Balanced Scorecard e Sustentabilidade: Uma Busca Sistemática

Documentos relacionados
Balanced ScoreCard Professor Flávio Toledo

Política de Planejamento Estratégico Sistema de Gestão da Qualidade

PROCESSO DE IMPLEMENTAÇÃO DE ESTRATÉGIAS: O CASO DO POSTO ANDRIOLLI 1

ESTRUTURA DE APRESENTAÇÃO BSC

FACULDADE DE TECNOLOGIA SENAC-GO. Projeto Integrador

PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DA ESTRATÉGIA NO VITÓRIA APART HOSPITAL. Estudo de Caso

Profª Valéria Castro V

EGTI Aprovada por Resolução SISP n o 7, de 22/12/2010. Apresentação para o CTIC UNIRIO 14/02/2011

Universidade de São Paulo Faculdade de Economia Administração e Contabilidade. Balanced Scorecard

Medir é importante? O que não é medido não é gerenciado.

BALANCED SCORECARD E SUA CONTRIBUIÇÃO NA GESTÃO FINANCEIRA EMPRESARIAL

PPODE - ESTRATÉGICO. Slide 1 BALANCED SCORECARD CRESCIMENTO PRODUTIVIDADE MAIS RESULTADOS. Ms. RICARDO RESENDE DIAS

MEDIÇÃO DE DESEMPENHO VIA BSC

Balanced Scorecard A Estratégia em Ação

Av. Princesa Isabel, Fone (51) CEP Porto Alegre - RS - Brasil.

Universidade de São Paulo Faculdade de Economia Administração e Contabilidade. Balanced Scorecard

política de sustentabilidade política de SUSTENTABILIDADE

Gestão Estratégica. 7 Implementação da Estratégica - BSC. Prof. Dr. Marco Antonio Pereira

BSC. Aula de hoje. Balanced Scorecard. Planejamento Estratégico.

PLANEJAMENTO X EXECUÇÃO

Responsabilidade Socioambiental como estratégia de Desenvolvimento Sustentável (I)

Proposta de um Modelo para Gestão da Sustentabilidade integrando o Triple Bottom Line e o Balanced ScoreCard a partir da Gestão da Qualidade

Administração. Aula Interdisciplinar 07. Tipos de Controle. Administração. Interdisciplinar. Tipos Aula 07 de Controle. Profa. Cristina Espinheira

APÊNDICE 7 ORIENTAÇÕES ESPECÍFICAS DO TCC NO FORMATO DE RELATÓRIO TÉCNICO GERENCIAL

BALANCED SCORECARD COMO FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA A CONTROLADORIA

Desenvolvimento de Negócios. Planejamento Estratégico Legal: da concepção à operacionalização Competências necessárias para o Gestor Legal

UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU CURSO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

Negociação Comercial

Planejamento Estratégico de TI. Prof.: Fernando Ascani

BSC - Balanced Scorecard

Artigo: Planejamento com foco na execução

3) Qual é o foco da Governança de TI?

PROJETOS DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO

Planejamento Estratégico

SLA Aplicado ao Negócio

quatro perspectivas: 1 Financeira 2 Clientes/Mercado 3 Processos Internos 4 Aprendizado/Inovação e Crescimento

Prof. Charles Pantoja Esteves. Administrador de Empresas Analista de Sistemas Msc. PNL e Inteligência Emocional

WS3-O4- MACROESTRATÉGIAS BASE PARA O BSC

BALANCED SCORECARD. Prof. Dr. Adilson de Oliveira Doutor em Engenharia de Computação Poli USP Mestre em Ciência da Informação PUCCAMP

Sistemas de. Informações Gerenciais

Responsabilidade da Direção

XIV ERIC (ISSN ) Eixo Temático Administração e Análise Financeira sala nº 26 (RESUMO)

Balanced Scorecard quatro perspectivas: 1 Financeira 2 Clientes/Mercado 3 Processos Internos 4 Aprendizado/Inovação e Crescimento

1ª Jornada Internacional da Gestão Pública. O caso MDIC. BRASÍLIA (DF), 13 de março de 2013

Gestão de Negócios (8)

Analista de Negócio 3.0

Acadêmica: Jerusa Cristina Duarte Casas Orientador: Oscar Dalfovo

CONTROLADORIA II MBA Estácio 26/06/2017

2. MODELO EVOLUCIONÁRIO Incerteza Adaptação aos ambientes interno e externo

Balanced Scorecard. Daciane de Oliveira Silva. Referências: Livro Estratégias de Empresas: Lobato et.al (Cap. 7)

GESTÃO DE PESSOAS Prof. Saravalli

Sistema CFQ/CRQ Planejamento Estratégico INOVAÇÃO & INTEGRAÇÃO

GUIA SOBRE CONTROLADORIA ESTRATÉGICA

Juntos Somos Fortes! Apresentação de Treinamento Empresarial Intraempreendedorismo. Equipe de Funcionários e/ou Colaboradores.

A Tecnologia na Gestão de Talento e Performance

Escopo de trabalho para elaboração de material e treinamento junto as OSCs do município de Catalão - Goiás

Balanced Scorecard. Sistemas de Informação. Baseado em material do Prof. Dr. Adilson de Oliveira

Proposta para incluir aspectos de Sustentabilidade no Processo de Desenvolvimento de Produtos

Sumário. 1. Política de Sustentabilidade da Rede D Or São Luiz Objetivos Abrangência Diretrizes...2

SIF COMO AGENTE DE PESQUISA

Gestão da Produção. Análise SWOT Balanced Scorecard Mapa Estratégico. Prof. Dr. Marco Antonio Pereira Empresas Classe Mundial

MANUAL Avaliação de Indicadores

PO 020 GESTÃO ESTRATÉGICA - 003

A Busca da Eficiência. BSC Balanced Scorecard

Mestrado em Contabilidade e Finanças. Novas Tendências de Contabilidade de Gestão. O Balanced Scorecard. Contexto Histórico

FERRAMENTAS DE CONTROLADORIA PARA ORGANIZAÇÕES

INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS DA COMPANHIA AZUL S.A. Nícolas Rérison Bibiano Margarida Peres 1 Márcia Bandeira Landerdahl Maggioni 2

Política Institucional Comitê de Sustentabilidade. Política de Sustentabilidade. Código: PI.HPEG.CSUST.001 Versão: 001 Página: 1/6

Como fazer o Balanced Scorecard. O que é Balanced Scorecard (Conceito) Este conteúdo faz parte da série: Balanced Scorecard Ver 2 posts dessa série

Palestra Virtual Como Fazer um Planejamento Estratégico. Maicon Putti Consultor Empresarial CRA/PR 19270

SUSTENTABILIDADE. Comissão Técnica de Saneantes

Responsabilidade Social, Ambiental e Governança Corporativa. Prof. Wellington AULA 1

- Gestão Estratégica - Discussão

MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SECRETARIA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DEPARTAMENTO DE GOVERNANÇA, SISTEMAS E INOVAÇÃO

quatro perspectivas: 1 Financeira 2 Clientes/Mercado 3 Processos Internos 4 Aprendizado/Inovação e Crescimento

A implementação do Balanced Scorecard como ferramenta prática para o controlo estratégico com integração dos indicadores para regulação O caso da

Dinamizar e Implementar a Estratégia Gabriel Silva

Conselho Regional de Medicina

Orçamento Empresarial Unidade 01

Sustentabilidade. Triple Bottom Line. Sustentabilidade. Desenvolvimento Econômico. Gestão Ambiental Responsabilidade Social

POLÍTICA DE SUSTENTABILIDADE DO SICOOB CREDIOESTE

O Modelo BSC Planejamento Estratégico Alinhando o Processo. Cenários, Swot Definir o vetor BSC BSC. Mapa Estratégico

Planejamento Estratégico de TI do MEC

BSC. deve contar a história da estratégia, começando. relacionando-se depois à seqüência de ações que precisam ser tomadas em relação aos

Formulação, Implementação e Gerenciamento das Estratégias da Organização. Ana Paula Penido

Balanced Scorecard. Dicas para resolver questões: O que é Balanced Scorecard? Basta traduzir o nome. Pra que ele serve? Nome do livro.

Você sabe como está a sua estratégia? Então mensure!

Balanced Scorecard Uma revisão bibliográfica. Balanced Scorecard - A review

2018 1º Semestre. Disciplina: Planejamento Estratégico. Tutor Presencial: Alex Bernardi

MRV ENGENHARIA IMPLEMENTANDO OS ODS NA ESTRATÉGIA EMPRESARIAL

Capítulo 8 Análise crítica do desempenho global

A gestão do conhecimento organizacional: o caso Petrobras

DISSEMINAÇÃO DE PRÁTICAS, O MODELO COOPERATIVISTA PDGC

Estruturação por Processo

Humberto de Sá Garay

Manual de Políticas Internas RSC ENGENHARIA

Atuação Socioambiental do BNDES. Evolução no Período 2008/2010. nov / 2010

Mostra-se que a Petrobras evoluiu em sua maneira de Planejar o futuro de modelos informais, baseados em diretrizes do Governo Federal, até atingir o

Implementação Local daagenda 2030

O BALANCED SCORECARD (BSC) E OS INDICADORES DE GESTÃO

Transcrição:

Balanced Scorecard e Sustentabilidade: Uma Busca Sistemática Ana Paula Silva dos Santos, Claudia Neubert Savóis, Anderson Correa Benfatto, Cristina Keiko Yamaguchi RESUMO A metodologia do balanced scorecard é uma ferramenta com foco estratégico para uma organização. O planejamento estratégico das mesmas atualmente baseia-se na análise econômica, social e ambiental, ou seja, as organizações buscam a sustentabilidade. Neste contesto, o presente estudo objetiva evidenciar o cenário de publicações brasileiras do tema balanced scorecard com foco em sustentabilidade. Tratando-se de uma pesquisa científica, a mesma foi aplicada com base em procedimentos metodológicos de cunho interdisciplinar, aplicada, dedutiva, qualitativa, exploratória, bibliográfica e análise de dados. O estudo é caracterizado como uma revisão sistemática, utilizando do repositório Spell, levando em consideração que que o objetivo busca fazer um levantamento bibliográfico brasileiro e da palavras-chaves sustentabilidade, sustainability e balanced scorecord. Neste cenário, a busca apresentou apenas cinco estudos, publicados a partir de 2011. Estas pesquisas, quando analisadas sob a ótica da sustentabilidade, por tratar-se de uma pesquisa com usuários da ferramenta balanced scorecard, trazem em seu cunho a vértice econômica. Já com relação aos itens social e ambiental, o mais encontrado foi o social. 1 INTRODUÇÃO O balanced scorecard é uma ferramenta de gestão que se baseia em indicadores financeiros e não financeiros, possui uma abordagem estruturada sobre as perspectivas financeira, de clientes, de processos internos, de aprendizado e crescimento. Diante disso destaca-se a sua utilização para desenvolver a sustentabilidade nas empresas (NORTON; KAPLAN, 1997). A sustentabilidade por sua vez iniciou com o foco ambiental, todavia seu uso levou a migração da definição para a exploração dos recursos naturais e na maximização do lucro de maneira irresponsável e inconsequente. Seu conceito mais atual é caracterizado por três vértices, onde cada um tem um significado, sendo eles a sustentabilidade social, econômico e ambiental, ou seja, pessoas, lucro e planeta (PEREIRA; SILVA; CARBONARI, 2011). O balanced scorecard foca em quatro perspectivas: financeira, cliente, processos internos e aprendizado e crescimento. Estas perspectivas, podem serem associadas e até mesmo trabalhada de forma complementar com a Triple Botton Line, desenvolvida dentro do conceito da sustentabilidade. A integração dos temas balanced scorecard e Triple Botton Line é estudada na presente pesquisa por meio de uma revisão sistemática, evidenciando os estudos brasileiros que tratam desta associação. Desta forma o presente estudo objetiva evidenciar o cenário de publicações brasileiras do tema balanced scorecard com foco em sustentabilidade. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 BALANCED SCORECARD Com o intuito de fortalecer as empresas e se colocar a frente da concorrência no mercado, ocorre um processo de planejamento estratégico que visa apoiar a gestão empresarial. Sendo assim, as organizações criam e avaliam estratégias, planos, metas para chegarem ao seu objetivo, tendo que se posicionar estrategicamente no mundo dos negócios,

surge então o Balanced Scorecard (BSC) como um modelo para auxiliar neste processo (ANTUNES; MUCHARREIRA, 2015). O Balanced Scorecard, é uma ferramenta que foi desenvolvida pelo professor David Norton e o então consultor acadêmico Robert Kaplan, em 1992. Conforme apontam Antunes e Mucharreira (2015), o BSC é uma ferramenta que possui uma abordagem estruturada, onde baseia-se em indicadores de desempenho com foco na perspectiva do negócio e nos resultados da empresa. A principal característica do BSC fundamenta-se em uma gestão que não mais se constitui somente nos demonstrativos contábeis e financeiros, mas sim, em indicadores financeiros e não financeiros. O BSC se apresenta sobre uma estratégia empresarial em indicadores de gestão, norteados pelas seguintes perspectivas: a financeira, a de clientes, a de processos internos e a de aprendizagem e crescimento (ANTUNES; MUCHARREIRA, 2015; OLIVEIRA et al., 2010). Farias e Petri (2015) apontam que para aplicar o Balanced Scorecard, é necessário que as organizações tracem o seu mapa estratégico, pelo qual os gestores poderão avaliar e monitorar o desempenho da estratégia. Consequentemente, o mapa estratégico é composto pelas metas, objetivos e ações que são estruturadas sobre as perspectivas que compõem o BSC. A perspectiva de finanças visa os objetivos financeiros da organização, isto é, evidencia a execução da estratégia para que o retorno contribua na melhoria de resultados, e consequentemente agregação de valor para os sócios e/ou acionistas. Kaplan e Norton (1997), indicam que, de uma forma geral, a perpectiva financeira deve definir o desempenho esperado e servir como uma meta para possibilitar o alcance dos demais objetivos. A perspectiva de clientes é voltada para a manutenção de clientes, ou seja, de que forma os clientes devem ser cuidados e atraídos. Antunes e Mucharreira (2015) citam que deve-se questionar de que forma os clientes enxergam a organização, o produto, o desempenho, a qualidade. Deste modo, é possível evidenciar a forma que a empresa deverá se relacionar com o seus clientes. As autoras Antunes e Mucharreira (2015) afirmam que a perspectiva de processos internos deve identificar a seguinte questão: Em que processos a empresa deve ser excelente para buscar a satisfação dos clientes? Nesse caso, Kaplan e Norton (1997) indicam que a organização deve conhecer a cadeia de valor de seus produtos, para satisfazer as expectativas e como consequência trazer o retorno financeiro. Já a perspectiva de aprendizado e crescimento, é responsável por compor a base para as demais perspectivas. Para Kaplan e Norton (1997), essa perspectiva se origina de fatores como, a capacitação de funcionários, o capital humano, a capacidade dos sistemas de informação, treinamento, inovação, tecnologia entre outros fatores. Com base no exposto, é possível evidenciar que as perspectivas possuem um elo entre si, que vem a compor o mapa estratégico, onde, a organização deve primeiramente avaliar a perspectiva de aprendizado e crescimento, investindo em motivação e valorização dos colaboradores, reter funcionários qualificados, ter uma boa gestão de pessoas (ANTUNES; MUCHARREIRA, 2015; KPLAN; NORTON, 1997). Posteriormente, verificar os processos internos, reduzindo custos, ampliar capacidade de produção, manter a qualidade de produtos e serviços. Para que dessa forma, seja possível alcançar a perspectiva de clientes, onde busca-se reter novos clientes, fidelizar clientes já existentes, manter a satisfação dos mesmos. Sendo assim, é viável chegar a perspectiva financeira, a qual irá aumentar as receitas e melhorar a rentabilidade do negócio (ANTUNES; MUCHARREIRA, 2015; KPLAN; NORTON, 1997). Farias e Petri (2016), mostram que o BSC consegue auxiliar na gestão da empresa para buscar o crescimento da organização e torná-la estrategicamente competitiva perante a 2

concorrência, facilitando assim a perpetuidade da mesma. Após realizar todo o planejamento estratégico, evidenciar as perspectivas, montar os planos de ações, é o momento de implantar o BSC na empresa, estabelecendo as metas, os prazos e os responsáveis pelos processos, acompanhando a execução e monitorando o desenvolvimento empresarial (ANTUNES; MUCHARREIRA, 2015; FARIAS; PETRI, 2016; KPLAN; NORTON, 1997). 2.2 SUSTENTABILIDADE O termo sustentabilidade tem seu conceito definido na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano. O evento realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1972 em Estocolmo na Suécia, onde se caracterizou a sustentabilidade como um sistema ou um processo, que existe por um tempo determinado ou indeterminado (PEREIRA; SILVA; CARBONARI, 2011). Participaram da conferência 113 países, 250 organizações não governamentais e organismos da ONU, resultando em alguns trabalhos, como planos de ações e declarações. As declarações têm como objetivo orientar os países e organizações, oriundos das questões levantadas na conferência, e conscientizar diante a necessidade de buscar um modelo que traga o equilíbrio entre o meio ambiente e o desenvolvimento econômico (PEREIRA; SILVA; CARBONARI, 2011). O termo e o conceito de sustentabilidade até meados de 1980 eram mais utilizados no meio profissional da área ambiental. Como uma área que permanece estável e resiliente, mesmo diante das adversidades. A criação da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1983 pela ONU, presidida pela primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland, houve a publicação dos primeiros estudos e relatórios no decorrer da década de 80. Deste modo o conceito sustentabilidade se torna popular, tonando a crítica as políticas de crescimento dos países mais popular e levantando o questionamento público a exploração dos recursos naturais e na maximização do lucro de maneira irresponsável e inconsequente. Em um desses relatórios, denominado como Our Common Future (Nosso Futuro em Comum), traz a definição de desenvolvimento sustentável como o processo de suprir as necessidades atuais, sem comprometer as futuras, tornando o termo sustentabilidade popular e utilizado no mundo todo (PEREIRA; SILVA; CARBONARI, 2011). O relatório Our Common Future não tinha apenas um caráter ambiental, trazendo também conceitos de desenvolvimento sustentável em relação a diretrizes e políticas públicas, as mesmas ao serem planejadas buscam o equilíbrio de aspectos econômicos, sociais e ambientais, surgindo um a nova proposta de crescimento. Com base nesse estudo, acrescidos de demais relatórios, a ONU lança uma resolução com a elaboração de estratégias incentivando a criação da agenda 21. A agenda 21 foi posteriormente aprovada durante a Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento do Rio de Janeiro (Rio 92, ou Eco 92), tendo como principal objetivo a inserção do tema nas políticas públicas dos países e organizações envolvidas os princípios do desenvolvimento sustentável (PEREIRA; SILVA; CARBONARI, 2011). Neste contexto, o inglês John Elkington desenvolveu o conceito da Triple Bottom Line. O termo foi traduzido como tripé da sustentabilidade, apresentando em sua composição três vértices, onde cada um tem um significado, sendo eles a sustentabilidade social, econômico e ambiental, ou seja, pessoas, lucro e planeta, logo estes três últimos itens assumem a equivalência da termologia, em inglês, de People, Profit and Planet (PPP) (PEREIRA; SILVA; CARBONARI, 2011). O princípio da criação da teoria do Triple Bottom Line, define os vértices como social, em que utilizado o termo justo e suportável, com o objetivo da distribuição de renda 3

igualitária e qualidade de vida e acesso cultural a todos. Já o vértice econômico é identificado como justo e viável, onde expressa o envolvimento social e ambiental na gestão das organizações, não visando apenas o lucro. Por fim, o vértice ambiental é representado com os termos viável e suportável, exprimindo a preocupação com os impactos das atividades humanas sendo elas econômicas ou não, buscando sempre a preservação e renovação dos recursos naturais e os ecossistemas (PEREIRA; SILVA; CARBONARI, 2011). Esta composição é ilustrada na figura 1: Figura 1 O tríplice resultado Fonte: Pereira, Silva, Carbonari (2011, p. 78). 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Uma pesquisa para ser considerada científica deve seguir procedimentos metodológicos pré-estabelecidos. Os procedimentos direcionam a pesquisa de forma a ser responsável pelo seu planejamento, aplicação e resultados encontrados. O estudo apresenta a interação entre duas disciplinas distintas, a sustentabilidade e o Balanced Scorecard. Todavia há o respeito nas limitações e composições de cada disciplina, caracterizando o estudo como interdisciplinar. As teorias estudadas já são encontradas com aplicação prática e consolidada na sociedade, caracterizando o tipo de pesquisa como aplicada e método de pesquisa dedutivo (GIL, 2009). O estudo é caracterizado pela abordagem qualitativa, com objetivo de pesquisa exploratória, com estratégia de pesquisa estudo bibliográfico e técnica de pesquisa análise de dados. Neste contexto há a possibilidade de adaptações da metodologia, frente a necessidades encontradas na aplicação da pesquisa, assim como um maior aprofundamento (GIL, 2009). Assim, os resultados obtidos advêm de uma revisão sistemática, baseada no repositório Spell. Seguindo os preceitos de Pocinho (2008), este baseados no Cochrane Hanbook, elencam sete princípios constituintes de uma revisão sistemática, conforme o quadro 1: Quadro 1 Constituição da Revisão Sistemática Etapas Segundo a Cochrane Pesquisa Handbook Elaboração de uma pergunta Qual o cenário de publicações brasileiras do tema balanced scorecard com 1 bem definida foco em sustentabilidade? Localização e seleção de 2 Levantamento na base Spell. estudos 3 Avaliação crítica dos estudos A avaliação dos estudos foi desenvolvida pelo seguimento dos filtros pré- 4

4 Recolha de dados 5 Análise e apresentação dos dados 6 Interpretação dos resultados 7 Aperfeiçoamento e atualização Fonte: Baseado em Pocinho (2008). estabelecidos. O levantamento se deu com a seleção de palavras-chaves, tanto em português como em inglês. A validação das palavras em inglês foi por meio da pesquisa de estudos já publicados. A aplicação dos termos nos repositórios seguiu uma estrutura pré-estabelecida de filtragem. Se desenvolveu por meio do uso de ferramentas com quadros, onde inicialmente pesquisou um panorama com um número maior de publicações, reduzindo a amostragem para um maior aprofundamento. Apresentado nas seções a seguir. Com relação aos benefícios, o mesmo possibilita a compreensão do que já foi estudado com relação ao tema e as formas de interação das mesmas. A última atualização dos dados ocorreu no dia 16 de outubro. No entanto, o mesmo apresenta-se aberto para o recebimento de críticas e sugestões a serem incorporados. A compreensão do quadro, pode ser complementada com aplicação da pesquisa, encontrado na próxima seção. 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Na busca pela compreensão de como pesquisadores brasileiros estudam a interação do balanced scorecard e a sustentabilidade, a pesquisa objetiva evidenciar o cenário de publicações brasileiras do tema balanced scorecard com foco em sustentabilidade. Para o alcance do objetivo selecionou-se a base de dados Spell. A seleção dos repositórios se deu por sua nacionalidade. A Spell (Scientific Periodicals Electronic Library) disponibiliza publicações a partir de 2008, das áreas de Administração, Contabilidade e Turismo. Seu objetivo está em promover o acesso, organização, disseminação e análise de pesquisas científicas. Seu desenvolvimento é de responsabilidade da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD) e o Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas Sociais (IBEPES). A busca foi aplicada com o uso de filtragens, baseada nas palavras-chaves sustentabilidade, sustainability e scorecard. Afim de uniformizar a pesquisa, como terceiro filtro foram selecionados apenas os trabalhos caracterizado como artigos científicos, conforme os quadros 2, 3, 4, 5: Quadro 2 Filtragem. Palavra-Chave Estudos Sustentabilidade 1464 Balanced Scorecard 5 Artigo 5 Brasil 5 5

Quadro 3 Filtragem. Palavra-Chave Estudos Balanced Scorecard 193 Sustentabilidade 1 Artigo 1 Brasil 1 Quadro 4 Filtragem. Palavra-Chave Estudos Sustainability 1133 Balanced Scorecard 5 Artigo 5 Brasil 5 Quadro 5 Filtragem. Palavra-Chave Estudos Balanced Scorecard 193 Sustainability 1 Artigo 1 Brasil 1 A pesquisa resultou em 5 artigos envolvendo os temas propostos, quando comparados os dados encontrados em cada busca. O repositório Spell disponibilizou apenas estudos brasileiros, em língua portuguesa. Para compreender melhor os estudos encontrados, o quadro 6 apresenta o perfil dos estudos encontrados; Quadro 6 Perfil das publicações. Ano Título Autor Revista 1 2016 Avaliação de Programa de Responsabilidade social Empresarial com Aplicação do Balanced Scorecard: Um Estudo de Caso da Cooperárvore da FIAT Automóveis Oliveira, O. M. Giroletti, D. A. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade 2 2015 Gestão da inovação e ampliação da inclusão sociodigital: Uma análise da aplicação do Balanced Scorecard no programa Navegapará Santos, L. R. D. Borges, F. Q. Pires, J. O. M. Ferreira Filho, H. R. Revista de Administração e Inovação 3 2014 A disseminação das estratégias corporativas baseadas no balanced scorecard: um estudo de caso em uma empresa de prestação de serviços ambientais Todorov, M. C. A. Barsalini Martins, C. Bomfim Martins, S. Novaretti, M. C. Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade 4 2013 Análise de modelos de Balanced Scorecard elaborados a partir da ótica Silva, M. D. O. P. Reunir: Revista de 6

5 2011 da sustentabilidade através do uso da Matriz SWOT Callado, A. A. C. Estratégia em ação: planejamento estratégico e Balanced Scorecard na OSID Andrade, I. R. S. Frazão, M. F. A. Administração, Contabilidade e Sustentabilidade Revista de Gestão, Finanças e Contabilidade O quadro demonstra um princípio das publicações no ano de 2011, considerando que o repositório disponibiliza estudos a partir de 2008. Ainda é visível não haver um autor especializado no tema, ou uma revista. Com relação as revistas, apenas uma disponibiliza dois artigos, a Revista de Gestão Ambiental e Sustentabilidade. Frente aos estudos caracterizados, para compreender melhor a interação entre Triple Botton Line e Sustentabilidade, o quadro 7 disponibiliza o objetivo e a relação com a Triple Botton Line analisadas por meio do resumo disponibilizados das pesquisas: Quadro 7 Triple Botton Line e Sustentabilidade. Título Objetivo Triple Botton Line 1 Avaliação de Programa de Responsabilidade social Empresarial com Aplicação do Balanced Scorecard: Um Estudo de Caso da Cooperárvore da FIAT Automóveis Medir o alcance das ações sociais da montadora na promoção do desenvolvimento da comunidade Jardim Teresópolis, por meio da geração de trabalho e renda, da redução da vulnerabilidade social e do desenvolvimento econômico e humano. Econômico/Social 2 Gestão da inovação e ampliação da inclusão sociodigital: Uma análise da aplicação do Balanced Scorecard no programa Navegapará Analisar a aplicação do Balanced Scorecard no Programa de inclusão sociodigital Navegapará da empresa de Processamento de Dados do Estado do Pará (Prodepa). Econômico/Social 3 A disseminação das estratégias corporativas baseadas no balanced scorecard: um estudo de caso em uma empresa de prestação de serviços ambientais Analisar como ocorre a disseminação das estratégias corporativas baseadas no BSC por meio de um estudo de caso em uma empresa de prestação de serviços ambientais. Econômico/Social/Ambiental 4 Análise de modelos de Balanced Scorecard elaborados a partir da ótica da sustentabilidade através do uso da Matriz SWOT Analisar modelos de Balanced Scorecard elaborados a partir da ótica da sustentabilidade através do uso da Matriz SWOT. Econômico/ Ambiental 5 Estratégia em ação: planejamento estratégico e Balanced Scorecard na OSID Analisar a aplicação do planejamento estratégico e do BSC como ferramentas fundamentais para a gestão de instituições do terceiro setor, em particular a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (OSID). Econômico/Social 7

Na associação entre a sustentabilidade, por meio da Triple Botton Line, em conjunto do uso do Balanced Scorecard, é visto que a perspectiva financeira é encontrada no vértice econômico, já os clientes, o aprendizado e crescimento e os processos internos podem serem relacionados a ações encontradas na área social e ambiental da Triple Botton Line. No quadro 7 é claro o uso do vértice econômico, tendo em vista a caracterização do BSC para a aplicação em empresas. Considerando os outros dois vértices, ou seja, social e ambiental, há maior relevância para o uso social, com o uso em ações sociais, terceiro setor e inclusão digital. Frente a visão ambiental, encontra-se o caso aplicado em uma agroindústria. O balanced scorecard consiste em uma ferramenta que auxilia no planejamento estratégico (ANTUNES; MUCHARREIRA, 2015). Cada vez mais, as organizações traçam seu planejamento estratégico com foco na sustentabilidade (PEREIRA; SILVA; CARBONARI, 2011). Assim, o BSC utiliza de indicadores de desempenho para o alcance das estratégias estabelecidas (FARIAS; PETRI, 2015). Com isso é possível que as empresas possam alinhar os conceitos da sustentabilidade em suas missões e visões, que são base do planejamento estratégico. E por meio da ferramenta BSC e seus indicadores, podem mensurar a aplicabilidade desses conceitos. Para isso é necessário que os objetivos sustentáveis da empresa estejam claros e perfeitamente alinhados com a lógica do indicador do BSC, para que com isso o desempenho dos objetivos propostos possa ser avaliado (OLIVEIRA et al., 2010). Sendo assim, a organização pode substituir os indicadores de perspectivas financeira, clientes, processos internos e a de aprendizagem e crescimento, com os indicadores da Triple Bottom Line, ou seja, social, econômico e ambiental. Desta forma a organização poderá alinhar a sua matriz estratégica com esses vetores. Tendo em vista a sua avaliação constante, a organização poderá, por meio do BSC, avaliar e reavaliar, se suas decisões e medidas internas e externas estão de acordo com os objetivos estratégicos traçados com foco no tripé da sustentabilidade. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa, que buscou evidenciar o cenário de publicações brasileiras do tema balanced scorecard com foco em sustentabilidade, demonstra um pequeno número de publicações. Com relação a associação com a sustentabilidade, percebeu-se o foco econômico, e social de forma complementar. O estudo utilizou da base de dados Spell, tendo em vista tratar-se de um repositório brasileiro, com foco nas áreas de administração, contabilidade e turismo, temas estes, relacionados com o objetivo da pesquisa. Todavia, essa caracterização também é associada a limitação do estudo, tendo em vista a pequena amostragem encontrada. Para estudos futuros sugere-se o levantamento de dados aplicados, que associem os temas expostos no objetivo. REFERÊNCIAS ANTUNES, Marina; MUCHARREIRA, Pedro Ribeiro. Os Intangíveis no Balanced Scorecard: A sua relevância na gestão empresarial e na estratégia do negócio. Portuguese Journal of Finance, Management and Accounting, v.1, n.1, 2015. Disponível em: <http://u3isjournal.isvouga.pt/index.php/pjfma/article/viewfile/71/41> Acesso em 15 de outubro de 2016. FARIAS, Rafael. A. S.; PETRI, Sérgio. M. Desenvolvimento do Balanced Scorecard em uma Empresa de Consultoria Tributária. Caderno Profissional de Administração da UNIMEP, 8

v. 6, n. 1, 2016. Disponível em: <http://www.spell.org.br/documentos/ver/41969/desenvolvimento-do-balanced-scorecard-emuma-empresa-de-consultoria-tributaria-/i/pt-br> Acesso em 15 de outubro de 2016. GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas. 2009. KAPLAN, Robert. S.; NORTON, David. P. A estratégia em ação: Balanced Scorecard. 22. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997. OLIVEIRA, Lucas Rebello de; MEDEIROS, Raffaela Martins; TERRA, Pedro de Bragança; QUELHAS, Osvaldo Luiz Gonçalves. Sustentabilidade: da evolução dos conceitos à implementação como estratégia nas organizações. Produção, v. 22, n. 1, 2010. PEREIRA, Adriana Camargo; SILVA, Gibson Zucca da; CARBONARI, Maria Elisa Ehrhardt. Sustentabilidade, responsabilidade social e meio ambiente. São Paulo: Saraiva, 2011. POCINHO, Margarida. Lições da Metanálise. 2008. Disponível em: <http://docentes.ismt.pt/~m_pocinho/licoes_de_revisao_sistematica_e_metanalise.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2016. 9