Microeconomia. Guião das aulas. António Saraiva



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Transcrição:

Microeconomia Guião das aulas António Saraiva

Instituto Suerior de Contabilidade e Administração do Porto MICROECONOMIA António Fernando Martins Garcia Saraiva 1998

3 Índice 1. Persectiva histórica sumária 5 2. Asectos metodológicos 9 2.1. Modelos teóricos 9 2.2. Atitudes metodológicas atentes ao longo da história do ensamento económico 14 3. Formalização do roblema económico 20 3.1. Uma definição de economia 20 3.2. Dimensões da economia 22 3.2.1. Dimensão social 22 3.2.2. Dimensão histórica 23 3.2.3. Dimensão olítica 23 4. Conceitos e classificações roedêuticos 24 4.1. Necessidades e utilidades 24 4.2. Classificação dos bens económicos 26 4.3. Linha limite de ossibilidades de rodução 26 4.3.1. Custo de oortunidade 28 4.3.2. Sobre a curvatura da LLPP 28 4.3.3. Factores de crescimento 31 4.4. Classificação das relações económicas 33 4.5. Classificação das variáveis económicas 34 5. Procura 34 5.1. Traçado da curva da rocura de mercado 37 6. Oferta 38 7. Mercado 38 7.1. Condições ara o equilíbrio estável 40 7.2. Função rocura excedente e função oferta excedente 41 8. Elasticidades 41 8.1. Elasticidade-reço da rocura 41 8.1.1. Determinação geométrica de elasticidade-reço da rocura 43 8.1.2. Casos em que a elasticidade-reço da rocura não varia com o reço 44 8.1.3. Receita total, receita média e receita marginal 45 8.1.4. Relação entre a elasticidade-reço da rocura e a receita marginal 47 8.2. Elasticidade-rendimento da rocura 48 8.2.1. Determinação geométrica da elasticidade-rendimento da rocura 49 8.2.2. Bens normais e bens inferiores 49 8.3. Elasticidade cruzada 49 8.4. Elasticidade-reço da oferta 50 8.4.1. Determinação geométrica de elasticidade-reço da oferta 51 8.4.2. Alguns casos em que a elasticidade-reço da oferta não varia com o reço 52 9. Intervenção do Estado 53 9.1. Fixação autoritária de reços 53 9.1.1. Preços máximos 53 9.1.2. Preços mínimos 54

4 9.2. Tributação indirecta 55 9.2.1. Tributação indirecta versus tributação directa 55 9.2.2. Imostos esecíficos 56 9.2.3. Imostos ad valorem 61 9.2.4. Casos em que um imosto indirecto é integralmente suortado elos rodutores ou elos consumidores 64 10. Esecificidades dos mercados agrícolas 65 10.1. Políticas de estabilização 67 11. Produção 71 11.1. Função de rodução 72 11.2. Produtividade dos factores de rodução 73 11.2.1. Estágios da rodução 74 11.2.2. Relações notáveis entre as rodutividades total, média e marginal 75 11.2.2.1. Produtividade marginal versus rodutividade média 76 12. Custos 77 12.1.1. Relações notáveis entre as funções custo 78 12.1.2. Relações notáveis entre os custos e a rodutividades 80 13. Concorrência erfeita 83 13.1. Hióteses caracterizadoras 83 13.2. Maximização do lucro 83 14. Monoólio 87 14.1. Maximização do lucro elo monoolista 88 14.2. Índice de Lerner 89 14.3. Situação do monoolista maximizador do lucro 89 14.4. Monoólio versus concorrência erfeita 91 14.5. Imortância das acções de marketing ara o monoolista 91

MICROECONOMIA 5 1. PERSPECTIVA HISTÓRICA SUMÁRIA Aquando do desmoronamento do sistema feudal, o desenvolvimento gradual da tecnologia e a exansão do comércio externo foram acomanhados ela acumulação de caital financeiro e elo crescimento das cidades com o consequente aumento de autonomia olítica caracterizado elo estabelecimento de burgos. Concomitantemente, verifica-se um reforço substancial das funções e do oder do Estado em detrimento da autoridade da Igreja católica. É o eríodo renascentista [séc. XIV a XVI] que marcou o regresso da eseculação científica e da criação artística que reencontram no "homem" o tema fundamental. Na sequência deste eríodo desertou o interesse elo estudo de roblemas económicos or arte daqueles que viriam a ficar conhecidos como mercantilistas. O termo "mercantilismo" (devido a A. Smith) serve ara designar o conteúdo doutrinal comum a um grande número de autores disersos (no esaço Inglaterra, Itália, França, Holanda, Esanha e no temo fins do séc. XVI a meados do séc. XVIII) que nunca, no entanto, se rouseram desenvolver um coro coerente e sistemático de ensamento económico. Traços caracterizadores: - romimento com os valores morais medievais em favor de outros de índole materialista [a riqueza como valor em si, como fim a atingir] - defesa do roteccionismo [assegurar um saldo ositivo na balança comercial ara roorcionar a entrada de ouro no aís] - crença na "teoria das harmonias económicas" assim esquematizada: Riqueza (lucros acumulados no comércio e indústria) Abundância de homens e dinheiro Mercadores e manufactureiros Fim Meio Estado Meio Fim

6 ANTÓNIO SARAIVA Os mercantilistas aceitam e defendem a ordem económica que vêem consolidar-se esforçando-se or acentuar a concordância de interesses entre os articulares e o Estado ara que o sistema funcione o melhor ossível. Os mercantilistas vêm sublinhar a esecificidade do "económico" reconhecendo-lhe alguma autonomia face ao "olítico" que até então se acreditava determinar o económico ao onto de ser ossível o "comando" da actividade económica. Com a rogressiva emergência de um modo de rodução caitalista, a ar do crescimento sustentado das actividades comerciais e da acumulação de caital assiste-se à mecanização da actividade agrícola o que reforça a tendência ara o aumento do investimento fixo. A crescente comlexidade das actividades económicas reercute-se na enunciação da roblemática económica onde assa a dominar a análise do valor, da rodução, da distribuição, secundarizando-se asectos como a situação da balança comercial, os rincíios orientadores da olítica ública,... até aí revalecentes. Dão coro e esta mudança de ersectiva autores como W. Petty, J. Locke, D. Hume, R. Cantillon, mas também os autores franceses que integram a Escola fisiocrática. Se os mercantilistas não deixam de realçar a imortância das actividades mercantil e manufactureira, certos autores franceses de meados do séc. XVIII, constatando as características essencialmente agrícolas da economia francesa da altura, vêem na agricultura o motor imulsionador da actividade económica. Insurgem-se então contra as suostas causas da crise da agricultura francesa: - sistema de roriedade resonsável ela excessiva arcelarização de grande arte das terras cultiváveis. - absentismo dos grandes rorietários. Defendem os rendeiros ossuidores de caital que alugavam as terras or eríodos de vários anos e em extensões que lhes ermitiam a utilização de melhores métodos de cultivo.

MICROECONOMIA 7 Ao contrário dos mercantilistas, os fisiocratas ( auto-intitulados economistas) aresentavam-se como um gruo coeso que reconhecia em F. uesnay (1694-1774) o guia doutrinador, rojectando as suas ideias basicamente no esaço olítico francês. Traços caracterizadores: - crença numa ordem natural que imera sobre a natureza e, or extensão, sobre o rório homem [fisiocracia governo da natureza] alicerçada no rincíio da roriedade fundiária rivada. As leis - naturais, contra as quais a acção do homem é imotente ou nefasta, são o objecto de investigação dos economistas. - só a actividade agrícola é rodutiva orque só dela deriva um excedente. - a actividade industrial é, neste sentido, estéril orque se limita a transformar sem gerar excedente. - aologia da livre circulação de rodutos interna e externamente com vista à reabilitação da agricultura. - reocuação com a identificação e medição dos fluxos que comõem uma economia em funcionamento - quadro económico, 1758 (antecessor da contabilidade nacional actual). O quadro económico mostra: - a interdeendência dinâmica dos sectores - o equilíbrio geral Contemorâneo da revolução industrial inglesa e da revolução socio-olítica francesa, Adam Smith, conhecedor das obras de Hume, Cantillon e dos fisiocratas, alica-se na sistematização destas influências ao redigir a sua obra fundamental "A riqueza das nações" onde, "ela rimeira vez, os roblemas do valor, da distribuição do rogresso técnico, do comércio internacional, das finanças úblicas e da olítica económica se discutiram e analisaram dentro de um coro de ensamento interdeendente e sistemático". É o arranque da corrente clássica que irá receber contribuições substanciais de Ricardo, Malthus e Say.

8 ANTÓNIO SARAIVA Traços caracterizadores: - crença na existência de mecanismos que, automaticamente, imelem a economia ara o equilíbrio no cumrimento de uma ordem natural, social e económica, não instituída or oderes sobrenaturais, mas sim fundada numa sicologia do indivíduo. - aologia do liberalismo económico como forma de restaurar a ordem natural na sociedade uma vez discernidas as leis (naturais) que governam a economia na ausência de limitações [ermitir a actuação benéfica da mão invisível]. Os autores clássicos, tendo como referência a física newtoniana, acreditavam que, se uma ordem indeendente da vontade dos homens imerava no mundo natural então devia haver uma ordem reguladora da existência humana e da sociedade como extensão do indivíduo a cujas leis se oderia aceder ela lógica. Com a agudização do antagonismo entre trabalhadores e caitalistas ao longo do séc. XIX, as teorias clássicas revelaram-se não só inadequadas à aologia e sancionamento do sistema caitalista em evolução, como demasiado exostas à crítica marxista. Perante esta situação alguns autores, na década de 70 do século assado, alicaram-se na cuidadosa reformulação da ersectiva da análise económica que fizeram assentar em novos fundamentos reclamando-se, contudo, da qualidade de legítimos continuadores dos teóricos clássicos elo que são designados de neoclássicos. Se os autores da corrente clássica tentaram elaborar uma teoria da distribuição baseada numa teoria do valor-trabalho or sua vez radicada numa análise da rodução, os neoclássicos deslocaram a atenção ara o âmbito da troca assando a exlicar o valor, e assim os reços relativos, em função do conceito de utilidade de raiz intrinsecamente subjectiva. Exlicando o valor das mercadorias ela quantidade de trabalho nelas incororada a teoria clássica fornecia argumentos àqueles que se insurgiam contra uma ordem económica em que os trabalhadores são exlorados e mantidos a um mero nível de subsistência. Ao contraor que o valor deendia da utilidade que os consumidores reconheciam nos bens, os neoclássicos negavam a exloração sustentando que os trabalhadores eram remunerados de modo justo já que o salário constituía o reço do trabalho estabelecido num mercado que funcionava

MICROECONOMIA 9 em termos equivalentes a qualquer outro mercado - o equilíbrio resultava do confronto entre uma oferta e uma rocura. Traços caracterizadores: - "fé" nos benefícios do liberalismo económico reconizado elos clássicos. - os agentes económicos são indivíduos racionais orque visam a maximização do rório bem-estar. - o valor radica na utilidade [teoria do valor-utilidade] "A economia é a mecânica da utilidade e do interesse individual." Jevons 2. ASPECTOS METODOLÓGICOS 2.1. Modelos teóricos Em regra, os clássicos encaravam com otimismo os crescimentos demográfico e económico. Remando contra a corrente, Malthus mostrou-se rofundamente essimista erante o crescimento demográfico otenciado elo aumento de rodutividade na agricultura e o início da industrialização. Enquanto Adam Smith se tinha limitado a fazer algumas considerações sobre uma eventual interdeendência entre o nível de vida e a taxa de nascimentos, Malthus foi mais longe aresentando um modelo abstracto que desafiava a refutação emírica. Afirmou que enquanto a oferta de alimentos crescia em rogressão aritmética, a oulação crescia em rogressão geométrica recisando, deste modo, as relações quantitativas entre os dois fenómenos. Este modelo de Malthus destinava-se a demonstrar a necessidade de conter o número de nascimentos e manter as desigualdades sociais o que assava, entre outras coisas, ela abolição das leis de assistência aos obres, então objecto de discussão. Não considerando a ossibilidade de o rogresso técnico comensar a disaridade de ritmos de crescimento da rodução e da oulação, Malthus via como única forma de evitar a queda geral do nível de vida a estrita manutenção do nível mínimo de subsistência dos trabalhadores, ou seja,

10 ANTÓNIO SARAIVA da miséria que assim funcionaria como elemento de auto-regulação do sistema na medida em que desencorajava a rerodução. Ao ôr a questão nestes termos, Malthus tinha elaborado um modelo, ou seja, uma reresentação simlificada dum sistema económico onde se evidencia a acção recíroca, o encadeamento e a interdeendência de certos fenómenos. Teoria da oulação de Malthus (esquematização do modelo) Definições: oulação; rodução; nível de vida; nível de subsistência dos trabalhadores; rogresso técnico. Hióteses: oulação cresce em rogressão geométrica; rodução cresce em rogressão aritmética; rogresso técnico sem influência relevante; salários asseguram a sobrevivência biológica; assistência aos obres incrementa a oulação. A caridade rivada e a assistência social ública contribuem ara acelerar o ritmo de crescimento da oulação. POPULAÇÃO CRESCE EM PROGRESSÃO GEOMÉTRICA RESULTADO: Nestas circunstâncias, o nível de vida decresce ois a rodução er caita diminui. O rogresso técnico não é suficiente ara que a rodução acomanhe o ritmo de crescimento da oulação. PRODUÇÃO CRESCE EM PROGRESSÃO ARITMÉTICA CONCLUSÃO: é necessário contrariar o crescimento da oulação. As leis de assistência aos obres são erniciosas e como tal devem ser revogadas. Como se obtém então um modelo?

MICROECONOMIA 11 Dado que não temos acesso directo à essência das coisas vemo-nos na contingência de lidar com a sua aarência. O investigador científico, orém, roõe-se areender a essência encoberta ela aarência. Para o conseguir deve anteciar a comreensão esclarecida dos fenómenos formulando hióteses, estabelecendo definições, comondo teorias, ou seja, concretizando um esforço de abstracção que lhe ermita evitar ser enganado ela aarência. As definições destinam-se a exlicitar o significado dos termos utilizados. A enunciação das hióteses assa ela: - esecificação das condições de alicação da teoria - elaboração das relações funcionais - esecificação das variáveis envolvidas naquelas relações. As definições e hióteses são, então, consideradas num rocesso dedutivo de que resultam os modelos teóricos que ermitem obter resultados teóricos. Mas se, num rimeiro momento, o cientista ode, recorrendo à abstracção, "esquivar-se" à aarência ara atingir a essência, o seu trabalho não ode deter-se a este nível, há que emreender e/ou roorcionar a comrovação (validação) não só emírica, mas também racional (ou seja, através da crítica) das redições da teoria e hióteses subjacentes. As teorias que não cumrem esta exigência de validação e se subtraem, or construção, à crítica não odem ser consideradas como científicas. A confrontação dos resultados teóricos com os factos é assim um momento imortante do trabalho científico. Imorta aqui sublinhar que os factos não são manifestações imediatas da essência dos fenómenos mas sim construções mentais que resultam do trabalho dos nossos mecanismos de erceção cujo funcionamento não rescinde, contrariamente ao que se oderia ensar, de oerações abstractas. Não há, ois, factos uros no sentido de algo que se oferece a um mero registo. Os factos disoníveis ara o trabalho científico contêm já uma interretação teórica na medida em que resultaram, inevitavelmente, da utilização de um determinado "código de leitura" do real.

12 ANTÓNIO SARAIVA "Os factos são os materiais da ciência, mas todos os factos envolvem ideias; muito frequentemente as nossas rórias inferências e interretações entram nos factos que aercebemos. uando vemos um carvalho abater-se sob uma violenta rajada de vento, consideramos esse acontecimento como um facto de que nos aercebemos através dos nossos sentidos. E, no entanto, qual é o sentido que nos faz distinguir um carvalho de todas as outras árvores? Torna-se claro, se reflectirmos, que é o nosso esírito que, neste caso, nos fornece a conceção de imulso exterior e de ressão, mediante a qual interretamos assim os movimentos observados." (Whewell, séc. XIX) Na sequência da confrontação com os factos e da areciação crítica concomitante, duas situações odem ocorrer: - os resultados teóricos são refutados o que exige, no mínimo, a reconsideração das hióteses utilizadas. - os resultados teóricos não são refutados o que autoriza considerá-los como leis ainda que sujeitos a eventual refutação osterior. Sendo este o esquema que deve informar o trabalho científico e sabendo nós que "em ciência nada acontece or si, nada nos é dado, tudo é construído" 1 verifica-se, contudo, uma grande resistência a aceitar a falsidade ou irrelevância das nossas ideias. "O nosso esírito tem uma irresistível tendência ara considerar como mais clara a ideia que mais frequentemente lhe serve." (Bergson) Tanto é assim que "chega enfim um momento em que o esírito gosta mais do que confirma o seu saber do que o que o contradiz, um momento em que tem mais aego às resostas que às questões." 2 Ora devemos ter resente que, mais que a caacidade de fornecer resostas, caracteriza a atitude científica o modo como são ostas as questões. Assim o trabalho científico ode ser comrometido ela recusa em aceitar a evidência e/ou a crítica. 1 Bachelard, G., La formation de l'esrit scientifique, Paris, Vrin, 3º ed.,. 14-15 2 Bachelard, G., ibidem

MICROECONOMIA 13 O esquema delineado tem subjacente a reocuação com a relevância das teorias face aos factos de modo a garantir-se a caacidade exlicativa daquelas. No entanto, à economia, como de resto a muitas outras ciências (sociais ou não), está raticamente vedada a ossibilidade de realizar exeriências controladas o que confina a base de análise à observação dos fenómenos no seu contínuo devir. Assim, as técnicas estatísticas revelam-se reciosas na aferição das relações tanto mais que estas não são deterministas antes comortando um certo grau de aleatoriedade. Como tal, as leis económicas referem-se a regularidades estatisticamente verificáveis são leis estatísticas. São também leis hiotéticas dado que são formuladas admitindo certas condições (hióteses) esecificamente consideradas. Não se fique, orém, com a ideia de que tais características são exclusivas ou esecíficas das leis económicas, ou mesmo das leis obtidas no âmbito das ciências sociais, já que, em maior ou menor escala, todas as leis científicas odem classificar-se desta forma. Imorta sim sublinhar que toda a teoria científica é abstracta e geral e, or conseguinte, nenhuma é universalmente válida nem no esaço, nem no temo. Uma teoria científica é: - abstracta, orque requer a esecificação das condições ara a sua alicação. - geral, ois exlica todos os fenómenos relevantes nas circunstâncias corresondentes às condições esecificadas. Pode mesmo afirmar-se que quanto mais abstracta e geral for uma teoria mais restrito será o seu camo de alicação.

14 ANTÓNIO SARAIVA 2.2. Atitudes metodológicas atentes ao longo da história do ensamento económico Para servir de referência ao desenvolvimento deste tóico, torna-se necessário caracterizar sucintamente as duas grandes tradições da filosofia moderna: o racionalismo e o emirismo. RACIONALISMO (Descartes) EMPIRISMO (Bacon) O trabalho científico consiste em generalizar através: de uma análise dedutiva de hióteses a riori ariorismo. [método dedutivo] de inferências indutivas a artir da observação directa. [método indutivo] Se estas são as duas conceções metodológicas que, desde o séc. XVII, se contraõem o que se verifica é que os cientistas, indeendentemente do que ossam ensar ou declarar, não desenvolvem o seu trabalho no cumrimento estrito de nenhuma delas. Como já se retendeu mostrar, "a ciência não 'começa' com, ou generaliza a artir da 'observação', nem 'acaba' com conclusões e redições derivadas de modelos inteiramente abstractos e a riori." (Katouzian [1982, 249]) Os mercantilistas não retendiam roceder a generalizações "universais" antes se reocuavam com a resolução de roblemas argumentando com base em observações casuais ara tal consideradas relevantes. Com a afirmação da corrente clássica consolida-se a tendência, já denotada elos seus recursores, ara uma maior abstracção e generalização. Salientamos já a imortância da contribuição de Malthus nesse sentido aquando da aresentação, em modelo, da sua teoria da oulação. É, no entanto, a Ricardo que se deve a mais significativa contribuição neste camo ois que foi ele o fundador da "teoria económica ura" como exercício de lógica ura.

MICROECONOMIA 15 A consistência lógica das teorias era garantia suficiente da sua validade e relevância. Este é o osicionamento metodológico dominante na economia olítica clássica. Os neoclássicos entroncam nesta tradição romovendo e rivilegiando o recurso à matemática. Na sequência da crise vivida ela economia olítica clássica surgiu a olémica sobre a "contaminação" das teorias económicas elos valores defendidos elos resectivos autores. A reacção da escola ortodoxa traduziu-se na afirmação da neutralidade da economia olítica já que o "economista enquanto tal" deveria abster-se duma orientação normativa. A instauração desta olémica ficou a dever-se à fé no oder da razão e da ciência natural cultivada no séc. XVIII a qual conduziu a três equívocos fundamentais: - afirmação de que a ligação a um sistema de valores comromete a cientificidade de uma discilina. - crença na ossibilidade de assimilar as acções humanas e a interacção social a mecânica ura. - convicção de que as generalizações feitas a artir de dados emíricos rescindiam de hióteses a riori. Auguste Comte virá tentar "converter" as ciências sociais a esta "fé racional dando coro ao ositivismo. Próxima, em alguns asectos, deste ositivismo constitui-se a Escola histórica alemã que, como Comte, via na história a fonte de dados factuais ara a formulação de leis a ar da realização de estudos socio-económicos or "observação directa". Solicitada or este ositivismo e confrontada com a crítica ao seu ariorismo or arte da Escola histórica alemã, a escola ortodoxa neoclássica reagiu: - acreditando na ossibilidade de elaborar teorias totalmente exurgadas de valores. - aceitando a ideia de que o método das ciências naturais era indutivo.

16 ANTÓNIO SARAIVA - negando a alicabilidade de tal rocedimento metodológico à economia ao onto de recusar atribuir qualquer relevância aos factos (incluídos os históricos). 3 Enquanto a ortodoxia neoclássica, instalada no seu ariorismo, seguia a "venerável tradição da fobia aos números", certos autores aroveitando a crescente disonibilidade de dados estatísticas começam a integrar os "números" nos seus estudos económicos contestando a metodologia ortodoxa que conduzia a teorias assimiláveis a "caixas vazias". Dava-se assim, aquando o termo da 2ª GG, a emergência da economia ositiva alegadamente informada elos critérios do ositivismo lógico. O ositivismo lógico aresentou-se como síntese dos métodos racionalista e emirista ondo esecial ênfase na verificação emírica das teorias. Os "economistas ositivos" retendem-se adetos desta conceção metodológica o que os leva a rejeitar eremtoriamente a ingerência de juízos de valor na teoria económica or não cumrirem o requisito da verificabilidade abonador do estatuto de ciência. A sua osição revela-se, contudo, inconsequente e incorrecta. Inconsequente, orque, ao contrário do que roalam, os economistas ositivos iludem, quase sistematicamente, a exigência de verificação emírica das suas teorias e hióteses. Ao ersistirem na consideração de ressuostos incongruentes com a investigação emírica estes economistas argumentam em sua defesa que a verdade dos ressuostos é irrelevante, ressaltando que se a redição de uma teoria se revela verdadeira então a teoria ode ser considerada verdadeira tal como se os seus ressuostos o fossem. Assim se afirma exlicitamente o instrumentalismo onde ontificam nomes como o de Milton Friedman ara quem uma teoria que "funcione" é uma teoria verdadeira. De modo absolutamente incoerente, os economistas ositivos são, em geral, ositivistas lógicos em teoria e instrumentalistas na rática. 4 3 "Se surge uma contradição entre uma teoria e a exeriência, semre odemos suor que não estava resente alguma condição ressuosta ela teoria ou que existe algum erro nas nossas observações. O desacordo entre a teoria e os factos da exeriência obriga-nos, frequentemente, a reconsiderar or comleto os roblemas da teoria. Contudo, se, na sequência dessa reconsideração, não descobrirmos erros nos nossos raciocínios, nada nos ermite duvidar da sua veracidade." L. von Mises, 1933

MICROECONOMIA 17 Incorrecta, orque a elaboração de teorias envolve inevitavelmente a consideração de enunciados rescritivos que comortam uma areciação normativa. ualquer teoria científica está imregnada de subjectividade. Esta subjectividade está desde logo resente aquando a formulação de hióteses a riori, révias a qualquer investigação. Mesmo que aceitássemos que o trabalho científico começa ela "observação directa" a subjectividade insinuar-se-ia: - na escolha dos critérios de selecção dos dados. - na selecção dos métodos adequados ao tratamento dos dados recolhidos. - no rório tratamento dos dados. - na utilização de uma linguagem ara comunicar os resultados obtidos. A neutralidade científica não ode ois consistir na elaboração de teorias alegadamente exurgadas de juízos de valor já que tal é irrealizável "Toda a observação está imregnada de teoria" (Karl Poer) ENUNCIADOS DESCRITIVOS (1) PRESCRITIVOS (2) e (3) NORMATIVOS MORAIS (4) 1. «As receitas úblicas corresondem a 80 % do valor das desesas.» 2. «É ossível reduzir em 10 % a taxa de desemrego rovocando o agravamento do deficit orçamental em 25 %.» 3. «A exansão das desesas úblicas é benéfica orque reduz os conflitos sociais e aumenta a rodutividade.» 4. «O equilíbrio orçamental é o objectivo ideal.» 4 "... a concorrência erfeita funciona frequentemente como modelo teórico dos rocessos económicos. A melhor justificação ara tal afirmação é o facto de que aesar da roliferação de modelos mais "sofisticados" de conduta económica, os

18 ANTÓNIO SARAIVA Os enunciados 2, 3 e 4 são normativos mas aenas o 2 e o 3 são rescritivos ois são assíveis de refutação, mormente com base na observação emírica. O enunciado 4 consiste tão só numa oinião insuscetível em si mesma de uma refutação com base em critérios objectivos. Porém, na ersectiva ortodoxa dominante: POSITIVOS ( DESCRITIVOS) (1) e (2) NORMATIVOS ( MORAIS) (3) e (4) Encontra-se largamente difundida a oinião de que o cientista, enquanto tal, deveria dedicar-se a questões relativas ao que é e não ao que deve ser, oinião esta que encontra corresondência na demarcação entre economia ositiva e economia normativa. Suostamente, a rimeira, orque descritiva, não envolveria juízos de valor. A segunda, orque rescritiva, redundaria num inventário de "oiniões essoais". Ora, embora aceitando como óbvia a distinção entre enunciados descritivos e enunciados normativos, deve salientar-se que os rimeiros estão inevitavelmente imregnados de valores sem que, or isso, esteja, necessariamente, comrometida a sua objectividade; os segundos não são forçosamente juízos de valor morais. Os enunciados rescritivos (ao contrário dos juízos morais) são suscetíveis de refutação, ou seja, estão disoníveis ara uma validação elo confronto com os factos e/ou ela crítica racional. Tendo em conta esta tiologia imediatamente se conclui que a economia, enquanto ciência, concebe e articula, redominantemente, enunciados rescritivos. Assim, a economia é, caracteristicamente, não uma ciência "ositiva" i.e. descritiva mas sim "normativa" i.e. rescritiva. economistas usam, rovavelmente hoje mais que nunca, o modelo de concorrência erfeita." Ferguson e Gould

MICROECONOMIA 19 Contesta-se, deste modo, a visão que a ortodoxia insiste em imor quando distingue economia ositiva de economia normativa considerando a rimeira como o coro rincial do conhecimento económico orque de conteúdo descritivo, neutral e, ortanto, científico. A economia normativa, identificada com a olítica económica, comortaria tão só juízos morais ou "oiniões essoais" sendo or isso exterior ao camo científico. "A economia 'ositiva' não existe, é o resultado de um equívoco. A economia é uma ciência normativa, rescritiva." (Katouzian [1982]) Invocando a auto-evidência dos seus ressuostos básicos a ortodoxia neoclássica autoriza-se a considerar como "ositivos" enunciados manifestamente normativos remetendo ara o camo não-científico (orque não ositivo, não neutral) os enunciados que reconhece como normativos (questões de oinião, na sua ersectiva). A demarcação entre economia ositiva e economia normativa e a ideia inerente de que aenas a rimeira é científica baseia-se numa conceção de neutralidade científica absolutamente inconsistente na medida em que o conhecimento científico comorta, inevitavelmente, elementos normativos.

20 ANTÓNIO SARAIVA 3. FORMALIZAÇÃO DO PROBLEMA ECONÓMICO A ortodoxia neoclássica, tendenciosamente, considera a afectação eficiente dos recursos como o objectivo rimordial atribuindo-lhe o estatuto de científico (orque "neutral" e "ositivo"). Todos os outros são reteridos como normativos e, ortanto, estranhos ao camo científico. ESCASSEZ Insuficiência dos bens (recursos) em relação às necessidades ESCOLHA Hierarquizar as necessidades e constituir o cabaz de bens ara as satisfazer. PROBLEMA [racionalização] [contexto] ECONÓMICO Como obter o máximo de satisfação das necessidades dados os recursos disoníveis? O roblema económico é deste modo equacionado como um roblema de otimização, isto é, de maximização condicionada. 3.1. Uma definição de economia A esta formalização do roblema económico corresonde uma conceção de ciência económica assim enunciada: "Economia é a ciência que estuda o comortamento humano enquanto relação entre fins e meios escassos suscetíveis de usos alternativos." (Lionel Robbins, 1933) Trata-se de uma conceção formalista orque não atende à esecificidade das organizações sociais reclamando-se de uma validade universal no esaço e no temo.

MICROECONOMIA 21 Reare-se que, nos termos desta definição, toda a actividade humana seria, afinal, económica revelando-se, assim, esta conceção formal de economia tão "amla" quanto irrelevante. Subjacente a esta conceção está a ideia de que "um indivíduo só age sabendo erfeitamente o que quer e como obtê-lo e nunca quer outra coisa além de maximizar o seu ganho minimizando o seu esforço." (C. Castoriades, 1970) A tese formalista revela-se restritiva na medida em que ignora "as roriedades dos sistemas económicos e sociais que não são desejadas nem, muitas vezes, conhecidas elos indivíduos e gruos que são os agentes", ficando-se aenas ao nível da "análise do comortamento económico intencional dos indivíduos e dos gruos sociais." Assim, alheia às relações sociais e sua evolução histórica, a definição formal de economia adota como objecto o comortamento do homo economicus autado ela "racionalidade económica, entendida como maximização do lucro dos indivíduos ou dos gruos sociais que se defrontam na concorrência no interior de uma sociedade reduzida a um mercado (de bens, de oder, de valores, etc.)" (Godelier [1977]) "Economia é a ciência que estuda o comortamento humano enquanto relação entre fins e meios escassos..." ue fins? uem os estabelece? O sistema económico é otimal em relação a todos os fins ossíveis? O sistema é otimal relativamente aos fins que se roõem atingir os homens que vivem no sistema. Mas os fins a que se roõem os indivíduos e a sua concretização, nomeadamente no lano económico, são fortemente determinados elo rório sistema. Assim, é osta em causa a retensa "ura lógica da escolha entre meios limitados ara atingir fins ilimitados" a que, suostamente, se confinaria a economia. "Os fins estão inscritos na rória materialidade, na natureza, na organização dos meios" or sua vez consubstanciais ao sistema social.

22 ANTÓNIO SARAIVA Deste modo, a dissociação dos fins e dos meios revela-se falaciosa ficando, assim, comrometida a definição formalista de economia. Suostamente, a economia ositiva estaria ata a, de um modo neutral, indicar os meios adequados à consecução de fins que, de fora, lhe fossem roostos. A discussão e hierarquização dos fins, dos objectivos far-se-ia aenas no âmbito da economia normativa. Mas se, como já se afirmou, os fins são "imanentes" aos meios, a sua discussão imlica, ara a economia, estabelecer relações de vizinhança com as restantes ciências sociais o que nos conduz a uma conceção lata (sociológica) de ciência económica cujas dimensões se assam a aresentar. 3.2. Dimensões da economia 3.2.1. Dimensão social Os homens vivem em sociedade, ou seja, disõem-se numa "estrutura social que deende estreitamente das relações económicas esecíficas que nascem do controlo dos recursos" (R. Firth) Nas sociedades ré-caitalistas, as relações de arentesco ou as relações olítico-religiosas arecem dominar o seu funcionamento "camuflando" a estrutura económica elo que o estudo dos fenómenos económicos assa, aí, forçosamente, ela consideração de asectos extra-económicos intrinsecamente articulados com os rimeiros. Mas, mesmo nas economias caitalistas onde o "económico", orque dominante, tende a aresentar-se como algo imediatamente discernível, a análise das relações económicas não ode confinar-se à análise do que são, ou aarentam ser, relações económicas. Sendo a realidade social única, cada uma das ciências sociais conhece-a, interreta-a de uma forma diferente orque cada uma delas recorre a um "código de leitura" e a um modo de a interrogarem rórios.

MICROECONOMIA 23 Então a interdiscilinaridade é fundamental ara o conhecimento dessa realidade social elo que nenhuma ciência social ode retender rescindir das contribuições das restantes sob ena de degenerar num formalismo oco sem caacidade exlicativa. "Para usar a tradicional abordagem económica formal tem-se também de amliá-la. A economia tradicional é insensível aos constrangimentos normativos, culturais e ecológicos que condicionam o jogo do mercado. Antroólogos como eu estão articularmente atentos à existência destes constrangimentos, de tal modo que tive de modificar abordagens formais ara os introduzir e, consequentemente, tornar mais comreensível o modo como os Turu tomam as suas decisões no mercado." (Harold Schneider, antroólogo formalista) 3.2.2. Dimensão histórica O económico articia indissociavelmente da evolução histórica dos sistemas sociais; o económico (condiciona e) é condicionado elo contexto histórico em que, em cada momento, se insere. O economista não ode, ois, alhear-se do carácter dinâmico do seu objecto sob ena de imotência ara exlicar uma dada estrutura num dado momento (. e. roblemática do subdesenvolvimento). A dimensão económica não deixa, evidentemente de estar resente no rório rocesso de rodução de conhecimento científico em que se constitui a economia. 3.2.3. Dimensão olítica As contribuições marcantes ara a ciência económica resultaram, muitas vezes, de um esforço ragmático no sentido de resolver os roblemas económicos à medida que se foram colocando ao longo da história quando não da tentativa de sancionar "cientificamente" a ordem económica vigente ou desejada (e.g. teoria da oulação de Malthus)

24 ANTÓNIO SARAIVA 4. CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES PROPEDÊUTICOS 4.1. Necessidades e utilidades A actividade económica torna ossível a satisfação de uma arte das necessidades sentidas elas essoas em cada sociedade. A existência das necessidades está mesmo, ortanto, na base do surgimento e manutenção da actividade económica. Tal, orém, não nos ermite, só or si, concluir nada sobre o modo como as necessidades se constituem e o modo como evoluem. Será, então, abusivo artir ara a formulação do roblema económico tomando como absolutamente válida a ideia de que as necessidades são ilimitadas. Alegadamente, tal ressuosto encontraria o seu fundamento na rória natureza humana imondo-se, desta forma, como um ostulado. "O homem traz em si uma necessidade de infinito e troeça constantemente no finito da criação. Esta antítese traduz-se em rimeiro lugar na ideia de raridade. As necessidades aarecem como sendo inumeráveis e os meios ara as satisfazer são limitados. Pode acontecer também que os meios sejam suficientes, or vezes até demasiado numerosos. Então intervém uma outra noção, a de inadatação. Os bens não estão necessariamente onde são recisos. É necessário reduzi-los se são demasiado abundantes, roduzi-los se são insuficientes." (H. Guilton) uando se emreendeu "o estudo reciso do ambiente ecológico, das condições concretas de rodução, dos regimes alimentares e dos balanços energéticos" de certos gruos de caçadores-recolectores concluiu-se, ao contrário do que até então se acreditava, que nessas sociedades "todas as necessidades sociais eram satisfeitas e os meios ara as satisfazer não eram raros". Necessidade: "estado de insatisfação acomanhado da consciência de que existe um meio ato a fazer cessar ou atenuar esse estado e do desejo de ossuir esse meio." Mas o que surge rimeiro, a necessidade ou o bem que a satisfaz?

MICROECONOMIA 25 Se as necessidades são subjectivamente sentidas elas são, em alguma medida, socialmente "roduzidas" e "reroduzidas". O marketing, e a ublicidade em articular, tem aqui um ael imortante. NECESSIDADES ECONÓMICAS Aquelas que requerem bens económicos ara a sua extinção ACTIVIDADE ECONÓMICA A sociedade de consumo integra um "rocesso de rodução de necessidades" (normas de consumo) de modo que elas tendem a aresentar-se virtualmente em número ilimitado. Utilidade (em sentido económico): roriedade de anulação das necessidades atribuída aos bens económicos or arte de quem exerimenta essas mesmas necessidades. - subjectiva (orque só existe quando reconhecida como tal nos objectos elo sujeito) - neutra (orque indeendente de considerações morais ou outras) BEM: algo útil e acessível BENS ECONÓMICOS (escassos) BENS LIVRES (não escassos) BENS NATURAIS RAROS BENS PRODUZIDOS FACTORES DE PRODUÇÃO TERRA TRABALHO CAPITAL Os bens roduzidos resultam da combinação de recursos escassos também designados or factores de rodução. Terra e trabalho constituem os factores de rodução rimários, ou seja, que não são roduzidos.

26 ANTÓNIO SARAIVA Caital designa o conjunto de bens de caital que se caracterizam elo facto de serem bens roduzidos a ser utilizados na rodução de outros bens. Enquanto factor de rodução o caital é considerado em termos reais: caital técnico. 4.2. Classificação dos bens económicos i. BENS DE PRODUÇÃO (indirectos; intermediários) - destinam-se a ser utilizados na rodução de outros bens BENS DE CONSUMO (directos; finais) - satisfazem directamente as necessidades dos consumidores. ii. BENS MATERIAIS: são rodutos físicos tangíveis BENS IMATERIAIS (SERVIÇOS): rodutos que não se concretizam em bens materiais. iii. BENS NÃO-DURADOUROS: bens cuja utilidade se extingue num curto eríodo de temo. BENS DURADOUROS: bens cuja utilidade erdura ao longo de eríodos sucessivos. 4.3. Linha limite de ossibilidades de rodução Consideremos os ressuostos: i. encontra-se disonível uma certa dotação de recursos. ii. os recursos (escassos) são suscetíveis de usos alternativos. iii. a economia roduz aenas dois bens. iv. admite-se o leno-emrego dos recursos. v. a tecnologia atingiu um determinado nível. vi. é máximo o grau de eficiência da utilização dos recursos.

MICROECONOMIA 27 TABELA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO ALTERNATIVAS Combinações ossíveis alternativas Pão (10 3 t.) Vinho (10 6 l.) A 30 0 B 27 2 C 21 4 D 12 6 E 0 8 Pão 30 27 21 12 A B G C F D LINHA LIMITE DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO: lugar geométrico dos ontos cujas coordenadas reresentam as roduções máximas dos dois (tios de) bens, dados os recursos disoníveis, o estádio da tecnologia e o grau de eficiência na sua utilização. ZONA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO E 0 2 4 6 8 Vinho G: combinação ineficiente ois uma maior quantidade de um bem, ou de ambos, oderia ser roduzida com os recursos dados. D: os recursos estão a ser integralmente utilizados com a tecnologia disonível alicada com eficiência máxima. F: combinação que só oderá ser exlicada elo facto de a LLPP ter sido definida com base numa subavaliação: - dos recursos disoníveis;

28 ANTÓNIO SARAIVA - do nível tecnológico; - do grau de eficiência. Porque os recursos são escassos e suscetíveis de usos alternativos há que escolher o modo eficiente de utilizá-los, ou seja, cotejando a satisfação obtida com aquela a que se renuncia a LLPP é descendente. 4.3.1. Custo de oortunidade A escolha comorta uma renúncia que se traduz num custo de oortunidade. Custo de oortunidade da obtenção de uma dada quantidade corresonde à quantidade de outro(s) bem(s) a que se renuncia ao otar ela obtenção daquela quantidade do bem. 4.3.2. Sobre a curvatura da LLPP A concavidade da LLPP significa que os custos de oortunidade são crescentes. Porquê? Para resonder a esta interrogação há que, reviamente, esclarecer alguns asectos. Se os factores variarem na mesma roorção, mantém-se a roorção em se combinam e, assim, é de eserar que a rodução varie na mesma roorção que os factores. Fala-se, então, em rendimentos constantes à escala. Terra Trabalho Produção rodução 0 0 0 10 1 5 5 20 2 10 5 30 3 15 5 Mas a influência de certos asectos inerentes às esecificidades da tecnologia utilizada oderão conduzir ao fenómeno dos rendimentos crescentes à escala que se traduz no facto de a rodução

MICROECONOMIA 29 crescer a uma roorção suerior àquela a que crescem os factores. O aumento da escala da rodução ermite que a rodução cresça a taxas crescentes devido à esecialização resultante da divisão do trabalho que aquele aumento roicia. Terra Trabalho Produção rodução 0 0 0 10 1 5 5 20 2 18 13 30 3 40 22 Se, no entanto, os factores crescerem em roorções diferentes o que imlica a alteração da roorção em que se combinam é de eserar que a rodução cresça a taxas decrescentes rendimentos decrescentes. Terra Trabalho Produção rodução 0 0 0 10 1 5 5 15 2 8 3 18 3 10 2 Estamos agora em condições de erceber que a verificação de custos de oortunidade crescentes decorre da aceitação da lei dos rendimentos decrescentes que estabelece que um volume decrescente de rodução adicional se obtém, eventualmente, ao acrescentar-se sucessivas unidades adicionais de um factor a uma quantidade fixa de outro(s) factor(es), dado o nível tecnológico.

30 ANTÓNIO SARAIVA Terra Trabalho Produção rodução 10 0 0 10 1 5 5 10 2 12 7 10 3 22 10 10 4 30 8 10 5 36 6 Neste caso, a artir do emrego do quarto trabalhador verificam-se rendimentos decrescentes, já que mantendo-se constante um dos factores altera-se a roorção em que se combinam à medida que, sucessivamente, se utiliza mais factor variável. Mas, mesmo que a roorção em se combinam os factores não sofra alteração a lei dos rendimentos decrescentes oderá verificar-se, na medida em que a exansão da rodução obrigar à utilização de recursos menos atos ara a rodução em causa. À medida que transferimos recursos da rodução de ão ara a rodução de vinho verifica-se ser cada vez menor o acréscimo de rodução de vinho em resultado de sacrifícios de igual grandeza na rodução de ão, o que será devido: - à alteração da roorção em que se combinam os factores na sequência da sua transferência duma rodução ara a outra e/ou - à desigual atidão dos factores ara cada uma das roduções. Atidão diferenciada dos factores Alteração da roorção em que se combinam os LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES LEI DOS CUSTOS DE OPORTUNIDADE CRESCENTES

MICROECONOMIA 31 Pão X Y W Z Vinho A lei dos rendimentos decrescentes justifica, assim, o traçado côncavo da LLPP que traduz, geometricamente, a lei dos custos de oortunidade crescentes. 4.3.3. Factores de crescimento - Aumento da dotação de recursos: força de trabalho e caital; - Progresso tecnológico.

32 ANTÓNIO SARAIVA Bens de investimento líquido Bens de investimento líquido PAÍS A PAÍS B LLPP 1 LLPP 1 LLPP 0 I 0 LLPP 0 I 0 C 0 C 1 Bens de C 0 C 1 Bens de consumo consumo O nível de investimento líquido mantido or cada economia é decisivo ara o ritmo de crescimento da resectiva caacidade rodutiva. Aesar de terem inicialmente as mesmas caacidades rodutivas, o aís B aumentou substancialmente mais do que o aís A a sua caacidade rodutiva, no mesmo eríodo de temo, elo facto de ter rivilegiado o investimento, garantindo, assim, a ossibilidade de exansão do nível de consumo no futuro. Y Taxa média de transformação de Y em X entre A e B: a A TMT Y X b a tg( α ) d c b α B β Taxa marginal de transformação de Y em X no onto A: TMgT Y X tg( β) c d X

MICROECONOMIA 33 4.4. Classificação das relações económicas Vimos já que, num contexto de escassez, se imõe a necessidade de escolher, o que requer uma avaliação, a qual, or sua vez, imlica o conhecimento do sistema de reços que funciona, assim, como elemento regulador dos fluxos económicos. Postulado: As necessidades são ilimitadas. Afectação otimal Escolha Avaliação Recursos limitados Sistema de reços (indicadores de raridade) MERCADO Comra Preço Venda Vontade de comrar Vontade de vender PROCURA OFERTA Oferece-se como evidência a ideia de que os reços se engendram ao nível das trocas efectuadas no mercado. A análise há-de, ortanto, incidir, referencialmente, sobre o mercado, ou seja, sobre cada uma das "forças" que nele se confrontam: rocura e oferta. Facilmente nos convencemos, então, que bastaria deixar-nos conduzir elo bom-senso ara admitir que a "mera observação" dos fenómenos atentes no mercado autoriza as seguintes roosições: A quantidade rocurada de um bem é tanto maior quanto menor for o reço; A quantidade oferecida de um bem é tanto maior quanto maior for o reço. Acontece, orém, que ao fazê-lo estamos inevitavelmente a resumir certos ressuostos e definições, ou seja, estamos a elaborar um modelo.

34 ANTÓNIO SARAIVA Ora num modelo articulam-se variáveis entre as quais se estabelecem relações que odemos classificar como segue. - Relações funcionais - Relações técnicas ex: X t(k,l) - Relações de comortamento ex: q s f(); q d g() - Relações de equilíbrio ex: q s q d - Relações de definição ex: R C + S - Relações institucionais ex: T i(r) 4.5. Classificação das variáveis económicas I. 1. Variáveis instantâneas 1.1. Variáveis reço (assumem um certo valor em determinado momento) 1.2. Variáveis stock (quantificam-se através do valor acumulado até certo momento) 2. Variáveis de fluxo (ara a sua quantificação é necessário referir um determinado intervalo de temo) II. 1. Variáveis endógenas (o seu valor é determinado no âmbito do rório modelo) 2. Variáveis exógenas (o seu valor é tomado como dado exteriormente ao modelo) 5. PROCURA Função rocura alargada do bem n: q Dn ψ( n, i, R, G, ) q Dn : quantidade que o consumidor ode e deseja comrar. n : reço do bem n; i : reço de outro bem i(1, ); R: rendimento do consumidor.

MICROECONOMIA 35 Função rocura do bem n: q Dn g( n ), cæteris aribus TABELA DA PROCURA DO BEM n a b c d e f Preço ($/u.f.) 300 600 900 1200 1500 1800 q Dn (u.f./ano) 24 16 11 7 4 2

36 ANTÓNIO SARAIVA n /unid. 1800 1500 1200 900 CURVA DA PROCURA 600 300 qd g( n ) 2 4 7 11 16 24 qd n /ano Uma variação do reço de um bem induz dois tios de efeitos que, conjuntamente, exlicam a variação da quantidade rocurada: Efeito rendimento em resultado do decréscimo do reço do bem aumenta o oder de comra R do consumidor [o rendimento real ( ) cresce, o que lhe ermitirá n adquirir maiores quantidades dos bens, designadamente do rório bem cujo reço baixou]. Efeito substituição aquando da descida do reço do bem verifica-se um encarecimento relativo dos outros bens, o que levará o consumidor a afectar uma maior arcela do seu rendimento à aquisição do bem em causa em detrimento i das comras que efectuará dos outros bens [o reço relativo ( ) dos outros bens sobe em consequência da descida do reço do bem de referência]. n Função rocura-rendimento do bem n: q Dn r(r), cæteris aribus

MICROECONOMIA 37 q D CURVAS DE ENGEL Bens normais: aqueles cuja quantidade rocurada varia directamente com o rendimento. Bens inferiores: aqueles cuja quantidade rocurada varia inversamente ao rendimento deois que este ultraassa determinado nível. Função rocura cruzada do bem n: R q Dn z( z ), cæteris aribus. Bens sucedâneos: a quantidade rocurada de um varia no mesmo sentido do reço do outro. Bens comlementares: a quantidade rocurada de um varia em sentido contrário ao reço do outro. 5.1. Traçado da curva da rocura de mercado A curva da rocura de mercado obtém-se or agregação das curvas da rocura individuais: n D q Di, com q Di quantidade rocurada elo consumidor i. i 1 n n n 22 Consumidor 1 Consumidor 2 Curva da rocura de mercado 10 120 220 q D Exemlo considerando curvas da rocura lineares e reços limite diferentes: [0, 10]: D q D1 + q D2 (220-10) + (200-20) 420-30 ]10, 22]: D q D1 + q D2 (220-10) + (0) 220-10 220 q D 120 420 D

38 ANTÓNIO SARAIVA 6. OFERTA Função oferta alargada do bem n: q Sn ϕ( n, i, f, Objectivo do rodutor, Tecnologia, ) q Sn : quantidade que o rodutor ode e deseja vender. n : reço do bem n; i : reço de outro bem i(1, ); f : reço do factor de rodução f(1, ). Função oferta do bem n: q Sn f( n ), cæteris aribus n Curva da oferta Preço limite do rodutor q Sn 7. MERCADO Para um determinado nível de reço, três situações odem ocorrer: - D > S (excesso de rocura) - D < S (excesso de oferta) - D S. Na rimeira situação os consumidores não conseguirão comrar toda a quantidade que, àquele reço, desejam comrar, elo que não há equilíbrio no mercado. Na segunda situação os rodutores não conseguirão vender toda a quantidade que, àquele reço, desejam vender, elo que não há equilíbrio no mercado.

MICROECONOMIA 39 O equilíbrio do mercado aenas está garantido na terceira situação ois é aquela em que consumidores e rodutores conseguem ver comatibilizados os seus interesses a quantidade que os uns retendem adquirir é a mesma que os outros estão interessados em vender: D S. P S P E Excesso de oferta Excesso de rocura D E Consideraremos que o reço de equilíbrio existe e é único, admitindo que: - A função rocura é não crescente no reço; - A função oferta é não decrescente no reço; - Uma situação de excesso de rocura (carência do bem) induz os consumidores a concorrerem no ara obterem o bem, redisondo-os a aceitarem agar um reço suerior; - Uma situação de excesso de oferta (dificuldade de escoamento da rodução) leva os rodutores a entrarem em concorrência, redisondo-os a aceitarem um reço inferior. Para exlicar o modo como se estabelece o reço de equilíbrio, admita-se a existência de um agente coordenador cuja função é ir roondo alterações no reço até que as quantidades rocurada e oferecida coincidam e, então, se concretizem as transacções no mercado. O esquema oerativo deste agente coordenador é o seguinte: ; D > S ; ' > ; D < S ; ' <