ABC das Finanças. Aprendizagem Rápida e Fácil em Finanças. José Carlos Lucentini. Novatec



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Transcrição:

ABC das Finanças Aprendizagem Rápida e Fácil em Finanças José Carlos Lucentini Novatec

Capítulo 1 Constituição do balanço patrimonial A distância não é o mais importante, mas o primeiro passo a ser dado. (Provérbio chinês) Neste capítulo, introduziremos a visão contábil, elaborando um balanço patrimonial. Será inserida uma pequena história, agregando respectivos conceitos contábeis e exercícios práticos. 1.1 História para introdução do balanço patrimonial Antes de abordamos em aspectos da formação do balanço, é importante entender um pouco desta pequena história. Beatriz formou-se em Odontologia e seu pai, como incentivo ao seu início de carreira, deu-lhe R$ 120.000. Assim sendo, abriu uma conta corrente para ela e efetuou o referido depósito bancário. Primeiramente, ela adquiriu uma sala em um prédio comercial por R$ 40.000 e deu uma entrada de R$ 20.000 e o restante em 20 parcelas de R$ 1.000, fixas e irreajustáveis. Assim, em sua conta bancária sobraram R$ 100.000. 23

24 ABC das Finanças Em seguida, adquiriu todo o equipamento dentário pagando-o à vista, R$ 30.000. Efetuou mais algumas benfeitorias físicas no imóvel, totalizando R$ 5.000. Adquiriu computador, impressora, sistema de controle, mesa para secretaria, pagando R$ 10.000 à vista, logo sobrou em sua conta corrente R$ 55.000. O seu cunhado estava necessitando de um empréstimo, concedido por Beatriz, no valor R$ 10.000, sem juros, pagáveis em 6 meses. Finalmente, para iniciar suas atividades, houve necessidade de compra de material de consumo (anestésico, agulha, resinas etc.), no total de R$ 3.000 para pagar em 30 dias. Adquiriu um veículo para sua locomoção ao trabalho, no valor de R$ 25.000, sendo R$ 10.000 de entrada e 10 parcelas de R$ 1.500. Ela aplicou em fundo de renda fixa R$ 26.000, sobrando em sua conta corrente R$ 9.000. Diante desta pequena história, pergunta-se qual o patrimônio da dra. Beatriz? 1.1.1 Explicação Como podemos observar, houve uma quantia inicial de R$ 120.000 e, a partir dela, a dra. Beatriz pôde iniciar a sua vida profissional, adquiriu bens, auferiu direitos e contraiu obrigações perante terceiros. Considerando que: Ativo São todos os bens e direitos em nome de uma pessoa física ou jurídica. Podemos indicar que a dra. Beatriz possui: Bens Tudo aquilo que é tangível: tem corpo ou matéria e é possível de tocar. No exemplo citado, temos como bens: sala comercial, equipamento dentário, benfeitorias, computador, impressora, mesa, veículo e sistema de controle. Direitos O empréstimo efetuado ao cunhado, o dinheiro de posse do banco (aplicação e conta corrente). São direitos, pois estão sob posse de terceiros, em nome da dra. Beatriz. Passivo São as obrigações da dra. Beatriz a curto prazo (vencíveis até 1 ano) e a longo prazo (vencíveis após 1 ano).

Capítulo 1 Constituição do balanço patrimonial 25 Outros aspectos para elucidação dos atos e fatos contábeis: Quando ela adquiriu o imóvel, por exemplo, passou a ter um bem de R$ 40.000, mas obrigações pelo que ainda não foi pago de R$ 20.000, sendo R$ 12.000 a curto prazo (até 1 ano) e R$ 8.000 a longo prazo (após 1 ano). A base de registro em seu patrimônio é sempre desta forma, tendo como referência o contrato assinado pela transmissão da posse (R$ 40.000) e o da obrigação (R$ 20.000). Quanto ao veículo: R$ 25.000 o valor do bem e R$ 15.000 as obrigações a serem pagas e quitadas em até 10 meses. Do patrimônio de uma pessoa física ou jurídica, extraímos o que denominamos patrimônio líquido, que corresponde à soma de todos os ativos menos o total dos passivos: Patrimônio líquido = Ativo Passivo Ou ainda: Patrimônio líquido = Bens + Direitos Obrigações O patrimônio de uma pessoa física ou jurídica aumenta ou diminui caso ela aufira mais rendimentos do que despesas (pessoa física), ou aufira lucro em suas operações (pessoa jurídica), o que veremos no Capítulo 2. O que observaremos é que houve uma série de mudanças, alterações (ou mutações) na situação patrimonial da dra. Beatriz, pois ela está iniciando o seu empreendimento. Neste momento, em uma determinada data, houve uma fotografia dos seus bens, direitos e obrigações e, por conseguinte, do seu patrimônio. No dia seguinte à formação do balanço, no momento em que ela atender pacientes, adquirir matérias-primas, pagar o salário da secretária etc., haverá a mudança da situação patrimonial, o que é denominado going concern, ou

26 ABC das Finanças seja, a empresa está em movimento, contraindo bens, direitos, obrigações, receitas e despesas. O balanço patrimonial da dra. Beatriz é mostrado na Tabela 1.1: Tabela 1.1 Balanço patrimonial inicial Ativo (bens e direitos) R$ Passivo (obrigações) R$ Bens Obrigações Sala comercial 40.000 Dívida da sala comercial 20.000 Equipamento dentário 30.000 Benfeitorias 5.000 Ativos diversos 10.000 Estoque de matéria-prima 3.000 Fornecedores de matéria-prima 3.000 Veículo 25.000 Dívida do veículo 15.000 Subtotal de bens 113.000 Subtotal das obrigações 38.000 Direitos Patrimônio líquido Empréstimo ao cunhado 10.000 Capital inicial (dinheiro do pai) 120.000 Dinheiro aplicado 26.000 Dinheiro em conta corrente 9.000 Subtotal de direitos 45.000 Subtotal do patrimônio líquido 120.000 Total do ativo 158.000 Total do passivo + patrimônio líquido 158.000 Patrimônio é o conjunto de bens, direitos e obrigações colocados à disposição da dra. Beatriz com a finalidade de atingir o seu objetivo empresarial. O patrimônio irá alterar-se pela obtenção de lucros ou prejuízos decorrente das operações no seu consultório, o que será apresentado pela demonstração de resultados (DRE). Se a empresa obtém lucros, o patrimônio líquido aumenta e também os ativos. Em caso de prejuízos, diminui o patrimônio líquido aumentando os passivos (aumento das dívidas). A seguir, estaremos demonstrando a formação do balanço patrimonial para as empresas, a qual não foge desta visão simplificada. Evidentemente que as operações realizadas pelas empresas são mais complexas, todavia o espírito de compreensão é o mesmo.

Capítulo 1 Constituição do balanço patrimonial 27 1.2 Balanço patrimonial em face da lei das sociedades anônimas (6.404/76) De acordo com a Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6.404/76), apesar das alterações ocorridas no decorrer destes anos, não mudou a forma de apresentação dos demonstrativos contábeis. Assim sendo, as empresas de capital aberto são obrigadas a demonstrar sua realidade financeira e patrimonial, por meio de quatro relatórios: balanço patrimonial; demonstrativo de resultados do exercício (DRE); demonstração de lucros e prejuízos acumulados, podendo ser substituída pela demonstração das mutações do patrimônio líquido; demonstrativo de origens e aplicações de recursos; adicionalmente, as notas explicativas e relatório de empresa de auditoria independente fazem parte do escopo de apresentação das demonstrações financeiras. Iremos, primeiramente, apresentar o balanço patrimonial e em seguida, no Capítulo 2, o demonstrativo de resultados de exercício (DRE). 1.2.1 Balanço patrimonial Corresponde a um relatório que demonstra a fotografia econômica e financeira em um determinado momento. Em virtude de as operações da empresa terem movimentação e mutação constantes, no primeiro dia subseqüente a sua apuração, o balanço patrimonial se modifica, pois a dinâmica da empresa faz que a massa patrimonial esteja em movimento constante. A sua formação é composta pelo ativo, localizado à esquerda no balanço patrimonial e o passivo, à direita. 1.2.1.1 Ativo Representa os bens e diretos de propriedade da empresa, com valor monetário definido e que venha trazer benefícios presentes ou futuros. Para ser considerado como ativo é necessário preencher quatro requisitos simultaneamente:

28 ABC das Finanças 1. Bem ou direito Dinheiro em poder da empresa, duplicatas a receber, estoques de matérias-primas, produtos em elaboração, produtos acabados, móveis e utensílios, máquinas, equipamentos, imóveis, instalações etc. Bem Tudo aquilo que pode ser tocado, tem corpo ou matéria, sendo denominado de tangível. Exemplos: dinheiro em poder da empresa, estoques, máquinas, imóveis, equipamentos, instalações. Há, ainda, o grupo de intangíveis ou incorpóreos, que não tem corpo nem matéria, tais como: ponto comercial, marca e patente. Direitos Correspondem aos nossos bens que estão em posse de terceiros. Exemplos: conta corrente bancária, aplicações financeiras, duplicatas a receber, empréstimos concedidos. 2. Ser de propriedade da empresa Todo bem ou direito deve ser de propriedade da empresa, ou seja, deve possuir documento comprobatório de aquisição, ou direito em relação a terceiros. Exemplos de documentos: nota fiscal, contrato, extrato bancário. Bens ou direitos de proprietários ou sócios não podem ser misturados à contabilidade da empresa e vice-versa. 3. Mensurável monetariamente Todo e qualquer item registrado na contabilidade deve ser mensurado, possuir um valor de aquisição ou transação, tendo como base um documento comprobatório. 4. Benefícios presentes ou futuros Todo e qualquer item registrado no ativo deverá trazer benefícios para a entidade. As máquinas da área de produção elaboram os produtos, transformados em duplicatas a receber e, posteriormente, em caixa. Portanto, itens que não trarão benefícios devem ser excluídos, tais como: duplicata a receber de empresa falida, veículo roubado ou acidentado (nesses casos, somente o valor residual a receber do seguro é que deve permanecer registrado).

Capítulo 1 Constituição do balanço patrimonial 29 1.2.1.2 Passivo e o patrimônio líquido Estes grupos de contas demonstram todas as obrigações da empresa perante terceiros (passivo) e com relação aos proprietários (patrimônio líquido). Desta forma, o passivo e o patrimônio líquido são obrigações da empresa pelas seguintes razões: Passivo Representa obrigações exigíveis (reclamáveis) por terceiros, sendo conhecida como capital de terceiros. Divide-se em obrigações a curto prazo, que deverão ser pagas ou quitadas em um prazo de até 1 ano a partir da data de elaboração do balanço, e as relativas a longo prazo, cujos prazos de vencimentos são acima de 1 ano. Patrimônio líquido Obrigações com proprietários da empresa. Todavia: Proprietário/sócio Não pode reclamar a restituição do dinheiro investido; por isso é conhecido como não exigível e/ou inexigível. Capital próprio Proprietário/sócio só tem o dinheiro de volta no encerramento da empresa, ou no momento de sua retirada da sociedade. 1.2.2 Exceções que o balanço patrimonial não demonstra Há algumas exceções as quais o analista deve estar atento que não são devidamente registradas no balanço patrimonial. Citamos alguns exemplos: Marca e patente O valor registrado na contabilidade corresponde ao efetivamente despendido para a obtenção perante os órgãos oficiais. Não há nenhum registro do valor da marca, pois é muito difícil avaliá-la monetariamente. Leasing ou arrendamento mercantil O valor das parcelas pagas é considerado como despesa, apesar de a máquina, veículo ou equipamento estar sob posse e na empresa. Há que se ressaltar que a contabilidade de países como Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, considera o equipamento como ativo permanente, tendo como contrapartida as parcelas do leasing a serem pagas como obrigação no passivo, e o montante dos juros pagos em cada parcela são as despesas financeiras.

30 ABC das Finanças 1.2.3 Equação contábil básica O balanço patrimonial demonstra as origens dos recursos obtidos pela empresa e a sua fonte de aplicação de recursos. Toda entrada de recursos é efetuada pelo patrimônio líquido (capital próprio, dos proprietários, dos acionistas) e pelo passivo exigível a curto e a longo prazo (capital de terceiros). Assim sendo, este lado direito do balanço corresponde à origem dos recursos ou, ainda, a fontes de financiamento. Os recursos obtidos são aplicados no lado esquerdo do balanço, ou seja, no ativo, o que denominamos de investimentos. Por exemplo, os acionistas efetuam um aumento de capital (origem) para aquisição de um novo equipamento de produção (aplicação), ou, ainda, obtêm um empréstimo a longo prazo (passivo exigível a longo prazo, origem), para robotizar a área industrial (ativo permanente, aplicação). Portanto, o ativo será sempre igual à soma do passivo exigível a curto e longo prazo, mais o patrimônio líquido: Ativo = Passivo + Patrimônio líquido Ou ainda: Patrimônio líquido = Ativo Passivo 1.2.4 Composição do balanço patrimonial O termo balanço significa equilíbrio, sendo um objeto a ser administrado pela empresa para cumprimento de seus objetivos. A sua gestão deve proporcionar que as operações sejam realizadas de forma equilibrada e coerente, caso contrário a entidade poderá estar fadada ao insucesso. Uma empresa pode ter um excelente lucro, todavia, se faz investimentos em excesso, incompatíveis com a geração de recursos, portanto, sem equilíbrio, poderá não ter liquidez para quitar suas obrigações.

Capítulo 1 Constituição do balanço patrimonial 31 Ele apresenta a situação econômica e financeira da empresa, representada em moeda. O balanço patrimonial e suas principais características são apresentados na Tabela 1.2. Tabela 1.2 Balanço patrimonial Ativo (lado esquerdo) Passivo (lado direito) Bens e direitos Bens: máquinas, terrenos, estoques, dinheiro (moeda), ferramentas, veículos etc. Divide-se em: a) Tangíveis (tem corpo, matéria). b) Intangíveis (incorpóreo): marca, ponto comercial. Direitos: contas a receber, duplicatas a receber. Passivo + patrimônio líquido Obrigações: são exigíveis no momento em que a dívida vencer e será reclamada a sua liquidação. Exigível: Evidencia toda obrigação (dívida) com terceiros contas a pagar, fornecedores de matérias-primas, impostos a pagar, financiamentos, empréstimos, salários/encargos a pagar etc. Patrimônio líquido: recursos dos proprietários aplicados no empreendimento Capital inicial Reservas Lucros (apurados na demonstração de resultados) Toda e qualquer pessoa física ou jurídica possui uma capacidade máxima de investimento. Podemos nos perguntar qual é o principal alicerce para a construção do balanço, o qual afirmamos: O balanço leva em consideração a sua realização em recursos financeiros, transformando-se em disponibilidades (caixa ou bancos), ou seja, demonstra as operações pelo grau de liquidez decrescente. A composição dos grupos de balanço é apresentada na Tabela 1.3. Tabela 1.3 Composição dos grupos do balanço patrimonial Ativo Circulante Itens que são dinheiro ou serão transformados em dinheiro rápido (curto prazo) em até 1 ano da data do balanço. Realizável a longo prazo Recebe mais lentamente (após um ano da data do balanço). Permanente Não se vende, não se recebe, pois é para uso da empresa, para atingir objetivos de produção, venda etc. Divide-se em três subgrupos: Investimentos Investimento de caráter permanente. Não é necessária a atividade da empresa. Imobilizado De natureza permanente. Utilizado na manutenção da empresa. Diferido São aplicações que beneficiarão resultados de exercícios futuros. Passivo Circulante Itens que serão pagos rapidamente (curto prazo) ou em até 1 ano da data do balanço. Exigível a longo prazo Paga-se mais lentamente (após 1 ano da data do balanço). Patrimônio líquido Correspondente aos recursos dos proprietários aplicados na empresa. Divide-se em três subgrupos: Capital Dinheiro aplicado na empresa. Reservas Constituídas para fazer frente a contingências futuras, doações, originárias em sua maioria de parte dos lucros. Lucros Apurados na demonstração de resultados (DRE).

32 ABC das Finanças 1.2.4.1 Ativo e passivo circulantes Conforme observamos na Tabela 1.3, o ativo circulante possui mais liquidez que o ativo realizável a longo prazo, e este, sobre o ativo permanente que não possui nenhuma liquidez. Dentro do ativo circulante, também há uma ordem de liquidez decrescente, conforme demonstra a Tabela 1.4. O Balanço Patrimonial tem o seguinte padrão: Tabela 1.4 Ativo e passivo circulante Ativo circulante Curto prazo em até 1 ano da data do balanço Caixas e bancos (já são líquidos) Duplicatas a receber Estoque de produtos acabados Estoque de produtos em elaboração Matérias-primas Outros valores a receber Despesas antecipadas Passivo circulante Fornecedores Salários e encargos sociais Impostos, taxas e contribuições Empréstimos bancários a curto prazo Dividendos a pagar Podemos observar que há uma relação direta entre o grau de liquidez decrescente e o ciclo operacional da empresa. Primeiramente, adquire-se a matéria-prima, portanto, dentre todos os itens do ciclo operacional, é a que está mais distante em ser transformada em disponível ou caixa. A matéria-prima vai para a produção e transforma-se em produto em elaboração, estando este mais próximo de sua transformação em disponível ou caixa. Como produto acabado, fica à disposição para a área comercial vendê-lo. Normalmente, o produto acabado é transferido acrescido de uma margem de lucro e impostos para a conta duplicatas a receber ou clientes a receber, sendo esta a última fase antes da transformação em disponível ou caixa. Por último, com o recebimento do cliente, ele transforma-se em disponível ou caixa. Por conseguinte, ao observarmos um balanço patrimonial, devemos ter o cuidado em avaliar os montantes que a empresa tem aplicado nos estoques e em contas a receber. Quanto maiores os valores e o ciclo operacional da

Capítulo 1 Constituição do balanço patrimonial 33 empresa, mais tempo o recurso demorará para ser transformado em disponível (caixa e bancos). Nos capítulos subseqüentes, desenvolveremos aspectos relativos ao ciclo operacional ou econômico e financeiro. Assim, ao verificarmos que à medida que os prazos de recebimento ou transformação do circulante em disponível forem superiores aos prazos de pagamento das obrigações, a empresa necessitará financiá-los com recursos próprios ou de terceiros. Com relação ao passivo circulante, temos a mesma relação. Normalmente, o fornecedor é que causa um desembolso mais rápido, em seguida os salários (pagos ao final do mês ou início do mês subseqüente), e assim sucessivamente. Todavia, caso haja uma situação distinta, como, por exemplo, um empréstimo a ser pago no segundo dia subseqüente à apuração do balanço, tecnicamente, ele é que deveria estar encabeçando o passivo circulante. Despesas antecipadas, também conhecidas como despesas de exercício seguinte, são aquelas que tendo sido pagas referem-se ao período subseqüente, em razão do regime de competência, como, por exemplo, pagamento antecipado de prêmio de seguro que, normalmente, tem vigência pelo período de 1 ano. Esses valores são registrados de acordo com a lei no ativo circulante e transferidos para despesas no exercício seguinte. 1.2.4.2 Realizável a longo prazo e exigível a longo prazo O grupo de contas de longo prazo (ativo e passivo), demonstrado na Tabela 1.5, apresenta uma possibilidade de transformação em disponível muito menor que a do grupo do circulante. Tabela 1.5 Realizável e exigível a longo prazo Realizável a longo prazo Duplicatas a receber Depósitos judiciais e recursais Prazo para recebimento acima de 1 ano Exigível a longo prazo Empréstimo obtido no BNDES Fornecedores Prazo para pagamento acima de 1 ano

34 ABC das Finanças São exemplos de depósitos judiciais ou recursais: reclamações trabalhistas em que o judiciário decida que a empresa realize um depósito como garantia até a finalização do processo, depósitos realizados pela empresa em discussão com o fisco (PIS, Cofins, imposto de renda, ICMS etc.). No exigível a longo prazo são classificadas todas as obrigações que serão pagas em período superior a 1 ano da data de emissão do balanço, como, por exemplo, empréstimos, duplicatas a pagar, impostos etc. Evidentemente que um empréstimo com parcelas vencíveis em 5 anos deverá ter aquelas do primeiro ano registradas no passivo circulante e as demais, relativas a 4 anos, no exigível a longo prazo. Há uma exceção estabelecida pela lei: todas as operações de empréstimos e contratos de mútuo realizados entre empresas de um mesmo grupo econômico devem ser classificadas no realizável a longo prazo (pela empresa que empresta) e no exigível a longo prazo (pela empresa que toma emprestado). 1.2.4.3. Ativo permanente e patrimônio líquido Por último, na Tabela 1.6, constam os grupos que representam forte imobilização de recursos (ativo permanente) e a composição do patrimônio dos proprietários. Tabela 1.6 Ativo permanente e patrimônio líquido Permanente Investimentos em outras empresas Imobilizado Imóveis Máquinas e equipamentos Móveis e utensílios Veículos (-) Depreciação acumulada Diferido Despesa de reestruturação e organização operacional (-) Amortização acumulada Patrimônio Líquido Capital: dinheiro aplicado na empresa pelos proprietários Reserva: tem origem nos lucros obtidos; são proteções contra eventos futuros previstos ou não Legal Estatuária Contingências Lucros Resultados Resultados acumulados (-) Dividendos a distribuir

Capítulo 1 Constituição do balanço patrimonial 35 Investimento em outras empresas Corresponde à participação de nossa empresa no capital de outras sociedades. Este grupo normalmente não é necessário ao funcionamento da empresa e o recurso está "imobilizado ou fora do giro da empresa". Imobilizado Este é o grupo mais importante. Aqui são registrados todos os itens que movimentarão a empresa e cuidarão da produção, comercialização, gestão e entrega dos produtos. Freqüentemente, este é o grupo que recebe maior aporte de investimentos. Diferido São agrupadas neste grupo de contas as despesas que serão apropriadas na formação de resultados de diversos exercícios. Incluem-se as despesas gerais de organização e abertura e reorganização societária, despesas gerais de planos de investimento e lançamento de produtos, quando amortizáveis, e juros pagos durante o período de organização. Capital, ou capital social, ou capital integralizado Indica o valor do capital pelo qual os sócios se obrigam no ato da assinatura do contrato social ou os acionistas, no ato de subscrição de ações. Reservas São montantes extraídos após a apuração do lucro líquido da sociedade que têm por objetivo garantir o capital próprio em giro, proteções contra eventos futuros conhecidos e/ou previstos e lastrear investimentos futuros. São parte integrante do capital próprio da empresa. Resumo Neste capítulo, tivemos oportunidade de desenvolver a composição do balanço patrimonial, os princípios que regem sua formação e realização. Tratamos de aspectos voltados à contabilidade. Nos capítulos subseqüentes demonstraremos que a falta de sincronização entre os prazos de recebimento e os prazos de pagamento proporciona uma visão distinta entre o contador e tesoureiro.