Aula 42 DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS

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1 Página1 Curso/Disciplina: Direito Civil Família e Sucessões Aula: Disposições Testamentárias Professor (a): Aurélio Bouret Monitor (a): Lívia Cardoso Leite Aula 42 DISPOSIÇÕES TESTAMENTÁRIAS Tem de se analisar o aspecto quantitativo, ou seja, o valor das disposições, quanto que o testador pode deixar em testamento para alguém; e o aspecto qualitativo, a qualidade dos herdeiros testamentários, quem é que pode herdar. - Aspecto quantitativo: diante da existência de herdeiros necessários (descendentes, ascendestes e cônjuge ou companheiro), só pode ser estipulada nas disposições testamentárias a disponível. Só pode ser disposto em testamento até 50% do patrimônio, que é a parte disponível. A outra parte é a legítima dos herdeiros necessários. Se o indivíduo não tiver herdeiros necessários, pode dispor da totalidade do seu patrimônio. Obs: Os herdeiros colaterais não tem direito à legítima. Ex: A não tem descendentes, ascendentes e nem cônjuge. Ele pode deixar todo o patrimônio para o irmão mais novo, privando os outros irmãos. Também pode deixar para uma amiga ou uma namorada, privando os irmãos. Os herdeiros colaterais são herdeiros facultativos. Se alguém faz um testamento deixando, dispondo de, mais da metade do patrimônio, atingindo a legítima dos herdeiros necessários, em regra o caso é de redução das disposições testamentárias. Os interessados podem pleitear essa redução, para que fique no patamar da parte disponível, não atingindo a legítima. Só é possível dispor em testamento se existem herdeiros necessários a parte disponível. Não tendo herdeiros necessários pode-se dispor da totalidade dos bens. Aspecto quantitativo: trata da questão sobre se tem ou não de se respeitar a legítima. - Aspecto qualitativo: quem é, qual a qualidade do herdeiro; quais herdeiros serão nomeados em testamento. O herdeiro testamentário é a pessoa nomeada em testamento. Ele é nomeado a título universal, recebendo totalidade ou parte da disponível.

2 Página2 Ex: B deixou 20% da herança para João. João receberá a herança a título universal. Da universalidade dos bens ele tem direito a 20%. Ele não sabe exatamente qual bem vai receber. discriminado. Legatário: surge quando o testamento estipula um legado. Ex: C deixa a casa de praia para João. O bem está a título singular. João receberá bem certo e No testamento podem ser feitas disposições a título universal, com a criação de herdeiros testamentários; ou disposições a título singular, com a criação de legatários. Quem tem vocação hereditária? da sucessão. CC, art Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura O art. fala da sucessão legítima. Quando o indivíduo morre sem deixar testamento, o art. diz quem tem legitimidade para suceder. Pessoas concebidas: as que estão no ventre materno. Quem tem legitimidade sucessória na sucessão testamentária? a sucessão; CC, art Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se II - as pessoas jurídicas; III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação. Aspecto qualitativo: estudo de quem tem legitimidade sucessória. Tem legitimidade para a sucessão testamentária, ou seja, pode ser nomeado em testamento como herdeiro ou legatário: - as pessoas já nascidas; - as pessoas já concebidas nascituros, os que estão no ventre materno; - concepturos - os que sequer foram concebidos. Ex: D deixa a herança para o filho que a irmã irá conceber. Não é nascituro, porque sequer já foi concebido; - PJs. Ex: instituição beneficente, sociedade Viva Cazuza, fundação Ayrton Senna; - fundação o testador cria uma fundação e deixa os bens para ela.

3 Página3 Nascituro: pessoa concebida. Ainda não nasceu. Já houve nidação do embrião no útero materno. É possível a nomeação de nascituro como herdeiro testamentário. Ex: E deixa a herança para o filho que a irmã carrega no ventre. O nascituro precisa nascer com vida para que se confirme o recebimento da herança. Concepturo: sequer foi concebido. É a prole eventual de alguém. Ex: F deixa a herança para o filho que a irmã terá, para a prole eventual. E se a irmã de F não tiver filhos? No caso de se deixar herança para concepturo, ele deve vir a ser concebido no prazo de 2 anos a contar da morte do testador. CC, art No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança serão confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz. 1º Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pessoas indicadas no art º Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado, regem-se pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que couber. 3º Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão, com os frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador. 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador, caberão aos herdeiros legítimos. Ex: G deixa 50% da herança, de seu patrimônio, para a prole eventual da irmã. Se a irmã de G tiver um filho, esse sobrinho, mesmo depois da morte de G, terá 50% de seu patrimônio. G morreu e deixou ascendentes, que são herdeiros necessários. Estes têm direito à legítima. Da parte disponível a irmã pode ser nomeada curadora, eis que ainda não teve filho e nem está grávida. Ela receberá os 50% na condição de curadora. Ela terá 2 anos para conceber a criança. Se a criança não for concebida no prazo de 2 anos, esses bens que seriam destinados a ela vão para os herdeiros legítimos, os pais, por exemplo. A lei traz a regra. Embriões congelados, provenientes de técnicas de reprodução assistida, são herdeiros? Ex: um casal procura uma clínica de reprodução assistida. São colhidos os materiais genéticos masculino e feminino e é formado em laboratório um embrião, o bebê de proveta. Os embriões formados são congelados, para depois serem inseminados no útero feminino para a gestação. 1ª corrente: embriões in vitro, que estão criopreservados, congelados em laboratório, não têm legitimidade para suceder, não têm vocação hereditária. Eles não têm legitimidade sucessória na sucessão legítima. CC, art O embrião congelado não foi concebido, introduzido no útero materno. Não teve a nidação do embrião no útero materno. Ex: João e Maria, casados, procuraram uma clínica de reprodução assistida. O médico formou os embriões e os deixou congelados. Maria passará por uma inseminação artificial. Se João morre sem deixar testamento e nem descendentes e ascendentes, sua herdeira é apenas Maria.

4 Página4 herdeiro? E se Maria depois se submeter à técnica e engravidar, com o embrião congelado? O filho é Para a 1ª corrente não. No momento da morte ele não tinha sido concebido ainda. Concepção: nidação do embrião no útero materno. Se o embrião está formado em laboratório, criopreservado, e depois da morte de João, com sua autorização prévia, Maria se submete à técnica de inseminação artificial e engravida, a concepção se deu depois da morte. De acordo com o art do CC, como o indivíduo não era nem nascido e nem concebido, não é herdeiro. Defende essa posição Yussef Said Cahaly. É uma posição legalista. Obs: nada impede que João tenha deixado em testamento para a prole eventual da esposa. Assim, se posteriormente ela se submete à técnica e engravida, a criança será herdeira, desde que a concepção seja em até 2 anos após a morte de João. CC, art. 1800, 4º. 2ª corrente: o embrião congelado tem legitimidade sucessória, vocação hereditária, tanto para a sucessão legítima quanto para a testamentária. Lendo-se o art do CC deve-se considerar a ficção jurídica do art do CC. CC, art Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. O art. fala das técnicas de reprodução assistida. Presume-se que o embrião congelado, que posteriormente será inseminado no útero feminino, foi concebido na constância do casamento, ou seja, enquanto o marido era vivo. Após a morte não há mais casamento. A lei presume que a concepção se deu na constância do casamento, durante a vida do marido. Assim, o embrião tem sim capacidade sucessória. Seria uma aberração o contrário. Se o marido morre deixando uma autorização para a esposa fazer inseminação artificial e a criança nasce depois da morte dele, ela é sua filha. Logo, tem de ser herdeira. CJF, En Art : A regra do art do Código Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança. Imagine-se que João morra, deixando a esposa Maria e 2 filhos já nascidos. Foi feito o inventário. Posteriormente Maria se submeteu à técnica de reprodução assistida e engravidou de embrião formado com material genético de João e dela. Isso só pode acontecer se o falecido tiver deixado

5 Página5 autorização. Nasceu a criança, mas o inventário já estava feito. Cabe alguma ação para a recuperação dos bens? Cabe a ação de petição de herança, para que seja redistribuída a herança de João. PJs: é possível disposição testamentária em prol delas e também a criação de PJ por disposição testamentária, fundação. Destaca-se parte do patrimônio para a constituição desta. Tanto a pessoa natural nascida ou concebida ou a prole eventual podem ser herdeiras testamentárias, e as PJs também. Pode deixar testamento em favor de cachorro? Não. Ele não é pessoa natural e nem PJ. Não pode deixar testamento em prol de gatos. Pode deixar para uma fundação que cuida de animais, mas não para os animais. Estes não têm vocação hereditária, legitimidade sucessória. Eles não são pessoas.