GESTÃO HOSPITALAR NA BUSCA DE MUDANÇAS: INFLUÊNCIA DE UM ESTÁGIO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PARA GESTORES DE UM HOSPITAL



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Transcrição:

1 GESTÃO HOSPITALAR NA BUSCA DE MUDANÇAS: INFLUÊNCIA DE UM ESTÁGIO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PARA GESTORES DE UM HOSPITAL Edelvais Keller 1; Dorli Terezinha de Mello Rosa 2; Jovani Antonio Se 1 cchi 3; Nívea Gisele Panizza Tuller 4; Sandra Alves de Oliveira Herek 5 RESUMO: Conhecer o perfil dos funcionários de uma instituição pública e suas respectivas demandas é um procedimento que pode contribuir, de forma significativa, para as discussões e reflexões sobre as práticas da psicologia organizacional e do trabalho. Dessa forma, o estagio objetivou oportunizar a experiência profissional, com embasamento nos conhecimentos teóricos adquiridos e na capacidade de manejo e aplicação dos recursos e técnicas da psicologia organizacional, bem como beneficiar a organização para melhorias internas, contribuindo no desenvolvimento dos colaboradores do hospital público. O estágio teve inicio em março de 2008 e continua em andamento; contou com quatro estagiários que trabalharam em duplas, cobrindo todos os turnos do hospital, numa freqüência de duas visitas semanais. Utilizou-se, num primeiro momento, da realização de um Diagnóstico Psicossocial e, para isso, foram entrevistados individualmente 29 colaboradores voluntários, ocupantes de diversos cargos e de diferentes turnos de trabalho, a fim de verificar as condições de trabalho, buscando identificar a demanda para o treinamento. Após apresentado estes resultados aos principais dirigentes da organização hospitalar, os estagiários elaboraram um Programa de Treinamento de Liderança para os Gestores, estruturado para ser realizado em quatro encontros de 2 horas cada, com quatro grupos de 40 gestores. Vale salientar a adesão de 100% dos participantes ao programa de treinamento, sendo esta uma conquista feita corpo a corpo, face a face, por meio do convite verbal realizado pelos próprios estagiários a cada um dos 40 líderes indicados pela administração do hospital. Esse programa se encontra em andamento e até o momento tem apresentado resultados parciais bastante positivos. PALAVRAS-CHAVE: Instituição pública; psicologia organizacional e do trabalho; treinamento de gestores INTRODUÇÃO 1 *Docente de Psicologia do CESUMAR, Mestre em Administração e Doutora em Psicologia Clínica, ambos pela PUC/SP; edelkeller@hotmail.com; **alunos do 5º ano de Psicologia do período matutino do CESUMAR. Vinculados ao Departamento de Psicologia do CESUMAR, da cidade de Maringá PR; Fonte financiadora do estágio: os próprios alunos de Psicologia, na condição de estagiários: dorlirosa@hotmail.com; jovemsec@hotmail.com; niveatuller@hotmail.com; s_herek@hotmail.com.

2 A Psicologia, como ciência e área de atuação profissional, tem passado, nas últimas décadas, por profundas transformações, deixando de ser um saber exclusivamente ocupado com a vida psíquica do indivíduo em uma prática realizada apenas em consultório. Atualmente, para as ciências psicológicas, a vida psíquica do ser humano compreende não somente uma instância subjetiva e individual, mas, sobretudo, processos sociais, culturais e simbólicos, que se dão no contexto dos vários papéis que a pessoa humana desempenha em sua vida, ou seja, nas esferas social, política, étnica e econômica. Para distinguir a Psicologia de outras ciências, pode-se afirmar que não é possível entender o sujeito psicológico, apartando-o de todos os processos de interação que ele realiza em sua vida, no contexto simbólico, econômico, material e social. Isso porque cada vez mais a ciência tem confirmado que o ser humano é um ser biopsicossocial, espiritual e ecológico. Segundo Tamayo (2004), a centralidade do trabalho, na vida das pessoas, é indubitável, mesmo que traga algumas conseqüências paradoxais para a sua integridade física, psíquica e social. De um lado, o trabalho é visto como algo ontológico, constituinte da identidade do trabalhador, assegurando a saúde do mesmo. Em via oposta, o contexto no qual ele se insere pode se caracterizar pela precariedade das condições e pela falta de oportunidades de desenvolvimento profissional, contribuindo para um possível adoecimento dos trabalhadores. Tais conseqüências podem decorrer, ao mesmo tempo, da compulsão ao trabalho e do não trabalho; isso faz com que ambos os contextos promovam o adoecimento. O presente projeto de estágio supervisionado em Psicologia Organizacional tem como objetivos gerais a compreensão e a intervenção na vivência do trabalho de indivíduos de uma organização hospitalar, contribuindo na promoção de desenvolvimento das pessoas e da organização. Sobretudo, visa à formação de trabalhadores que ocupam cargos de liderança, tendo como objetivos específicos: a) oportunizar experiência profissional aos acadêmicos de Psicologia no campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho; b) beneficiar a organização para melhorias internas; c) promover o desenvolvimento gerencial; d) contribuir no desenvolvimento organizacional do hospital público. Dentro desta ótica, e para atender uma das principais demandas da organização que foram levantadas no Diagnóstico Psicossocial, a atuação dos acadêmicos de Psicologia, neste estágio, tem tratado da elaboração e implementação de um programa de desenvolvimento gerencial com foco em uma gestão hospitalar na busca de mudanças, denominado de Programa de Desenvolvimento de Gestores e de Equipes, com ênfase no Relacionamento Interpessoal no Trabalho do qual estão participando 40 pessoas que ocupam cargos de chefia, membros da organização hospitalar. Esse programa encontra-se em andamento e até o momento tem apresentado resultados parciais bastante positivos. Segundo Bohlander (2003), os programas de treinamento visam à transmissão de informações aos funcionários, o desenvolvimento das habilidades, atitudes e conceitos, para que possam aumentar os seus conhecimentos sobre a instituição, habilitação e execução de tarefas, melhorar ou mudar suas atitudes negativas para as mais favoráveis e elevar o nível de observação, para ajudar as pessoas a pensar em termos mais amplos e gerais. Trata-se de cursos mais específicos para os setores como o treinamento de reciclagem, devido ao serviço não ser novo. Torna-se necessário, desse modo,

3 resgatar um dos objetivos da enfermagem que é a humanização hospitalar. Dentre esses treinamentos a ser realizados, alguns foram pontuados pelos colaboradores do hospital municipal, são eles: treinamento no próprio trabalho (training ou the job), cursos de psicopatologia básica e informações sobre doenças psiquiátricas; noções de psicofarmacologia, voltados aos funcionários que trabalham na área de psiquiatria; cuidados específicos com pacientes psiquiátricos, dentre outros. MATERIAS E MÉTODOS No primeiro bimestre de 2008, os estagiários de Psicologia realizaram um Diagnóstico Psicossocial, por meio do qual foi entrevistada, individualmente, uma amostra de 29 colaboradores voluntários, ocupantes de diversos cargos e de diferentes turnos de trabalho, a fim de verificar os seguintes aspectos: a) as condições de trabalho; b) a comunicação interna; c) as relações interpessoais entre os colaboradores com superiores, subordinados, pares, departamentos, bem como com os usuários do serviço de saúde. As entrevistas foram realizadas pelos estagiários, com a amostra de trabalhadores voluntários, em todos os turnos do hospital, com freqüência de duas vezes por semana. Essas entrevistas tiveram a duração média de 2 horas cada. No segundo bimestre, a equipe de estagiários, acompanhados da supervisora acadêmica, como também da supervisora de campo, reuniu-se com os principais dirigentes da organização hospitalar e o Diagnóstico Psicossocial foi apresentado, durante três horas, em uma reunião bemsucedida. No terceiro bimestre, os estagiários iniciaram a elaboração e planejamento dos conteúdos desse projeto, o qual foi programado para ocorrer em quatro encontros de 2 horas cada, com 40 gestores, distribuídos em quatro subgrupos do hospital, em dias e horários de sua maior disponibilidade, durante a jornada de trabalho. O programa de intervenção contempla os seguintes temas: a) Comunicação na Organização; b) Liderança; c) Administração de Mudanças e d) Gestão de Conflitos. Para tanto, foram utilizados os seguintes materiais: data-schow, vídeos, Power Point, computador, aparelho de som com CD player, apostilas, específicas como material didático, jogo do tangran e técnicas da dinâmica de grupo. O grupo de estagiários organizou um coffee- brack, em todos os encontros; além disso, no final do programa, houve uma confraternização. Os gestores foram convidados um a um pelos estagiários, para participarem do programa de desenvolvimento gerencial. Para tanto, os estagiários freqüentaram o hospital em diversos dias, horários e turnos diferentes, durante duas semanas, para encontrarem as pessoas indicadas, a fim de conversar com eles pessoalmente. Depois de estruturado, o programa de desenvolvimento gerencial foi aprovado pela administração geral do hospital, uma vez que seria realizado durante o horário de expediente dos colaboradores. A adesão dos participantes ao programa de treinamento foi, portanto, uma conquista feita corpo a corpo, face a face, por meio do convite verbal realizado pelos próprios estagiários a cada um dos 40 líderes indicados pela administração geral do hospital. Nesse convite, 100% dos convidados aderiram ao projeto.

4 DISCUSSÃO E RESULTADOS De acordo com os dados analisados, obtidos por meio das entrevistas individuais iniciais, com questões de ordem biopsicossocial, de acordo com um roteiro de entrevista semi-estruturada, obteve-se um claro diagnóstico psicossocial do ambiente interno do trabalho hospitalar, ficando evidenciadas as seguintes demandas: a) falta de compreensão por parte dos colaboradores de uma recente mudança na política gestão de pessoas referente à jornada de trabalho; b) a comunicação entre os departamentos foi considerada muito retraída; c) as relações interdepartamentais foram consideradas carentes de uma maior integração; d) os gestores do hospital apresentavam necessidades de desenvolvimento gerencial em suas práticas de gestão e liderança. Foi possível constatar, através dos dados obtidos nas entrevistas com os colaboradores do hospital, que existe a necessidade de implantação de uma política de treinamento junto ao setor de Recursos Humanos do hospital. Outro dado relevante foi a constatação de um nível significativo de angústia significativa nos trabalhadores; isso devido ao descontentamento com as mudanças administrativas referentes à jornada de trabalho que, de forma direta ou indireta, acabou interferindo na estruturação da vida particular de cada trabalhador. Cabe ressaltar que a equipe de estagiários e sua supervisora acadêmica recomendaram diversas ações para o hospital, para atender as demais demandas levantadas; entre elas, a implantação de um serviço de apoio psicológico aos colaboradores do hospital, o qual pode vir a ser realizado por estagiários de Psicologia Clínica. Beland & Passos (1978) consideram que as necessidades pessoais do trabalhador de enfermagem e sua ansiedade em relação às circunstâncias com as quais ele se defronta, geralmente prejudicam o tipo de atendimento que ele sabe dar e que gostaria de poder dar, causando um sofrimento psíquico no profissional. Dessa forma, um serviço da Psicologia Clínica de apoio e escuta terapêutica poderá minimizar este sofrimento vivido tanto pelos trabalhadores que atuam diretamente com o paciente como também pelos administradores dos serviços de enfermagem. Conforme afirmam Borsoi & Codo (1995), o trabalho no hospital tem uma divisão de trabalho semelhante ao de uma linha de montagem, na qual quem circula é o funcionário. Dessa forma, os trabalhadores transformam-se em força de trabalho a ser objetivada e comprada de acordo com a demanda da função e por decorrência, o trabalho de cuidar, ou o cuidar transformado em trabalho, adquire o caráter de mercadoria, que produzem efeitos danosos na saúde e no psiquismo do trabalhador. Dentre os resultados parciais, pode-se dizer que o projeto superou as expectativas iniciais. Prova disto é que o hospital disponibilizou um espaço físico especialmente organizado no qual o treinamento dos líderes pudesse ser realizado, pois não tinha de antemão uma sala de treinamento, própria para este tipo de atividade. Além disso, a chave desta sala ficou sob a responsabilidade da equipe de estagiários. Esse espaço ficou confortável, aconchegante e propício para atividades da equipe de estagiários. Feito um contrato psicológico para preservar sigilo das discussões grupais, esse espaço tem servido de local acolhedor para esses grupos de gestores, com uma função quase terapêutica no qual os treinandos sentem que tem permissão de expor suas angústias, mazelas, sofrimento psíquico oriundos do trabalho

5 hospitalar, fazendo deste, mais do que um simples local de treinamento, e sim um local de acolhimento psicológico, de valorização dos participantes enquanto seres humanos trabalhadores. CONCLUSÃO O programa de desenvolvimento gerencial, ministrado pela equipe de estagiários, apresentou mudanças positivas significativas nos grupos de participantes, entre elas: a) uma maior confiança mútua entre os membros de cada grupo; b) maior integração entre os respectivos departamentos que cada gestor representa; c) melhor comunicação interpessoal e interdepartamental; d) maior auto-exposição dos treinandos que revelam sentimentos e trocam experiências profissionais significativas entre eles e; e) uma maior abertura às mudanças entre os líderes, dispostos a promover os resultados organizacionais esperados e gerenciar as mudanças necessárias, por meio de suas equipes de trabalho. A equipe, composta pela supervisora acadêmica e seu grupo de estagiários, está satisfeita com o trabalho que está sendo realizado. Prova disso é o clima de satisfação presente entre os participantes. No início do estágio, quando os acadêmicos foram realizar as primeiras entrevistas, ao se dirigirem para os colaboradores do hospital, foram tratados com indiferença pela maioria desses funcionários. No entanto, dia após dia, um espaço de respeito, confiança e reconhecimento profissional foi sendo conquistado progressivamente. Um dos dados que reflete os resultados positivos parciais deste trabalho é o índice de 80% de freqüência dos participantes aos encontros que foram realizados, bem como da percepção de uma relevante influência do estágio em Psicologia Organizacional para os gestores deste hospital, numa organização com pouca cultura de treinamento e desenvolvimento de pessoas. Após o término do programa de treinamento, que prevê uma atividade de confraternização festiva, oferecida pela equipe de estagiários, serão realizadas avaliações informal e formal do processo de intervenção em Psicologia Organizacional e do Trabalho. REFERÊNCIAS BOHLANDER, George W. Administração de Recursos Humanos. São Paulo. Pioneira Thomson Learning, 2003. BELLAND, I. L.; PASSOS, J. Y. Enfermagem clínica: aspectos fisiopatológicos e psicossociais. São Paulo, EPU/EDUSP, 1978. v.1. BORSOI, I. C. F.; CODO, W. Enfermagem, trabalho e cuidado In: CODO, W. Sofrimento psíquico nas organizações: saúde mental e trabalho. Petrópolis, Vozes, 1995. cap. 8, p.39-151. TAMAYO, Álvaro. Cultura e saúde nas organizações. Porto Alegre: Artmed, 2004.