UMA EXPERIÊNCIA DE MONITORIA DE LIBRAS COM UMA ALUNA CEGA

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Transcrição:

UMA EXPERIÊNCIA DE MONITORIA DE LIBRAS COM UMA ALUNA CEGA 186 Luciana Rocha 1 Daniella Cotrim 2 Sandra Farias 3 Universidade do Estado da Bahia Depto de Educação Campus XII Guanambi, Bahia, Brasil RESUMO Este artigo relata os benefícios, dificuldades e desafios que a experiência da monitoria voluntária trouxe às alunas de Pedagogia no curso de extensão Interação/integração Libras e Formação docente caminho para uma inclusão social ministrado pela professora Sandra Farias do Campus XII da Universidade do Estado da Bahia UNEB. O objetivo do curso era aprofundar o conhecimento da Libras iniciado na graduação, com carga horária total de 80 horas, sendo 60 horas de aulas práticas, realizado às quintas-feiras, tendo início em abril e término em dezembro de 2014. Numa turma de 15 pessoas, uma das estudantes era deficiente visual. Por isso as monitoras utilizando uma adaptação¹ da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) deram suporte à professora, incluindo esta aluna no curso. Explanaremos esse trabalho desafiador para as monitoras, que nunca haviam desempenhado papel semelhante. Foram utilizados autores como BRECAILO, CADER E COSTA e QUADROS para conceituar Monitoria e descrever nossa prática. Palavras-chave: Monitoria. Desafio. Libras. 1 Luciana Maria Pereira Rocha. - lucianamapero@hotmail.com.br/ Graduanda do 9º semestre de Pedagogia. 2 Daniella Brito de Oliveira Cotrim. - danikgbi@gmail.com.br/ Graduanda do 9º semestre de Pedagogia. 3 Sandra Aparecida Lima Silveira Farias. - sandraafarias@hotmail.com.br/ Mestre em Língua e Cultura pela UFBA. Especializada em Linguística Aplicada pela UESB. Especializada em Libras pelo CEEPEX. Graduada em Letras Vernáculas pela UNEB

INTRODUÇÃO 187 Por conta das transformações e exigências da sociedade, as universidades estão tendo que tomar uma postura mais ativa no sentido de acompanhar a dinâmica acadêmica, por esse motivo ocorreu tantas mudanças nos currículos da educação superior nos últimos anos. Ao perceber a necessidade que os discentes sentiam em aprimorar o aprendizado da Língua Brasileira de Sinais, a Universidade do Estado da Bahia UNEB, Campus XII da cidade de Guanambi vem realizando cursos de extensão de Libras para os alunos que já tiveram o componente curricular no curso de Pedagogia e deseja se aperfeiçoar um pouco mais no aprendizado dessa língua. LIBRAS: MAIS QUE UM CÓDIGO, UMA LÍNGUA. A Libras é a língua utilizada pelos surdos brasileiros e, pode ser aprendida por qualquer pessoa que deseja se comunicar com eles. É denominada língua, pois possui gramática e compõe de todos os elementos básicos que também estão presentes nas línguas orais, como semântica, pragmática, sintaxe e outros, preenchendo os requisitos linguísticos necessários para ser considerada uma língua. De acordo com Brecailo (2012) a Libras tornou-se o caminho para a que o surdo se interagisse com a sociedade, possibilitando o desenvolvimento de uma identidade social. Hoje no mundo há cerca de 170 tipos mais relevantes das línguas de sinais. No Brasil há duas línguas de sinais que são reconhecidas nacionalmente² 4, a LIBRAS, 2 Lei Federal n.º 10.436/2002 (LEI ORDINÁRIA) 24/04/2002 que Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. Decreto n.º 5.626/2005 regulamenta a lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000.

língua Brasileira de Sinais e língua Kaapor é uma língua da família Tupi-Guarani de uma tribo indígena que vive no estado do Maranhão. 188 Pode parecer algo impossível ensinar a LIBRAS a uma deficiente visual, mas não é. Os meios empregados para ensinar essa língua a cegos exploram a questão do tato e da coordenação motora da pessoa cega, de forma que o monitor segura na mão do aluno cego e ensina para ele os movimentos necessários para a realização dos sinais. Dessa forma a aluna cega pode se relacionar futuramente com os surdos, que no caso é o seu desejo, fazendo amizades entre si e, dessa forma, haver uma troca rica de experiências entre pessoas que de acordo com suas limitações possuem percepções diferentes do mundo. OBJETIVO O curso de Libras foi desenvolvido pela professora Sandra Farias e tem como objetivo ser um meio difusor da língua e da cultura surda. Essa forma de intervir assume importância como estratégia de formação continuada. A proposta é oferecer um suporte intelectual e pessoal para quem deseja conhecer e se aprofundar no idioma dos surdos brasileiros, ou seja, na Língua Brasileira de Sinais: LIBRAS. Uma das alunas do curso é cega, por isso a professora viu a necessidade de monitoras para acompanharem-na na aquisição da língua. Essa monitoria teve por objetivo proporcionar que a aluna cega pudesse participar do curso assim como as demais alunas e realizar os movimentos e sinais que a língua exige. Essas profissionais deveriam apresentar algumas habilidades essenciais para que conseguissem transmitir todas as informações necessárias e de modo compreensível à pessoa cega, de forma que a fizesse participar de tudo o que estava acontecendo durante o curso. O DESAFIO DA MONITORIA (REFERENCIAL TEÓRICO)

A monitoria é uma modalidade de ensino e aprendizagem que auxilia na formação integrada do aluno nas atividades de ensino, pesquisa e extensão dos cursos de graduação das universidades em geral. Através do estabelecimento de novas práticas e experiências pedagógicas, ela serve como instrumento para a ampliação do ensino da graduação, aprofundando um pouco mais o conhecimento em seus diferentes aspectos e tem a finalidade de promover a cooperação mútua entre discente e docente. Conforme Lins (2007), a monitoria consiste numa atividade acadêmica de natureza complementar, na qual o aluno tem a oportunidade de desenvolver e ampliar os conhecimentos adquiridos na academia por meio do apoio ao docente na condução da disciplina, mesmo que essa seja ministrada num curso de extensão. 189 A monitoria voluntária concede aos estudantes de graduação a participação em Programas, Projetos e Atividades Extensionistas, sob a orientação e coordenação de docente e/ou técnico administrativo de uma instituição. Esta viabiliza a prática discente através de mecanismos de integração entre diversos saberes, visando à produção de conhecimentos resultantes do confronto com as demandas sociais, bem como a articulação entre teoria e prática. Lins (2007) ainda cita que, esta prática alinha-se, perfeitamente, ao compromisso da instituição em oferecer um ensino superior de qualidade, formando profissionais capazes de promover a adequada utilização do conhecimento teórico às mais diversas situações encontradas no seu ambiente de trabalho, como também favorece o desenvolvimento de habilidades relacionais, pelo fato de estar o monitor em constante interação com outros educandos. Da mesma forma, é a atividade de monitoria um grande passo em direção à atividade de docência e à prática de investigação científica. Segundo Fernandes; et. al. (2001).

Estudantes exibem diferentes estilos de aprendizagem, demonstrando preferências totalmente particulares sobre a maneira de adquirir e processar as informações a eles apresentadas. Respostas diferentes também surgem por ações de mecanismos visuais, verbais, gráficos ou outros diversos quando utilizados nos procedimentos de ensino. É óbvio que tanto um aluno quanto o futuro profissional deve apresentar habilidade em mostrar um poder de compreensão no decorrer de todas as formas de transmissão da informação ou conhecimento. 190 Assim, conforme as experiências vividas durante esse período de monitoria, explanaremos aqui algumas superações, dificuldades enfrentadas, vitórias alcançadas e desafios cumpridos ao longo da monitoria. METODOLOGIA A metodologia de trabalho foi diversificada, contemplando aulas expositivas para fundamentação teórica, dinâmicas de grupo para socialização dos trabalhos propostos, relatos de experiências e vivências, trabalhos de grupo, exposição de filmes, slides, análise de registros escritos de forma a atender os objetivos propostos para cada etapa de trabalho, conforme descrito no plano de trabalho. ETAPAS 1. PLANEJAMENTO (10 horas) Seleção de material bibliográfico para a realização de leituras e fichamentos, objetivando uma fundamentação teórica para o embasamento do trabalho proposto; Inscrição e seleção dos participantes. 2. EXECUÇÃO DO CURSO (60 horas) Nesta etapa foram desenvolvidas as aulas do curso Interação/integração Libras e a formação docente caminho para uma inclusão social, junto aos

participantes perfazendo o total de 12 encontros com a duração de 5 horas cada. Sendo contempladas duas disciplinas: a) Processo histórico, social e cultural sobre a educação de surdos; b) Noções de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) 191 3. AVALIAÇÃO (10 horas) A avaliação ocorreu através da elaboração do relatório final, abordando as etapas de realização do projeto de forma crítica, construtiva e objetiva. RESULTADOS E DISCUSSÃO É direito do cidadão (ã) surdo (a) ter acesso ao conhecimento em sua língua e à eventos que promovam o tripé da Universidade: O ensino, a pesquisa e a extensão. Assim, professores e profissionais ligados à educação munidos de forte base teórica devem aprender a LIBRAS, promover atividades como esse curso que incitem a inclusão e promova a educação inclusiva. Deste modo, os cursos de Libras na Universidade aproximam a comunidade surda, ouvinte e nesta em especial a pessoa cega. O surdo deve ter acesso à informação e comunicação não só nas escolas como também nas demais instituições, por isso a Universidade vem como base de extensão deste direcionamento de saber para os alunos e, consequentemente, para a comunidade que se beneficia com todos esses eventos educacionais. Visto que a LIBRAS é hoje uma disciplina importante para a formação dos profissionais da educação conforme o decreto de número nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, que regulamenta no capítulo II da inclusão da LIBRAS como disciplina curricular nos seguintes termos: Art. 3 o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular [...] instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

1 o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. (SENADO FEDERAL, Brasília, 2005). 192 Assim é fundamental que os profissionais da educação em geral tenham pelo menos a base teórica sobre a Libras, o contato inicial com a cultura surda e compreenda as especificidades do modo de aprendizado do aluno surdo. Diante da proposta deste curso, cria-se então a possibilidade da apropriação do contato com a língua e cultura surda além de acrescentar na formação profissional e humana desta turma de pedagogos (as) que se interessaram e matricularam no curso. O resultado geral e objetivo do curso foram satisfatórios tendo em vista o nível alcançado do aprendizado dos alunos matriculados no curso. O objetivo principal de iniciação à Libras foi contemplado de fato já que ao final do curso os alunos conseguiam manter diálogo e compreender o que o surdo sinalizava,e, com a participação de um surdo convidado pudemos assim chegar a essa conclusão. Quando convidadas fomos instigadas a participar tendo como objetivo adaptar a Libras, para uma forma tátil, já que uma das inscritas no curso a aluna M, possui deficiência visual e para que sua participação e aprendizado ocorressem de fato. A aula seria ora transmitida pela monitora através da descrição oral, ora uma adaptação da Libras para a modalidade tátil fazendo o sinal na mão da aluna cega, e/ou coordenando os movimentos que acompanham os sinais em Libras. Assim tudo o que era sinalizado em silêncio era transmitido à ela, acompanhado o discurso e atividades das aulas, seguindo os comandos dos sinais e utilizando os cinco parâmetros da Língua que são: 1-Configuração das mãos (CM) - são as formas das mãos e que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou demais formas feitas manualmente.

2- Locação ou Ponto de Articulação (PA) - Lugar onde incide a mão configurada, podendo, até mesmo, tocar parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical; 3- Movimento (M) - Os sinais podem ter movimentos ou não, para indicar a sua informação. 4- Orientação/Direcionalidade (Or) - Os sinais possuem uma direção, relacionados com os demais parâmetros; e 5- Expressão não-manual (ENM) - Extremamente importante para a compreensão da mensagem, pois serve como diferenciador, atuando como complemento dos sinais manuais, a fim de se ter maior entendimento da informação a ser passada. 193 A participação das monitoras teve como objetivo principal contribuir para que houvesse uma real inclusão nas aulas. Não apenas uma inclusão da aluna estar por estar inserida na sala, (somente no ambiente) junto com os (as) demais alunos (as) do curso, mas sim promover sua participação nas atividades propostas durante o curso que essa participação fosse significativa, fazendo com que as informações realmente pudessem ser compreendidas por ela. Foi um desafio tendo em vista que a Libras é uma língua que tem como foco o visual e nosso trabalho estava direcionado a uma aluna cega. Torna-se mais compreensível esta observação através desta citação de Quadros sobre a Libras, utiliza para atos de comunicação outros sinais que não as palavras, pois ela é a linguagem que pode ser expressa através de desenhos, imagens, sinais, expressões facial e/ou corporal. A língua de sinais não pode ser confundida com a linguagem não verbal, ela é totalmente visual, pois de acordo com Quadros: as línguas de sinais apresentamse numa modalidade diferente das línguas orais; são línguas espaço-visuais, ou seja, a realização dessas línguas não é estabelecida através dos canais oral-auditivos, mas através da visão e da utilização do espaço. Dessa forma, tivemos que aprender a lidar com a novidade de um contato direto e utilizar dessa adaptação para transmitir para essa aluna uma forma diferente de aprender os sinais, utilizando nosso corpo e movimento próprios para que, através da sensibilidade, M percebesse e compreendesse nossos movimentos. Nós tivemos que trabalhar com ela como fazem as pessoas que atuam com Libras na educação de pessoas

Surdo-Cegas, uma vez que a Libras se distingue da Libras Tátil, evidencia-se a diferença também entre o alfabeto datilológico, do alfabeto datilológico tátil. Isso também mostra a diversidade de formas de representação da comunicação. Assim como afirma os teóricos Cader e Costa: Há casos em que os sinais precisam ser digitados no próprio corpo da pessoa surda-cega [...] Assim ele poderá perceber a articulação, o movimento, o local e a orientação da mão no espaço de sinalização. Cader e Costa (2010, p. 60). 194 Foi um dos pontos fundamentais para trabalhar com M estabelecer uma relação de parceria, depois da confiança estabelecida, pudemos então atuar de modo mais livre por conta das interações que facilitaram o processo de ensino-aprendizagem. Inicialmente é complexo, mas com o tato, a aproximação com outra pessoa vai estabelecer a confiança e assim desenvolver o aprendizado com mais confiança. CONSIDERAÇÕES FINAIS A Libras para o cego, apesar de ser uma forma bem adaptada e de toque sensitivo e manual, pode ser bem complicada pelo fato de ele não ter uma orientação espacial bem definida e não se lembrar onde realmente o sinal será realizado. Percebemos isso na aluna que auxiliamos durante o curso, ela sentia dificuldades em realizar os sinais que são feitos no espaço neutro. A adaptação da Libras que fizemos favoreceu a aprendizagem da aluna cega, apesar de ter sido pouco o tempo do curso e destinado ao ensino a ela, nosso trabalho obteve resultados satisfatórios. Apesar das dificuldades enfrentadas, percebemos que com esforço e dedicação, a pessoa com deficiência visual tem capacidade de aprender a Libras e assim se comunicar com o surdo, trocar experiências sobre as diferentes percepções do mundo e vencer desafios juntos na luta contra o preconceito que se constitui, certamente, a mais difícil barreira a ser transposta pelas pessoas com deficiência.

Para que todas as pessoas, sem exceções, possam desfrutar da igualdade de oportunidades de apropriação do conhecimento, é preciso considerar as diferenças individuais e as necessidades educativas delas decorrentes. Ao finalizar este artigo podemos reafirmar que a monitoria é um instrumento importante na preparação do futuro docente e que, bem conduzida, pode contribuir para a melhoria de ensino e para iniciação à docência. 195 Agradecimentos: A todos os que participaram e colaboraram para que essa monitoria voluntária acontecesse, e em especial, à professora Mestra Sandra Farias pela oportunidade de fazer parte dessa experiência. REFERÊNCIAS BRECAILO, Solange de Fátima. Expressão Facial e Corporal na comunicação em LIBRAS. Curitiba. Julho de 2012. http://www.pp.ufu.br/cobenge2001/trabalhos/app001.pdf. Acesso em 30/12/2014. CADER, Fatima Ali Abdalah; COSTA, Maria da Piedade Resende da. Descobrindo a surdo cegueira: educação e comunicação. São Carlos: EdUFSCar, 2010. DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf >. Acesso em 30 de dezembro de 2014. FERNANDES A. J. S.; MELLO J. C. C.B.S.; BARBEJAT M. E. R. P. (2001). Uma Experiência de Avaliação Participativa. Disponível em http://www.pp.ufu.br/cobenge2001/trabalhos/app001.pdf. Acesso em 30/12/2014. LINS, Daniel. Ser Monitor. 06/03/2007. Disponível em: http://www.mauricionassau.com.br/institucionais/faculdade/index.php?artigo/listar/215 Acesso em: 30/12/2014. OLIVEIRA, G.I.C; PRADO, D.P.F; GOMES, M.A. Manual do Monitor 2011, UNEB Guanambi, 2011. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação, Campus XII, Núcleo de Pesquisa e Extensão DEDC XII. QUADROS, Ronice Müller de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed, 1997.. REVISTA DA FENEIS. Números 1 ao 13. R.J. 1999/2002. SENADO FEDERAL. Capítulo II do Decreto que regulamenta a Inclusão da LIBRAS como Disciplina Curricular. Brasília: Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 2005.