PERITONITE INFECCIOSA FELINA

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Transcrição:

PERITONITE INFECCIOSA FELINA ROSA, Bruna Regina Teixeira da FERREIRA, Manoela Maria Gomes AVANTE, Michelle Lopes MARTINS, Irana Silva FILHO, Darcio Zangirolami Acadêmicos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da FAMED e-mail: brubynha@hotmail.com BISSOLI, Ednilse D Almico Galego Docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da FAMED e-mail:ednilse.bissoli@uol.com.br RESUMO A peritonite infecciosa felina (PIF) é causada por um coronavírus, que é relativamente instável no ambiente, mas pode permanecer infeccioso por até sete semanas no interior de matéria orgânica seca ou em superfícies secas. Doença viral sistêmica caracterizada por início insidioso, febre nãoresponsiva persistente, reação tecidual piogranulomatosa, acúmulo de derrames exsudativos nas cavidades corporais e alta mortalidade. Tem uma distribuição mundial, é principalmente uma doença de gatos domésticos, embora felídeos selvagens possam ser afetados. O objetivo deste trabalho está em realizar a revisão bibliográfica da PIF, sabendo que esta é uma enfermidade facilmente transmissível entre os gatos, e ocasiona extravasamento de líquido para a cavidade abdominal e podendo levar a morte. Palavra-chave: cavidades, derrames, piogranulomatosa, viral. Tema-central: Medicina Veterinária. ABSTRACT The feline infectious peritonitis (PIF) is caused by a coronavirus, which is relatively unstable in the environment, but can remain infectious for up to 7 weeks in the interior of dry organic matter or in areas characterized by systemic viral secas. Disease beginning insidious, fever non responsive Persistent, tissue reaction piogranulomatosa, accumulation of spills exudative in body cavities and high mortality. It is caused by a coronavirus and has a worldwide distribution, it is mainly a disease of domestic cats, althoughfelídeos wildlife can be affected. The objective of this study is to conduct a literature review of the PFI, knowing it is a disease that is easily transmitted between cats, and causes leakage of fluid to the abdominal cavity and can cause death. Key-words: cavities, spills, piogranulomatosa, viral

1. INTRODUÇÃO A peritonite infecciosa felina (PIF) foi descrita pela primeira vez na década de 60, foram relatados casos em felinos domésticos e selvagens em todo o mundo. O agente etiológico foi identificado como um coronavírus, que é uma mutação do coronavírus entérico felino (FECV) (BICHARD & SHERDING, 1998). A afecção afeta gatos de todas as idades, embora seja mais observada em felinos com menos de três anos de idade. Os machos perecem ser mais frequentemente afetados do que as fêmeas. A moléstia sabidamente se desenvolve de modo insidioso, e se torna avassaladora em criatórios felinos (NELSON, 2001). O vírus do PIF se replica localmente nas células epiteliais do trato respiratório superior ou da orofaringe (SMITH, 2003). Os sinais variam com a distribuição das lesões e extensão da efusão peritoneal e/ou pleural. Se a efusão é muito extensa, a moléstia passa a ser conhecida como forma efusiva, ou úmida, e quando a efusão não é muito grande, recebe a denominação de forma não-efusiva, ou seca (JONES, 2000). Segundo Nelson (2001) em sua forma úmida, está freqüentemente associada ao acúmulo de líquidos na cavidade peritoneal e/ou pleura. Já a lesão seca, se dá pela replicação viral perivascular local e a reação tecidual piogranulomatosa. (SMITH, 2003). 2. CONTEÚDO

A PIF é uma enfermidade imunomediada, sistêmica, progressiva e fatal que se tornou importante para veterinários que atendem gatos que vivem em densidades populacionais altas dessa espécie, pois nesses ambientes há uma prevalência maior da doença, em parte devido à maior contaminação viral e aumento do número de cepas do FIPV, expondo os animais a altas doses infectivas nas fezes (ETTINGER, 1997). Outros fatores que influenciam o aparecimento da PIF são estresse, susceptibilidade genética, doenças intercorrentes, via de infecção e imunocompetência mediada por células (NORSWORTHY, 2004). O vírus pode disseminar-se pela via oronasal ou por inoculação direta (através de mordidas de gatos, lambedura de feridas abertas). Após o contato com gatos portadores, embora a transmissão no útero também seja proposta. A via de eliminação do vírus é pelas fezes, pois após a infecção, o vírus se replica no epitélio intestinal (CARLTON, 1995). A doença pode se manifestar nas formas efusiva e não-efusiva. A lesão básica das duas formas é uma inflamação piogranulomatosa acompanhada por vasculites e graus variáveis de necrose (JONES, 2000). A forma efusiva (forma úmida) é caracterizada por serosite, acúmulo de líquido na cavidade abdominal e torácica e vários graus de inflamação nos tecidos viscerais. As lesões de forma não-efusiva (seca) incluem, leptomeningite, corioependimite, encefalomielite focal e oftalmite, embora ocorra envolvimento de outros tecidos como: rins, fígados, linfonodos viscerais, intestinos, pulmões, olhos e cérebros (CARLTON,1995;NORSWORTHY,2004). Os sinais clínicos são referíveis aos órgãos acometidos, mas em geral gatos acometidos apresentam perda de peso, inapetência e febre refrataria, frequentemente de 40,5º a 41,1 ºC. São comuns icterícia e mucosas pálidas; essa é uma das causas mais comuns de icterícia em gatos com menos de 2 anos de idade.

Ocorrem distensão abdominal e dispnéia por ocasião da formação de efusões pleurais (NELSON, 2001). O diagnóstico na PIF pode ser difícil por causa da variabilidade das manifestações clínicas e do tempo de incubação (SMITH, 2003), mas, em muitos casos, pode ser feito através da avaliação do histórico, achados clínicos, resultados laboratoriais, título de anticorpos para coronavírus e exclusão de doenças semelhantes (NORSWORTHY, 2004). A avaliação da efusão tem grande importância no diagnóstico presuntivo de PIF (NELSON, 2001), na cavidade abdominal haverá presença de líquido excessivo, frequentemente até 1 litro. O líquido é amarelo, viscoso, e transparente, embora possa conter fibrina. Está presente um exsudato granular branco-acinzentado sobre todas as superfícies serosas, e é especialmente espesso sobre o fígado e o baço (JONES, 2000). No entanto, o diagnóstico definitivo é feito através da necropsia e histopatologia (ETTINGER, 1997). A PIF não é controlada facilmente, requer a eliminação do vírus do ambiente, através de alto padrão de higiene, quarentena, medidas imunoprofiláticas e, principalmente, manejo dos gatinhos filhos de mães soropositivas para coronavírus felino (FCoV), que devem ser desmamados precocemente para interromper a transmissão viral. Uma vacina com vírus vivo modificado protege gatos com títulos baixos ou ausentes para FcoV e, em alguns gatos, a vacina falha provavelmente devido à infecção pré-existente (SMITH, 2003; NORSWORTHY, 2004) O tratamento pode ser realizado como prednisona, ciclofosfamida e outros interferons imunossupressores que proporcionam a resposta temporária quando combinados ao tratamento suporte. O tratamento auxiliar pode ser feito através do fortalecimento nutricional, fluidoterapia e remoção dos líquidos efusivos (NORSWORTHY, 2004).

3. CONCLUSÃO O presente trabalho permite concluir que a peritonite infecciosa felina é uma enfermidade de grande importância, pois é altamente contagiosa entre os felinos, e embora exista tratamento de suporte é uma doença incurável que leva o animal ao óbito. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NORSWORTHY, G. D., CRYSTAL, M. A., GRACE, F. S., TILLEY, L. P. O paciente feline, 2ª Ed, São Paulo, Manole, 2004, p 248 a 252. SHERDING, R. G., BICHARD, M. A. Clínica de pequenos animais, São Paulo, Roca, 1998, p 105-111. NELSON, R. G., COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais, 1ª ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2001, p 371-378. CARLTON, W. W., MCGAVIN, M. D. Patologia veterinária especial de Thomson, 2ª ed., Rio Grande do Sul, Artmed,1995, p 401-402. ETTINGER, J. S., FELDMAN, G. E. Tratado de medicina interna veterinária, 4ª ed., vol. 1, 1997, Manole, São Paulo, p 93. JONES, T. C, HUNT, R. D, KING, N.W. Patologia veterinária, 6ª ed., Manole, 2000, São Paulo, p 362-363.

TILLEY, L. P., SMITH Jr., FRANCIS, W. K. Consulta veterinária em 5 minutos, Manole, Barueri, 2ª ed., 2003, p 696-697.