O uso do Balanced Scorecard como instrumento de gestão da qualidade

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Transcrição:

O uso do Balanced Scorecard como instrumento de gestão da qualidade Marcelo Kenji Shibuya (UNIP) marcelo_shibuya@uol.com.br Oduvaldo Vendrameto (UNIP) oduvaldov@uol.com.br Pedro Luiz Oliveira Costa Neto (UNIP) politeleia@uol.com.br Wagner Costa Botelho (UNIP) wagner.botelho@cnec.com.br Resumo Este artigo apresenta uma sugestão para a utilização do Balanced Scorecard como instrumento para a identificação, implementação e controle dos indicadores de qualidade do sistema de gestão da qualidade. Uma das vantagens da metodologia proposta está na obtenção de indicadores alinhados com a estratégia da organização. Palavras chave: ISO 9000, Indicadores de Desempenho, Balanced Scorecard. 1. Introdução Com a adoção das normas internacionais da série ISO 9000 a partir de 1987, atualmente em sua quarta versão, um grande movimento para implementação de programas de gestão da qualidade se alastrou mundialmente inicialmente na Europa e, posteriormente, nos demais países. De acordo com a revista Falando de Qualidade Banas, de fevereiro de 2004. citando dados do Comitê Brasileiro da Qualidade (CB 25) da ABNT, havia então 11.962 empresas certificadas no Brasil, sendo 14.342 o número de certificados emitidos. A atual revisão das normas da série ISO 9000, editada em dezembro de 2000, traz dentre as suas modificações a adoção da abordagem por processo, que é indiscutivelmente uma inovação em relação às versões anteriores, que tinha como base de implementação a gestão por atividades. De acordo com os requisitos da norma ISO 9001, toda a atividade que usa recursos e é gerida de forma a possibilitar a transformação de entradas em saídas é considerada um processo. Uma vantagem da abordagem por processo é o controle contínuo que ela permite por meio do uso de indicadores adequados de desempenho e as atividades de melhorias contínuas. O presente artigo tem como objetivo sugerir o uso do Balanced Scorecard como instrumento de obtenção e implementação de indicadores adequados à natureza do negócio e à estratégia da organização, de forma a alinhar as práticas à estratégia organizacional, mensurando continuamente o desempenho dos processos existentes e a obtenção de melhorias contínuas aos propósitos da organização. 2. Fundamentação teórica 2.1 A ISO 9000 e os indicadores de desempenho A série de normas ISO 9000:2000 é estruturada para atender aos requisitos do cliente sob a abordagem de processos. Os vinte requisitos que compunham a revisão de 1994, foram reorganizados em oito requisitos que são: Objetivo; Referência normativa; Termos e definições; Sistema de gestão da qualidade; Responsabilidade da direção; Gestão de recursos; Realização do produto; Medição, análise e melhoria. De um modo geral, a série de normas ISO 9000:2000 tem o seu foco direcionado à satisfação do cliente e a melhoria contínua da organização. A atual revisão explicita a necessidade de ENEGEP 2004 ABEPRO 1362

melhorias contínuas na organização, envolvendo os produtos e processos constituintes do sistema de gestão da qualidade e uma das formas de se conseguir isso é por meio da implementação de um sistema de medição de desempenho. A medição de desempenho está presente na série de normas ISO 9000:2000 no item 8.4 análise de dados: A organização deve determinar, coletar e analisar dados apropriados para demonstrar a adequação e eficácia do sistema de gestão da qualidade e para avaliar onde melhorias contínuas da eficácia do sistema de gestão da qualidade podem ser realizadas. Isso pode incluir dados gerados como resultado do monitoramento e das medições e de outras fontes pertinentes. De acordo com Sink & Tutlle (1993), a mais importante e talvez a única razão para medir o desempenho de um sistema é apoiar a sua melhoria, fazendo-o crescer continuamente. Através do processo de medição, pode-se saber as capacidades dos sistemas e os níveis de desempenho atingidos pelos diversos processos. Entretanto, o ponto alto do processo de medição é obter informações sobre onde se devem concentrar os esforços e onde se devem colocar os recursos para alcançar as melhorias desejadas. Na visão tradicional, ainda praticada em muitas organizações, as medidas de desempenho não são alinhadas às estratégias da organização e buscam tão somente melhorar os processos existentes, por meio de custos mais baixos, melhor qualidade e tempos menores de resposta, não havendo a preocupação em identificar os processos realmente estratégicos, isto é, aqueles que devem apresentar um desempenho superior para que a estratégia da empresa seja implementada e bem sucedida. Na visão moderna, observa-se que as medidas de desempenho não são meros elementos de controle dos processos internos das empresas, mas, sobretudo, representam vetores impulsionadores da melhoria contínua dos processos empresariais dentro do novo enforque estratégico de globalização da economia. É fácil, portanto, deduzir que medição do desempenho passou a ser vital para a sobrevivência das novas organizações. 2.2 Conceituação do Balanced Scorecard (BSC) A metodologia do BSC sugere a criação de indicadores de desempenho e a construção de um painel de controle para que os dados sejam constantemente avaliados, tendo-se um controle ao mesmo tempo amplo, objetivo e balanceado. Esta sistemática contribui para uma análise periódica das metas propostas e ainda sugere que a medição avalie se as metas propostas estão dentro da realidade organizacional ou se devem ser revistas; se os indicadores escolhidos estão realmente sendo úteis ou se devem ser modificados. O BSC traduz a missão e a estratégia das empresas num conjunto abrangente de medidas de desempenho que serve de base para um sistema de medição e gestão estratégica. Isso permite que as organizações acompanhem o desenvolvimento financeiro ao mesmo tempo em que monitoram outros indicadores que serão fundamentais para alcançar os objetivos da organização. De acordo com Kaplan & Norton (1997): O BSC leva o conjunto de objetivos das unidades de negócios além das medidas financeiras sumarizadas. Os executivos podem agora avaliar até que ponto suas unidades de negócios geram valor para os clientes atuais e futuros, e como devem aperfeiçoar as capacidades internas e os investimentos necessários em pessoal, sistemas e procedimentos visando a melhorar o desempenho futuro. Ativos intangíveis como valor da marca, valor da carteira de clientes, o nível de satisfação dos clientes ou o valor do nível técnico e gerencial de seus funcionários são, atualmente, indicadores extremamente preciosos na avaliação de uma organização que o modelo contábil ENEGEP 2004 ABEPRO 1363

tradicional não considera. A filosofia do BSC é de colocar a estratégia e a missão no centro do sistema de gestão, ao invés do controle. Ao estabelecer metas e objetivos, a alta administração deixa a cargo dos níveis operacionais a tarefa de definir os caminhos para alcançá-las (Campos, 1998). O BSC é representado por quatro diferentes perspectivas, conforme demonstradas na Figura 1, que representam as principais variáveis que, em equilíbrio, asseguram a base para um sistema de medição e gestão estratégica. Finanças Para sermos bem sucedidos financeiramente, como deveríamos ser vistos pelos acionistas? Processos internos Para satisfazermos os nossos acionistas e clientes, em que processos de negócios devemos alcançar a excelência? VISÃO E ESTRATÉGIA Clientes Para alcançarmos a nossa visão, como deveríamos ser vistos pelos nossos clientes? Aprendizado e crescimento Para alcançarmos a visão, como sustentaremos a nossa capacidade de mudar? Figura 1 As quatro perspectivas do Balanced Scorecard adaptado de Kaplan & Norton (1997) A inter-relação entre as perspectivas é determinada com base em relações de causa e efeito. Segundo Kaplan & Norton (1997), a ênfase na construção de relações de causa e efeito no BSC gera um raciocínio sistêmico e dinâmico, permitindo que os diversos processos da organização entendam como as peças se encaixam, como o seu papel influencia o papel de outras pessoas, além de facilitar a definição dos vetores de desempenho e as iniciativas correlatas que não apenas medem a mudança, como também a alimentam. Isso permite a análise constante da dinâmica do negócio, de forma a aumentar a capacidade da organização de aprender, de trabalhar em processos que efetivamente agregam valor estratégico. Comentemos cada uma dessas perspectivas: a) Perspectiva financeira Kaplan & Norton (1997) consideram que os objetivos e medidas financeiras devem desempenhar um duplo papel: definir o desempenho financeiro esperado da estratégia e servir de meta principal para os objetivos e medidas de todas as demais perspectivas do BSC. b) Perspectiva dos clientes Na perspectiva de clientes, o BSC permite que os executivos identifiquem o segmento de clientes e mercados nos quais desejam competir. Esses segmentos representam as fontes que irão produzir o componente de receita dos objetos financeiros da organização. Campos (1998) enfatiza que a perspectiva dos clientes possibilita não só alinhar as medidas de avaliação da ENEGEP 2004 ABEPRO 1364

satisfação, fidelidade, retenção, captação e rentabilidade para os mercados e clientes alvo, como também permite identificar e medir as principais tendências e indicadores do mercado que possibilitarão à organização desenvolver soluções de valor para os seus clientes. c) Perspectiva dos processos internos da organização Tradicionalmente, a identificação dos processos e seus indicadores para o gerenciamento de processos é realizada com base em alguns critérios definidos pela alta direção. Normalmente são escolhidos processos que apresentam deficiências em algumas medidas financeiras ou de qualidade, produção, ciclo e produtividade, sem que haja a preocupação com a sua contribuição para a implementação da estratégia da empresa. Os requisitos da série de normas ISO 9000 reforçam a importância de medir o desempenho dos processos internos, ao contrário das revisões anteriores, que visavam o controle e a melhoria dos centros de responsabilidade de departamentos individuais. Kaplan & Norton (1997) recomendam que os executivos definam uma cadeia de valor completa dos processos internos que tenham início com o processo de inovação, prossiga com os processos de operações e termine com o serviço de pós-venda. d) Perspectiva de aprendizado e crescimento Kaplan & Norton (1997) afirmam que a quarta e última perspectiva BSC desenvolve objetivos e medidas para orientar o aprendizado e o crescimento organizacional. Os objetivos estabelecidos nas perspectivas financeiras do cliente e dos processos internos revelam onde a organização deve se destacar para obter um desempenho excepcional. As perspectivas de aprendizado e crescimento oferecem a infra-estrutura que possibilita a consecução de objetivos ambiciosos nas outras três perspectivas. Note-se que a adoção desta perspectiva vem de encontro às modernas versões dos critérios do PNQ - Prêmio Nacional da Qualidade, que a adotam em todos os seus itens de enfoque e aplicação. 3. Sistemática proposta para a Implementação do BSC Para que seja uma ferramenta eficaz e eficiente de medição e melhoria, é recomendável que o BSC seja inserido como um processo do sistema de gestão da qualidade indutor da melhoria contínua, de acordo com a norma ISO 9001:2000, implicando, portanto, a utilização do ciclo PDCA. De acordo com Mello et al(2002): Dentro do contexto de um sistema de gestão da qualidade, o PDCA é um ciclo dinâmico que pode ser desdobrado dentro de cada processo da organização e para o sistema de processos em sua totalidade. Ele está intimamente associado com planejamento, implementação, controle e melhoria contínua dos processos de realização do produto e do sistema de gestão da qualidade. A manutenção e a melhoria contínua da capacidade do processo podem ser atingidas pela aplicação do conceito do ciclo PDCA em todos os níveis da organização. Isso se aplica tanto para os processos estratégicos de alto nível, como para o planejamento e a análise crítica do sistema de gestão da qualidade, quanto para as simples atividades operacionais executadas como parte dos processos de realização do produto. A figura 2 demonstra o ciclo PDCA a ser utilizado para a implementação e controle do BSC, comentado a seguir. ENEGEP 2004 ABEPRO 1365

PLANEJAMENTO DO BSC IMPLEMENTAÇÃO DO BSC MELHORIAS DO BSC ANÁLISE CRÍTICA DO BSC Figura 2 Ciclo PDCA para implementação e controle do BSC (Adaptado pelo autor) 3.1 Planejamento do Balanced Scorecard (Plan) 3.1.1 Divulgação dos conceitos do Balanced Scorecard Visa introduzir os conceitos do BSC à alta direção. Sugere-se uma apresentação dos seus principais conceitos, da forma como seria conduzida a implementação e os resultados esperados como ferramenta de identificação e controle dos indicadores de desempenho do sistema de gestão da qualidade. A obtenção da credibilidade da alta direção é vital para o sucesso do projeto. Kaplan & Norton (1997) deixam claro a importância disso ao afirmarem: O Scorecard deve representar o pensamento e as energias da equipe executiva da unidade de negócios. A menos que essa equipe esteja totalmente engajada no processo, é improvável um resultado bem sucedido. Sem o apoio dos altos executivos, o projeto do Scorecard não deve ser iniciado. 3.1.2 Definição da equipe de trabalho A equipe de trabalho deve ser formada por um grupo multidisciplinar de funcionários, apoiado por um facilitador, sendo um fator crítico de sucesso do projeto, que este tenha o domínio dos conceitos e sistemática de implementação do BSC e dos requisitos do sistema de gestão da qualidade. Dentro da estrutura funcional do sistema de gestão da qualidade existente, pode-se delegar a função de facilitador ao representante da direção. 3.1.3 Definição da visão, missão, política da qualidade e a estratégia da empresa. Toda a empresa possui uma estratégia competitiva definida, seja ela implícita ou explícita. A estratégia pode ser desenvolvida explicitamente, através de um processo de planejamento estratégico, como ter evoluído implicitamente, através das atividades dos vários departamentos funcionais (Porter, 1986). Para a elaboração de uma estratégia, é necessário definir a visão, a missão e a política da qualidade da empresa. Segundo Mello et al (2002): A visão expressa o sonho da alta direção de como ela deseja que sua empresa se encontre dentro de 5 ou 10 anos. Ela deve ser formulada pela alta direção após uma análise do meio ambiente (mercado e concorrentes), observando os valores (princípios e crenças) da organização, e deve ser difundida por todos os seus níveis para ganhar a compreensão e o apoio de todos os colaboradores. A missão é o compromisso e dever da organização para com suas partes interessadas (clientes, colaboradores, acionistas e comunidade), ou seja, é a própria razão de existência da organização. ENEGEP 2004 ABEPRO 1366

Uma política da qualidade reflete intenções e diretrizes globais de uma organização, relativas à qualidade, expressas pela alta direção (ISO 9001:2000). Assim, o processo de formulação da política da qualidade deve levar em consideração a visão e a missão da organização, bem como o estudo de sua situação estratégica em relação a seus concorrentes e ao mercado, para que possa servir como uma diretriz para futuras ações gerenciais. A estratégia é a forma como a empresa espera alcançar as suas metas. Para Porter (1986), a estratégia é o desenvolvimento de uma forma ampla para o modo como uma empresa irá competir, quais deveriam ser suas metas e quais as políticas necessárias para levar a cabo essas metas. As estratégias são decisões que a empresa resolve tomar, considerando a missão, os valores e os limites internos e externos, para atingir a sua visão de longo prazo. 3.1.4 Definição dos objetivos Deve-se identificar e avaliar a estrutura dos objetos de cada uma das quatro perspectivas, analisando através da relação de causa e efeito. Os objetivos da perspectiva de aprendizado e crescimento devem contribuir para dar suporte aos objetivos dos processos internos, que por sua vez, se forem alcançados, garantirão a satisfação e lealdade dos clientes, o que gerará mais receitas e lucros à empresa e seus acionistas, garantindo-se assim o alcance dos objetivos financeiros de longo prazo. Dessa forma, um BSC bem elaborado deve contar a história da estratégia da empresa, identificando e tornando explícita a seqüência de hipóteses sobre as relações de causa e efeito entre os objetivos estratégicos (Kaplan & Norton,1997). 3.1.4.1 Definição dos objetivos financeiros Os objetivos financeiros são relacionados à estratégia de longo prazo. De acordo com Kaplan & Norton (1997), para a definição dos objetivos estratégicos financeiros, estes devem ser baseados no ciclo de vida em que se encontra a empresa, ou seja, crescimento, sustentação e colheita. 3.1.4.2 Definição do segmento de mercado e clientes Para cada segmento de mercado que se pretende atender e ser competitivo, deve-se definir a proposta de valor para satisfazer e reter os clientes. As propostas de valor mudam de acordo com a atividade, os diferentes segmentos de mercado e clientes e até mesmo devido às características da empresa, mas exige um grupo de atributos que tende a ser comum para todas as empresas, e que pode ser dividido em três categorias: atributo de produtos e serviços, relacionamento com clientes e a imagem e reputação (Kaplan & Norton 1997). Para a obtenção desses atributos, é necessário realizar uma pesquisa de satisfação, necessidades e expectativas do mercado alvo e dos clientes, cuja sistemática é definida pelo item 8.2.1.2 Medição e monitoramento da satisfação dos clientes, da norma ISO 9001:2000. 3.1.4.3 Definição da cadeia de valor Define-se, nesta etapa, a cadeia completa de valor dos processos internos, cuja definição é obtida através do requisito 4.1 Requisitos gerais, da norma ISO 9001:2000, que determina a necessidade de identificar os processos necessários para o sistema de gestão da qualidade. Após a identificação dos processos chaves, são definidos os objetivos desta perspectiva. Neste exercício, podem ser revelados processos totalmente novos, nos quais a empresa deve se aperfeiçoar. Sugere-se o mapeamento dos processos para permitir ao grupo de estudos a visão do processo integrado e das atividades agregadoras de valor para, e através delas, alinhar aos objetivos estratégicos. ENEGEP 2004 ABEPRO 1367

3.1.4.4 Definição dos objetivos da perspectiva de aprendizado e crescimento Deve-se identificar, através do mapeamento dos processos realizado anteriormente, as necessidades de reciclagem e treinamento de pessoal, do aperfeiçoamento dos sistemas de informação, do alinhamento dos procedimentos e das rotinas organizacionais, para dar suporte aos objetivos da perspectiva dos processos internos. Para definir os objetivos estratégicos dessa perspectiva, analisam-se três categorias: a) Capacitação de funcionários de acordo com a ISO 9001:2000: o pessoal que executa atividades que afetam a qualidade do produto deve ser competente, com base em educação, treinamento, habilidade e experiência apropriados. As necessidades de treinamento são identificadas de acordo com o gap de competência existente entre a necessidade para exercer a função e a capacitação real do funcionário. b) Capacidade dos sistemas de informação o sistema de informação a ser adotado para o funcionamento eficiente e eficaz da organização é definido pelo requisito 4.2 Requisito de documentação, da norma ISO 9001:2000, que define a necessidade de implementar os documentos e registros da qualidade, podendo estes estar em qualquer forma ou meio adequados às necessidades da organização. De acordo com Mello et al (2002): Pode-se dizer então que a principal diferença entre registro e documento é que o primeiro relaciona-se ao passado (registro de uma atividade ou qualidade alcançada), enquanto o segundo relacionase ao presente e ao futuro (como tenho que fazer a minha atividade e como virei a fazê-la quando ela vier a ser melhorada). c) A ISO 9004:2000 fornece orientação para a melhoria da eficácia e eficiência da organização através do envolvimento e apoio das pessoas, identificada no item 6.2.1. Dentre as recomendações pertinentes à motivação e empowerment, pode-se destacar o treinamento contínuo dos funcionários, a definição de responsabilidade e autoridade, envolvimento no estabelecimento de objetivos e na tomada de decisão, reconhecendo e recompensando, realizando continuamente análises críticas das necessidades dos colaboradores, criando condições para encorajar a inovação, comunicando sugestões e opiniões, usando medidas de satisfação de seu pessoal e investigando os motivos do ingresso e saída das pessoas da organização. 3.1.4.5 Definição das metas de superação Para cada objetivo do BSC, deve ser definida uma meta. O BSC deve ser utilizado para impulsionar a mudança organizacional e a meta estabelecida deve ser arrojada, de forma a alavancar mudanças significativas na empresa e, assim, atingir o patamar desejado. Pode ser utilizada a análise de cenários para o estabelecimento das metas. Através disso, como alternativas às situações atuais, objetivos que parecem inatingíveis podem ser decompostos em objetivos menores, que juntos permitem o alcance da meta proposta (Kaplan & Norton, 1997). 3.2 Implementação dos indicadores de desempenho (Do) Após a definição da estratégia a ser adotada pela organização e a definição dos objetivos e metas para as perspectivas do BSC, é necessário colocá-la em pratica. A conscientização e motivação dos funcionários é um ponto fundamental para o alcance das metas definidas e isso pode ser obtido, através de um programa de treinamento. Os registros definidos pelo sistema de gestão da qualidade devem ser avaliados e, caso necessário, modificados visando a disponibilidade e facilidade de coleta dos dados referentes às metas propostas. ENEGEP 2004 ABEPRO 1368

Os indicadores de desempenho, juntamente com as metas e os objetivos, devem ser divulgados em quadros, de forma visível para todos os funcionários envolvidos na atividade relacionada com a meta proposta. 3.3 Análise crítica dos indicadores (Check) Para o sucesso do programa, é necessário que os indicadores sejam analisados continuamente, verificando-se, assim, o cumprimento das metas e a necessidade de ações para que as mesmas sejam atingidas. Os indicadores de curto prazo do BSC devem ser analisados pelas gerências e responsáveis pelos processos envolvidos, de acordo com o item 8.2.3 Medição e monitoramento de processos da norma ISO 9001:2000 verificando se as metas referentes aos clientes, processos internos, funcionários, sistemas e procedimentos estão sendo alcançadas. Na análise crítica pela direção (item 5.6 da ISO 9001:2000), os indicadores de longo e curto prazo devem ser avaliados, com o intuito de rever as estratégias da empresa, definindo, dessa forma, se as suas expectativas sobre o futuro ainda são válidas, ou se surgiram outras oportunidades que necessitam ser estudadas. 3.4 Melhorias do Balanced Scorecard (Action) Ao final da análise dos indicadores, devem-se implementar as ações necessárias para o cumprimento das metas de longo prazo e as metas operacionais. As metas de curto prazo podem ser implementadas mediante o uso dos itens 8.5.2 Ações corretivas e 8.5.3 Ação preventiva. 4. Conclusão Com o presente trabalho, esperamos ter contribuído para uma melhor compreensão da metodologia do BSC e dos seus principais aspectos. Trata-se, conforme se depreende na Figura 1, de uma sistemática que confere um peso balanceado aos quatro grandes setores de atividades na empresa considerados pela metodologia, evitando o viés tradicional de concentrar a maior parte das atenções da administração apenas nos aspectos financeiros, com conseqüências muitas vezes danosas. Esta metodologia está sendo cada vez mais utilizada no Brasil, em empresas como Serasa, Banco do Brasil, Unibanco, Companhia Suzano de Papel e Celulose, sendo que, na Petrobrás, existe registro de mais de 80 aplicações suas, comprovando sua boa aceitação como eficaz ferramenta gerencial. Referência bibliográfica ABNT. (2000) ISO 9001 Sistemas de Gestão da Qualidade Requisitos ABNT. (2000) ISO 9004 Sistemas de Gestão da Qualidade Diretrizes para melhorias de desempenho CAMPOS, J. A. (1998) Cenário balanceado: painel de indicadores para gestão estratégica dos negócios. Ed. Aquariana. KAPLAN, R. S.; NORTON, D. P. (1997) A estratégia em ação: Balanced Scorecard. Ed. Campus. MELLO, C. H. P.; SILVA, C. E. S.; TURRIONI, J. B.; SOUZA, L. G. M. (2002) ISO 9001:2000 Sistema de gestão da qualidade para operações de produção e serviços. Ed. Atlas. PORTER, M. E. (1896) Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e concorrência. Ed. Campus. Revista Qualidade Banas Seção Qualidade pelo mundo Ano XIII, nº 141, fevereiro de 2004. SINK, D. S.; TUTLE, T. C. (1993) Planejamento e medição para a performance. Ed. Qualitymark. ENEGEP 2004 ABEPRO 1369