. Não está provado que esse prédio tivesse, por acordo de todos os comproprietários sido destinado exclusivamente a habitação própria e permanente de todos ou algum(ns) dos comproprietários. 4. O facto de a impugnante, como comproprietária, ter alienado a sua quota na comunhão, significa que transmitiu onerosamente o prédio, mas apenas um direito próprio a uma quota ideal do objecto da compropriedade. 5. Assim, a exclusão da tributação dos ganhos obtidos com a alienação da alíquota de 16,67% do prédio (alienado) não opera no âmbito do direito de compropriedade sobre o imóvel, mas tão só no âmbito da transmissão onerosa do direito de propriedade do imóvel destinado exclusivamente a habitação própria e permanente. 6. Esta conclusão encontra algum fundamento na conjugação da letra do nº 5 (corpo) do artº 10º do CIRS, com a da sua al. a). 7. Ao decidir, como decidiu, terá sido inadequadamente valorada a factualidade vertida no probatório (al. b) assim como inadequadamente interpretado o artº 10º, nº 5 e al. a) do CIRS. Termos em que, concedido provimento ao recurso, deve a douta sentença recorrida ser revogada e substituída por outra que julgue a impugnação improcedente. A Recorrida não apresentou contra-alegações. O Mº Pº emitiu parecer nesta instância pugnando pela improcedência do recurso. Colhidos os vistos legais, o processo é submetido à Secção do Contencioso Tributário para julgamento do recurso. II QUESTÕES A DECIDIR NO RECURSO O erro de julgamento de direito por errada valoração da matéria de facto em ordem à sua subsunção na norma prevista na alínea a) do nº 5 do artº 10º do CIRS. III FUNDAMENTAÇÃO III-1. Matéria de facto É a seguinte a decisão sobre a matéria de facto constante da sentença: 3.1. Matéria de facto provada a) No dia 2 de Setembro de 2002, no Cartório Notarial de Caminha, a Impugnante, juntamente com os demais comproprietários, declararam vender a M, que, por sua vez, declarou aceitar a venda, o prédio misto denominado Quinta, inscrito na matriz predial urbana sob o artigo pelo preço de 250.000,00 euros.

b) A Impugnante desde sempre residiu no prédio referido na alínea anterior. c) A parte alíquota da Impugnante no prédio indicado na alínea a) era de 16,67%. d) No dia 11 de Setembro de 2002, a Impugnante comprou a M e mulher M, o prédio urbano composto por casa de Rés do Chão e primeiro andar, situado no Lugar, Caminha, pelo preço de 37,409.84 euros. e) A Impugnante destinou a casa referida na alínea anterior à sua habitação própria e permanente. f) A Impugnante foi notificada em 28 de Dezembro de 2006 da liquidação de IRS com o n 2006 5004616176, no montante de 20.966,71 euros. g) O prazo para pagamento voluntário do imposto liquidado terminava em 1 de Fevereiro de 2007. h) Nessa liquidação não foi considerado o montante de reinvestimento declarado pela Impugnante no campo 5 do anexo G da declaração modelo 3 que apresentou em 15 de Dezembro de 2006. i) Em 20 de Dezembro de 2006, a impugnante apresentou declaração Modelo 3 de substituição nos termos que constam de fls. 2 a 5 do apenso e que aqui se dá por reproduzido. j) No anexo G dessa declaração, deixou consignado que no ano de 2002 reinvestiu 37.409,84 euros do produto da alienação onerosa referido na alínea a). k) A declaração referida na alínea anterior foi convolada pelo Chefe do Serviço de Finanças de Caminha em reclamação graciosa. l) Essa reclamação graciosa foi indeferida por despacho de 28 de Maio de 2007 do Director de Finanças de Viana do Castelo, nos termos e com os fundamentos que resultam de fls. 47 do apenso e aqui se dão por reproduzidos. m) O despacho referido na alínea anterior foi notificado à Impugnante em 26 de Junho de 2007. n) A presente impugnação foi apresentada em 13 de Julho de 2007. 3.2. Matéria de facto não provada Da que era relevante para a decisão da causa, não há matéria de facto que importe registar como não provada. 3.3. Motivação da decisão de facto O tribunal fundou a sua convicção na análise da prova documental junta aos autos.. III-2. Matéria de direito Como atrás se deixou dito, constitui objecto do presente recurso jurisdicional, indagar do imputado erro de julgamento de direito, por errada subsunção da matéria de facto na norma que se contém no artº 10º-5-a) do CIRS. A questão que se coloca reside fundamentalmente em saber se as mais valias obtidas em resultado da venda a de um imóvel destinado à habitação, de que a alienante não era proprietária da sua totalidade mas apenas comproprietária, e que reinvestiu na aquisição de prédio para igual finalidade, estão sujeitas ou isentas de tributação em sede de IRS. A sentença foi do entendimento que tais mais valias se encontram isentas de tributação, ao abrigo do que dispõe o artº 10º do CIRS na alínea a) do seu nº 5, sendo irrelevante para o efeito ser a Recorrida apenas comproprietária do imóvel alienado, enquanto que a Recorrente Fazenda Pública perfilha a tese de que no caso não haveria lugar à isenção a que se reporta aquele normativo legal, uma vez que sendo a Impugnante titular de apenas 16,67% do imóvel alienado não constituía habitação própria e permanente do sujeito passivo, em virtude deste ser apenas titular de uma quota parte indivisa.

É a seguinte a fundamentação constante da sentença recorrida: Sabe-se qual é a razão de ser da isenção consagrada no artº 10º n 5 do CIRS: trata-se de proteger e favorecer fiscalmente a aquisição de habitação própria e permanente. A exclusão da tributação vale quando o imóvel de partida e o imóvel de chegada são destinados à habitação própria e permanente do sujeito passivo. Deste ponto de vista, apenas interessa: - Que o imóvel alienado se destinasse à habitação própria e permanente do sujeito passivo e do seu agregado familiar; - Que o valor da realização seja reinvestido na aquisição de imóvel para o mesmo fim no prazo de 24 meses. Ora, a Impugnante habitava no imóvel que alienou, era lá que tinha a sua habitação própria e permanente, embora não fosse proprietária plena desse imóvel mas apenas comproprietária, representando a sua parte alíquota 16,67%. Isso bastará para se ter por preenchido o primeiro daqueles pressupostos, relativo à alienação de imóvel destinado a habitação própria do sujeito passivo. Irreleva, deste ponto de vista, a circunstância, valorizada na decisão impugnada de a Impugnante ser apenas comproprietária do imóvel, A lei não exige que o alienante seja proprietário pleno do imóvel e, portanto, não se vislumbra o fundamento para restringir o âmbito dos beneficiários da isenção aos proprietários plenos. De resto, se pensarmos na hipótese de todos os comproprietários viverem no imóvel que decidem alienar e que; depois, cada um deles reinveste o produto da venda na aquisição de imóvel para habitação própria, pensamos que não suscitará dúvidas a ninguém de que se verificam os pressupostos legais da isenção. Ora, se assim é quando está em causa a totalidade dos comproprietários, não vemos que haja razão para tratar diferenciadamente a situação em que apenas um dos comproprietários faça da coisa comum a sua habitação própria e permanente.. Em matéria de mais valias, estabelece o artº 10º do CIRS, que: Artº 10.º (Mais-Valias) 1 - Constituem mais-valias os ganhos obtidos que, não sendo considerados rendimentos empresariais e profissionais, de capitais ou prediais, resultem de: a) Alienação onerosa de direitos reais sobre bens imóveis e afectação de quaisquer bens do património particular a actividade empresarial e profissional exercida em nome individual pelo seu proprietário; 5 - São excluídos da tributação os ganhos provenientes da transmissão onerosa de imóveis destinados a habitação própria e permanente do sujeito passivo ou do seu agregado familiar, nas seguintes condições: a) Se, no prazo de vinte e quatro meses contados da data de realização, o valor da realização, deduzido da amortização de eventual empréstimo contraído para a aquisição do imóvel, for reinvestido na aquisição da propriedade de outro imóvel, de terreno para a construção de imóvel, ou na construção, ampliação ou melhoramento de outro imóvel exclusivamente com o mesmo destino, e desde que esteja situado em Território português; Ora, no caso dos autos, como resulta da matéria de facto assente, temos que a Recorrida/Impugnante, na qualidade de comproprietária, na proporção de 16,67%, alienou, em 02.SET.02, em conjunto com os demais comproprietários, determinado imóvel, o qual vinha constituindo a sua habitação própria e permanente. Posteriormente, em 11.SET.02, a Impugnante adquiriu, mediante compra e venda, outro imóvel, que destinou à sua habitação própria

e permanente. Ambos os imóveis, o alienado e o adquirido, com o valor da realização da alienação, tinham como função a habitação própria e permanente do agregado familiar da Impugnante, tendo o valor da realização sido reinvestido no prazo estabelecido na alínea a) do nº 5 do artº 10º do CIRS. Verificam-se assim os pressupostos legalmente estabelecidos no artº 10º-5-a) do CIRS, em ordem à exclusão da tributação nele referenciada, irrelevando para o efeito a circunstância da Impugnante ser mera comproprietária do móvel alienado e não proprietária da sua totalidade, porquanto a lei não exige que o alienante seja proprietário da totalidade do imóvel alienado, não havendo razões para distinguir, tal como dá conta a sentença recorrida, a situação dos autos, em que apenas um dos comproprietários fazia da coisa comum a sua residência própria e permanente, daquela outra em que todos os comproprietários residissem no imóvel alienado e reinvestissem o produto da venda na aquisição de imóvel para habitação própria. Nestes termos improcedem as alegações de recurso, impondo-se, em consequência a manutenção da sentença recorrida. IV- CONCLUSÃO Termos em que acordam os juízes da Secção do Contencioso Tributário do TACN em negar provimento ao recurso jurisdicional e, em consequência, confirmar a decisão recorrida. Custas pela Recorrente. Porto, 15 de Abril de 2011 José Luís Paulo Escudeiro Francisco António Pedrosa de Areal Rothes Paula Fernanda Cadilhe Ribeiro