CONTRIBUIÇÃO METODOLÓGICA PARA A ANÁLISE DE CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS A PARTIR DO CASO DO TRECHO SUL DO RODOANEL, SÃO PAULO.

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Transcrição:

CONTRIBUIÇÃO METODOLÓGICA PARA A ANÁLISE DE CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS A PARTIR DO CASO DO TRECHO SUL DO RODOANEL, SÃO PAULO. JOSÉ MARIA BERNARDELLI JUNIOR Universidade Nove de Julho jmbjr21@gmail.com MAURO SILVA RUIZ Universidade Nove de Julho maurosilvaruiz@gmail.com AMARILIS LUCIA CASTELI FIGUEIREDO GALLARDO Universidade Nove de Julho amarilislcfgallardo@gmail.com

Área temática: 8 - Sustentabilidade e Políticas Públicas CONTRIBUIÇÃO METODOLÓGICA PARA A ANÁLISE DE CONFLITOS SOCIOAMBIENTAIS A PARTIR DO CASO DO TRECHO SUL DO RODOANEL, SÃO PAULO. RESUMO Este trabalho discute a aplicabilidade prática da utilização de metodologia de análise de conflitos socioambientais, elaborada a partir da proposta de análise etnográfica do professor Paul Little e do roteiro de análise proposto pela professora Selene Herculano. O modelo de abordagem proposto a partir dessa metodologia foi aplicado para análise das interferências do processo de licenciamento do trecho sul do Rodoanel Metropolitano de São Paulo com a constituição da Área de Proteção Ambiental (APA) Bororé - Colônia e consequências de sua implantação sobre essa Unidade de Conservação de Uso Sustentável. O trabalho detalha a fundamentação teórica que alicerça a metodologia elaborada, assim como as fases do estudo da área envolvendo o entendimento da APA e seu contexto situacional, a construção do rodoanel e, por fim, as interferências desta grande obra de infraestrutura sobre a APA. Os resultados demonstram que esse modelo de abordagem é adequado e factível de aplicação a conflitos de ordem socioambiental deflagrados por grandes empreendimentos de infraestrutura em áreas urbanas. Esse modelo auxilia os administradores públicos e privados, como também aos legisladores, na sistematização e análise das informações necessárias para o entendimento e a resolução dos conflitos por meio de ferramentas de mediação / arbitragem, das soluções técnicas ou da formulação de políticas públicas. Palavras-chave: conflitos ambientais, análise de conflitos, gestão de conflitos, rodoanel. ABSTRACT This paper discusses the practical use of a proposed methodology for analyzing environmental conflicts drawn from the proposed ethnographic analysis by Professor Paul Little and the analytical guidelines proposed by Professor Selene Herculano. The proposed model stemming from these two approaches was applied to analyze the interference of the licensing process of the southern section of Metropolitan Ring Road of Sao Paulo with the existing Environmental Protection Area (APA) Bororé - Colônia and also the major consequences of the implementation of this process on this conservation landscape area. The paper details (i) the theoretical framework that underpins the methodology developed, (ii) the Bororé Colônia APA, (iii) the southern section of Metropolitan Ring Road, and (iii) the interferences of the Ring Road with the referred APA. The results show that the proposed model is appropriate and feasible for analysing environmental conflicts triggered by large infrastructure projects in urban areas. This model can be useful to both public and private administrators as well as to legislators dealing with conflicts thorugh approaches such as: mediation / arbitration tools, technical analyses or formulation of public policy. Key words: environmental conflicts, conflict analysis, conflict management, ring road. 1

1. INTRODUÇÃO É notório que a partir da década de 1960, o meio ambiente enquanto fornecedor de recursos e de serviços ecossistêmicos passou paulatinamente a entrar na composição das agendas administrativas e políticas, em instância mundial, com o estímulo de trabalhos científicos e matérias jornalísticas que revelaram uma extensão das externalidades negativas até então fracamente percebida pelas sociedades em geral. Nos últimos vinte anos, os trabalhos científicos tratando da relação recursos naturais versus escassez têm desnudado de forma inconteste uma crise ambiental sem precedentes, enquanto as tecnologias, acordos internacionais, legislações específicas e iniciativas diversas, se mostram insuficientes para a solução da escala de problemas a serem enfrentados. No âmbito dessa crise ambiental instalada, multiplicam-se conflitos socioambientais de alta complexidade envolvendo diversos atores, interesses, recursos disponíveis, alterações do meio e externalidades requerendo da parte dos legisladores, gestores privados e administradores públicos, a construção de processos melhor elaborados de análise e resolução dessas demandas. Para a gestão desses conflitos tem-se envidado esforço no sentido de desenvolver um ferramental teórico aplicável na sua análise e resolução. O propósito do presente trabalho é o de discutir uma metodologia de análise e sistematização das informações referentes a conflitos socioambientais, a partir de um modelo de abordagem elaborado com base nas proposições dos autores Paul Little e Selene Herculano. Para tanto, utiliza-se como exemplo, a aplicação desse modelo na pesquisa para um estudo de caso referente às inter-relações conflituosas entre o licenciamento e implantação do Rodoanel Metropolitano Trecho Sul e a criação da APA Bororé-Colônia (São Paulo, Capital). Dessa maneira, apresenta-se a seguinte questão de pesquisa. De que maneira as abordagens propostas por Little e Herculano podem ser aplicadas na coleta de informações e sistematização de conflitos socioambientais? O esforço no sentido de construir uma metodologia aplicável na sistematização da análise de conflitos justifica-se dada a necessidade crescente do gestor privado, legislador e administrador público em compreender a natureza dos conflitos e fazer uso ou desenvolver ferramentas adequadas para a sua resolução. 2. ABORDAGEM PARA A ANÁLISE DE CONFLITOS A abordagem sucinta das metodologias propostas por Little e Herculano, é apresentada em duas seções: 2.1 Conflitos: conceituações importantes e 2.2 categorização e estudo sistemático dos conflitos. 2.1 Conflitos: conceituações importantes O conflito pode ser entendido como um embate entre dois ou mais indivíduos interdependentes devido a uma incompatibilidade percebida de crenças, valores e metas, ou sobre as diferenças existentes em função de desejos por estima, controle e conexão (WILMOT; HOCKER, 2011). Os estudos sobre conflitos estão entre os mais antigos na história do homem, existindo antes mesmo da formação das escolas de pensamento da antiga Grécia; tendo sido a diplomacia, o primeiro mecanismo de regulação de conflitos entre diferentes sociedades (BARBANTI JUNIOR, 2002). Os conflitos são processos dinâmicos e podem se transformar rapidamente, assim como também, podem ser "gestados" por longos períodos de tempo sem serem percebidos até 2

que venham a eclodir subitamente, e eventualmente, de forma violenta. O processo da escalada dos conflitos é complexo e imprevisível. Sempre podem surgir novas questões entre as partes em demanda, tais como disputas internas, alteração de táticas e mudança de metas. Não raro, existem conflitos secundários que terminam por vir à tona (RAMSBOTHAM; WOODHOUSE; MIALL, 2011). No que se refere a questões de nomenclatura, Autor (2011) ponderam que é possível observar a inexistência de uma definição clara, precisa e única de conflitos ambientais, de modo que conflitos ambientais e conflitos socioambientais são termos que têm sido usado como sinônimos. Para efeito deste trabalho será utilizado o termo conflitos socioambientais para abranger indistintamente as duas formas de referência. Para Little (2004) os conflitos socioambientais trazem em seu bojo embates entre múltiplos grupos sociais, em interação entre si e com seu meio biofísico, devido aos seus distintos modos de inter-relacionamento ecológico. Platiau et al. (2005) pontuam que os conflitos modernos, principalmente os socioambientais, são inerentes à lógica da constituição do modelo de sociedade atual. 2.2 categorização e estudo sistemático dos conflitos Herculano (2006) propõe uma categorização de conflitos ambientais (pautada na literatura), onde considera em sua gênese: a) conflitos oriundos de grandes empreendimentos - capazes de causar rupturas no modo tradicional de se viver no local (construção de barragens para hidroelétricas, rodovias, ferrovias, etc.; b) conflitos originados da percepção de que existe um risco crônico e da deterioração de sistemas de vida - moradias localizadas em sítios contaminados, substâncias tóxicas no processo de trabalho, etc.; c) conflitos relativos à ocorrência de acidentes e movimentos por sua remediação - grandes acidentes químicos, catástrofes naturais ocorridas por influência da ação antrópica, etc.; d) conflitos originados nas transformações da paisagem, nas alterações climáticas e das formas de vida - movimentos por políticas de conservação ou preservação, conflitos sobre ética e ciência etc.; e) conflitos resultantes das implicações administrativas relativos a questões de regulação e gestão dos recursos (perfil dos atores, aplicabilidade e eficácia. O estudo sistemático dos conflitos socioambientais exige uma abordagem metodológica diferenciada e no âmbito do presente trabalho, optou-se pela adoção da metodologia proposta pelo professor Paul Little, com adições extraídas das publicações da professara Selene Herculano. Little (2001) afirma que na análise dos conflitos socioambientais devem ser consideradas três dimensões básicas: a) o mundo biofísico e os ciclos naturais; b) o mundo do homem com suas estruturas sociais; c) o relacionamento dinâmico e interdependente entre o mundo biofísico e o mundo dos homens. Little também afirma que "[...] a análise dos conflitos socioambientais é uma parte quase intrínseca de uma abordagem da ecologia política. Conflitos socioambientais referem-se a um conjunto complexo de embates entre grupos sociais em função de seus distintos modos de inter-relacionamento ecológico" (LITTLE, 2006, p.91-92). Little (2004; 2006) propõe como metodologia, a análise etnográfica do conflito, e esta engloba a identificação e diferenciação dos atores socioambientais envolvidos, incorporando 3

os múltiplos pontos de vista e interesses desses atores. A metodologia exige o mapeamento das relações entre diferentes níveis e a documentação da história do conflito, suas alianças, acomodações, negociações e rupturas. Para Little (2006) a etnografia dos conflitos socioambientais é essencialmente diferente da etnografia tradicional, tendo como foco não o modo de vida de um grupo social, mas sim a análise dos conflitos socioambientais em si e as múltiplas interações sociais e naturais que os fundamentam. Trata-se da etnografia multiator, onde a delimitação é dada pela dinâmica do conflito em si, cujo foco é no conflito. Para Mattos (2009) a etnografia, é um processo onde o pesquisador se vê liberado do uso de técnicas e procedimentos com padrões rígidos ou pré-determinados, prevalecendo o seu senso questionador, o que pode favorecer o exercício de uma análise holística e significar contribuições de relevo para o campo das pesquisas qualitativas. O pesquisador etnógrafo, segundo Little (2006), deve entender a dinâmica interna dos conflitos identificando as polarizações das posições e o mapeamento das alianças e coalizões. Deve analisar as táticas e estratégias em usos pelos grupos sociais e "perfilando" as distintas tentativas de resolução. "[...] Dessa forma, a etnografia dos conflitos sociais se insere plenamente no paradigma ecológico que tem foco nas relações; usa uma metodologia processual; e contextualiza o conhecimento produzido" (LITTLE, 2006, p.92). Em relação às interações, Little diz que é importante "[...] identificar também os distintos discursos em choque e suas respectivas bases de legitimidade cultural e política, sejam elas explícitas ou implícitas" (LITTLE, 2006, p.93). Um aspecto importante destacado por Little é a instância de articulação de um ator social. O autor diz que "Um ator social pode funcionar nos níveis de articulação local, regional, nacional ou global. Em geral, cada ator social tem um nível específico que serve como seu principal nível de funcionamento e eficácia política" (LITTLE, 2006, p.94-95). As relações podem ainda se articular num nível superior ou inferior e é importante "mapear os conexões transníveis fractais superiores e inferiores que os atores desenvolvem" (LITTLE, 2006, p.96). Herculano (2006) também propõe uma metodologia para analisar os conflitos, que guarda muitas semelhanças com a proposta de Little. Essa metodologia se consiste nas seguintes etapas: a) identificação, descrição e análise dos atores sociais envolvidos, com foco nos interesses econômicos e ambientais, bem como, na quantidade e tipo de poder que eles têm à sua disposição; b) identificação, descrição e análise dos agentes naturais envolvidos no conflito (áreas, ecossistemas afetados etc.); c) análise das relações sociais, políticas e econômicas entre os atores envolvidos no conflito; d) identificação do grau de institucionalização do conflito (processos judiciais, inquéritos no Ministério Público etc.); e) identificação do grau de divulgação do conflito pelos meios de comunicação. f) verificação dos tipos de tratamento dados ao conflito, tais como: soluções técnicas (descontaminação, obras); de justiça (remediação, indenização); soluções de continuidade (violência, evasão da população afetada etc.). Com referência ao tratamento dado aos conflitos identificados, Herculano (2006) relaciona as atitudes possíveis em relação a um conflito, são elas: a ocultação, a repressão, a manipulação política, a confrontação, a busca de parcerias e alianças, o diálogo, a cooperação, a negociação, a mediação e a criação de legislação para prevenção e remediação. 4

3. METODOLOGIA Esta pesquisa é caracterizada como qualitativa, na acepção de Creswell (2010), e descritiva, conforme a definição de Severino (2008). Em relação aos procedimentos técnicos, foi desenvolvida uma estratégia de pesquisa, subsidiada por uma bibliografia especializada (SENSING, 2011; WOODSIDE, 2010; GERRING, 2006; HANCOCK e ALGOZZINE, 2006; GEORGE e BENNETT, 2005; WILSON JR., 1991). Essa estratégia consistiu em uma pesquisa documental que teve, como principal referência, a análise das atas das reuniões do Conselho Gestor da Unidade, bem como de reuniões realizadas a pedido do Conselho para esclarecimentos de questões relativas ao Rodoanel e aos Parques Naturais junto à comunidade local. Diplomas legais relacionados a unidades de conservação e licenciamento ambiental também foram analisados. Na análise dessa fonte documental, subsidiada por um levantamento bibliográfico preliminar sobre o tema, buscou-se identificar as percepções e expectativas dos conselheiros - em especial os representantes da sociedade civil, organizações não governamentais e representantes da comunidade local acerca dos impactos, positivos e negativos, do empreendimento, bem como as compensações ambientais. O levantamento bibliográfico sobre o estudo e a resolução de conflitos também foi subsidiado por bibliografia especializada (MAYER, 2001; MITCHELL, 2005; O'LEARY, AMSLER, KOPELL, 2005; SANSON, BRETHERTON, 2001; SHAMIR, 2003; LEWICKI, SAUNDERS, MINTON, 2008; LUTZ, BABBITT, HANNUM, 2003; RAMSBOTHAM, WOODHOUSE, MIALL, 2011) e revelou que no tocante à aplicação de metodologias de análise especificamente dos conflitos socioambientais, pode ser identificada uma pequena quantidade de publicações, de maneira que a consolidação das contribuições de Little e Herculano se apresentou com maior robustez, sendo as escolhidas para estruturar o presente trabalho. O planejamento da execução da pesquisa e a análise dos dados coletados foram pautadas numa metodologia desenvolvida a partir da análise etnográfica proposta pelo antropólogo norte-americano professor doutor Paul Elliot Little da Universidade de Brasília acrescida de contribuições extraídas da literatura produzida pela administradora e professora doutora Selene Herculano (Universidade Federal Fluminense). Para estudo dos conflitos resultantes da implantação do Rodoanel Metropolitano Mário Covas Trecho Sul, foram analisados os conflitos presentes na região da APA Bororé- Colônia considerando-se dois momentos, a saber: antes do licenciamento e construção do empreendimento e a partir do processo de licenciamento (até sua construção). 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO A discussão dos resultados é apresentada a partir da caracterização da APA Bororé- Colônia e de breve descrição do processo de licenciamento do trecho sul do Rodoanel de modo a identificar as interferências entre a APA e o Rodoanel e os conflitos socioambientais decorrentes. 4.1. A APA Bororé-Colônia A APA Municipal Bororé - Colônia foi criada em 2006, por meio da Lei Municipal 14.162, de 24 de maio de 2006. É gerida por um Conselho Gestor paritário e deliberativo, composto por 24 integrantes, presidido pela Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo (SVMA). Abrange uma área de 9.000 hectares, ao Sul do 5

Município de São Paulo pertencente às Subprefeituras de Capela do Socorro e Parelheiros. Situa-se integralmente em área de proteção aos mananciais, abarcando parcialmente as bacias hidrográficas da Billings e Guarapiranga. Seu território é heterogêneo quanto ao uso e ocupação do solo, estando presentes: remanescentes de Mata Atlântica, agricultura orgânica e convencional, silvicultura, minerações, assentamentos urbanos regulares e irregulares e núcleos populacionais antigos de importância histórica e cultural (MARTINS, 2003). Trata-se de uma região de alta exclusão social, onde o patrimônio natural e cultural ainda preservado convive com situações de extrema vulnerabilidade social revelando-se, desde a década de 1970, como um espaço onde os conflitos socioambientais permeiam a paisagem com a sobreposição de diferentes tipos de embates ao longo do tempo (AUTOR, 2013). 4.2. O Trecho Sul do Rodoanel Metropolitano Mário Covas O Rodoanel Metropolitano é um empreendimento viário estatal, de responsabilidade da DERSA Desenvolvimento Rodoviário S.A. (DERSA, 2004), proposto pelo poder público com a finalidade de construir um anel viário, novo traçado circundando a RMSP. Este empreendimento tem o objetivo principal de retirar o tráfego de passagem, formado pelas rodovias estaduais, das vias terrestres congestionadas da cidade de São Paulo, ordenando os tráfegos locais e de transposição da RMSP. Segundo a Política Nacional de Meio Ambiente (Lei Federal 6.938/81) e Resoluções CONAMA nº 1/86 e nº 237/97, as estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento estão sujeitas a licenciamento ambiental, condicionado à apresentação de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) por ser considerado empreendimento efetiva ou potencialmente causador de significativo impacto no meio ambiente e, portanto podendo ensejar a realização de audiências públicas como parte do processo. O traçado do Rodoanel seccionou a Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo, interferindo com remanescentes de Mata Atlântica e campos de várzea, que protegem as cabeceiras dos mananciais de abastecimento da RMSP (FESPSP, 2004). Devido à magnitude e complexidade do empreendimento e às pressões da opinião pública a que esteve sujeito, o licenciamento ambiental do empreendimento foi realizado por trechos, iniciando-se pelo segmento Oeste, inaugurado em 2002. O trecho sul recebeu a licença prévia, em 2006, e a obra de sua construção foi realizada no período entre 2007 e 2010, estando em operação desde essa data. 4.3. Interferências do Rodoanel sobre a APA O licenciamento do Rodoanel se deu concomitantemente à tramitação na Câmara Municipal do Projeto de Lei (PL) que propunha a criação da APA Bororé - Colônia (PL 01-0384/2004). Tanto o processo de licenciamento do empreendimento quanto a tramitação do PL da APA, foram marcados por dificuldades cujos desdobramentos sugeriam inter-relações. O Governo do Estado, figurando como empreendedor e licenciador da grande obra de infraestrutura, também se fazia politicamente presente na Câmara Municipal, contando com a maioria de Vereadores podendo assim influenciar na ocorrência do quorum necessário para as (AUTOR, 2013). Enquanto o processo de licenciamento contava com ações do Ministério Público (Estadual e Federal), avaliações técnicas negativas do EIA/RIMA (Exame Técnico Estudo de Impacto Ambiental Rodoanel Mário Covas trecho sul Modificado, SVMA, 2005, p.7), o processo de tramitação do PL 384/04 transcorria com grande morosidade, levando em novembro de 2005, o Secretário do Verde e Meio Ambiente Eduardo Jorge e outras nove 6

pessoas fizeram um ato de protesto e "vigília" em frente à Câmara Municipal em face da demora na votação dos projetos, dentre eles, o da criação do APA Bororé-Colônia (AUTOR, 2013; SCHIVARTCHE; BALAZINA, 2005) A Licença Ambiental Prévia do Rodoanel foi concedida em fevereiro de 2006 e já em março a tramitação da lei da APA tinha seus dois substitutivos votados para em 24 de maio ser promulgada a Lei nº 14.162, constituindo a APA Bororé-Colônia. A sucessão dos fatos sugere a ocorrência de manobras políticas no processo de aprovação da Lei da APA e no licenciamento do Rodoanel, dando origem a um quadro de injustiça ambiental, penalizando as condições de vida da população trabalhadora moradora dos bairros mais pobres e que se acha excluída de quaisquer benefícios advindos do empreendimento. Em 2008, quase dois anos após a criação da APA, foi firmado convênio entre o Município e a DERSA (convênio DERSA nº 155/08), tratando da compensação ambiental e estabelecendo também algumas medidas adicionais, em especial uma espécie de "compensação viária", objetivando a recuperação de vias danificadas pelas obras, conforme especificado no item 2.1.2, letra "e". Os conflitos socioambientais permanecem na atualidade devido às externalidades provocadas pela implantação do RMMC e pela inexistência de uma modalidade de compensação social que fosse ao encontro das necessidades da população local. 4.4. Sistematização dos conflitos socioambientais identificados Os conflitos socioambientais identificados na APA Bororé - Colônia, incluindo ambas as fases (antes após RMMC), foram agrupados e analisados conforme metodologia proposta por Little (2006) e Herculano (2006), e são apresentados nos Quadros 2 e 3. No Quadro 2, os conflitos são abordados quanto à análise dos agentes naturais e sociais envolvidos, grau de institucionalização, tipologia e instância. QUADRO 2 - Síntese dos principais conflitos identificados na APA Bororé - Colônia - Análise I. Conflito Agentes Naturais e sociais envolvidos Grau de institucionalização Tipologia Instância Tramitação da Lei de criação da APA Bororé - Colônia vs Licenciamento do RMMC trecho sul (i) Recursos hídricos; (ii) remanescentes de Mata Atlântica; (iii) patrimônio arqueológico e cultural; (iv) população residente na região Procedimentos administrativos de instância Estadual e Federal, inquéritos no Ministério Público Estadual e Federal, processos judiciais Local, regional e nacional Institucional e Não Institucional Externalidades oriundas da construção do Rodoanel (Assoreamento de corpos d'água, degradação de vias, diminuição do pescado na represa, inundações etc.) (i) Recursos hídricos; (ii) remanescentes de Mata Atlântica; (iii) patrimônio arqueológico e cultural; (iv) população residente na região Procedimentos administrativos de instância Municipal e investigação do MP Local Institucional e Não Institucional 7

Pendências referentes à compensação ambiental do Rodoanel Prática de crimes ambientais e ilegalidades (caça, coleta de espécimes, construção em APP, construções ilegais em perímetros de congelamento - Proj. Defesa das Águas etc.) (i) Recursos hídricos; (ii) remanescentes de Mata Atlântica; (iii) patrimônio arqueológico e cultural; (iv) população residente na região (i) Recursos hídricos; (ii) remanescentes de Mata Atlântica; (iii) patrimônio arqueológico e cultural; (iv) população residente na região Procedimentos administrativos de instância Municipal e Estadual, inquéritos do Ministério Público Estadual Ações dos agentes fiscalizadores - Instância Municipal e Estadual Local Local Institucional Institucional e Não Institucional Prática de crimes de natureza diversa (Assassinatos, depósito de restos de veículos roubados etc.) População residente na região Ações dos agentes fiscalizadores - Instância Municipal e Estadual Local Institucional e Não Institucional Outros grandes empreendimentos: ALL - Suspeita de queda de grãos transgênicos. Projeto Comgás - Gasoduto COMGAS-RETAP. Projeto Uniduto - duto vindo do interior rumo ao litoral para transporte de álcool - passará em parte dentro da APA do Bororé - Colônia, no mesmo eixo do Rodoanel (i) Recursos hídricos; (ii) remanescentes de Mata Atlântica; (iii) patrimônio arqueológico e cultural; (iv) população residente na região Procedimentos administrativos de instância Municipal e Estadual Local e regional Institucional Questões locais referentes à coleta de lixo, transporte (Balsa EMAE), loteamentos irregulares, questões de vizinhança (i) Recursos hídricos; (ii) remanescentes de Mata Atlântica; (iii) patrimônio arqueológico e cultural; (iv) população residente na região Procedimentos administrativos de instância Municipal Local Institucional e Não Institucional FONTE: O Autor, (2013). No Quadro 3, os conflitos são abordados quanto ao seu escopo, atores sociais envolvidos, cotas de poder e tratamento dado aos conflitos. 8

QUADRO 3 - Síntese dos principais conflitos identificados na APA Bororé - Colônia - Análise II. Conflito Escopo Atores Cotas de poder Tratamento dado Governo Federal, A análise sugere que IBAMA, Ministério Conflito o Governo Estadual, Público Federal, eminentemente agindo como Aprovar a Lei de Governo Estadual, institucional com empreendedor - criação da APA e Secretaria dos cotas de poder licenciador e licenciar o Transportes, assimétricas. O contando com maior Rodoanel trecho Ministério Público Governo Estadual presença na CMSP, sul, processos Estadual, DERSA, representou o maior fez uso de todo o seu concorrentes SMA, SVMA, poder presente e, a poder apressando o guardando alguma PMSP, Câmara população afetada, foi licenciamento do correlação Municipal de São detentora da menos RMMC e atrasando Paulo, moradores da cota a aprovação da Lei região afetada da APA Tramitação da Lei de criação da APA Bororé - Colônia vs Licenciamento do RMMC trecho sul Externalidades oriundas da construção do Rodoanel (Assoreamento de corpos d'água, degradação de vias, diminuição do pescado na represa, inundações etc.) Constatação, formalização de responsabilidade para correção dos danos IBAMA, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, DERSA, SMA, SVMA, PMSP, moradores da região afetada Cotas de poder assimétricas. A DERSA representou o maior poder presente e a população afetada a menor cota Soluções técnicas ainda em curso Pendências referentes à compensação ambiental do Rodoanel Problemas de ordem técnica e jurídica para a conclusão do processo de compensação IBAMA, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, DERSA, SMA, SVMA, PMSP, moradores da região afetada Cotas de poder assimétricas, ainda favorecendo o Governo Estadual, principalmente nos embates entre a DERSA e a SVMA Soluções técnicas, jurídicas e administrativas ainda em curso Prática de crimes ambientais e ilegalidades (caça, coleta de espécimes, construção em APP, construções ilegais em perímetros de congelamento - Proj. Defesa das Águas etc.) Prática de crimes de natureza diversa (Assassinatos, depósito de restos de veículos roubados etc) Conflitos diversos que se avolumam sem que haja uma resposta à altura por parte do Estado Conflitos diversos que se avolumam sem que haja uma resposta à altura por parte do Estado SVMA, PMSP, Polícia Ambiental, moradores da região afetada PMSP, Polícia Civil, Polícia Militar e moradores da região afetada A maior cota de poder se encontra com os agentes fiscalizadores, no entanto, os agentes de atos ilícitos têm obtido vantagem na continuidade de suas práticas A maior cota de poder se encontra com os agentes fiscalizadores, no entanto, os agentes de atos ilícitos têm obtido vantagem na continuidade de suas práticas Pouca efetividade no tratamento dos problemas Pouca efetividade no tratamento dos problemas 9

Outros grandes empreendimentos: ALL - Suspeita de queda de grãos transgênicos. Projeto Comgás - Gasoduto COMGAS-RETAP. Projeto Uniduto - duto vindo do interior rumo ao litoral para transporte de álcool - passará em parte dentro da APA do Bororé- Colônia, no mesmo eixo do Rodoanel Questões atinentes a processos de licenciamento e operação de outros grandes empreendimentos Governo Estadual, SMA, SVMA, PMSP, moradores das regiões afetadas e organizações interessadas - ALL, COMGAS, Uniduto) Cotas de poder assimétricas, onde existem interesses do Governo Estadual transferindo maior cota de poder para as organizações envolvidas ficando a SVMA com a menor cota Soluções técnicas e processuais de ordem administrativa e licenciatórias ainda em curso Questões locais referentes à coleta de lixo, transporte (Balsa EMAE), loteamentos irregulares, questões de vizinhança Conflitos diversos que carecem de uma resposta adequada do Estado SVMA, PMSP, moradores das regiões afetadas, EMAE e agentes fiscalizadores (Polícia Ambiental, Polícia Civil) Cotas de poder com maior simetria, porém com dificuldades para a resolução dos embates em face de questões de ordem burocrática Soluções técnicas em curso com pouca efetividade FONTE: O Autor, (2013). 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Little (2001, 2004, 2006) propõe uma abordagem de investigação dos conflitos enquanto Herculano (2006) propõe um roteiro de análise, de maneira que ambas se completam permitindo a elaboração de uma metodologia de coleta e análise de conflitos socioambientais. A sua aplicação num estudo de caso de alta complexidade, ensejou a questão de pesquisa que norteou este trabalho: de que maneira as abordagens propostas por Little e Herculano podem ser aplicadas na coleta de informações e sistematização de conflitos socioambientais? Para responder à questão, as etapas executadas são detalhadas, assim como os seus achados. Uma vez completada a fase de levantamentos bibliográfica e documental, o trabalho de campo foi planejado a partir das considerações de Little (2001, 2004, 2006) sobre a pesquisa etnográfica aplicada, requerendo uma imersão nos conflitos em curso, coleta de material e sua análise sistemática. Considerando-se o entendimento da etnografia multiator, manteve-se o foco no conflito, no levantamento da documentação histórica e no mapeamento dos conflitos e suas dinâmicas internas, estendendo-se o olhar para a identificação e diferenciação dos atores socioambientais envolvidos, múltiplos pontos de vista, interesses, articulações, alianças, negociações, rupturas e eventual acomodação. Essa imersão exigiu a realização de pesquisa participante (GIL, 2002), de observação não participante (YIN, 2001) e a aplicação de entrevistas semiestruturadas com algumas perguntas de natureza descritiva e a maior parte delas de natureza explicativa (TRIVIÑOS, 1987). Um modelo de controle de coleta de dados foi elaborado a partir da proposição de Herculano (2006) em sua proposta de análise de conflitos. Foi desenvolvida uma planilha de coleta de informações com elementos a serem considerados em cada tópico; por exemplo, ao se verificar as tratativas dadas aos conflitos foram observadas a existência / inexistência de 10

soluções técnicas aplicadas na resolução dos conflitos, o endereçamento das questões à justiça, a ocultação, a repressão, a manipulação política, a confrontação ou outras soluções de continuidade. Após o tratamento analítico dos dados coletados, os mesmos foram planilhados sendo primeiramente categorizados em institucionais (aqueles cujos embates se dão entre órgãos da estrutura governamental) e não institucionais (nos quais se acham presentes cidadãos, ONGs, Órgãos Públicos etc.), para sequencialmente serem classificados e analisados, considerandose seu (i) objeto ou foco; (ii) agentes naturais e sociais envolvidos; (iii) grau de institucionalização; (iv) tipologia; (v) instância; (vi) escopo; (vii) atores; (viii) cotas de poder; e (ix) tratamento dado ao conflito. A coleta de informações e análise dos dados obtidos ao longo da pesquisa de campo revelou uma vasta gama de conflitos com atores sociais em relações complexas e detendo cotas de poder altamente assimétricas. Tanto o processo de licenciamento do empreendimento quanto a tramitação do PL da APA, foram marcados por dificuldades cujos desdobramentos sugerem a ocorrência de inter-relações. O Governo do Estado, figurando como empreendedor e licenciador da grande obra de infraestrutura, também se fazia politicamente presente na Câmara Municipal, contando com a maioria de Vereadores podendo assim influenciar na ocorrência do quorum necessário para as votações. O Rodoanel, conforme se depreende, traz benefícios aos usuários, gerando externalidades negativas para as comunidades localizadas no seu entorno que não auferem seus benefícios, além de influenciar negativamente os serviços ambientais prestados pela APA Bororé-Colônia. Embora as exigências legais de compensação ambiental do Rodoanel tenham sido cumpridas, e os impactos sobre a biodiversidade e os recursos hídricos compensados pelos Parques Naturais criados, de acordo com o licenciamento ambiental do empreendimento, reconhece-se que as tratativas pouco contribuíram para a solução dos conflitos, uma vez que não foram identificadas ações efetivas pra a minimização da exclusão social e do quadro de vulnerabilidade da população da APA. Registrem-se a ausência legal de uma modalidade de compensação social que vá ao encontro das necessidades das populações afetadas por grandes obras de infraestrutura. A experiência na aplicação da metodologia originada das proposições complementares de Little e Herculano permite a conclusão de que é adequada e aplicável a quaisquer conflitos de ordem socioambiental, favorecendo aos administradores públicos e privados, como também aos legisladores, as informações necessárias para o entendimento e a resolução dos conflitos seja através das ferramentas de mediação/arbitragem, das soluções técnicas ou através da formulação de políticas públicas. REFERÊNCIAS AUTOR. Conflitos socioambientais urbanos na APA Bororé - Colônia: o caso do Parque Natural Municipal Itaim. 2013. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em Pós-Graduação em Administração - Gestão Ambiental e Sustentabilidade, Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2013. AUTOR. Conflitos ambientais na região metropolitana de São Paulo: uma revisão da literatura.. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE GESTÃO EMPRESARIAL E MEIO AMBIENTE, 13., 2011, São Paulo. Anais... São Paulo: FGV, 2011. p.1-16. BARBANTI JUNIOR, O. Conflitos socioambientais: teorias e práticas. In: ENCONTRO NACIONAL PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM AMBIENTE E SOCIEDADE, 1., 11

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