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O casamento é a união plena entre duas pessoas, na qual ambos têm os MESMOS direitos e deveres.

Transcrição:

REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA

RESOLUÇÃO CFM nº 2.121/2015 Normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida. Revoga a Resolução CFM nº 2.013/13, publicada no DOU de 9 de maio de 2013, Seção I, p. 119.

A infertilidade humana é um problema de saúde, com implicações médicas e psicológicas.

O pleno do Supremo Tribunal Federal, na sessão de julgamento de 5 de maio de 2011, reconheceu e qualificou como entidade familiar a união estável homoafetiva (ADI 4.277 e ADPF 132). Isso significa que casais homossexuais podem optar pela reprodução humana assistida.

Um casal homossexual tem direito à reprodução humana assistida. Quais são as questões éticas enfrentadas diante dessa questão?

Várias questões de bioética são objeto de reflexão: Quem é o sujeito primário da preocupação com a infertilidade? A criança? O casal infértil?

Futuramente poderemos ter pessoas oriundas da reprodução humana assistida psicologicamente? feridos emocional e

O anonimato do doador faz com que a pessoa perca sua identidade genética, proporcionando o casamento entre irmão e degenerando a espécie humana?

PROBLEMAS ÉTICOS NA REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA A clínica de reprodução humana assistida poderá entregar a célula germinal à viúva ou ao viúvo? Quais os direitos da viúva ou do viúvo sobre o material fertilizante do outro? A viúva pode exigir da clínica que lhe seja realizada a reprodução humana assistida?

Autorizar a reprodução humana não é violar o direito do morto, uma vez que a paternidade deve ser desejada e não imposta? Poder-se-ia impor ao morto uma paternidade involuntária? A vontade pode criar a paternidade póstuma?

A inseminação post mortem não envolveria uma violação ao direito à imagem e à intimidade do falecido? Qual será a reação do filho(a) ao saber que não tem pai? É justo impor-lhe uma família constituída apenas pela mãe?

Pergunta-se: A criança nascida de reprodução assistida post mortem tem direito à herança?

Artigo 1.798 do CC Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.

A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução humana assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas na petição da herança (Enunciado n. 267 do Conselho da Justiça Federal, aprovada na III Jornada de Direito Civil).

ATENÇÃO Pessoa ainda não concebida (nondum conceptus) ao tempo da abertura da sucessão não poderá herdar, nem terá legitimação para suceder, salvo a hipótese do art. 1.799, inc. I, do CC.

Artigo 1.799, inc. I, do CC: Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão.

Serão absolutamente incapazes para adquirir por testamento as pessoas não concebidas (nondum concepti) até a abertura da sucessão, exceto se a disposição testamentária se referir à prole eventual de pessoa designada pelo testador, desde que esteja viva ao tempo de sua morte.

Para receber herança ou legado será preciso que o beneficiário seja nascido ou esteja ao menos concebido por ocasião do óbito do disponente, conforme dispõe o art. 1.798 do CC.

No entanto, a lei permite que se contemple prole futura de um herdeiro instituído (art. 1.799, inc. I, do CC) e, em substituição fideicomissária (art. 1.952 do CC)

Art. 1.952 do CC A substituição fideicomissária somente se permite em favor dos não concebidos ao tempo da morte do testador.

A substituição fideicomissária é a instituição, pelo testador (fideicomitente), de herdeiro ou legatário, designado fiduciário, com a obrigação de, por sua morte (quum morietur), a certo tempo ou sob condição preestabelecida, transmitir a uma outra pessoa, chamada fideicomissário, a herança ou legado.

Fideicomisso particular Ter-se-á fideicomisso particular se o fideicomisso incidir em bens certos ou determinados do acervo hereditário.

Fideicomisso universal Se o fideicomisso assumir o aspecto de uma herança, abrangendo a totalidade ou uma quota-parte do espólio, ter-se-á fideicomisso universal.

O filho póstumo não possui legitimação para suceder, visto que foi concedido após o óbito de seu pai genético e por isso é afastado da sucessão legítima.

Pode ser herdeiro por via testamentária se inequívoca for a vontade do doador do sêmen de transmitir herança ao filho ainda não concebido, manifestada em testamento.

Art. 1.597 do CC Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido.

Vejamos o seguinte caso: Uma senhora, seis meses depois do óbito do marido, respeitando a vontade dele, submete-se à reprodução humana assistida homóloga, dando à luz a um menino, registrado como filho do casal, por declaração materna, baseada no art. 1.597, inciso III, do CC.

O inventariante, um dos filhos do de cujus, não aceita a filiação do concebido artificialmente. Seria cabível, por parte dele, ajuizamento de investigação de paternidade cumulada com petição de herança, movida contra os herdeiros (seus irmãos) com pedido de reserva do seu quinhão até que se decida a investigatória?

Bastaria apenas impugnar a sua não habilitação como herdeiro por meio de uma contestação?

Artigo 1.597, inciso V, do CC Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.

Pergunta-se: Se o marido quiser doar seu sêmen a clínica de reprodução humana, a esposa pode pleitear a dissolução do casamento e reparação civil por injúria grave?

A ausência do consentimento do marido poderá ser motivo conducente à separação do casal por adultério casto por afetar a solidez do casamento, configurando-se injúria grave, geradora de ação de responsabilidade civil por dano moral?

Não há, no Brasil, uma norma que esclareça como deve ser feito o consentimento por reprodução humana assistida heteróloga.

Se o casal falecer em um acidente de trânsito e, antes disso, tiver iniciado a reprodução humana assistida in vitro, o embrião seria herdeiro? Quem teria a sua responsabilidade em transferi-lo para útero alheio? O Estado poderá decidir sobre o destino desse embrião?

E se os pais falecerem e houver gestação de substituição (doação temporária de útero), com quem ficará a criança?

Seção 4, item 3 da Resolução CFM n. 2.121/15 - No momento da criopreservação, os pacientes devem expressar sua vontade, por escrito, quanto ao destino a ser dado aos embriões criopreservados em caso de divórcio, doenças graves ou falecimento, de um deles ou de ambos, e quando desejam doá-los.

Roger Abdelmassih Onde foram parar os embriões criopreservados? http://g1.globo.com/fantastico/noticia/2014/12/mulheres-buscam-por-embrioesfertilizados-na-clinica-de-abdelmassih.html

Embriões híbridos

1 - As técnicas de reprodução assistida (RA) têm o papel de auxiliar na resolução dos problemas de reprodução humana, facilitando o processo de procriação.

2 - As técnicas de RA podem ser utilizadas desde que exista probabilidade de sucesso e não se incorra em risco grave de saúde para o(a) paciente ou o possível descendente, sendo a idade máxima das candidatas à gestação de RA de 50 anos.

3 - As exceções ao limite de 50 anos para participação do procedimento serão determinadas, com fundamentos técnicos e científicos, pelo médico responsável e após esclarecimento quanto aos riscos envolvidos.

Prescrição de médico especialista em reprodução humana assistida. E o dano irreparável, literalmente irreparável, de sua parte, é evidente, decorrendo de regras da experiência, da observação que o cidadão comum tem do que normalmente acontece (CPC, art. 335): a mulher que se aproxima dos 40 anos, como a agravante, tem muito maior dificuldade de engravidar do que as mais moças. E, pior, a cada dia que passa, a gravidez se torna mais remota ainda. Direito inalienável de ter filhos.

Deve a justiça assegurar-lhe que tente engravidar, pelos meios que a ciência coloca, hoje em dia, à disposição das mulheres. "Há que se considerar que os avanços da medicina no campo da reprodução assistida trouxeram para casais inférteis novas perspectivas, ao mesmo tempo em que a dificuldade em ter acesso a essas técnicas, por parte dos casais desprovidos de recursos, provoca uma série de dilemas, conflitos e ansiedades, repercutindo na vida pessoal e na saúde, tais como os mencionados pela Impetrante (depressão e intenso sofrimento).

No que tange ao direito à saúde, inegável a responsabilidade do Estado. Tanto a Carta Magna quando a Constituição Paulista preveem que 'a saúde é um direito de todos e dever do Estado' (art. 196 da CF) e garantem o 'atendimento integral do indivíduo, abrangendo a promoção, preservação e recuperação de sua saúde' (art. 219, parágrafo único, inciso IV, da CE), incluindo 'a assistência integral à saúde, respeitadas as necessidades específicas de todos os segmentos da população' (art. 223, inciso I, da CE).

Observa-se, portanto, que há no Brasil previsão legal para que o Estado proporcione aos cidadãos o acesso aos recurso científicos necessários e disponível a atender o direito de gerar filhos (...).

Importante salientar, nesse caso específico, que o termo 'saúde' engloba tanto o aspecto físico quanto o mental do ser humano, conforme se depreende da definição de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira: '1. Estado do indivíduo cujas funções orgânicas, físicas e mentais se acham em situação normal (lll)' (in Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 3ª ed., Editora Positivo, 2.004, p. 1.814 grifo nosso).

Portanto, restou demonstrado nos autos o direito líquido e certo, já que a Apelante, tendo em vista seu problema de infertilidade (fls.), a dificuldade em receber atendimento gratuito nos Hospitais públicos que oferecem aos serviços de reprodução assistida e a impossiblidade de arcar com o custo do tratamento em clínica popular (fls.), teve sua saúde abalada e, de acordo com o relatório médico, tem 'sintomas depressivos e intenso sofrimento em função da impossibilidade de ser mãe' (fls.).

... tendo em vista a idade da Impetrante (condição fundamental para o sucesso do referido tratamento) e o prazo transcorrido desde a impetração do mandado de segurança (...), indispensável condicionar a entrega dos medicamentos à apresentação de relatório médico sobre a atual condição física da paciente e se ainda há possibilidade da realização do tratamento" (destaques do original).

Embora, no caso acima invocado como precedente, tenha o tratamento de infertilidade sido buscado em face do Estado, certamente o que se decidiu ampara o direito da ora agravante em face de seu plano de saúde, na medida em que a própria Constituição Federal equipara as situações, de amparo à saúde pelo Estado e pela iniciativa privada. Com efeito, depois de afirmar ser a saúde dever do Estado, como está no acórdão do nobre Desembargador OSVALDO DE OLIVEIRA (art. 196), de fato, a Lei Maior faculta que subsidiariamente seja assumido pelo empreendedor particular: "Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada".

Se a agravante dispõe de plano de saúde, pois, lícito que a ele se volte para obter o que é seu direito, sagrado direito de ser mãe. A Constituição assegura a quem tenha sua saúde cuidada pela iniciativa privada, ao menos, os mesmos direitos que outorga aos cidadãos que se tratam à custa do Estado.

Via de regra, as pacientes são portadoras de endometriose da parede tubária uterina, de bexiga e do peritônio. Art. 10. É instituído o plano-referência de assistência à saúde, com cobertura assistencial médico-ambulatorial e hospitalar, compreendendo partos e tratamentos, realizados exclusivamente no Brasil, com padrão de enfermaria, centro de terapia intensiva, ou similar, quando necessária a internação hospitalar, das doenças listadas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, da Organização Mundial de Saúde, respeitadas as exigências mínimas estabelecidas no art. 12 desta Lei, exceto: III - inseminação artificial;

Arts. 35-C, inc. III, da Lei n. 9.656/98 e art. 2º, da Lei n. 9.263/96 Abusividade da negativa de cobertura. Art. 35-C. É obrigatória a cobertura do atendimento nos casos: III - de planejamento familiar. Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal.