Engº Pery César G. de Castro 2009 1. INTRODUÇÃO Vários fatores atuam isolada ou conjuntamente sobre os pavimentos, resultando na alteração ou destruição de suas qualidades fundamentais. O tráfego é o fator mais importante. Sem ele não ocorre defeitos nos pavimentos. Sua ação pode ser mais ou menos acentuada dependendo do nível de colaboração dos demais fatores que atuam adversamente no pavimento. 1.1 Tráfego a) Pela ação das cargas que provocam deformações elásticas e permanentes. As primeiras conduzindo à ruptura por fadiga e a segunda, deixando marcas permanentes em sua superfície, como sulcos, deformações, etc. b) Pela aplicação de cargas que transmitem pressões que ultrapassam a resistência do pavimento, ou de uma de suas camadas, ou do subleito, provocando a ruptura do pavimento num todo ou em parte dele, resultará em deformações superficiais permanentes cujo valor depende da camada em que ocorreu a ruptura. Se for o revestimento, as deformações são pequenas. Se for o subleito, as deformações são muito grandes, porque desloca todo o material acima dele. c) Pela ação abrasiva dos pneus sobre a superfície do pavimento, que tende a desgastála, quando associada à ação da intempérie, podem provocar a desagregação do pavimento asfáltico, resultando no surgimento de buracos, etc. 1.2 Intempérie A intempérie resulta da ação de agentes físicos, químicos e biológicos, naturais, que atua sobre o pavimento atingindo seus componentes básicos: agregado e asfalto. Geralmente o mais atingido por estes agentes é o asfalto, que sofre oxidação pela ação do oxigênio do ar e volatilização dos hidrocarbonetos mais leves, pela ação da temperatura. Estes dois agentes produzem o endurecimento do asfalto, tornando-o quebradiço, o que se reflete na flexibilidade do pavimento. A ação da luz natural tem um efeito destrutivo sobre o asfalto. A luz solar emite uma radiação (raio actínio, da gama do Raio X) que destrói as moléculas do asfalto, transformando-as em água e produtos solúveis na água. O fenômeno é chamado foto-oxidação.
A água atua sobre a interface asfalto-agregado e, dependendo de suas características de adesividade pode descolar o asfalto da superfície do agregado. A conseqüência é a perda de coesão que mantém unidas as partículas do agregado, resultando na desagregação do pavimento. A ação de micro-organismos pode atacar o asfalto produzindo seu endurecimento e perda de flexibilidade do pavimento. A ação da intempérie, também, se reflete na durabilidade do agregado, podendo em pouco tempo torna-lo inadequado à função que desempenha no pavimento, isto é, suportar e transmitir as cargas aplicadas pelos eixos dos veículos. Como a participação do agregado na estrutura do pavimento é da ordem de 95%, qualquer ação destrutiva sofrida pelo agregado se refletirá em todo o pavimento. 2 1.3 Projeto e/ou construção inadequados Na elaboração de um projeto, a indicação inadequada de materiais, espessuras insuficientes para o tráfego previsto, seleção de misturas asfálticas com granulometria inadequada e/ou elevada porcentagem de partículas com baixo atrito (areias naturais), e/ou falta ou excesso de asfalto, etc., influenciam negativamente o comportamento do pavimento. Por outro lado, se o projeto indicou adequadamente todos os elementos, mas, na ocasião da construção, as especificações não são seguidas, as espessuras indicadas no projeto não são respeitadas, o pavimento poderá ter insucesso e nele surgirem todos os tipos de defeitos, onerando prematuramente, a conservação. 2. CONCEITO DE DEFEITOS DOS PAVIMENTOS Defeito é toda modificação na superfície ou na estrutura de um pavimento que altere negativamente seu comportamento. 3. TIPOS DE DEFEITOS E SUAS CAUSAS Os defeitos dum pavimento podem ser reunidos em três grupos principais: a) Defeitos associados ao comportamento estrutural do pavimento dão aqueles que alteram a estrutura do pavimento tendo como reflexo alterações em sua superfície; b) Defeitos associados à segurança do usuário; e c) Defeitos associados à atividade humana resultante da abertura de valas para colocação de redes de serviços públicos e inadequadamente reenchidos. Os defeitos ligados ao comportamento do pavimento são: 1) Defeitos devido à instabilidade 2) Trincas ou fraturas; e 3) Desintegração. Os defeitos referentes à segurança do usuário são: 1) Deformações superficiais, principalmente sulcos longitudinais ou trilhos; e 2) Superfície derrapante, quando úmida. Os defeitos resultantes de atividade humana são: 1) Superfícies com depressões ou ressaltos; e 2) Juntas abertas ou com exsudação de asfalto.
3.2.1 Defeitos associados ao comportamento estrutural 3 3.1.1 Instabilidade É a deformação superficial produzida pelo deslocamento plástico de um pavimento asfáltico submetido à ação do tráfego. Plasticidade é a propriedade que têm alguns materiais de mudarem de forma em qualquer direção de maneira contínua e permanente, sem romper, sob a ação de cargas ou pressões que lhe são aplicadas. Os elementos responsáveis pela estabilidade de uma mistura asfáltica são: 1) Agregado mistura de brita, areia natural, e às vezes filler, que suporta pressões e resiste aos esforços de cisalhamento devido ao atrito entre as partículas. Este atrito (atrito interno) depende: a) Granulometria do agregado Mantidas as demais variáveis, é maior nos agregados densos e menor nos uniformes. Isto se deve ao maior número de pontos de contato entre as partículas no agregado denso. b) Formato das partículas As partículas resultantes de britagem apresentam arestas ou cantos vivos que dão melhor entrosamento, e consequentemente atrito interno, do que as partículas de seixo e areia que tiverem suas arestas desgastadas pela abrasão no processo de transporte pelas águas ou vento. c) Superfície das partículas As partículas resultantes da britagem apresentam partículas com superfícies, ou faces, rugosas que desenvolvem alta resistência ao deslocamento. Esta rugosidade varia com a estrutura cristalina da rocha. Já as partículas transportadas pelas águas, ou vento apresentam uma superfície lisa oferecendo pouca resistência ao deslocamento e consequentemente baixo atrito. O agregado forma o esqueleto granular ou estrutura das misturas. Misturas com porcentagem alta de areias naturais, ou partículas com superfícies polidas, apresentarão baixo atrito e consequentemente baixa estabilidade. 2) Asfalto - é um poderoso ligante que pode ocasionar elevada coesão (força que se opõe ao afastamento das partículas) entre as partículas do agregado ou, dependendo da sua porcentagem na mistura, produzir uma lubrificação entre as partículas, reduzindo o atrito interno, pelo espessamento da película entre as partículas, reduzindo também a coesão. Isto reflete redução de estabilidade da mistura. 3) Vazios ocupados pelo ar (ou parte gasosa) - O ar dá flexibilidade à mistura. Os vazios ocupados pelo ar, ainda, desempenham um papel importante na estabilidade da mistura: propiciam espaço para absorver o aumento de volume do asfalto que ocorre com o aumento de temperatura evitando que seja desfeito o contato partícula a partícula da estrutura granular da mistura. Se não houver espaço para absorver o aumento de volume devido à dilatação térmica do asfalto, ele o cria, afastando as partículas do agregado. Nesta
circunstância, uma carga aplicada já não é transmitida partícula à partícula; mas ao asfalto, um líquido viscoso, à temperaturas ambientais altas. Não será o agregado que suportará as pressões de compressão e esforços de cisalhamento produzidos pelos eixos dos veículos, mas o asfalto, dando origem à pressões do tipo hidráulico que produzem o deslocamento da mistura asfáltica da área debaixo da carga para as áreas adjacentes. Estes deslocamentos, são muito pequenos, mas cumulativos, e crescem com o valor e a duração da carga aplicada. Desse conjunto, atrito interno, coesão e vazios de ar, resulta o comportamento da mistura: estável ou instável. O nível de compactação pode alterar os valores destes elementos. Quando uma mistura se torna instável, um ou mais destes três elementos não foi devidamente apreciado resultando numa mistura inadequada ao tráfego real. As características dos elementos que tendem a produzir misturas instáveis são: a) Agregado com superfície lisa e/ou sem arestas; b) Excesso de asfalto; e c) Deficiência de vazios de ar. Pode ocorrer que o projeto da mistura esteja correto mas a construção foi deficiente. Para eliminar os defeitos oriundos da instabilidade da mistura, é necessário mexer com um ou mais dos elementos que a compões. Isto torna difícil e onerosa uma solução definitiva. Como consequência da instabilidade, a superfície do pavimento sofre distorções ou deformações que, de acordo com o seu aspecto, dão o nome ao defeito. (1) Costeletas ou corrugações (2) Ondulações (3) Sulcos (4) Escorregamento 1) Costeleta ou corrugação É uma forma de movimento ou deslocamento plástico, tipificado pelo formato de pequenas ondas na superfície do pavimento. Geralmente ocorre em áreas extensas, Figura 1. 2) Ondulações É uma forma de movimento ou deslocamento plástico tipificado pelo formato de grandes ondas na superfície do pavimento, Figura 2. 4 Figura 1 Figura 2
3) Sulcos ou trilhos 5 Os sulcos ou trilhos, são depressões longitudinais, nos trilhos dos veículos, resultantes ou de uma compactação pelo tráfego, de uma ou mais camadas do pavimento, ou por instabilidade da mistura asfáltica, Figura 3. A Figura 4 mostra os sulcos oriundos de um movimento plástico, tipificado por um deslocamento lateral da mistura asfáltica, da área carregada para a área adjacente. Figura 3 Compactação pelo tráfego Instabilidade Figura 4 4) Escorregamento São distorções caracterizadas por um deslocamento plástico do revestimento com aspectos de onda, formando uma intumescência. Ocorre em áreas restritas e pode resultar de depressões na superfície da base onde houve concentração do asfalto empregado na pintura de imprimação (cura). Ao ser espalhada e compactada a mistura quente incorpora este excesso tornando-se instável nesta área, Figura 5. Outra causa, resulta do emprego de óleo diesel no umedecimento da caçamba do caminhão que transportou a massa asfáltica. Uma concentração de óleo diesel no fundo da caçamba é absorvida pelo asfalto da massa quente dando origem a um asfalto diluído de difícil cura ( o antigo asfalto de cura lenta ). A porção da massa asfáltica nestas condições apresenta baixa coesão e está sujeita a escorregamento pela ação do tráfego. Figura 5a Figura 5b
3.1.2 Trincas 6 É uma ruptura parcial da camada, tipificada por estreita fenda vista superficialmente e que pode produzir separação da camada em partes. Produz uma descontinuidade na superfície ou em toda espessura da camada. Os defeitos do tipo trinca são de apreciação complexa pelas inúmeras causas que lhe podem dar origem. Existem trincas resultantes de projeto e/ou construção deficiente, e que estão sob o controle do engenheiro. Existem outros tipos de trincas que poderão surgir por outras causas que fogem ao controle do engenheiro. Os principais tipos de defeitos devido às trincas são identificados por: (1) Couro de jacaré (2) Trincas de contração (3) Trincas devido ao pavimento quebradiço (4) Trincas de reflexão (5) Trincas resultantes do alargamento da pista (6) Trincas de bordo (7) Trincas na junta longitudinal (8) Trincas resultantes de escorregamento (9) Trincas transversais 1) Trincas tipo couro de jacaré Este defeito constitui um conjunto de trincas inicialmente longitudinais e mais tarde interligadas formando uma série de blocos, ou mosaico, dando à superfície aspecto de couro de jacaré, daí seu nome, figuras 6, 7 e 8. Sentido longitudinal Figura 6 - Início das trincas tipo couro de jacaré Figura 7 - Evolução das trincas tipo couro de jacaré Figura 8 Estágio mais avançado das trincas tipo couro de jacaré.
Este constitui o tipo de trinca que atinge os pavimentos com maior frequência e extensão. Surge devido à ruptura do revestimento por fadiga. A fadiga resulta dum processo repetitivo de carregamento e descarregamento, dentro do limite elástico, a um nível de carga muito menor que aquele que o material pode suportar. À cada aplicação de carga corresponderá uma deformação elástica e uma recuperação total da deformação. Isto está esquematizado nas figuras 9 e 10. 7 Superfície original R 1 CARGA Superfície deformada elasticamente R 2 D E R 3 DE= deformação elástica máxima R1, R2, R3 raios da superfície deformada no sentido longitudinal- são grandes, e os esforços de tração na fibra externa, pequenos. Figura 9 Pneus de um eixo traseiro Superfície inicial Superfície deformada elasticamente r 2 trinca r 4 r 1 A B r 3 D E r 5 r 1, r 2, r 4. r 5 são raios grandes da deformada transversal O raio r 3 é muito pequeno e produz grandes esforços de tração, resultando o aparecimento das primeiras trincas entre A e B. São trincas longitudinais por fadiga. As trincas longitudinais se interligam formando pequenos blocos, e dando o aspecto de couro de jacaré à superfície. Figura 10 A resistência à fadiga aumenta com a redução do valor da deformação elástica máxima, Figura 11. Este comportamento elástico do pavimento resulta dum somatório do comportamento elástico da cada uma das camadas. O nível de deformação elástica elevado é produzido pelo subleito e/ou sub-base, e/ou base granular com excesso de finos, e depende do tipo de solos e da carga aplicada e do seu teor de umidade. As misturas asfálticas ou com cimento apresentam deformações elásticas, intrínsecas, baixas.
Deformação 8 Superfície rompida Figura 11 Superfície sem ruptura Nº de ciclos até atingir a ruptura (Logarítmica) Figura II.2-11 Resultados dos ensaios de fadiga à várias Só há dois meios de reduzir a deformação elástica de um pavimento: a) Eliminando a ou as camadas que produzem deformação elástica elevada; e b) Fazendo um recapeamento do pavimento com espessura tal que produz uma redução na pressão transmitida às camadas responsáveis pela deformação elevada. Como o regime elástico, reduzindo a pressão se reduz a deformação elástica, a nível aceitável, compatível com o revestimento. 2) Trincas de contração As figuras 12 e 13 mostram um conjunto de trincas de contração que se desenvolveram numa camada fina de argila molhada, submetida à secagem. Origina-se um sistema primário de trincas e deste um secundário, e assim por diante. É importante observar que, neste tipo de trincas, uma nova trinca inicia formando um ângulo de 90º com a anterior e também intercepta uma outra trinca com o mesmo ângulo. A largura da trinca indica a ordem de formação correspondendo as mais largas as primeiras a serem formadas. Figura 12 Figura 13 A causa desta trinca é difícil de determinar, se é devida à mudanças de volume na mistura asfáltica, ou à mudança de volume na base ou no subleito. Frequentemente ocorrem em misturas asfálticas com agregados finos e que tenham alta porcentagem de asfalto de alta viscosidade.
3) Trincas devido ao pavimento quebradiço 9 Vimos que os agentes do intemperismo atacam o asfalto de várias maneiras resultando no seu endurecimento e, portanto na perda de flexibilidade da mistura em que ele participa. O resultado final é uma mistura quebradiça que não tem condições de acompanhar as deformações produzidas pelos eixos dos veículos, e consequentemente rompe, produzindo um padrão de trincas. Este padrão é caracterizado por largura uniforme de trincas, e é de aspecto diferente das trincas de contração, por não apresentar o ângulo de 90 entre duas delas, e nem o processo progressivo de deformação das trincas, Figura 14. Figura 14 4) Trincas de reflexão São trincas que ocorrem no recapeamento de um pavimento devido à reprodução das trincas existentes no pavimento abaixo dele. Ocorre principalmente no recapeamento de pavimentos que tenham placas de concreto, ou base tratada com cimento, ou solo-cimento. Podem ocorrer em pavimentos asfálticos se as trincas do pavimento velho não foram devidamente reparadas. São produzidas por movimentos verticais ou horizontais do pavimento abaixo do recapeamento, gerados pelo tráfego ou variação de umidade do subleito, figuras 15 e 16. Figura 15 Figura 16
5) Trincas resultantes do alargamento de pista 10 São trincas no sentido longitudinal localizadas na junção do velho pavimento e a pista nova resultante do alargamento, Figura 17. Quando, após o alargamento, todo o pavimento receber um recapeamento, este tipo de trinca pode ser considerado como de reflexão. A causa é um sedimento da parte alargada em relação à velha. Figura 17 5) Trincas de bordo São trincas longitudinais, afastadas aproximadamente 30cm do bordo do pavimento, podendo ter trincas transversais em direção ao acostamento. Usualmente são devidas á falta de contenção lateral (acostamento). Podem resultar de um assentamento do material abaixo da área trincada. As trincas de bordo podem ser agravadas pela concentração do tráfego próximo ao acostamento, Figura 18. Figura 18
6) Trincas na junta longitudinal 11 São separações longitudinais, que podem ocorrer entre duas faixas adjacentes do pavimento, executadas em diferentes ocasiões. Quando é espalhada a primeira faixa do revestimento, a compactação junto ao bordo é deficiente para evitar sua deformação. Assim, o bordo fica como se o material estivesse solto, Figura 19. Figura 19 Para evitar o surgimento de trinca longitudinal na junta, Figura 20, ela deve ser executada da seguinte forma: pintar a borda da primeira meia pista, com asfalto de cura rápida ou emulsão asfáltica de ruptura rápida até 1cm da superfície, Fig. 21. Figura 20 Durante o espalhamento da segunda meia pista, colocar sobre a meia pista pronta uma faixa de massa com largura de 3 a 5cm, Figura 21 Com rastilho deslocar o excesso para cima da camada espalhada, aumentando o volume a ser compactado na junta, Figura 22. O calor da massa asfáltica ( 150 C) e este excesso na junta, amolece a borda da 1ª meia pista o que permite uma compactação adequada da junta longitudinal evitando o defeito da Figura 20. Nas figuras 23 e 24 são apresentados exemplos de má execução da junta longitudinal.
12 3 a 5cm 1,0cm Pintura com asfalto 1ª faixa compactada 2ª faixa espalhada Figura 21 junta Excesso deslocado. Figura 22 Figura 23 Figura 24 8) Trincas resultantes de escorregamento Os veículos ao iniciarem o deslocamento e em deslocamento, aplicam por meio do eixo motriz uma componente tangencial, T, à superfície do pavimento, Figura 25. Esta componente T tende a empurrar, no seu sentido, a mistura asfáltica, produzindo tração no revestimento, na frente da roda. T Eixo motriz deslocamento Área tracionada Figura 25 Esforços semelhantes ocorrem por ocasião da travada ou frenagem dos veículos. Neste caso a componente tangencial, T, é no mesmo sentido que o deslocamento, Figura 26. A área que vai ser tracionada fica, agora, atrás da roda.
13 Área tracionada superfície Eixo do veículo deslocamento T Figura 26 Se estes esforços não forem resistidos pelo revestimento, surgirão trincas do formato parabólico devido ao deslocamento (escorregamento) da mistura asfáltica sobre a camada em que ela apóia. Em virtude deste deslocamento ou escorregamento é que as trincas que surgem recebe o nome de trincas de escorregamento, Figura 27. As figuras 28, 29 e 30 apresentam a evolução das trincas de escorregamento pela ação do tráfego. Figura 27 Figura 28 Figura 29 Figura 30
As causas prováveis são: (1) falta de inércia do revestimento (revestimentos delgados) (2) No caso de revestimento com pouca espessura, a falta de ligação dele com a camada abaixo, devido à inexistência ou deficiência da pintura de ligação. (3) Falta de ligação devido ao pó, poeira, óleo ou outro material não adesivo entre as duas camadas. 9) Trincas transversais São trincas normais ao eixo da estrada, Figura 31. Resultam principalmente da má execução da junta transversal do revestimento. 14 Figura 31 3.1.3 Desintegração É a desagregação do pavimento em pequenos e soltos fragmentos, quando submetido à ação do tráfego e da intempérie. Isto inclui a remoção de partículas. Se a desintegração não for eliminada no seu estágio inicial poderá levar à reconstrução do pavimento. Os tipos principais são: (1) Desgaste (2) Desagregação (3) Panelas 1) Desgaste superficial Consiste na remoção de partículas superficiais do pavimento, de forma generalizada, resultando numa superfície áspera e irregular, figuras 32 e 33. Figura 32 Figura 33
A causa é a falta ou redução da coesão da mistura asfáltica, devido: a) falta de adesividade do asfalto ao agregado b) porcentagem baixa de asfalto c) asfalto endurecido 15 2) Desagregação em linhas paralelas São desagregações em faixas estreitas, longitudinais, onde o agregado é removido pela ação do tráfego-intempérie, figuras 34 e 35. Figura 35 Figura 34 A causa deste tipo de defeito é uma deficiência de asfalto nestas estrias, ou faixas, que propicia coesão insuficiente para suportar a ação abrasiva do tráfego e os efeitos negativos da intempérie. Este tipo de defeito é superficial e não atinge a estrutura do pavimento. Ocorre nos tratamentos superficiais, devido à uma execução deficiente. O asfalto é aplicado à superfície por meio da barra de distribuição de asfalto acoplada a um caminhão. Neste barra existem uma série de bicos com mesmo afastamento. Estes bicos têm internamente um formato que obriga o asfalto que, sob pressão, passa por eles, a sair sob a forma de um leque, que pinta a superfície. Estes leques devem ser paralelos e inclinados em relação ao eixo da barra, Figura 36. Como os bicos e suas vazões são iguais, a quantidade de asfalto aplicada à superfície por cada um é a mesma. Observando as larguras pintadas pelos bicos, verifica-se que: a 1 b 1 recebeu asfalto só do bico a - taxa de asfalto deficiente b 1 a 2 recebeu asfalto dos bicos a e b - taxa correta a 2 c 1 recebeu asfalto só do bico c - taxa deficiente c 1 b 2 recebeu asfalto dos bicos b e c - taxa correta...
16 Perfil Planta barra Superfície Leque barra a barra b c Leque h bico Asfalto aplicado na superfície h = Altura da barra a 1 a b 2 1 b 2 c 1 c 2 Largura pintada pelo bico Figura 36 Isto significa que teremos faixas com quantidades diferentes de asfalto. Se as faixas que receberam asfalto de dois bicos têm a quantidade correta, as que receberam só de um bico têm deficiência de asfalto e nelas ocorrerá posteriormente a remoção de partículas. Como o caminhão e a barra se deslocam paralelas ao eixo, estas faixas com deficiência de asfalto também serão longitudinais e paralelas. A largura destas faixas depende da altura da barra. Ângulos diferentes entre as ranhuras e o eixo da faixa também podem produzir este tipo de defeito. 3) Panelas São desintegrações profundas de vários tamanhos, que atingem a espessura do revestimento e às vezes, também a base, formando buracos no pavimento, afetando sua estrutura, Figura 37. As causas dos surgimentos das panelas são muitas; entretanto, a formação de panela começa sempre por uma trinca que, pela ação combinada do tráfego e da intempérie, se alarga e aprofunda resultando a panela. A ocorrência deste tipo de defeito que tanto dano produz aos veículos, e tanto onera a conservação, pode ser minimizada pela conservação preventiva, selando as trincas. Figura 37
3.2 Defeitos associados à segurança 17 Neste grupo estão reunidos todos os defeitos que afetam, de qualquer forma, a segurança e o conforto do usuário. Muitos defeitos apresentados na parte Defeitos associados ao comportamento estrutural do pavimento, também, se enquadram neste grupo. Os principais tipos são: (1) Deformações superficiais (2) Superfícies derrapantes, quando úmidas. 1) Deformações superficiais a) Sulcos São depressões longitudinais canalizadas que se desenvolvem na trilha dos veículos, Figura 38. Figura 38 Podem ter como causas: a) Instabilidade da mistura b) Compactação do pavimento, posterior à sua construção, pelo tráfego. Neste caso só ocorre afundamento da superfície nos trilhos, sem elevação da superfície na área adjacente aos trilhos, como no caso da instabilidade da mistura. Pesquisa realizada na pista experimental da AASHTO, chegou a conclusão que os sulcos longitudinais são considerados pelos usuários como o pior tipo de defeito de um pavimento, por tirar do motorista o controle do veículo e consequentemente pondo em risco a sua segurança. A redução da segurança se agrava nas áreas de greide plano em que as águas da chuva se depositam dando origem à hidroplanagem, em que os pneus perdem o contato com a superfície do pavimento. b) Irregularidades superficiais Estão incluídos aqui todos os defeitos oriundos da instabilidade da mistura e da desintegração da superfície, remendos...
c) Depressões superficiais 18 São afundamentos da superfície do pavimento devido à consolidação de camadas do aterro ou do terreno natural onde apóia o aterro, Figura 39. Ocorre ainda no caso de aberturas de valas para passagem de bueiros e de tubulações de esgoto, telefone ou água, e que são reaterrados sem ou com compactação deficiente, Figura 40. Figura 39 Figura 40 d) Deformações superficiais resultantes da ruptura das camadas do pavimento O pavimento ao romper, produz uma depressão da superfície debaixo da área de aplicação da carga, e, uma elevação na área adjacente. O volume de material deslocado na superfície e os conseqüentes valores da depressão e da elevação da superfície dependem da camada em que ocorreu a ruptura. Carga Figura 41 Superfície inicial Superfície irregular após a ruptura
2) Superfícies derrapantes, quando úmidas 19 São superfícies do revestimento que perderam o atrito superficial devido: a) Ao polimento do agregado pelo tráfego, Figura 42. Figura 42 b) A superfície constituída por uma película de asfalto resultante: - da perda do agregado do revestimento - da exsudação superficial do asfalto O defeito resultante, mais comum, é aquele em que a superfície fica lisa devido à película de asfalto, concentrada na superfície do pavimento, tornando-se derrapante quando úmida. Temos dois tipos básicos desta categoria de defeito (1) espelhamento (2) exsudação 1) Espelhamento É uma superfície extremamente lisa, devido à perda do agregado, pela ação do tráfego, com aspecto de pista molhada, refletiva e brilhante, sob a incidência dos raios solares, Figura 43. Figura 43
2) Exsudação 20 É o tipo de defeito em que o asfalto chega à superfície do pavimento, se deslocando pelos poros do agregado, formando uma película na superfície do revestimento, e cobrindo os agregados, Figura 44 e Figura 45. A causa é o excesso de asfalto. Este excesso pode ser proveniente de erro de projeto do revestimento, mudança no tipo de agregado ou de uma construção deficiente. Pode ocorrer que, por ocasião da pintura de imprimação, a base apresente depressões e o asfalto se acumule nestas depressões, se incorporando ao revestimento na fase de sua construção. A exsudação ocorre tanto em misturas asfálticas como em tratamentos superficiais. Esta película de asfalto, lisa, é derrapante quando úmida. Figura 44 Figura 45 ********************************* ******************** Revisado em: agosto de 2009