Tribunal de Contas da União Número do documento: AC-0407-23/01-1 Identidade do documento: Acórdão 407/2001 - Primeira Câmara Ementa: Tomada de Contas Especial. Termo de Cooperação. Ministério da Saúde. Prefeitura Municipal de Apiacá ES. Recurso de reconsideração contra acórdão que julgou as contas irregulares, impondo multa ao responsável, em razão da omissão na prestação de contas. Ausência de fatos novos. Negado provimento. - Desvio de finalidade na aplicação de recursos públicos. Considerações. Grupo/Classe/Colegiado: Grupo II - CLASSE I - 1ª Câmara Processo: 300.178/1995-6 Natureza: Recurso de Reconsideração Entidade: Unidade: Prefeitura de Apiacá/ES Interessados: INTERESSADO: Aladir Chierici Rangel, ex-prefeito Dados materiais: ATA 23/2001 DOU 07/08/2001 INDEXAÇÃO Tomada de Contas Especial; Acordo de Cooperação; MSD; Prefeitura Municipal; Apiacá ES; Recurso de Reconsideração; Aplicação; Multa; Recursos Públicos; Omissão; Prestação de Contas; Desvio de Finalidade; com 2 anexos Unidade Técnica: Secretaria de Recursos - Serur
Sumário: Recurso de Reconsideração. Aplicação de recursos públicos federais, repassados mediante termo de cooperação, em finalidade diversa da pactuada. Conhecimento. Ausência de fatos novos capazes de afastar as irregularidades que motivaram o julgamento das contas. Não-provimento. Manutenção do acórdão recorrido. Comunicação ao responsável. Relatório: Trata-se de Recurso de Reconsideração interposto pelo Sr. Aladir Chierici Rangel, ex-prefeito do Município de Apiacá/ES, que, mediante o Acórdão n.º 228/99 1ª Câmara, teve suas contas julgadas irregulares, com aplicação de multa (fls. 95-96 do volume principal). Ante o recolhimento integral da dívida, a 1ª Câmara deu quitação ao responsável, determinando a inclusão do nome do Sr. Aladir Chierici Rangel em lista específica, para fins de inelegibilidade, e no cadastro de pessoas que tiveram as contas julgadas irregulares (Relação n.º 75/99, Gab. Min. José Antonio Barreto de Macedo, in Ata n.º 36/99, fls. 113 do volume principal). A SERUR manifesta-se pelo conhecimento do Recurso, apresentando posicionamentos divergentes quanto ao mérito. O Analista e o Diretor opinam pelo provimento do recurso (fls. 25-30), ao passo que o Titular da Secretaria entende se deva manter, em seus exatos termos, o Acórdão inquinado (fls. 31-32). O Ministério Público endossa a a manifestação do Secretário de Recursos, tecendo as seguintes considerações: "Rememorando, foi a presente Tomada de Contas Especial instaurada em virtude da omissão no dever de prestar contas dos recursos alusivos ao Termo de Cooperação n.º 269, firmado entre o Ministério da Saúde e a Municipalidade, em 30/11/88, no valor de Cz$ 2.000.000,00, tendo por objeto a reforma da sala de cirurgia do hospital local (fls. 03-04 e 07 do volume principal). De modo a justificar a omissão, o responsável, ao longo da instrução processual, relata a existência de dois convênios (Convênio MINTER n.º 88/GM/1143 e Termo de Cooperação n.º 269/88), no valor de Cz$ 2.000.000,00 cada, e de um único depósito de recursos na conta do Município, mais precisamente na conta n.º 8.561-8, em 21/12/88 (conforme razões de justificativa de fls. 82-83 do volume principal e expediente recursal, à fl. 1 deste volume).
Os recursos atinentes ao Termo de Cooperação n.º 269/88, assevera o Sr. Aladir Chierice Rangel, foram depositados na conta n.º 3.396-0, de titularidade do Hospital José Monteiro ("fundação, com personalidade jurídica própria, sem nenhum vínculo com o Município"). Como elemento de prova, faz o responsável juntar aos autos, além do extrato correspondente, declaração do Banco do Brasil S. A., datada de 08/02/2000 e subscrita pelo Gerente de Contas da Agência Bom Jesus do Itabapoana/RJ, atestando que, desde dezembro/86, a conta de n.º 3.396-0 tem como titular o Hospital José Monteiro (fls. 23). A respeito, não temos como atribuir valor probatório à declaração de fls. 23, originária da mencionada instituição financeira, visto que o extrato bancário de fls. 13, concernente à conta n.º 3.396-0, denota, de forma inequívoca, que a titularidade da conta pertencia ao Município e, mais, que em 18/10/88 foi feito, na referida conta, um crédito exatamente no valor de Cz$ 2.000.000,00, quantia equivalente à do Convênio MINTER 88/GM/1143 e que somente a ele se poderia referir, pois o Termo de Cooperação n.º 269/88 foi celebrado posteriormente, em 30/11/88, vale dizer, cerca de um mês e meio após o referido crédito. Nesse contexto, torna-se frágil a linha de argumentação do responsável. Impende frisar que a documentação acostada ao processo retrata 2 (dois) créditos em favor do Município, no valor unitário de Cz$ 2.000.000,00, tendo o primeiro ocorrido em 18/10/88 (extrato de fls. 13 deste volume, conta n.º 3.396-0, de titularidade da Prefeitura - MINTER) e o segundo, em 21/12/88 (extrato de fls. 30 do volume anexo I, conta n.º 8.561-8, de titularidade da Prefeitura - SAÚDE). Também não se pode olvidar, na análise destas contas especiais, que o Sr. Aladir Chierici Rangel era, segundo noticia a Sr.ª Hilda Bastos de Rezende Figueiredo, Prefeita no período de 1983 a 1988, o contador que, à época dos fatos questionados, prestava assessoria ao Município (fls. 03 e 06 do Volume Anexo I). Aliás, o próprio responsável afirma que, "em fins de 1988, nós éramos o Contador e o Encarregado do Serviço de Fazenda do Governo Municipal..." (fls. 82-83 do volume principal), o que nos leva a crer que o Sr. Aladir Chierici Rangel tinha pleno domínio da execução financeira e orçamentária da Municipalidade, mormente se considerarmos que toda a movimentação bancária estava centralizada numa mesma agência. Destarte, constata-se, no processo em tela, a existência de 2 (dois) repasses e de uma única aplicação, fato que deu causa à restituição, em 22/06/95, com recursos municipais, da importância transferida pelo Ministério da Saúde (DARF às fls. 34 do volume principal).
De ressaltar que, encontrando-se os autos neste Gabinete, determinou o Relator, Exm.º Sr. Ministro Walton Alencar Rodrigues, a juntada de novos elementos de defesa, os quais fizemos anexar à contracapa do processo. Dita documentação não altera as conclusões por nós expendidas. Feitas essas considerações, manifestamos nossa aquiescência à proposição alvitrada pelo Titular da SERUR (fls. 31-32), no sentido de que se conheça do presente Recurso, para, no mérito, negar-lhe provimento, dando-se ciência ao Recorrente da deliberação que sobrevier." É o relatório. Voto: Presentes os requisitos de admissibilidade previstos nas normas legais e regimentais (art. 32 e 33 da Lei 8.443/92 e art. 231 do RI/TCU), conheço do presente Recurso de Reconsideração. Quanto ao mérito, alinho-me ao Secretário de Recursos e ao Ministério Público. A jurisprudência deste Tribunal está consolidada no sentido de considerar grave a aplicação de recursos públicos federais, repassados mediante convênio ou instrumentos similares, em finalidade diversa da pactuada. Para esse casos, o Tribunal tem entendido que o responsável deve ser apenado com multa e ter suas contas julgadas irregulares (Acórdão 17/2000-TCU-Plenário). Diferente é a situação quando se verifica apenas desvio de objeto, ou seja, quando os recursos são aplicados em objeto distinto do pactuado, mas na mesma finalidade. Considerando que os recursos, nessas situações, foram aplicados em metas condizentes com a finalidade maior das avenças, o Tribunal tem entendido que as contas podem ser julgadas regulares com ressalvas. No caso em tela, foram aplicados recursos destinados ao desenvolvimento de atividades básicas de saúde em obras de calçamento de ruas. Está patente que não foram atendidos os objetivos do convênio, quais sejam, atividades voltadas para a melhoria dos serviços de saúde pública. Além do mais, o extrato bancário fls. 13, concernente à conta 3.396-0, denota, de forma inequívoca, que a titularidade da conta, na data do depósito - 18.10.1988 -, pertencia ao Município e não ao Hospital José Monteiro, como pretende o sr. Aladir Chierice Rangel, com a declaração
de fls. 23 do anexo 2, à qual não se pode atribuir valor probatório. O depósito feito nessa conta, no valor de Cz$ 2.000.000,00, somente poderia se referir ao Convênio Minter 88/GM/1143, pois o Termo de Cooperação 269/88-MS foi celebrado posteriormente, em 30.11.1988, cerca de um mês e meio após aquele crédito. A documentação acostada ao processo retrata dois créditos em favor do Município, no valor unitário de Cz$ 2.000.000,00, tendo o primeiro ocorrido em 18.10.1988 - extrato fls. 13 deste anexo, conta 3.396-0, de titularidade da Prefeitura - Minter - e o segundo, em 21.12.1988, extrato fls. 30 do anexo I, conta 8.561-8, de titularidade da Prefeitura - Saúde. Não se confundem esses dois depósitos. Embora os valores depositados tenham sido idênticos, a sua vinculação estava estampada no próprio extrato. Um se referia a recursos recebidos do extinto Ministério do Interior e o outro, a recursos do Ministério da Saúde. Alie-se a isso o fato de o recorrente, segundo noticia a sra. Hilda Bastos de Rezende Figueiredo, prefeita no período de 1983 a 1988, ter sido o contador que, à época dos fatos questionados, prestava assessoria ao Município (fls. 3/6 do anexo I). Essa informação foi confirmada pelo próprio interessado (fls. 82/3 do volume principal). Isso me leva a concluir que o sr. Aladir Chierici Rangel tinha pleno domínio da execução financeira e orçamentária da Municipalidade, principalmente se considerarmos que toda a movimentação bancária estava centralizada numa mesma agência. Assim sendo, acolho os pareceres do Secretário de Recursos e do Ministério Público e Voto por que o Tribunal de Contas da União aprove o Acórdão que ora submeto a esta Primeira Câmara. Sala das Sessões, em 10 de julho de 2001. Walton Alencar Rodrigues Ministro-Relator Assunto: I - Recurso de Reconsideração Relator: WALTON ALENCAR
Representante do Ministério Público: JATIR BATISTA DA CUNHA Acórdão: VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Tomada de Contas Especial instaurada para apurar a responsabilidade de Aladir Chierici Rangel, devido ao desvio de finalidade na aplicação de recursos concedidos à Prefeitura de Apiacá, mediante o Termo de Cooperação 269/88, celebrado entre o Ministério da Saúde e a referida Prefeitura, objetivando o aprimoramento da coordenação e da execução de atividades de desenvolvimento de Serviços Básicos de Saúde. Considerando que, na sessão de 8.6.1999, mediante o Acórdão 228/1999 TCU 1ª Câmara, o Tribunal julgou irregulares as presentes contas e aplicou, ao responsável, a multa prevista no art. 58, I, da Lei 8.443/92, no valor de R$ 1.360,00 (um mil, trezentos e sessenta reais); Considerando que, ciente daquela deliberação, o interessado interpôs Recurso de Reconsideração, mas não apresentou elementos capazes de modificar o acórdão recorrido; Considerando que o recorrente não apresentou elementos capazes de comprovar a aplicação dos recursos na forma alegada; e Considerando o teor da manifestação do Secretário de Recursos e do parecer do Ministério Público junto a este Tribunal, ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão da Primeira Câmara, com fundamento nos artigos 1º, I, 32 e 33 da Lei 8.443/92, em: 8.1. conhecer do Recurso de Reconsideração para, no mérito, negar-lhe provimento; e 8.2. dar conhecimento da presente deliberação ao interessado. Quórum: Ministros presentes: Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça (Presidente), Iram Saraiva, Walton Alencar Rodrigues (Relator) e Guilherme Palmeira. Sessão: T.C.U., Sala de Sessões, em 10 de julho de 2001