A EXPERIÊNCIA PIBIDIANA POR LICENCIANDOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA: CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES Fernando Donizete Alves Universidade Federal de São Carlos Resumo O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) é um programa do Ministério da Educação, gerenciado pela CAPES e tem como finalidade fomentar a inserção dos alunos licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública. A partir de 2010, o curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar ingressou no programa, compondo uma das sub áreas do PIBID/UFSCar. Nessa direção, este estudo teve como objetivo investigar, na perspectiva de licenciandos, qual/quais a/as contribuição/ões do PIBID para a formação inicial de professores. Tratou-se de uma pesquisa de cunho qualitativo que teve como sujeitos participantes cinco estudantes do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de São Carlos, que participaram do PIBID entre os anos de 2010 e 2012. Os dados foram coletados mediante encontros em grupo focal com os participantes da pesquisa, que foram filmados, além de anotações em diário de campo. Todos os cinco estudantes concordaram em participar da pesquisa por meio da assinatura termo de consentimento livre e esclarecido. Como resultados, percebeu-se que o PIBID corroborou com a formação inicial dos licenciandos, desvelando aprendizados significativos em relação a profissão docente a partir do confronto com a escola real: o convívio com os alunos, com os professores, gestores; a parceria realizada entre professor e licenciando no planejamento e execução das atividades; o conhecimento do funcionamento da escola; poder pensar a teoria aprendida na universidade articulada com a prática possibilitada pela experiência no PIBID, podendo assim confrontá-la com a realidade e recriá-la. De modo geral, para os estudantes participantes dessa pesquisa, a participação no PIBID os aproximou do ambiente escolar e, consequentemente da escola real. Desse modo, podemos considerar que o programa mostrou-se importante espaço de aprendizagem da docência e de fortalecimento da formação inicial de professores. Palavras-chave: Educação Física. Formação de Professores. PIBID. Introdução O processo de formar um educador deve assumir um papel para além da simples transmissão de conhecimentos. Os cursos de formação, na maioria das vezes, trabalham sem ampliação ou solidificação dos conteúdos, ou dão atenção exclusivamente a conteúdos que o estudante deve aprender sem considerar sua relevância e a sua relação com os conteúdos que ele deverá ensinar nas diferentes etapas da educação básica (OLIVEIRA, 2006). O distanciamento dos cursos de formação inicial em relação à escola real e as demandas reais da profissão docente é uma problemática recorrente nas discussões que tomam forma na Universidade seja no âmbito do ensino ou da pesquisa. Os cursos de formação inicial, muitas vezes, abordam uma escola ideal, com alunos ideias, com 00515
2 materiais ideias, distantes da realidade que o futuro professor irá enfrentar na escola real. Com a proposta de colaborar com o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica, o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), programa do Ministério da Educação (MEC) e gerenciado pela CAPES, possibilita essa aproximação do estudante da licenciatura com o cotidiano de escolas da rede pública de educação proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes. Consequentemente, contribuir para a necessária articulação entre teoria e prática, fundamental à formação de professores. A partir de 2010, o curso de Licenciatura em Educação Física da UFSCar ingressou no programa, compondo uma das sub áreas do PIBID/UFSCar (iniciado em 2009). Nessa direção, este estudo teve como objetivo investigar na perspectiva de licenciandos, qual/quais a/as contribuição/ões do PIBID para a formação inicial de professores. Procedimentos Metodológicos Tratou-se de um estudo na abordagem qualitativa que teve como sujeitos participantes cinco estudantes do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), bolsistas do PIBID entre os anos de 2010 e 2012. Os dados foram coletados mediante encontros em grupo focal com os participantes da pesquisa (GATTI, 2005). Foram realizados dois encontros com duração média de trinta minutos em que os participantes trocaram entre si ideias, experiências, motivações e decepções sobre a atuação no PIBID e de que maneira essas questões contribuíram para sua formação como professores de Educação Física. Os encontros foram realizados em uma sala de aula, na Instituição em que eram estudantes da graduação e, foram gravados com a ajuda de uma câmera filmadora além de anotações feitas pelos pesquisadores em diário de campo. Os encontros em grupos focais foram realizados em horários, datas e locais pré-definidos em acordo com os participantes. Os nomes atribuídos aos estudantes participantes são fictícios. Todos aos participantes concordaram colaborar com a pesquisa mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram analisados a partir da perspectiva da análise de conteúdo (BARDIN, 1977). 00516
3 Contribuições do PIBID à formação de professores: a perspectiva dos licenciandos O relato dos licenciandos participantes da pesquisa indica que a experiência no PIBID foi muito significativa na medida em que possibilitou o contato e vivência com diferentes situações do cotidiano escolar. Experiências que consideram importantes para a formação inicial e, consequentemente, para a futura atual profissional, como por exemplo, a compreensão da rotina escolar (funcionamento da escola), regras de convívio, a ação de planejar e seus limites e possibilidades, a relação teoria e prática. Segundo a licencianda Beatriz, você vai entrando aos pouquinhos, entendendo aos pouquinhos como funciona a escola. A escola, como qualquer outra instituição social, desenvolve e reproduz sua própria cultura (PEREZ GÓMEZ, 2001). Cultura escolar essa que se referiu a estudante Beatriz e que, aos poucos, os/as estudantes que participam do PIBID foram conhecendo e que ela julgou fundamental na formação inicial. Inclusive o reconhecimento de que cada escola apresenta uma cultura própria, particular. [...] o PIBID proporciona um contato muito mais íntimo com a escola nessa questão de você ter que [...] você mantém contato direto toda hora com assim com coordenação, com outros professores, com direção, com a comunidade ali da escola, com as merendeiras. No estágio a gente não conhece a escola por dentro, a gente só conhece dentro da sala de aula e ai o PIBID possibilita que você conheça dentro da sala de aula e a escola nos bastidores. (Beatriz) Segundo Imbernón (2001), o conhecimento profissional é dinâmico e se desenvolve ao longo da carreira profissional, em diversos momentos, entre os quais a etapa da formação inicial em que o/a estudante possa conhecer todos os aspectos da profissão docente, promovendo as primeiras eventuais mudanças na forma de o futuro professor encarar atitudes, valores e funções da docência. Para os licenciandos, o PIBID possibilitou-lhes conhecer a realidade da escola básica numa relação muito próxima ao que Huberman (1993) nomeia por choque de realidade na medida em que puderem vivenciar o cotidiano das escolas nas suas diferentes facetas e por um longo período de tempo. Puderam, portanto, tomar contato com a complexidade e a imprevisibilidade que caracterizam a sala de aula, com a dificuldade em combinar ensino e gestão da sala de aula, com a falta de materiais didáticos, com as regras de convívio entre os atores/atrizes que dão vida à escola, etc (NONO, 2011). Umas das experiências que foram positivas para mim foi o simples convívio com os alunos, você conhecer cada um assim, aprender as lições do dia a dia, 00517
4 por exemplo, você às vezes prepara alguma coisa para dar uma aula para os alunos e chega no dia é completamente diferente, mas ai você dá a volta por cima e acaba fazendo uma coisa que não tinha planejado. É, acho que isso para gente que tá estudando Educação Física e pretende dar aula, isso serve para enriquecer a gente como profissional. (Ana) Outro aspecto interessante do PIBID e que contribui para a formação é o apoio do professor que os recebe na escola (Professor Supervisor). Alguns licenciandos apontaram como importante o apoio desse professor supervisor para o planejamento das ações, para o conhecimento das turmas e do funcionamento da escola, o que, em alguma medida, possibilita a incorporação à formação inicial dos saberes da prática, relativos não só ao mundo do trabalho do professor, mas também ao mundo das experiências de cada professor, como aponta Candau (1988). Os licenciandos também apontaram para o distanciamento entre a teoria e a prática. A inserção na realidade escolar possibilitada pelo PIBID aos estudantes em formação inicial os levou a questionar seus conhecimentos sobre a escola e a profissão docente. A consciência de que as teorias precisam ser modificadas pela prática, pois dessa maneira permitem que o prático seja autor de sua prática e não mero reprodutor do que foi pensado por outros. A prática precisa ser pensante, ou seja, reflexiva (CAPARROZ E BRACHT, 2007). Na teoria é tudo muito lindo, mas na hora que você chega lá na prática tem muita coisa diferente talvez por não estar sabendo fazer essa prática sei lá, mas eu acho que tem muitas coisas que as teorias pregam e na prática às vezes não dá pra ser bem aquilo.(daniel) Na teoria é tudo ideal, a escola ideal, o aluno ideal, o material ideal e a gente que já tem um contato maior sabe que não é bem assim, então não que você vai desprezar a teoria, você vai pegar aquilo que você acha mais importante e tentar encaixar dentro da escola da forma que você acha que dá certo. (Beatriz) Desta maneira, é fundamental que se desenvolva uma visão de unidade, em que a teoria deixa de ser um conjunto de regras, normas e conhecimentos sistematizados e passa a ser formulada a partir de necessidades concretas da realidade educacional sendo imprescindível que durante tal processo haja contato com tal realidade (CANDAU; LELIS, 1991, p. 59). Considerações Finais Em linhas gerais, as situações que os licenciandos consideraram mais importantes para sua formação foram: o convívio com os alunos, com os professores, gestores; a parceria realizada entre professor e licenciando no planejamento e execução das atividades; o conhecimento do funcionamento da escola; poder pensar a teoria aprendida 00518
5 na universidade articulada com a prática possibilitada pela experiência no PIBID, podendo assim confrontá-la com a realidade e recriá-la. De modo geral, para os licenciandos participantes dessa pesquisa, a participação no PIBID os aproximou do ambiente escolar e, consequentemente da escola real. Desse modo, podemos considerar que o programa mostrou-se importante espaço de aprendizagem da docência e de fortalecimento dos cursos formação inicial de professores. Referências Bibliográficas BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BRASIL, Pibid - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/educacao-basica/capespibid> Acesso em: 28 set. 2012 CANDAU, V.M.F. Rumo a uma Nova Didática. Petrópolis: Vozes, 1988. CANDAU, V. M.; LELIS, I. A. O. M. A relação teoria-prática na formação do educador. In: CANDAU, V. M. (Org). Rumo a uma nova didática, 4 ed., Petrópolis: Vozes, 1991, p.49-63. CAPARROZ, F. E; BRACHT, V. O tempo e o lugar de uma didática em Edu cação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 28, n. 2, p. 21-37, jan. 2007. GATTI, B. A. Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e humanas. Brasília: Líber Livro, 2005. HUBERMAN, M. The lives of teachers. New York: Teachers College Press, Columbia University, 1993. IMBERNÓN, F. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2001. NONO, M. A. Professores iniciantes: o papel da escola em sua formação. Porto Alegre: Mediação, 2011. OLIVEIRA, A. A. B. de. A formação profissional em Educação Física: legislação, limites e possibilidades. In: SOUZA NETO, S; HUNGER, D. (Orgs). Formação Profissional em Educação Física: Estudos e Pesquisas. Rio Claro: Biblioética, 2006. P. 43-57. PÉREZ GOMEZ, A. A cultura escolar na sociedade neoliberal. Porto Alegre: Artmed, 2001. 00519