SOMOS UM POUCO DE TODAS AS NOSSAS LEMBRANÇAS



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Transcrição:

SOMOS UM POUCO DE TODAS AS NOSSAS LEMBRANÇAS Juliana Polidoro da Silva 1 Tudo que é bom dura o tempo necessário para se tornar inesquecível! Fernando Pessoa Introdução A finalidade deste texto é compartilhar a experiência docente e os resultados obtidos por meio da realização de um projeto didático executado, ao longo do ano letivo de 2013, numa sala de alfabetização (terceiro ano) de uma escola da rede municipal de ensino de Valinhos. De maneira geral, nas salas de aula são encontradas grandes resistências por parte dos alunos em relação à leitura e produção textual. Para muitos, o ato de expressar ideias verbalmente é considerado algo natural, porém, quando é necessário apresentá-las em forma de texto escrito, a tarefa se torna difícil. Vivenciando essas dificuldades a cada ano de trabalho e com a intenção de despertar o gosto pela leitura e escrita dos alunos, optei por realizar tal projeto de forma lúdica, com atividades sequenciadas e com a participação dos pais, avós e bisavós, que trouxeram consigo suas memórias, histórias e ensinamentos para dentro da sala de aula o que favoreceu a apropriação das práticas de linguagem instauradas na sociedade. O projeto abordou o estudo, a compreensão e a produção de diferentes gêneros textuais nas modalidades orais e escrita, sem perder de vista o quanto as palavras e as imagens expressas em obras literárias podem conduzir os leitores ao universo infinito do faz de conta. A participação dos alunos e suas famílias no desenvolvimento das atividades do projeto foram intensas e produtivas. A organização do projeto desenvolveu-se em consonância com estudos oferecidos a partir de programas de formação do Ministério da Educação, com destaque para o Pró- Letramento e, principalmente, o PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, desenvolvido em 2013. Os resultados positivos do projeto revelam a importância da 1 Professora da rede municipal de Valinhos.

existência de políticas públicas voltadas para a formação continuada dos professores. Os conteúdos estudados nesses programas proporcionaram a formação docente específica necessária para a eficácia do projeto desenvolvido em sala de aula com os alunos. A garantia dos direitos de aprendizagem pelos alunos destacada pelos programas do MEC foi, de fato, consolidada na experiência que se apresenta. 1 Aprendizagens significativas como oportunidade para todos Na condição de professora alfabetizadora, compreendo que a educação acontece por meio da troca de experiências e vivências múltiplas, que se agregam ao desenvolvimento global do educando, respeitando a heterogeneidade e a individualidade da comunidade escolar. Entendo que os professores sempre se deparam com novos desafios, dentre eles, o de estabelecer condições mais adequadas para atender à diversidade dos indivíduos que participam da escola. Respeitar, assumir e compreender esse processo é requisito para orientar a transformação de uma sociedade tradicionalmente pautada pela exclusão. Entendo também que um dos meus desafios é proporcionar uma educação prazerosa, motivadora e, consequentemente, significativa para meus alunos. A cada ano, recebo uma turma nova. Cada turma apresenta características peculiares que determinam os rumos do trabalho pedagógico a ser desenvolvido. A avaliação do processo de ensino e aprendizagem deve ter como objetivo inicial diagnosticar a situação de aprendizagem de cada aluno em relação à programação curricular. No início de todo ano letivo, enfatizo a sondagem dos saberes dos meus alunos como parte indispensável para iniciar qualquer atividade e para desenvolver o planejamento de trabalho para o ano letivo. No ano de 2013, depois de um estudo sobre as características e aprendizagens de meus alunos, achei oportuno pensar em um projeto que resgatasse as memórias dos alunos e seus familiares favorecendo o contato familiar no contexto escolar. Acredito que a junção da participação ativa dos pais no processo educativo de seus filhos e o desenvolvimento de aulas diferenciadas com metodologias que foram voltadas para o prazer de ser criança proporcionaram uma aprendizagem significativa aos alunos em diferentes âmbitos (sociais, emocionais e educativos), fazendo diferença na vida de cada um e de cada família. O desenvolvimento do projeto criou nos alunos um espírito investigador e autônomo; e em mim, um fazer pedagógico pautado em metodologia inovadora, possibilitando aulas mais agradáveis e prazerosas com atividades de interesse dos alunos, estimulando-os através das trocas e interações em sala de aula. Assim, a escola passou a ser administrada por toda a

comunidade, buscando caminhos para torná-la cada vez mais competente e capaz de cumprir seu papel na sociedade. 2 Objetivos gerais e específicos do projeto O projeto foi divido em oito oficinas pedagógicas, sendo utilizadas 14 obras literárias de diferentes gêneros textuais. Para o trabalho com cada uma das obras, foram definidos objetivos, recursos didáticos e etapas para o desenvolvimento das atividades de forma interdisciplinar e sequencial. As atividades foram adaptadas de acordo com a hipótese de escrita de cada aluno, até que cada um se apropriasse do Sistema de Escrita Alfabética e pudesse produzir textos de diferentes gêneros, com coerência e coesão, dentro dos direitos de aprendizagens a serem consolidados no 3º ano. Trabalhei de forma interdisciplinar, envolvendo as áreas do conhecimento: Português, Matemática, Ciências, História, Geografia e Arte, com o foco em alfabetizar letrando e em utilizar a linguagem como instrumento de comunicação. Essa organização permitiu aos alunos a interação, a expressão e o conhecimento de diferentes gêneros orais, escritos e artísticos em diversas situações de intercâmbio social, principalmente no convívio familiar. Para iniciar o projeto, fiz um estudo mais detalhado sobre as obras literárias que poderiam ser utilizadas como instrumento para trabalhar diferentes gêneros textuais. Para exemplificar, destaco a atividade com um jogo que proporcionava o desenvolvimento da consciência fonológica inicial para, posteriormente, trabalhar a estruturação de um poema ou poesia. Depois dessa compreensão, trabalhamos com literatura de cordel em sextilha. Assim, o projeto foi planejado, estudado e divido na rotina de acordo com os conteúdos que seriam consolidados. No decorrer dessas atividades os alunos trabalharam em grupos, duplas produtivas e individuais, para trocas de experiências e conhecimentos. Como complemento para nossas aulas, os familiares se envolveram nas atividades. Um casal de avós de uma das alunas foi até a escola ensinar uma receita de um bolo de fubá. Tal encontro proporcionou, além do resgate cultural, o trabalho contextualizado com o gênero receita, a matemática contida na quantidade dos alimentos, o valor nutricional, a importância dos alimentos naturais e industrializados, dentre outros conteúdos. Para trabalhar com o gênero carta, escolhi o livro O carteiro Chegou, de Janet e Allan Ahlberg, da Companhia das Letrinhas, como leitura de leite, isto é, uma leitura diária que faz parte da rotina de trabalho pedagógico. Para enriquecer o trabalho da leitura, escrevi

uma carta para cada aluno, que foi postada e, depois, entregue na escola por um carteiro real. A visita do carteiro foi uma surpresa maravilhosa e nós aproveitamos para fazer uma entrevista com ele para esclarecer algumas dúvidas sobre os diferentes tipos de cartas, suas funções e sobre os meios de comunicação. Escrevemos coletivamente uma carta para o carteiro, agradecendo sua visita à escola. Logo, enfatizei as questões formais e informais em sua estruturação. Com esse trabalho, os alunos conseguiram escrever cartas para os pais e amigos da escola, tanto manualmente, como utilizando recursos tecnológicos, como a informática. As figuras abaixo ilustram parte das atividades desenvolvidas ao longo do projeto (literatura de cordel e charge). Muitas outras atividades foram realizadas, contudo, o enfoque que fez a diferença no projeto esteve ligado às questões de como tornar as aulas mais concretas, prender a atenção dos alunos, gerar neles a vontade de não faltar (para não perder cada detalhe do trabalho),

demonstrar a relação entre teoria e prática. Os conteúdos foram descobertos no coletivo, sendo o professor o mediador das análises e reflexões sobre os assuntos pertinentes à sociedade em que vivemos. Por meio desse trabalho, os alunos leram textos dos gêneros previstos no planejamento escolar para o 3º ano; utilizaram a linguagem oral com eficácia, expressando sentimentos e opiniões; produziram textos escritos coerentes, considerando o leitor e o objetivo da mensagem, começando a identificar e diferenciar os gêneros textuais e os suportes que atendiam melhor a cada intenção comunicativa explorada. 3 Planejamento em ação Durante a realização do projeto e dos estudos referentes ao curso do PNAIC, vários temas foram alvo de análises e reflexões para que os objetivos fossem atingidos e os direitos de aprendizagens dos alunos fossem garantidos no currículo inclusivo: planejamento e a organização da rotina diária na alfabetização; progressão escolar e avaliação; importância da leitura diária para e com os alunos; registro como garantia de continuidade das aprendizagens no ciclo de alfabetização; importância do lúdico e dos jogos nas atividades propostas; desenvolvimento de projetos didáticos e sequências didáticas em diálogo com os diferentes componentes curriculares; trabalho com diferentes gêneros textuais em sala de aula; heterogeneidade em sala de aula e a necessidade de diversificação das atividades. Temas que me ajudaram na compreensão da importância da organização de uma rotina de trabalho voltada para o atendimento da diversidade na sala de aula e para a garantia das aprendizagens por todos os alunos. Como reflexo do estudo desses temas, destaco um dos aspectos que gerou diferença na organização das aulas. A leitura diária e frequente em sala de aula ajudou a criar nos alunos a familiaridade com o mundo da escrita. Essa proximidade com o mundo da escrita, por sua vez, facilitou a alfabetização e ajudou os alunos em todas as disciplinas. Contar histórias de formas dinâmicas, sendo o professor e os alunos os próprios personagens, envolveu todos no processo de ensino e aprendizagem.

O professor que está interessado em promover mudanças poderá encontrar na proposta do lúdico uma importante metodologia, que pode até contribuir para diminuir os altos índices de fracasso escolar e evasão verificados nas escolas, pois, a partir do momento em que o aluno se envolve com o aprendizado, as chances de ele fracassar ou desistir da escola diminuem consideravelmente. No entanto, o sentido verdadeiro da educação lúdica só estará garantido se o professor estiver preparado para realizá-lo, tiver conhecimento sobre seus fundamentos e vontade de estar em contínuo aprendizado e renovação, pois propor atividades que interessem aos alunos demanda pesquisa, estudo, observação das crianças com as quais se trabalha, dentre outros esforços por parte do educador. Não basta entregar qualquer jogo por ser educativo ou propor uma brincadeira aos alunos. O professor precisa mediar o processo e estar muito atento ao que acontece para saber como intervir. Como ressalta Anne Almeida, [...] em uma sala de aula ludicamente inspirada, convive-se com a aleatoriedade, com o imponderável; o professor renuncia à centralização, à onisciência e ao controle onipotente e reconhece a importância de que o aluno tenha uma postura ativa nas situações de ensino, sendo sujeito de sua aprendizagem; a espontaneidade e a criatividade são constantemente estimuladas. Podemos observar que essas atitudes, de um modo geral, não são, de fato, estimuladas na escola. A formação continuada, a busca por novos saberes, a ousadia, a sede por mudanças e a crença de que podemos fazer a diferença constituem parte de minha prática pedagógica, a que eu atribuo parte importante do sucesso escolar de meus alunos e de meu crescimento pessoal. De acordo com os objetivos específicos, busquei sempre me caracterizar como os personagens das obras literárias destacadas em cada oficina, dando ênfase à linguagem oral e ao lúdico como parte importantíssima na busca de uma aprendizagem significativa. Os olhares atentos dos alunos, ainda na fila para entrar na sala de aula, procuravam, a cada dia, os personagens diferentes. A magia de poder compartilhar esses momentos muitas vezes fazia os alunos não acreditarem que eu era a personagem principal da história. Um dos resultados positivos desse trabalho foi a diminuição das faltas dos alunos, pois eles não queriam perder as histórias e os acontecimentos. Destaco a personagem da história em que uma vovó entrava em cena, ou melhor, a vovó da professora (cf. figura a seguir). Os alunos, em sua maioria, acreditaram realmente que era a minha vó que estava ali, contando uma história para eles e pediam para que eu a trouxesse novamente para contar suas histórias.

A professora Juliana Polidoro da Silva, caracterizada como vovó, em atividade de leitura na sala de aula. Muitos outros personagens, como Maria Bonita, Chapeuzinho Vermelho, Princesas, Bruxas, Dona Conceição (dona de uma quitanda), fizeram parte desse cenário maravilhoso que é a educação. Nada melhor do que dar um colorido, significado e vida aos conteúdos escolares. 4 Diversidade textual Durante a realização do projeto, vários textos foram trabalhados conforme a proposta curricular da Secretaria de Educação do município de Valinhos, de forma que o aluno percebesse suas diferenças e usos sociais, tais como: - Textos práticos do cotidiano: em diversas situações, contribuindo para uma melhor comunicação entre as pessoas e para facilitar as atividades do dia a dia: bilhete, anúncio, cardápio, convite, manual de instruções, bula de remédios, rótulos de produtos artísticos etc. - Textos informativos: com a função de informar conhecimentos: jornais, enciclopédias, dicionários, mapas etc. - Textos literários: registros de pensamentos e fantasias do homem e de sua relação com o mundo, divertindo e expressando pensamentos e ideias, através de conteúdo e da forma escolhidos pelo autor: poema, conto, crônica, fábula etc. - Textos extra verbais: utilizando códigos não linguísticos através de formas, cores, sons, gestos, como pinturas, desenhos, artesanatos, esculturas, músicas etc. Ao final das atividades do projeto, os alunos estavam familiarizados com os gêneros literários; desinibidos em sua linguagem oral; resgatados em sua autoestima; aptos a utilizar conhecimentos e práticas dentro da diversidade de gêneros textuais e artísticos apresentados; estimulados para ler sempre mais; despertados para o gosto da leitura e sensibilidades

artísticas; preparados para o uso correto da linguagem nas diversas vivências do cotidiano; atentos para as oportunidades de se expressarem correta, polida e adequadamente com eficácia; preparados para analisar o uso da língua como veículo de valores; aptos para criar e executar artes diversas visando o contexto social; valorizando o pensar e o agir; o convívio familiar com suas diferenças e respeitando os modos de pensar e agir, principalmente das pessoas mais idosas (experiências de vida). O trabalho de todas as oficinas foi finalizado individualmente na confecção de um memorial com os diversos gêneros explorados coletivamente na montagem de um baú, contendo uma variação textual: caderno de receita, caderno de fotografias antigas, caderno de poemas, cadernos de brincadeiras antigas, cordel da vovó, objetos antigos, almanaque da vovó e jornal da terceira idade (cf. figuras abaixo). 5 Conclusão do projeto e o sentimento de dever cumprido A história de uma pessoa é como uma colcha de retalhos: é formada dos acontecimentos vividos; dos momentos de alegria e de tristeza; dos sonhos da vida de cada um; da importância da relação entre as pessoas da mesma família e também da escola. É assim que a criança aprende a amar e a ser amada. É importante refletir sobre o ser humano como um ser de projeto que se estrutura, social e psiquicamente, também nas relações de trabalho. Entender que o homem não anda sozinho, que há caminhos que se completam. Ninguém é igual a outrem. Nada de repetição, de monotonia. Uma pessoa completa a outra. Uma pessoa apoia a outra, formando a humanidade.

Eu sou um pedacinho do grande conjunto. Importante é querer ser costurado aos outros retalhos e não ficar isolado. Todos unidos na procura da fraternidade, cada um do seu modo, formam a grande colcha da humanidade. Todos pensam, sentem e agem diferentemente. Aí está a riqueza da diversidade, das identidades, dos valores. Todos podem ser diferentes e construir algo com o mesmo objetivo. Desse modo, poderão se sentir parte da grande teia da vida. Nós somos aquilo que vivemos. Somos um pouquinho da vida de nossos pais e avós, das pessoas que estão a nossa volta. A cultura e o modo de ser das pessoas influenciam o nosso modo de ser e de ver o mundo ao nosso redor. Buscar a nossa própria história nos proporciona o autoconhecimento e o conhecimento de todos e de tudo o que nos rodeia. Entender a própria história para respeitar nossos sentimentos e os daqueles com quem compartilhamos a vida. As boas expectativas, o entusiasmo e os elogios, de todos os envolvidos na realização do trabalho aqui exposto, dão a certeza de que o projeto foi favorável aos objetivos propostos e tomou uma dimensão surpreendente. Sensações como surpresa, excitação, curiosidade, alegria, tristeza, resgate de memórias, diálogos fizeram com que o educando se interessasse por ler e escrever sua história. Há que se considerar também que este trabalho foi para além da sala de aula, pois houve um envolvimento das famílias resgatando muitos acontecimentos, fatos históricos que fazem parte da história dos alunos e que, segundo depoimentos, estavam esquecidos. Buscar um caminho para que as crianças não tivessem medo de seguir, que não fosse desinteressante ao ponto da criança desacreditar de si mesma, foi também um de meus objetivos. Foi fascinante fazer de cada instante um momento mágico, educativo, em que a magia e o sonho se concretizaram nas vivências reais. A troca de informações, o contato com diferentes gêneros textuais e seus usos sociais, as leituras deleite com dinâmicas diferentes, os grupos produtivos, as atividades analisadas para cada hipótese de escrita, a participação dos pais, o entusiasmo dos alunos, em muito contribuíram para que ao finalizar esse projeto pudesse deixar guardado na memória o sentimento de saudades em nossas vidas. Momentos que ficarão marcados em minha trajetória docente: ver uma lágrima nos olhos dos alunos ao assistirem a um vídeo sobre os direitos dos idosos; momentos em que presenciei alunos com dores abdominais de tanto rir de si mesmos; momentos de aprendizagem, de erros também, que me deixaram mais sábia na busca de estratégias

significativas para uma educação de qualidade, sem métodos exaustivos, mas, sim, prazerosos. Não há satisfação maior do que quando o produto final do projeto vai além das expectativas, possibilitando a aprovação de todos os alunos ao final de um ano letivo. Ainda mais, ao saber que o processo foi tão prazeroso quanto produtivo. Busquei trabalhar valores, na intenção de procurar, tanto nas questões práticas do dia a dia quanto no confronto com a realidade social, desenvolver o senso de respeito, solidariedade e responsabilidade social. Ressalto que a aproximação da família com a escola foi indispensável no processo, pois a formação de valores se origina e se consolida principalmente na família. Considerações finais A experiência docente partilhada neste texto enfatizou as possibilidades de se realizar o trabalho pedagógico nos anos iniciais da alfabetização, considerando tanto o desenvolvimento dos objetivos curriculares específicos como o desenvolvimento de atividades que proporcionam o interesse e a participação do aluno e também de sua família no processo de aprendizagem. Foi possível por meio do projeto, das sequências didáticas, das atividades permanentes, fazer com que os alunos compreendessem o sistema alfabético de escrita e que consolidassem vários objetivos dos direitos de aprendizagem, tanto na oralidade quanto na leitura e produção textual. Acho importante destacar que muito do trabalho docente que se realiza na sala de aula depende das crenças dos professores em si mesmos e nas apostas que fazem em relação às possibilidades de aprendizagem de cada um de seus alunos. No entanto, é de fundamental importância que o professor continue em processo de formação. Estudar é parte essencial da atividade docente. Dessa forma, destaco que existe a necessidade de haver a continuidade de políticas públicas, em âmbito federal, estadual e municipal, voltadas para a formação do professor. A experiência apresentada neste texto tornou-se realidade também em função dos estudos proporcionados pelo desenvolvimento dessas políticas públicas de formação, dentre as quais menciono os Programas Pró-letramento e o PNAIC. Ambos auxiliaram minha formação e, consequentemente, o trabalho que desenvolvo em sala de aula. A qualidade da formação do professor dá oportunidade em maior medida à garantia dos direitos de aprendizagens pelos

alunos. O projeto de trabalho desenvolvido em 2013 com meus alunos de terceiro ano tornouse inesquecível. Referência ALMEIDA, A. Ludicidade como instrumento pedagógico. Disponível em: <http://www.cdof.com.br/recrea22.htm>. Acesso em: 20 out. 2013.