Aproveitamento de Créditos Extemporâneos de PIS e COFINS não-cumulativos. A Evolução Jurisprudencial relativa à tomada de créditos de PIS e COFINS

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Transcrição:

NESTA EDIÇÃO: Aproveitamento de Créditos Extemporâneos de PIS e COFINS não-cumulativos 2 Maurício Barros e Heitor Cesar Ribeiro A Evolução Jurisprudencial relativa à tomada de créditos de PIS e COFINS 4 Valter de Souza Lobato, Fernando D. de Moura Fonseca e Frederico Menezes Breyner O Regime Não Cumulativo do PIS e da COFINS e o Conceito de Insumo 7 Rafael Marchetti Marcondes Regime Não-Cumulativo das contribuições PIS/COFINS - Principais aspectos controvertidos quanto ao creditamento e o posicionamento atual do CARF 10 Fábio Capelletti Regime Não Cumulativo das contribuições PIS/COFINS - Principais aspectos controvertidos quanto ao creditamento e o posicionamento do CARF 13 Frederico Pereira Rodrigues da Cunha e Álvaro Rotunno Sacha Calmon Navarro Coelho Diretor Presidente da ABDF Gustavo Damazio de Noronha José Maria Arruda de Andrade Coordenadores da Revista Eletrônica de Direito Tributário - ABDF 1

Regime Não-Cumulativo das contribuições PIS/COFINS - Principais aspectos controvertidos quanto ao creditamento e o posicionamento atual do CARF por Fábio Capelletti Advogado da Área Tributária do Escritório Barretto Ferreira e Brancher Sociedade de Advogados (BKBG) Introdução Desde a sua instituição no ordenamento jurídico, as legislações das contribuições para o Programa de Integração Social e Formação do Patrimônio do Servidor Público ( PIS/PASEP ) e para o Financiamento da Seguridade Social ( COFINS ) em conjunto PIS/COFINS tem sido objeto de inúmeros questionamentos de legalidade ou correta aplicação. Nesse sentido, o presente artigo pretende analisar os preceitos constitucionais do regime não-cumulativo das contribuições PIS/COFINS, inseridos ou não nos entendimentos extraídos dos recentes julgados exarados pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais ( CARF ). As contribuições PIS/COFINS na Constituição Federal de 1988 e o regime não-cumulativo O artigo 149 da Constituição Federal de 1988 1 ( CF/1988 ) confere à União Federal a competência exclusiva para instituir contribuições sociais, dentre as quais estão inseridas as contribuições PIS/COFINS. Adicionalmente, a CF/1998 prescreve os contornos da imposição tributária das contribuições PIS/COFINS no artigo 195, inciso I, alínea b, 7º, 8º, 9º, 11, 12 e 13 2, sendo que focaremos nossa análise no 12 do referido artigo, adiante transcrito. 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas. 1 Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo. 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: I - não incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação II - incidirão também sobre a importação de produtos estrangeiros ou serviços; III - poderão ter alíquotas: a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada 2 Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: b) a receita ou o faturamento; 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em lei. 8º O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos termos da lei. 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste artigo poderão ter alíquotas ou bases de cálculo diferenciadas, em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão-deobra, do porte da empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho. 11. É vedada a concessão de remissão ou anistia das contribuições sociais de que tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para débitos em montante superior ao fixado em lei complementar. 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas. 13. Aplica-se o disposto no 12 inclusive na hipótese de substituição gradual, total ou parcial, da contribuição incidente na forma do inciso I, a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento. 10

Embora não seja o escopo da presente análise, vale observar que a sistemática não-cumulativa das contribuições PIS/COFINS, conforme disposta no 12 do artigo 195 da CF/1988, foi incluída pela Emenda Constitucional nº 42/2003 ( EC 42/2003 ), com vigência a partir de 31 de dezembro de 2003. Todavia, o regime não-cumulativo das contribuições PIS/COFINS foi primeiramente instituído pela Medida Provisória nº 66/2002 ( PIS ), convertida na Lei nº 10.637/2002 em 31 de dezembro de 2002, e pela Medida Provisória nº 135/2003 ( COFINS ), convertida na Lei nº 10.833/2003 em 30 de dezembro de 2003. Portanto, note-se que as normas instituidoras da nãocumulatividade das contribuições PIS/COFINS são anteriores à sua previsão constitucional 3. Retomando a análise constitucional, extrai-se do 12 do artigo 195 da CF/1988 que, tratando-se de norma de eficácia limitada, o trabalho do legislador infraconstitucional deveria se restringir à definição dos setores da economia sobre os quais se aplicarão o regime não-cumulativo das contribuições PIS/COFINS. No nosso entendimento, por se tratar de uma norma de estrutura fechada, esse comando constitucional não delega ao legislador infraconstitucional competência para estabelecer parâmetros de aplicação da não-cumulatividade das contribuições PIS/ COFINS. Concordamos com o entendimento de Ives Gandra da Silva Martins, Ricardo Castagna e Rogério Gandra da Silva Martins, pois a partir da introdução do parágrafo 12 do artigo 195 da Constituição Federal promovida pela Emenda Constitucional nº 42/2003, a discricionariedade do legislador ao estabelecer a não cumulatividade do PIS e da Cofins está adstrita não apenas aos princípios constitucionais tributários, mas também à natureza destas contribuições e à própria finalidade de uma sistemática não cumulativa que possa ser aplicável a exações fiscais incidentes sobre a receita bruta da pessoa jurídica, mesmo que dissociada da atividade-fim da fonte produtora. Qualquer disposição em contrário, que não guarde íntima relação com estas premissas ou seja, a permissão da tomada de créditos destas contribuições baseada numa não cumulatividade ínsita à sua natureza e base de cálculo irá transbordar os limites legislativos impostos pelo constituinte derivado, ao elevar a não cumulatividade do PIS e da Cofins à categoria de mandamento constitucional 4. Nesse sentido, apesar de o legislador ordinário declarar na Exposição de Motivos da MP 135/2003 5 que o regime não-cumulativo seguiria o método indireto subtrativo, entendemos que as Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 não seguem, a rigor, essa sistemática. Conceitualmente, o método subtrativo é pressuposto da técnica tributária da não-cumulatividade, o que, no Brasil, resulta em custo tributário que se equivale parcialmente à tributação sobre o valor agregado da operação. O método subtrativo se divide em duas modalidades: a) Direto, incidente sobre determinadas bases de cálculo ( base contra base ); e, b) Indireto, incidente sobre o valor do imposto ( imposto contra imposto ). Nos termos do artigo 1º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, o fato gerador das contribuições PIS/COFINS é o faturamento mensal, assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, sendo que sua base de cálculo é equivalente ao valor do faturamento mensal, excluídas determinadas receitas. Desse modo, conforme artigo 2º das referidas normas, sobre a base de cálculo é aplicada a correspondente alíquota, apurando-se a contribuição débito. De outro lado, o artigo 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003 prescrevem as hipóteses de apuração da base de cálculo dos créditos, cujo parâmetro foi restrito a determinados custos e despesas, sobre o qual é aplicada idêntica alíquota atribuída à apuração do débito crédito. 3 Cumpre esclarecer que: PIS/PASEP: conforme artigo 68, inciso II, da Lei nº 10.637/2002, o regime não-cumulativo da contribuição PIS iniciou a viger em 31 de dezembro de 2002, porém foi prescrito que seus efeitos seriam produzidos a partir de 1 de dezembro de 2002; e COFINS: Conforme artigo 93, inciso I, da Lei nº 10.833/2003, o regime não-cumulativo da contribuição COFINS iniciou a viger em 30 de dezembro de 2003, porém foi prescrito que seus efeitos seriam produzidos a partir de 1 de fevereiro de 2004. 4 MARTINS, Ives Gandra da Silva, CASTAGNA, Ricardo e MARTINS, Rogério Gandra da Silva. Direito à Escrituração de Créditos do PIS e da COFINS em Relação às Despesas com Marketing e Publicidade e com Taxa de Emissão de Boletos de Administradoras de Cartões de Crédito. Revista Dialética de Direito Tributário nº 208. São Paulo: Dialética, p.87. 5 Veja-se a redação dos itens 6 e 7 da Exposição de Motivos da MP 135/2003: 6. A contribuição não-cumulativa que está sendo instituída tem como fato gerador o faturamento mensal, assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, independentemente de sua denominação ou classificação contábil. 7. Por se ter adotado, em relação à não-cumulatividade, o método indireto subtrativo, o texto estabelece as situações em que o contribuinte poderá descontar, do valor da contribuição devida, créditos apurados em relação aos bens e serviços adquiridos, custos, despesas e encargos que menciona. 11

Como resultado, em observação ao regime não-cumulativo, subtrai-se o valor do crédito do valor do débito, apurando-se o valor a pagar de cada contribuição. Embora a sistemática assim pareça coerente, inclusive sob o aspecto constitucional, entendemos que falhou o legislador ordinário na determinação dos parâmetros restritivos para a apuração do crédito das contribuições PIS/ COFINS. Isto porque, segundo interpretação sistematizada do artigo 195, inciso I, alínea b e 12 da CF/1988, se as contribuições PIS/COFINS devem atender às regras do regime não-cumulativo e sua hipótese de incidência é a receita ou faturamento, a apuração do crédito dessas contribuições deveria ter como parâmetro de apuração a receita ou faturamento. Sobre esses parâmetros, ao ressaltar que o constituinte não especificou conteúdo, limites e extensão do princípio da não-cumulatividade, deixando de pormenorizar o modo pelo qual o objetivo prescrito há de ser alcançado, Paulo de Barros Carvalho também conclui que a singela indicação da não-cumulatividade como vector a ser seguido revela a amplitude do princípio, que não comporta restrição de espécie alguma, limitando sobremaneira a ação legislativa 6. Portanto, não atendendo ao parâmetro constitucional, entendemos que a norma (artigo 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003), embora válida e vigente, não observa o princípio da estrita legalidade constitucional, resultando, ademais, em afronta o princípio da capacidade contributiva. Diante de todo o exposto, somos da opinião de que o artigo 3º das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003, nas suas atuais redações, não atendem integralmente ao regime da não-cumulatividade, pois, para tanto, deveriam prescrever que a base de cálculo do crédito de PIS/COFINS será apurado a partir do somatório de custos e despesas, incorridos em determinado período de apuração, que contribuírem para o contribuinte auferir receita. Posicionamento atual do CARF Na proposta de analisar o posicionamento atual do CARF frente aos aspectos controvertidos do crédito das contribuições PIS/COFINS, cabe destacar que nos termos da Súmula CARF nº 2, o CARF não é competente para se pronunciar sobre a inconstitucionalidade de lei tributária, portanto, as decisões emitidas pelo CARF e aqui estudas não adentram no mérito constitucional, conforme examinamos acima. Tais decisões restringem-se à análise da amplitude semântica do termo insumo, contido no artigo 3º, inciso II, das Leis nº 10.637/2002 e 10.833/2003. Vejam-se as seguintes ementas 7 : Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Período de apuração: 01- /07/2005 a 31/07/2005 INCIDÊNCIA NÃO-CUMULATIVA. BASE DE CÁLCULO. CRÉDITOS. INSUMOS. CONCEITO. Somente insumos utilizados na produção e fabricação de produtos geram direito de crédito da contribuição não cumulativa. DEPRECIAÇÃO. DIREITO A CRÉDITO. O creditamento relativo a depreciação de ativo atinge somente os bens adquiridos a partir de 1º de maio de 2004 e que sejam utilizados no processo industrial. RESSARCIMEN- TO. SELIC. VEDAÇÃO. É vedada a incidência de juros compensatórios Selic sobre ressarcimento de créditos de Cofins não cumulativa. Recurso Voluntário Negado (Acórdão 33-002.097, Processo 11065.100222/2005-14. Terceira Seção de Julgamento do CARF - 3ª Câmara / 2ª Turma Ordinária, seção de 21/05/2013) (nossos destaques). Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins Período de apuração: 01/- 01/2004 a 31/03/2004 REGIME NÃO CUMULATIVO. INSUMOS. CONCEITO. No regime não cumulativo das contribuições o conteúdo semântico de insumo é mais amplo do que aquele da legislação do IPI e mais restrito do que aquele da legislação do imposto de renda, abrangendo os bens e serviços que integram o custo de produção. CRÉDITOS. PRODUTOS QUÍMICOS, FRETES SOBRE COMPRAS. É legítima a tomada de crédito da contribuição não-cumulativa em relação às aquisições de produtos químicos e fretes sobre compras de insumos pagos a pessoas jurídicas. Recurso Voluntário Provido em Parte (Acórdão 3403-002.052, Processo 13851.001069/2005-02. Terceira Seção de Julgamento do CARF - 4ª Câmara / 3ª Turma Ordinária, seção de 24/04/2013) (nossos destaques). 6 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário, Linguagem e Método. São Paulo: Noeses, 2008, p.740 7 Cumpre esclarecer que as duas ementas acima trazem entendimentos similares às contidas nas demais decisões emitidas pelo CARF nos últimos 6 meses (considerando 15 de junho de 2013). 12

Verifica-se que o CARF vem interpretando o termo insumo ora com respaldo na legislação do Imposto sobre Produtos Industrializados ( IPI ), ora do Imposto sobre a Renda ( IR ). Isso importa em considerar que, no caso da analogia ao insumo para o IPI, poderá ser objeto de desconto de crédito de PIS/COFINS somente os custos e despesas inerentes à produção/fabricação do contribuinte em sua atividade econômica. Já no caso do IR, seriam as despesas necessárias (ou parte delas) à atividade da empresa e à manutenção da respectiva fonte produtora, nos termos dos artigos 290 e 299 do Decreto nº 3.000/1999 (Regulamento do IR RIR/1999 ). Apesar de não se pronunciar sobre constitucionalidade da norma, em nosso entendimento, o CARF falha ao analisar o conteúdo semântico de insumo sob um viés comparativo entre as definições trazidas pelas legislações do IPI e do IR, na medida em que esses impostos não possuem idêntica hipótese de incidência tributária à das contribuições PIS/COFINS, ou seja, deveria ser considerado como inserido no conceito de insumo todos os custos e despesas necessários para o contribuinte auferir receita sujeita à tributação de PIS/COFINS. Regime Não Cumulativo das contribuições PIS/COFINS - Principais aspectos controvertidos quanto ao creditamento e o posicionamento do CARF por Frederico Pereira Rodrigues da Cunha Advogado do Escritório Gaia, Silva, Gaede & Associados em Curitiba Pós-Graduado em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) por Álvaro Rotunno Advogado do Escritório Gaia, Silva, Gaede & Associados em Curitiba Pós-Graduando em Direito Tributário pelo Instituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET) I - BREVE HISTÓRICO SOBRE A MATÉRIA O conceito de insumo para fins de aproveitamento de créditos calculados sob a sistemática da não cumulatividade para as contribuições ao PIS e a COFINS é objeto de relevante debate travado na doutrina e na jurisprudência pátrias desde a promulgação das Leis nº 10.367/2002 e 10.833/2003. Com a entrada em vigor desses diplomas, instituiu-se a sistemática de não cumulatividade para as referidas contribuições, que, em contrapartida, tiveram suas alíquotas majoradas, respectivamente, de 0.65% para 1,65% e de 3% para 7,6%. A não cumulatividade para as contribuições ao PIS e a COFINS foi alçada ao patamar constitucional pela Emenda nº 42 de 2003, que inseriu esse princípio no artigo 195, 12, da Carta Magna. No plano infralegal, a disciplina do tema se consubstancia nas Instruções Normativas SRF nº 247 de 2002 e 464 de 2004, que buscaram moldar o conceito de insumos para o PIS e a COFINS à semelhança do conceito empregado para o ICMS e o IPI. Referido conceito de insumo, que passou a ser adotado pela Receita Federal do Brasil, acabou por restringir as hipóteses legais de creditamento, gerando a insatisfação dos contribuintes e acendendo intensa discussão acerca de tal posicionamento. Atualmente, a divergência acerca do conceito de insumo e as hipóteses de aproveitamentos dos créditos de PIS e da COFINS constituem uma das controvérsias mais acaloradas no âmbito do contencioso tributário administrativo, não tendo havido, até o presente momento, uma definição sobre o tema, como será demonstrado a seguir. Doutrinariamente, a discussão em torno do conceito de insumo para o PIS e para a COFINS encontra-se já avançada, havendo certa uniformidade quanto à inviabilidade da aplicação do conceito de insumo esculpido para o ICMS e o IPI. Para o PIS e a COFINS, assevera Marco Aurélio Greco que não se pode olvidar que estamos perante contribuições cujo pressuposto de fato é a receita, portanto, a não cumulatividade em questão existe e deve ser vista como técnica voltada a viabilizar a determinação do montante a recolher em função da receita. Esta afirmação, até certo ponto óbvia, teraz em si o reconhecimento de que o referencial das regras legais que disciplinam a não cumulatividade do Pis/Cofins são eventos que dizem respeito ao processo formativo que culmina com a receita, e não apenas eventos que digam respeito ao processo formativo de um determinado produto 1. 1 GRECO, Marco Aurélio. Não-cumulatividade do PIS/Pasep e da Cofins.. In: PAULSEN, Leandro (coord.). Não-Cumulatividade das contribuições PIS/PASEP e COFINS. Porto Alegre: IET e IOB/THOMSON, 2004. p. 110. 13