Crescimento Econômico, Progresso Técnico e Distribuição de Renda : uma abordagem pluralista



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Transcrição:

Caítulo 7 O Modelo de Crescimento Harrod-Domar e seus desdobramentos. 7.1 Introdução. A abordagem ós-keynesiana ara o crescimento e distribuição de renda tem sua origem com as contribuições seminais de Harrod (1939) e Domar (1946), as quais são uma tentativa de extensão ara o longo-razo dos resultados obtidos or John Maynard Keynes em sua Teoria Geral do Emrego, do Juro e da Moeda. Como é bem sabido, Keynes anuncia o rincíio da demanda efetiva segundo o qual a renda seria a variável de ajuste entre as decisões de ouança e investimento (cf. Amadeo, 1989) num contexto em que o estoque dos diferentes tios de bens de caital é dado (cf. Keynes, 1936,.37). Coube a Horrod e a Domar demonstrar a ossibilidade de ocorrência de uma situação semelhante ao equilíbrio com desemrego de Keynes em um contexto no qual o estoque de caital estivesse crescendo de forma contínua ao longo do temo. O resultado fundamental do modelo Harrod-Domar é que a obtenção de uma trajetória de crescimento estável com leno-emrego da força de trabalho é ossível, mas altamente imrovável. Dessa forma, as economias caitalistas deverão, via de regra, aresentar um crescimento irregular alternando eríodos de crescimento acelerado com eríodos de queda acentuada do nível de atividade econômica e desemrego elevado. A incomatibilidade desse resultado com a exeriência histórica das economias caitalistas desenvolvidas no eríodo 1950-1973 levou autores ós-keynesianos como, or exemlo, Nickolas Kaldor e Luigi Pasinetti a desenvolverem modelos em que a trajetória de crescimento de longo-razo fosse estável e caracterizada elo leno-emrego da força de trabalho. Para tanto foi necessário o desenvolvimento de uma nova teoria da distribuição funcional da renda, na qual a articiação dos salários e dos lucros na renda assa a ser a variável de ajuste entre as decisões de ouança e de investimento. A imortância dessa nova teoria da distribuição de renda foi estabelecer um segundo mecanismo elo qual o 1

investimento ode determinar a ouança ao invés de ser determinado ela mesma. Com efeito, Keynes havia mostrado na Teoria Geral que um aumento exógeno do investimento iria gerar um aumento equivalente da ouança através do efeito do multilicador. Kaldor e Pasinetti, or sua vez, mostraram que uma variação do investimento irá gerar semre numa economia fechada e sem governo uma variação equivalente na ouança devido aos efeitos daquela variação sobre a distribuição da renda entre salários e lucros. A extensão do aradoxo da arcimônia 1 ara o longo-razo foi feito or Joan Robinson (1962). No modelo de crescimento de Robinson um aumento da roensão a ouar irá resultar numa redução da articiação dos lucros na renda e, dado o grau de utilização da caacidade rodutiva, numa redução da taxa de lucro. Suondo que o investimento deende diretamente da taxa de lucro, segue-se que como resultado do aumento da roensão a ouar haverá uma redução da taxa de investimento. Daqui se segue que, no longo-razo, um aumento da roensão a ouar será seguido or uma redução da taxa de investimento e da rória taxa de ouança. Isso osto, o resente caítulo está estruturado da seguinte forma. A seção 7.2 está dedicada a aresentação do modelo Harrod-Domar. Na seção 7.3 aresentamos a reformulação do modelo Harrod-Domar roosta or Kaldor (1956) e Pasinetti (1961-62). A seção 7.4 aresenta o modelo de crescimento de Robinson (1962). A seção 7.5 faz uma breve recaitulação das conclusões obtidas ao longo deste caítulo. As questões ara a discussão estão aresentadas na seção 7.6. 1 O assim chamado aradoxo da arcimônia foi estabelecido or Keynes na Teoria Geral. Esse aradoxo está relacionado com os efeitos macroeconômicos de um aumento da fração da renda que os indivíduos desejam ouar. A idéia do aradoxo é a seguinte. Um indivíduo tomado isoladamente ode aumentar a sua ouança se decidir aumentar a fração ouada da sua renda. Isso orque a renda do indivíduo é indeendente da sua decisão de gasto. Contudo, a nível macroeconômico a renda é determinada elas decisões de gasto de todos os indivíduos. Sendo assim, se todos os indivíduos resolverem reduzir os seus gastos de consumo na eserança de, com isso, aumentar a sua ouança, o efeito final será uma redução de tal magnitude na renda dos indivíduos que a ouança continuará exatamente igual ao que revalecia antes da redução dos gastos de consumo. 2

7.2 O modelo de crescimento Harrod-Domar e a ossibilidade de crescimento equilíbrado com desemrego. A característica central do assim chamado modelo Harrod-Domar de crescimento consiste na determinação das condições necessárias ara a manutenção do equilíbrio entre ouança e investimento ao longo do temo. A análise de Keynes havia mostrado que a manutenção do leno-emrego e/ou lena-utilização da caacidade rodutiva exigia que os emresários estivessem disostos a investir uma magnitude igual ao roduto entre a roensão a ouar da sociedade e o nível de renda de leno-emrego, ou seja : I = s f (7.1) Onde : s é a roensão a ouar da renda disonível, f é o nível de renda de lenoemrego. Para que ossamos entender a lógica dessa argumentação, suonhamos que, num determinado instante do temo, os emresários tenham, de fato, tomado decisões de investimento no montante dado or (7.1), e que estejam disostos a manter indefinidamente esse nível de gastos de investimento. Será que, em tais condições, essa economia irá oerar indefinidamente em leno-emrego? A resosta dada or Harrod e Domar é não. Isso se deve a dula-natureza do investimento. Por um lado, o investimento é um comonente da demanda agregada. Como tal contribui ositivamente ara a utilização efetiva dos meios de rodução existentes. Mas, or outro lado, o fim último do investimento é aumentar a caacidade de rodução da economia, ou seja, aumentar o nível de renda de leno-emrego. Dessa forma, o investimento realizado em um instante determinado do temo irá, mais cedo ou mais tarde, maturar na forma de uma maior caacidade de rodução. Sendo assim, ara manter o leno-emrego ao longo do temo não é suficiente que, num dado momento, os emresários desejem realizar gastos de investimento na magnitude dada ela equação (7.1). Também é necessário que eles estejam disostos a aumentar esses gastos 2. 2 Nas alavras de Domar: Dado que o investimento no sistema Keynesiano é aenas um instrumento de geração de renda; o mesmo não leva em consideração o fato essencial, elementar e bem conhecido de que o 3

Para demonstrar a validade dessa afirmação, defina-se σ como sendo igual a rodutividade social do investimento, ou seja, o acréscimo no roduto otencial da economia que resulta da realização de um determinado volume de investimento. Temos, então, que : & = σ I (7.2) Sabemos que, com base no rincíio da demanda efetiva, o nível de renda e de rodução de equilíbrio numa economia fechada e sem governo, é determinado elo mecanismo do multilicador Keynesiano, ou seja : 1 = I (7.3) s Consideremos, agora, que o onto de artida da economia é uma situação de lenautilização da caacidade rodutiva, ou seja : = (7.4) Diferenciando (7.4) com reseito ao temo e substituindo (7.2) e (7.3) na equação resultante, obtemos : I& = σs I (7.5) A equação (7.5) aresenta a taxa na qual o investimento deve crescer ara que demanda agregada cresça no mesmo ritmo que a caacidade rodutiva, de forma a manter a lena-utilização da caacidade rodutiva ao longo do temo. Em outras alavras, se o investimento estiver crescendo a uma taxa igual a σs; então a demanda agregada criada elo rocesso do multilicador do investimento irá acomanhar o crescimento da caacidade rodutiva que resulta das decisões de investimento tomadas elos emresários. investimento também aumenta a caacidade rodutiva. Essa natureza dual do investimento torna a determinação da taxa de crescimento de equilíbrio mais fácil do onto de vista do investimento : se é verdade que o investimento gera caacidade rodutiva e renda, então ele roorciona os dois lados da equação cuja solução determina a taxa de crescimento de equilíbrio (1946,.46). 4

Dessa forma, a oferta e a demanda agregada estarão se exandindo exatamente no mesmo ritmo e a lena-utilização da caacidade rodutiva oderá ser sustentada indefinidamente. Devemos, contudo, ter muito cuidado com a interretação da equação (7.5). Com efeito, essa equação não diz que o investimento irá crescer necessariamente a uma taxa igual a σs. Na verdade, o modelo Harrod-Domar não estabelece nenhum mecanismo que garanta o atendimente automático da equação (7.5). Esta equação deve ser entendida, não como uma equação que aresenta a determinação da taxa de crescimento do investimento; mas como uma condição que, se atendida, assegura a ermanência de uma situação de lena-utilização da caacidade rodutiva. Essa observação é consequência da rória autonomia da decisão de investimento no âmbito da teoria keynesiana. De fato, uma das características essenciais da teoria keynesiana do investimento é a autonomia da decisão de investimento em caital fixo com relação a qualquer outra variável econômica. O investimento deende fundamentalmente das exectativas dos emresários a reseito da rentabilidade do equiamento de caital ao longo da sua vida útil. Essas exectativas são, em larga medida, indeendentes da situação revalecente na economia no momento em que os emresários estão tomando as suas decisões de investimento. Isso se deve a rória durabilidade (longa) do equiamento de caital. A viabilidade ou não de um rojeto de investimento 3 deende de exectativas a reseito dos lucros que oderão ser obtidos com esse equiamento. Em função da rória durabilidade do equiamento de caital, essas exectativas irão envolver revisões sobre lucros a serem obtidos em um futuro muito distante. Como o ambiente econômico está em contínua mudança, segue-se que os lucros efetivamente obtidos com o esse equiamento de caital não só terão ouca relação com as exectativas iniciais, bem como com os lucros 3 O critério usual de determinação da viabilidade de um rojeto de investimento é o chamado valor resente líquido (VPL), o qual é definido como o valor resente do fluxo de caixa que se esera obter do rojeto ao longo de sua vida útil (descontado or uma taxa de juros d que reflete o custo de oortunidade do rojeto de investimento) menos o custo do referido rojeto. Matematicamente, o VPL é dado ela exressão : n Ci VPL = C i 0, onde : C i é o fluxo de caixa obtido no eríodo i, C 0 é o custo de realização do i= 1 (1 + d) rojeto de investimento. Um rojeto de investimento é dito economicamente viável se o VPL for ositivo. 5

obtidos sobre o equiamento de caital existente no momento em que o emresário está decidindo sobre a imlementação de um determinado rojeto de investimento. Nesse contexto, as exectativas dos emresários sobre a rentabilidade futura do equiamento de caital deendem fundamentalmente do seu otimismo esontâneo 4 o qual Keynes havia denominado de animal sirits de tal forma que as mesmas odem ser consideradas como uma variável exógena ao sistema econômico. Desse raciocínio se segue que não há nenhuma garantia de que os emresários estarão, de fato, disostos a aumentar os gastos de investimento à taxa sσ. Tudo deende do seu otimismo esontâneo, o qual é uma variável sobre a qual os economistas tem muito ouco a dizer. Uma outra questão relevante é a relação entre lena-utilização da caacidaderodutiva e leno-emrego da força de trabalho. Será que a utilização da caacidade rodutiva ao seu nível máximo ou otencial é suficiente ara garantir o leno-emrego da força de trabalho? Enquanto não esecificarmos a tecnologia emregada na economia em consideração, não seremos caazes de afirmar que a manutenção da lena-utilização da caacidade rodutiva ao longo do temo é equivalente ao leno-emrego da força de trabalho. Tudo deende da hiótese feita a reseito da substitubilidade entre caital e trabalho. No modelo neoclássico adrão (Solo) aresentado no caítulo 2, a tecnologia de rodução era do tio Cobb-Douglas. Essa tecnologia admite a ossibilidade de substituição entre caital e trabalho no rocesso rodutivo. Nesse contexto, o leno-emrego da força de trabalho imlica lena-utilização da caacidade rodutiva. Por outro lado, nos modelos clássico-marxista de crescimento e distribuição de renda, que serão aresentados no caítulo 14, se suõe que a tecnologia é do tio Leontieff, ou seja, a rodução se dá através da utilização dos fatores de rodução em roorções fixas. Nesses modelos, a lena-utilização da caacidade rodutiva, garantida ela Lei de Say, não é suficiente ara assegurar o leno-emrego da força de trabalho. Isso orque o estoque de caital existente na economia ode não ser suficientemente grande ara absorver 4 Essa questão será novamente abordada no modelo de crescimento de Robinson que será aresentado na seção 7.4. 6

todos os trabalhadores disoníveis. Se isso ocorrer, então a economia irá aresentar desemrego estrutural da força de trabalho 5. Isso osto, iremos agora aresentar uma versão mais comleta do modelo Harrod- Domar de crescimento, a qual nos ermita tratar essas questões de forma rigorosa 6. 7.2.1 o rimeiro e o segundo roblemas de Harrod 7 Consideremos uma economia na qual : i) Um único bem seja roduzido, o qual serve simultâneamente com bem de consumo e bem de caital. ii) iii) iv) A ouança lanejada é uma função linear da renda agregada (), tal como a aresentada ela seguinte equação : S = s (7.6) A força de trabalho cresça a uma taxa constante e exógena η, sendo comletamente desvinculada de outros comonentes do sistema econômico. A tecnologia de rodução é do tio Leontieff, com coeficientes fixos, não havendo a ossibilidade de substituição entre caital e trabalho. Essa tecnologia ode ser reresentada or intermédio da seguinte função de rodução : K L = min, (7.7) vr u Onde : v r é a relação caital-roduto requerida (mostra o estoque de caital que é técnicamente necessário ara se roduzir uma unidade de roduto), u é o requisito unitário de mão-de-obra (mostra a quantidade de trabalho que é técnicamente necessária ara roduzir uma unidade de roduto). 5 A esse reseito ver Oreiro (1997). 6 Essas questões não foram tratadas or Domar, mas sim or Harrod. Aquele se limitou a demonstrar sob quais condições é ossível a existência de um crescimento equilibrado com lena-utilização da caacidade rodutiva. Os modelos que aresentaremos a seguir rocuram analisar a maneira ela qual Harrod resondeu as questões em consideração. 7 A aresentação a seguir baseia-se em Jones (1975, caítulo 3). 7

É conveniente, contudo, distinguir entre a relação caital-roduto efetiva (v) da relação caital-roduto requerida (v r ). A relação caital-roduto efetiva mede simlesmente a relação existente entre o estoque de caital ossuído elas firmas e o seu nível de rodução num determinado onto do temo; sem avaliar se as firmas ossuem ou não o estoque de caital aroriado à esse nível de rodução. Nesse contexto, se v > v r então as firmas ossuem mais caital do que o necessário ara roduzir o seu volume corrente de rodução, ou seja, estarão oerando com caacidade ociosa. Por outro lado, se v < v r então o estoque de caital que as firmas ossuem não é suficiente ara roduzir o volume de rodução corrente, isto é, as firmas estarão sobre-utilizando a caacidade existente. De (7.7) temos que 8 : K = v I = K& = v & (7.8) r r A equação (7.8) mostra que o investimento desejado elas firmas é roorcional à variação (eserada) do nível de rodução. Trata-se do assim chamado rincíio da aceleração segundo o qual o investimento é induzido elas variações (eseradas) do nível de rodução. Isso decorre da hiótese de que as firmas investem de forma a ajustar o estoque de caital que elas efetivamente ossuem ao estoque de caital que elas desejam, o qual é determinado elo nível eserado de rodução. Nesse contexto, se as firmas anteciam um aumento futuro no nível de rodução (or exemlo, orque eseram um aumento futuro nas vendas); então elas irão aumentar o seu estoque de caital de forma a ajustar a sua caacidade rodutiva ao volume eserado de vendas. Por outro lado, se elas eseram uma redução futura no nível de rodução então elas irão desinvestir de forma a eliminar a sua caacidade ociosa ao longo do temo. A condição de equilíbrio macroeconômico é que a ouança seja igual ao investimento, ou seja, S = I. Dessa forma, substituindo (7.8) em (7.6) temos que : 8 No que se segue estamos suondo que a dereciação do estoque de caital é igual a zero. Dessa forma, não é necessário distinguir entre o investimento bruto e o investimento líquido. 8

s g = & = (7.9) v r A equação (7.9) aresenta a assim chamada taxa garantida de crescimento, ou seja, a taxa de crescimento da renda a qual, se obtida, fará com que : (i) seja mantido o equilíbrio entre ouança e investimento ao longo do temo; (ii) os emresários fiquem satisfeitos com o estoque de caital que ossuem, melhor dito, o estoque de caital em cada onto do temo será exatamente aroriado ara roduzir a quantidade de bens que as firmas desejam roduzir. Deve-se ressaltar que essa taxa de crescimento reresenta, de fato, uma taxa de crescimento de equilíbrio. Isso orque se a economia crescer à essa taxa; então a caacidade rodutiva estará crescendo ao mesmo ritmo que a demanda, a caacidade ociosa estará no seu nível normal e as exectativas dos emresários sobre o aumento das vendas estarão sendo confirmadas elos resultados efetivamente obtidos. Nesse contexto, os emresários não terão nenhum incentivo ara reduzir ou aumentar a taxa de crescimento do roduto, ou ara alterarem as suas decisões de investimento 9. Entretanto, não há nenhuma razão ela qual se deva eserar que : (i) a taxa de crescimento efetiva seja igual a garantida 10 e (ii) a taxa de crescimento garantida corresonda ao leno-emrego da força de trabalho. 9 Nas alavras de Harrod: A linha de crescimento da rodução traçada ela taxa garantida de crescimento é um equilíbrio móvel, no sentido em que aresenta o nível de rodução ara o qual os rodutores acreditarão que terão feito a coisa certa, e irá induzi-los a continuar no mesmo caminho de exansão (1939,.52). 10 Essa observação é extremamente imortante ara se evitar interretações equivocadas a reseito do modelo Harrod-Domar. Consideremos, or exemlo, um aumento da roensão a ouar das famílias. A equação (3.9) mostra que haverá um aumento da taxa garantida de crescimento. Com base nesse resultado, será que odemos afirmar que se houver um aumento da roensão a ouar então haverá um aumento da taxa efetiva de crescimento? A resosta é não. O aumento da roensão a ouar roduz simlesmente um acréscimo da taxa na qual a economia ode crescer de forma a manter o equilíbrio entre ouança e investimento ao longo do temo. Se irá ocorrer ou não um aumento da taxa de crescimento efetiva, isso vai deender das decisões de investimento dos emresários. Nesse contexto, se o aumento da roensão a ouar for seguido or um aumento do investimento, então a taxa de crescimento efetiva oderá aumentar. Caso contrário, com base no multilicador Keynesiano, haverá uma retração do nível de atividade econômica, isto é, uma redução da taxa de crescimento efetiva, a qual se torna negativa. 9

Para demonstrar a validade dessas afirmações, consideremos que a economia se encontra inicialmente oerando com leno-emrego da força de trabalho. Para que essa situação seja mantida ao longo do temo é necessário que : G A = G = η (7.10) Onde : G A é a taxa efetiva de crescimento do roduto, G é a taxa garantida de crescimento do roduto. Se a condição (7.10) for atendida, então o roduto crescerá a taxa η - a qual iremos denominar de taxa natural de crescimento daqui ara frente - de forma que a demanda de trabalho irá crescer ao mesmo ritmo que o número de trabalhadores disoníveis. Se isso ocorrer, então a economia estará numa trajetória de crescimento denominada de Idade Dourada. Observemos, contudo, que somente or uma feliz coincidência é que a taxa garantida de crescimento será igual a taxa natural, ou seja, a taxa de crescimento da força de trabalho. Isso orque s, v r e η são determinados de forma indeendente uns dos outros, não existindo qualquer mecanismo endógeno ao modelo Harrod-Domar que assegure o atendimento dessa condição. Chegamos, então, ao assim chamado rimeiro roblema de Harrod, o qual é anunciado formalmente abaixo (cf. Jones, 1975,.64) : Primeiro Problema de Harrod : Ainda que o crescimento com leno-emrego seja ossível, tal idade dourada é altamente imrovável ois as variáveis constitutivas da condição de equilíbrio são indeendentes entre si. Paralelamente, ode-se demonstrar que a taxa garantida de crescimento reresenta um equilíbrio instável no sentido de que qualquer afastamento da taxa efetiva de crescimento com relação à taxa garantida, não só não se corrige ao longo do temo, como é, de fato, cumulativo. Para demonstrar a validade dessa afirmação consideremos a versão de A.Sen do modelo Harrod-Domar de crescimento. 10

Seja E t o nível de rodução eserado elos emresários no eríodo t, t o nível de rodução efetivo no eríodo t, G E t a taxa eserada de crescimento do roduto entre t-1 e t, G t a taxa efetiva de crescimento do roduto entre t-1 e t. Temos, então, que : 1+ G 1+ G E t t t = t = E t t 1 (7.11) Considere ainda que o nível efetivo de rodução é determinado elo mecanismo do multilicador Keynesiano, ou seja : I t t = (7.12) s Por fim, suonha que o investimento é determinado com base no rincíio da aceleração : E ( ) I (7.13) t = vr t t 1 Substituindo (7.13) em (7.12), temos aós os algebrismos necessários que : t E t v E Gt 1+ G r = E s t (7.14) Para que os emresários acertem as suas revisões a reseito do nível de rodução do eríodo t é necessário que : t = E t. Mas, nesse caso, temos que : E s G t = = G (7.15) v s Ou seja, os emresários devem anteciar uma taxa de crescimento do roduto igual a [s /(v-s)], a qual é igual a taxa garantida de crescimento no caso de temo discreto. 11

Se os emresários anteciarem uma taxa de crescimento igual à garantida, então eles irão vender exatamente aquilo que haviam eserado vender. Nesse caso, eles não terão nenhuma razão ara eserar uma taxa de crescimento diferente ara o róximo eríodo. Mas suonha que, or algum motivo, os emresários anteciem uma taxa de crescimento diferente da garantida. Concretamente, suonha que G E t > [s /(v-s)]. Nesse caso, odemos facilmente demonstrar que t > E t. Em alavras, se os emresários anteciarem uma taxa de crescimento das vendas maior que a garantida, então as suas decisões de rodução e investimento irão resultar num volume de rodução e de vendas suerior ao eserado originalmente. Dessa forma, os emresários terão sub-estimado o nível efetivo de rodução e de vendas. Tal fato levará os mesmos a acreditar que isso ocorreu devido à uma sub-estimação da taxa de crescimento das vendas. Suondo que as suas exectativas a reseito do nível futuro de rodução são formadas com base na hiótese de exectativas adatativas 11 ; então, eles irão eserar uma taxa de crescimento das vendas ainda maior no róximo eríodo, o que irá reroduzir, em escala amliada, o erro inicial de revisão. A economia irá se afastar cada vez mais da trajetória de crescimento equilibrado reresentada ela taxa garantida de crescimento. Nas alavras de Harrod : De forma análoga, odemos igualmente demonstrar que, se G E t < [s /(v-s)]; então E t > t, levando os emresários a eserar uma taxa de crescimento das vendas ainda menor ara o róximo eríodo. Nesse contexto, verifica-se que uma situação de excesso geral de mercadorias não-vendidas (general glut) é causada, na verdade, or firmas que, no seu conjunto, roduziram menos do que deveriam ter roduzido (cf. Jones, 1975,.69). Se as firmas tivessem anteciado uma taxa de crescimento maior ara as vendas e igual a taxa garantida então a suer-rodução não teria ocorrido. 11 A nível formal a hiótese de exectativas adatativas ode ser aresentada ela seguinte equação: e e e t = t 1 + λ( t 1 t 1 ) 0 < λ < 1. Ou seja, a rodução eserada ara o eríodo t deende da exectativa a reseito do nível de rodução formulada no eríodo anterior mais um termo que reflete a correção do erro de revisão a reseito do nível de rodução e vendas ocorrido no eríodo anterior. 12

Isso osto, odemos enunciar o assim chamado segundo roblema de Harrod, o qual afirma que (Ibid,.69): Segundo Problema de Harrod : Os desvios da taxa efetiva de crescimento com relação a taxa garantida, não somente não são auto-corretivos, como são de fato cumulativos. Dessa forma, a taxa garantida de crescimento corresonde à um equilíbrio sob fio da navalha 12, ois se a economia se afastar mimimamente dessa osição, jamais irá retornar a mesma. Resumindo, o modelo de crescimento Harrod-Domar aresenta os seguintes resultados fundamentais : i) o crescimento equilibrado com leno-emrego da força de trabalho é ossível, mas é imrovável, sendo resultado de uma feliz coincidência entre os valores dos arâmetros fundamentais s, v r e η. ii) A taxa garantida de crescimento é instável, no sentido de que qualquer afastamento com relação a mesma não só não é auto-corretivo, mas sim cumulativo. 7.3 distribuição de renda e o equilíbrio entre ouança e investimento A exeriência das economias caitalistas aós a Segunda Guerra Mundial não corroborou os resultados do modelo Harrod-Domar de crescimento. O eríodo comreendido entre 1950 e 1973 foi caracterizado or elevadas taxas de crescimento, baixo desemrego e uma enorme estabilidade macroeconômica em todas as economias caitalistas avançadas. Já na década de 50, oucos economistas estavam convencidos de que os roblemas de Harrod fossem uma caraterística fundamental do crescimento de longo-razo dessas economias. Isso levou ao desenvolvimento de novas teorias de crescimento. No camo neoclássico, a alternativa ao modelo Harrod-Domar foi dada elo modelo de crescimento Solo-San. Para Solo, a razão ela qual o modelo Harrod-Domar roduzia resultados aarentemente tão contrários a exeriência das economias caitalistas avançadas era de que 12 A exressão fio da navalha não é devida a Harrod, mas sim a Solo (cf. Jones, 1975,.69). Harrod rejeitou veementemente esse tio de nomenclatura, afirmando que Nada do que eu algum dia escrevi (ou falei) justifica essa descrição de minhas idéias (Aud Jones, 1975,.69-70). 13

o mesmo estava baseado em hióteses muito restritivas a reseito da tecnologia emregada or essas economias. Em articular, Solo discordava da hiótese de coeficientes fixos como uma descrição adequada das ossibilidades técnicas de rodução. Nas alavras de Solo : (...) essa oosição fundamental entre as taxas garantida e natural de crescimento advém, no final das contas, da hiótese crucial de que a rodução se desenvolve sob roorções fixas. Não existe a ossibilidade de substituição de caital or trabalho no rocesso rodutivo. Se essa hiótese for abandonada, então a noção de um equilíbrio sob fio da navalha também desaarece (1956,.161-62). No camo Keynesiano, foram desenvolvidos novos modelos de crescimento que fossem caazes de exlicar a exeriência das economias caitalistas avançadas ós-segunda guerra sem aelar ara as hióteses neoclássicas tradicionais de substitubilidade entre os fatores de rodução e identidade entre ouança e investimento. Nesse contexto, destacamse articularmente os modelos de Kaldor (1956, 1957) e Pasinetti (1961-62); os quais rocuram resolver os roblemas de Harrod através da endogeinização da roensão agregada a ouar. Essa endogeinização, contudo, ressuôs o desenvolvimento de uma nova teoria da distribuição de renda, radicalmente diferente da teoria neoclássica da distribuição. 7.3.1 os roblemas de Harrod e a teoria ós-keynesiana da distribuição de renda. Vimos na seção anterior que o rimeiro roblema de Harrod resulta do fato de que os determinantes das taxas de crescimento garantida e natural são determinados de forma exógena ao modelo Harrod-Domar; de forma que, exceto or uma feliz coincidência, as referidas taxas serão diferentes entre si. Mas há uma outra forma de visualizar o rimeiro roblema de Harrod, a qual se constituiu num asso extremamente imortante ara o desenvolvimento da teoria ós- Keynesiana da distribuição de renda. Essa forma consiste na constatação de que existe uma única taxa agregada de ouança que é comatível com o crescimento equilibrado estável com leno-emrego da força de trabalho. Mais recisamente : 14

s = ηv r (7.16) Se a roensão a ouar agregada for igual à aquela aresentada or (7.16) então a economia estará sobre uma trajetória de crescimento equilibrado com leno-emrego da força de trabalho. No modelo Harrod-Domar s é exógeno, de forma que nada garante que a condição (3.17) será atendida. Entretanto, se fosse ossível endogeinizar a roensão a ouar agregada, de forma que ela se ajustasse semre ao lado direito de (7.16); então o rimeiro roblema de Harrod seria eliminado. Mas or que razão deveríamos suor que s é endógeno? Afinal de contas, a roensão a ouar deende, em larga medida, dos hábitos e costumes dos indivíduos; coisas sobre as quais a teoria econômica tradicionalmente refere tratar como exógenos; uma vez que são exlicados or fatores culturais, sociológicos, antroológicos e etc. Economistas como Kaldor, Robinson e Pasinetti argumentaram que é erfeitamente ossível tratar as roensões individuais a ouar como dadas; sem que isso imlique necessariamente numa roensão a ouar agregada constante. Isso orque a roensão a ouar agregada nada mais é do que a média das roensões individuais a ouar onderada ela distribuição de renda (cf. Pasinetti, 1974,.104). Esta, ao contrário dos hábitos e costumes dos indivíduos, é um assunto essencialmente econômico. Sendo assim, não haveria nenhuma razão, a riori, ara se tratar a roensão agregada a ouar como um dado. Contudo, ara que o rimeiro roblema de Harrod seja eliminado, não basta reconhecer que a distribuição de renda é um dos determinantes da roensão agregada a ouar. Também é necessário mostrar que ela se ajusta de forma a garantir o atendimento da condição (7.16). Para tanto, consideremos uma economia na qual toda a renda seja aroriada sob a forma de salários e lucros. Para fins de simlificação, iremos suor que a renda dos trabalhadores é comosta unicamente elos salários, ao asso que a renda dos caitalistas é 15

constituída somente or lucros 13. Considere também que as roensões a ouar a artir de classes diferentes de rendimentos são diferenciadas; mais esecificamente, que a roensão a ouar a artir dos salários é menor do que a roensão a ouar a artir dos lucros. Segundo Kaldor (1966,.310), a existência de roensões a ouar diferenciadas segundo a classe de rendimentos é uma decorrência do fato de que : (i) (ii) (iii) A contínua exansão da caacidade rodutiva das emresas só é ossível, no longo-razo, se uma arte do financiamento necessário a essa exansão advir dos lucros retidos elas emresas. Em função da existência de retornos crescentes de escala, a osição cometitiva de qualquer emresa num dado mercado deende do seu market share. A contínua exansão da firma individual é necessária ara manter inalterada a sua osição cometitiva na indústria. Nesse contexto, a origem da renda imorta : aqueles indivíduos que obtém a sua renda de outras fontes que não os lucros não estão submetidos a mesma ressão cometitiva ara ouar a maior fração ossível de suas rendas e, ortanto, tem um incentivo menor a ouar. Por fim, consideremos uma economia na qual as emresas estão oerando com lena-utilização da caacidade rodutiva. Isso significa que as variações da demanda agregada irão resultar em variações dos reços e das margens de lucro das emresas, mantendo-se constante o nível de rodução 14. 13 Essa hiótese é relaxada or Pasinetti (1961-62), o qual mostra que os mesmos resultados que iremos derivar em seguida odem ser igualmente obtidos ao se suor que tanto caitalistas como trabalhadores recebem salários e lucros como renda. 14 A suosição de lena-utilização da caacidade rodutiva não deixa de ser surreendente ao ser feita or autores de clara e inquestionável formação keynesiana. Autores como Possas (1987) afirmam que essa hiótese é uma forma de re-introduzir a lei de Say no âmbito dos modelos keynesianos de crescimento e distribuição de renda. No entanto, há uma boa exlicação ara a suosição de lena-utilização da caacidaderodutiva. Para Kaldor e Pasinetti o roblema com o modelo Harrod-Domar é que o mesmo não conseguia exlicar adequadamente as roriedades de longo-razo das economias caitalistas. Se o foco é o longo-razo então não faz sentido trabalhar com uma economia na qual o grau de utilização da caacidade rodutiva é menor do que o normal. Isso orque o longo-razo é definido or esses autores como o intervalo de temo 16

A nossa economia ode ser descrita elo seguinte sistema de equações : = W + P S S = s = s S = S I = I S = I W P + S (7.17) (7.18) (7.19) (7.20) (7.21) (7.22) Onde : é a renda agregada, W é a massa de salários, P é o montante total de lucros, S é a ouança dos trabalhadores, S é a ouança dos caitalistas, S é a ouança agregada, I é o investimento agregado (o qual é tido como exógeno), s é a roensão a ouar a artir dos salários e s é a roensão a ouar a artir dos lucros (s < s ). Algumas observações são necessárias a reseito da equação (7.21). Nessa equação estamos assumindo que o investimento é exógeno ao modelo. Mas o que isso significa recisamente? Uma interretação ossível (mas não a única) ara o significado dessa equação é dada or Pasinetti (1961-62). Segundo esse autor, essa equação é uma mera formalização da hiótese de que, no longo-razo, o investimento é determinado elo crescimento da oulação e elo rogresso tecnológico. Isso é o mesmo que assumir que a taxa de crescimento do estoque de caital é, no longo-razo, determinada ela taxa natural de crescimento. Mas se assumimos de antemão que a taxa de crescimento do estoque de caital é igual a taxa natural de crescimento, então não estaremos descartando a existência do rimeiro roblema de Harrod; melhor dito, não estaríamos assumindo como hiótese o resultado que deveríamos demonstrar? Não necessariamente. Mesmo que tenhamos assumido de antemão a validade de um determinado resultado, odemos ainda avaliar sob quais condições o mesmo é válido. No que é logicamente necessário ara que as emresas ajustem a escala e comosição da caacidade rodutiva à escala e comosição da demanda. Sendo assim, no longo-razo, or definição, não ode haver caacidade ociosa, ou seja, a economia deve oerar com lena-utilização da caacidade rodutiva. Em outras alavras, a hiótese de lena-utilização da caacidade rodutiva decorre da definição de longo-razo que esses autores adotam em seus modelos de crescimento e distribuição. Deve-se ressaltar, contudo, que essa não é definição ossível de longo-razo na teoria econômica. A esse reseito ver Carvalho (2003). 17

caso em consideração, trata-se de analisar se a igualdade entre a taxa de crescimento do estoque de caital e a taxa natural de crescimento ode ocorrer ara algum nível de distribuição de renda. Uma vez que se tenha demonstrado a existência desse nível, o róximo asso será mostrar que a distribuição de renda semre se ajusta ao mesmo; de maneira a garantir que a igualdade entre a taxa garantida e a taxa natural de crescimento não será resultado de uma feliz coincidência, mas da oeração do rório sistema econômico. Retornando ao nosso sistema de equações, substituindo (7.18) e (7.19) em (7.20), obtemos que: S ( s s ) P s = (7.23) + A equação (7.23) aresenta a ouança agregada como uma função (i) do montante de lucros e (ii) da renda agregada. Dividindo-se (7.23) or, obtemos a taxa de ouança (S/) como uma função da articiação dos lucros na renda (P/), tal como se observa na equação abaixo : S P ( s s ) + s = (7.24) Por outro lado, dividindo-se (7.21) or temos que: I I = (7.25) A equação (7.25) mostra que a taxa de investimento não deende da articiação dos lucros na renda, sendo, ortanto, autonoma. O equilíbrio macroeconômico exige que a taxa de ouança seja igual a taxa de investimento. Esse equilíbrio, or suz vez, será obtido através de variações da distribuição de renda entre salários e lucros, mais recisamente, através de variações na articiação dos lucros na renda. De fato, substituindo (7.25) em (7.24), temos aós os algebrismos necessários que : 18

P = s 1 s I s s s (7.26) A equação (7.26) mostra que a articiação dos lucros na renda deende (i) da taxa de investimento desejada elas firmas, (ii) da roensão a ouar a artir dos lucros e (iii) da roensão a ouar artir dos salários. Se adotarmos a hiótese simlificadora de que s = 0 (ou seja, se suormos que os trabalhadores gastam aquilo que ganham ) então : P 1 I = (7.27) s Na equação (3.27) verificamos que a articiação dos lucros na renda é determinada unicamente ela taxa de investimento e ela roensão a ouar a artir dos lucros. Daqui se segue que os caitalistas ganham aquilo que eles gastam, ou seja, a roorção da renda que será aroriada elos caitalistas sob a forma de lucros deende unicamente de suas decisões de gasto em consumo e investimento (cf. Kaldor, 1956,.96). A visualização da determinação da articiação dos lucros na renda or ser feita or intermédio da figura 7.1. S/, I/ S = s P I = I (P/) * P/ Figura 7.1 19

Pode-se facilmente demonstrar que um raciocínio análogo também é válido ara a determinação da taxa de lucro. De fato, dividindo-se (7.26) e (7.27) or K temos que : R = P K 1 R = s = s I K 1 s [ se I K s s s s = 0] K (7.28) (7.29) Na equação (7.29), observamos que a taxa de lucro é determinada ela taxa de crescimento do estoque de caital e ela roensão a ouar a artir dos lucros. Mas, como estamos suondo que g = η, temos que : R = η/s (7.30) A equação (7.30) é a famosa equação de Cambridge, a qual estabelece que a taxa de lucro, ao longo da trajetória de crescimento de Idade Dourada, é igual a razão entre a taxa natural de crescimento e a roensão a ouar dos caitalistas. De que forma é ossível que os caitalistas sejam caazes de determinar a arcela da renda agregada que eles irão se aroriar sob a forma de lucros? Que ou quais mecanismos tornam as decisões dos caitalistas tão imortantes ara a determinação da distribuição de renda? Para resonder a essa ergunta consideremos o seguinte exerimento lógico. Suonha que, or algum motivo, os caitalistas decidam aumentar a taxa de investimento. Ao valor inicial da articiação dos lucros na renda haverá um excesso de investimento sobre ouança e, ortanto, um excesso de demanda agregada no mercado de bens. Esse excesso de demanda agregada deverá roduzir, num contexto de lena-utilização da caacidade rodutiva, um aumento do nível geral de reços. Suonha, agora, que os trabalhadores não sejam caazes de exigir um aumento em seus salários nominais que seja roorcional ao aumento verificado nos reços 15. Se isso 15 Isso ode ser decorrência, or exemlo, da existência de contratos de trabalho de longa duração, os quais fixam os salários nominais dos trabalhadores or um certo eríodo de temo. Durante o eríodo de vigência dos contratos de trabalho, os salários nominais são fixos de forma que variações do nível de reços não irão 20

ocorrer então haverá uma redução do salário real e, dado o requisito unitário de mão-deobra, uma redução da articiação dos salários na renda 16. Como a renda é inteiramente aroriada sob a forma de salários e lucros, segue-se que haverá um aumento da articiação dos lucros na renda. Dado que a roensão a ouar a artir dos lucros é maior do que a roensão a ouar a artir dos salários, segue-se que essa mudança na distribuição de renda entre salários e lucros irá rovocar um aumento da ouança agregada, restabelecendo dessa forma o equilíbrio entre ouança e investimento. Desse raciocínio se segue que os caitalistas são caazes de fazer o que quiserem com a distribuição de renda orque os trabalhadores são imotentes ara determinar o nível de salário real (cf. Oreiro, 1997,.53). Se os trabalhadores udessem resistir às reduções de salário real, então o aumento de reços não resultaria numa redução da articiação dos salários na renda, imedindo, dessa forma, o ajuste entre ouança e investimento via mudanças na distribuição de renda. Segue-se, ortanto, que a hiótese central da teoria ós- Keynesiana da distribuição e o que a diferencia radicalmente das teorias clássica e neoclássica é a suosição de que os trabalhadores não são caazes de determinar a taxa de salário real. Essa hiótese foi formalmente exlicitada or Keynes em sua Teoria Geral do Emrego, do Juro e da Moeda. Nas suas alavras : A hiótese de que o nível geral do salário real deende das barganhas entre emregadores e emregados a reseito do nível dos salários nominais é obviamente incorreta (...) Não existe nenhum método elo qual os trabalhadores como um todo ossam igualar o equivalente em bens-salário dos seus salários nominais com o atamar dado ela desutilidade marginal do volume corrente de emrego. Não existe nenhum exediente elo qual os trabalhadores como um todo ossam reduzir o seu salário real através da revisão dos seus salários nominais junto aos emregadores (1936,.12-13). gerar demandas or variações nos salários nominais. A hiótese de salário nominal fixo é feita exlicitamente or Robinson (1962,.334). W L 16 Pode-se mostrar que a articiação dos salários na renda é dada or: = = u, onde W é a X folha de salários, é a renda nominal, é a taxa nominal de salários, é o nível geral de reços, L é o número de trabalhadores emregados, X é a renda real, / é o salário real e u é o requisito unitário de mãode-obra. 21

Retornemos, agora, ao rimeiro roblema de Harrod. O raciocínio que acabamos de aresentar mostra que, qualquer que seja a taxa de investimento, a distribuição de renda irá se ajustar de tal forma a roduzir uma taxa de ouança comatível com o equilíbrio no mercado de bens. Em articular, isso também é verdade ara o caso em que a taxa de crescimento do estoque de caital é igual a taxa natural de crescimento. Sendo assim, a flexibilidade na distribuição funcional da renda garante que a economia irá trilhar uma trajetória de crescimento equilibrado com leno-emrego da força de trabalho. Os resultados aresentados até agora ressuõem, no entanto, que a roensão a ouar dos trabalhadores é igual a zero. Contudo, ode-se demonstrar, com base em Pasinetti (1961-62), que os mesmos não deendem de nenhuma hiótese articular a reseito do valor da roensão a ouar dos trabalhadores. Para demonstrar a validade dessa afirmação, consideremos uma economia na qual os trabalhadores ouam uma fração s de suas rendas de tal forma que suondo que o caital é o único ativo existente na economia uma arte do estoque de caital é de roriedade dos trabalhadores. Nesse contexto, uma arte do lucro gerado nessa economia será aroriado elos trabalhadores, os quais continuam recebendo uma massa de salários igual a W. Seja P o montante de lucros que é aroriado elos caitalistas, P o montante de lucros que é aroriado elos trabalhadores, s a fração da sua renda que os trabalhadores desejam ouar e s a fração da sua renda que os caitalistas desejam ouar. Temos, então, o seguinte sistema de equações : S S = s = s S = S I = S ( W + P ) P + S W (7.31) (7.32) (7.33) (7.34) Substituindo (7.31) e (7.32) em (7.33) e a resultante em (7.34), obtemos - aós dividir tudo or K - que : P c K = I K ( s s ) ( s s )K 1 s (7.35) Como P c = P P, odemos reescrever (7.35) da seguinte forma : P K = I K K P + ( s s ) ( s s ) K 1 s (7.36) 22

Seja K a arcela do estoque de caital que é de roriedade dos trabalhadores. Iremos suor que os trabalhadores emrestam esse caital aos caitalistas, obtendo uma taxa de juros r sobre esses emréstimos. Dessa forma é verdade que Substituindo (7.37) em (7.36) temos que : P K = I K K K + r ( s s ) ( s s ) K 1 s (7.38) P = rk (7.37). Na exressão (7.38) a taxa de lucro deende entre outras coisas da fração do estoque de caital que é de roriedade dos trabalhadores. Para determinar essa fração devemos ter em mente que, em steady-state, a seguinte condição tem que ser satisfeita 17 : K S s ( P ) = = (7.39) K S I De (7.36) odemos obter a seguinte exressão : s (7.40) ( s s ) ( s s ) 1 ( P ) = I Substituindo (7.40) em (7.39) obtemos aós os algebrismos necessários que : K K ss = s s I s ( s s ) (7.41) Por fim, substituindo (7.41) em (7.38) e suondo que P/K = r 18, obtemos que : P 1 I r = = (7.42) K s K Suondo que a nossa economia está trilhando uma trajetória de crescimento equilibrado, então é verdade que I/K = η, de tal forma que : η r = (7.43) s Dessa forma, foi ossível obter novamente a equação de Cambridge num contexto em que s > 0. Daqui se segue que a roensão a ouar dos trabalhadores é irrelevante na determinação da taxa de lucro ao longo da trajetória de crescimento balanceado com 17 Em steady-state a fração do estoque de caital que é de roriedade dos trabalhadores deve ermanecer constante ao longo do temo. Para tanto, é necessário que a taxa de crescimento da riqueza dos trabalhadores dada or S /K seja igual a taxa de crescimento da riqueza agregada dada or S/K. 18 Essa hiótese é insirada na teoria clássica (Ricardiana) da taxa de juros, segundo a qual a taxa de retorno sobre o caital determina o limite suerior da taxa de juros sobre os emréstimos na economia. 23

leno-emrego. Além disso, o desenvolvimento algébrico feito até aqui mostra que o único valor da taxa de lucro que é comatível com a existência de uma trajetória de crescimento balanceado é aquele dado ela equação de Cambridge. Multilicando-se (7.42) or (/K), obtemos a seguinte equação: P η = (7.43) s A equação (7.43) aresenta o valor da articiação dos lucros na renda que é comatível com a igualdade entre a taxa garantida e a taxa natural de crescimento. Daqui se segue que, mesmo no caso em que s >0, a distribuição funcional da renda ode funcionar como a variável de ajuste entre a taxa garantida e a taxa natural de crescimento. 7.4 Crescimento, distribuição e o aradoxo da arcimônia : o modelo de Robinson A teoria ós-keynesiana da distribuição estabelece que, qualquer que seja a taxa de investimento, a articiação dos lucros na renda irá se ajustar de forma a roduzir a taxa de ouança necessária ara o equilíbrio no mercado de bens. Contudo, essa teoria em si mesma nada diz a reseito dos determinantes da taxa de investimento. Em articular, não é uma decorrência lógica dessa teoria que a taxa de crescimento do estoque de caital isto é, a taxa garantida de crescimento seja determinada ela taxa natural. Esse é o onto de artida do modelo de crescimento de Joan Robinson (1962). Consideremos uma economia tal como a descrita na seção anterior, de forma que a taxa corrente de lucro seja determinada ela equação (3.30). Essa equação mostra que a taxa de lucro é determinada ela taxa de acumulação de caital, mas nada diz a reseito dos determinantes desta última. Robinson suõe que a taxa desejada de acumulação de caital é dada ela seguinte equação : I g = = ϕ( R r; Θ) ; ϕ > 0; ϕ > 0 (7.44) K ( R r) Θ Onde : r é o nível da taxa real de juros, Θ é o animal sirits dos emresários Algumas observações são necessárias a reseito da equação (7.44). Em rimeiro lugar, ela estabelece que a taxa desejada de acumulação é uma função da taxa corrente de 24

lucro. A rimeira vista essa não arece ser uma hiótese muito razoável. De fato, o investimento é uma decisão essencialmente forard looking (ou seja, voltada ara o futuro); de maneira que o mesmo deende das exectativas que os agentes formulam a reseito da rentabilidade futura dos bens de caital. Sendo assim, deveríamos incluir a taxa eserada de lucro como argumento da função investimento; ao invés do valor corrente da mesma. Nesse coxtexto, a equação (7.44) arece sugerir que a taxa corrente de lucro ode ser utilizada como uma roxi das exectativas dos emresários a reseito da rentabilidade futura dos bens de caital, ou seja, que o resente serve como um guia ara o futuro. Mas será que essa é uma suosição razoável a reseito da maneira ela qual os agentes econômicos formam as suas exectativas sobre a rentabilidade futura dos bens de caital? A resosta a essa ergunta foi dada or Keynes em sua Teoria Geral do Emrego, do Juro e da Moeda. Segundo Keynes, as decisões econômicas e, em articular, as decisões de investimento, são tomadas em um contexto de incerteza com relação ao futuro. Keynes define incerteza como uma situação na qual os agentes não são caazes de conhecer todos os resultados ossíveis de suas decisões, ou seja, uma situação onde é ossível a ocorrência de um evento ineserado. Nesse contexto, os agentes econômicos rocuram adotar convenções isto é, regras coletivas de comortamento que, or um lado, torne ossível a tomada de decisão; e, or outro, limite os efeitos otencialmente adversos da ocorrência de um evento ineserado. Entre as diversas convenções ossíveis, destaca-se a convenção da estabilidade que consiste em suor que a situação existente nos negócios continuará or temo indefinido, a não ser que tenhamos razões concretas ara eserar uma mudança (Keynes, 1982,.126). Mas qual a racionalidade de se suor que a situação corrente nos negócios irá continuar indefinidamente; se, na rática, verifica-se que isso jamais ocorre (Ibid,.126)? Primeiramente, odemos argumentar que a existência de incerteza, no sentido em que Keynes definiu esse termo, imlica que o futuro é imrevísivel. Mas se o futuro não ode ser revisto, então os agentes não são caazes de rever que ou quais mudanças irão ocorrer 25

no mundo dos negócios, bem como a intensidade das mesmas (ainda que a exeriência mostre que a mudança é a essência da vida econômica). Por outro lado, o único dado concreto que os agentes ossuem é fornecido ela situação corrente. Sendo assim, uma estretégia de menor esforço consiste recisamente em usar os dados fornecidos ela situação corrente como base ara as revisões sobre o futuro, isto é, rojetar o resente no futuro. Um outro argumento é que, embora a vida econômica esteja mudando continuamente; também é verdade que, na maior arte das vezes, a mudança é aenas incremental e não radical (Natura non facit saltum a natureza não dá saltos ). Sendo assim, a adoção da convenção da estabilidade é também uma estratégia de minimização de erros de revisão, ois os agentes sabem que, embora o futuro seja imrevísivel, ele não será radicalmente diferente da situação corrente. Uma segunda observação refere-se ao significado do termo animal sirits. Este é definido or Keynes como o instinto esontâneo de agir ao invés de não fazer nada (Keynes, 1982,.133). Trata-se, ortanto, da disosição com a qual os agentes enfrentam a incerteza. Se essa disosição for fraca, então eles tenderão a adiar o comrometimento de recursos, com receio dos efeitos otencialmente adversos da ocorrência de algum evento ineserado. Nesse caso, o investimento será baixo. Por outro lado, se essa disosição for forte, então os agentes estarão roensos a comrometer os seus recursos e, consequentemente, o investimento será alto. Deve-se observar que o animal sirits não deende aenas da sicologia dos tomadores de decisão, mas ode ser influenciado or fatores sócio-olíticos. Nas alavras de Keynes : (...) não só as crises e as deressões têm a sua intensidade agravada, como também que a roseridade econômica deende, excessivamente, de um clima olítico e social que satisfaça ao tio médio do homem de negócios. Quando o temor de um governo trabalhista ou de um Ne Deal derime a emresa, esta situação não é, necessariamente, conseuqência de revisões ou de manobras com finalidades olíticas; é o simles resultado de um transtorno no delicado equilíbrio do otimismo esontâneo. Ao calcular as ersectivas que se oferecem ao investimento devemos levar em conta os nervos e a histeria, além das digestões e das reações às condições 26